quarta-feira, 28 de abril de 2021

IVAN LOPES O PINTOR DO SILÊNCIO NOS CONVENTOS BAIANOS

Autorretrato do pintor Ivan Lopes aos
23 anos de idad
e.
O
pintor Ivan Lopes não viveu nestes tempos de comunicação instantânea e de múltiplas plataformas. Sua trajetória como pintor está ligada ao silêncio dos claustros, das naves e sacristias das igrejas  mosteiros e conventos barrocos de nossa Bahia. Era no silêncio sentado num banco, e no seu cavalete ele colocava uma tela e pacientemente ia transferindo os detalhes dos azulejos, das imagens e dos  grandiosos altares com suas belas colunas. Viveu e produziu sem muita divulgação de sua obra, que agora tento com dificuldade resgatar para que fique registrada para as futuras gerações.      Nasceu em Salvador no dia 15 de fevereiro de 1934,  e começou seu contato com a arte posando como modelo na então Escola de Belas Artes, que funcionava num belo casarão na rua 28 de setembro. Vendo seu interesse pelas artes o mestre Alberto Valença o incentivou a estudar , onde veio a concluir o Curso Livre de Pintura , e teve como professores Raimundo Aguiar, Alberto Valença e Emídio Magalhães. Lhe ofereceram outra oportunidade, e foi aprender restauração com o mestre João José Rescála e Liana Silveira. Seu aprendizado deu-se na restauração do acervo da Igreja de Santa Teresa que depois se transformaria no Museu de Arte Sacra, da Universidade Federal da Bahia. 
Vemos uma visão do interior da igreja de
São Francisco, em Salvador.
Ele participou do V e do VI Salão Baiano  de Belas Artes, em 1955 e 1956, realizou  exposições  individuais em 1968 e outra em 1978, e de coletivas na Galeria Panorama nos anos 1967 e 1969. Era um dos restauradores oficiais do Museu de Arte Sacra , da Universidade Federal da Bahia. Pintou com maestria os santuários mais importantes da Bahia como o igreja de São Francisco, o convento de Santa Teresa,  Convento da Ordem III do Carmo, Convento do Desterro e muitos outros conventos , mosteiros e igrejas, além do Centro Histórico de Salvador. Depois de aposentado dedicou-se à pintura e ao desenho em seu atelier que funcionava na sua residência no      Conjunto São Bento, no Centro da Cidade, onde veio a falecer às 10 horas da manhã, do dia 6 de novembro de 1984.Nasceu em 1934 e faleceu      em  1984, portanto, aos 50 anos de  idade.
Retrato do ex-governador Luiz
Viana Filho.
O artista é pai de outro profissional de talento o Ivo Neto que está ai trilhando o caminho da arte trabalhando muito , seguindo o gosto do pai e mestre pelos templos majestosos desta nossa Bahia. .De tanto pintar os interiores das igrejas Ivan Lopes  era capaz de   pintá-las sem ir novamente ao local. Decorava os ambientes, e assim pintava os seus quadros, muitas vezes no próprio atelier. Era também um excelente retratista tendo pintado o ex-reitor Edgard Santos, o monge e historiador Dom Clemente da Silva Nigra, o governador Luiz Viana Filho, dentre outras personalidades
Segundo Ivo Neto "meu pai vendia suas obras em casa mesmo,  e vivia afastado das galerias. Às vezes vendia e não pagavam. Lembro que ele e Jaime Hora vendiam àqueles comerciantes da Avenida Sete de Setembro. Eram obras com  temas de casarios e igrejas , que  dominava bem.  Na realidade ele fez poucas exposições individuais e participou de algumas coletivas." Mesmo após sua morte as obras de Ivan Lopes não alcançaram ainda preços significativos. O Jaime Hora, por exemplo,  está melhor  cotado no mercado de arte.
Marinha,  Rio Vermelho, foi a última obra
 assinada por Ivan Lopes antes da morte.
Revendo minhas colunas encontrei registros de quatro exposições coletivas que Ivan Lopes participou com vários outros artistas. No ano de 1976 integrou três mostras organizadas por Roberto Araújo, que era da cidade de Valença, e aqui abriu  a Galeria Rag, na Boca do Rio. Roberto não entendia muito de arte, mas tinha um entusiasmo nunca visto em realizar exposições e manter contatos com artistas. Como não tinha muito conhecimento e habilidade neste tipo de relacionamento sua galeria que ocupava uma casa, hoje quase em ruínas, vivia lotada  de obras. Muitos artistas qualificados , inclusive até alguns sem  talento, tinham lá um local  onde deixar suas  obras . Era uma confusão danada! 
Mas, voltando ao Ivan Lopes ele expôs em abril de 1976 no de Festival de Artes Plásticas da Galeria Rag durante um cruzeiro para a Europa no navio Eugênio C. Já em dezembro participou de duas coletivas uma em Brasília, na Galeria Decor de Interiores , e também, numa mostra comemorativa da Semana da Marinha, em Salvador. Em novembro de 1978 integrou uma coletiva beneficente do Instituto de Organização Neurológica da Bahia, ION, que funciona em Ondina. Para esta mostra vinte e cinco artistas doaram suas obras que foram leiloadas, e o apurado ficou com a instituição. 




segunda-feira, 19 de abril de 2021

DOMENICO GATTO , UM COLECIONADOR APAIXONADO

O colecionador Domenico Gatto.
 Todos os artistas  das décadas de 50 a 70 conheceram a figura simpática e de grande facilidade de se expressar que foi o empresário e  colecionador Domenico Gatto. Desde Carybé, Floriano Teixeira,Sante Scaldaferri,Calasans Neto,Fernando Coelho, Mário Cravo Jr, Carlos Bastos  ,Jenner Augusto, Poty, Zé Claudio, Udo Knoff e muitos outros  ele manteve uma convivência em seus ateliers procurando novas obras, as quais eram adquiridas, às vezes até em lotes , e quando não existiam  costumava encomendar , inclusive adiantando algum dinheiro para que o artista se sentisse com aquele compromisso de criar para lhe entregar. 
Algumas moradias de artistas foram construídas dentro desta sua busca por novas obras de arte, com o fornecimento de  parcela de dinheiro de entrada ou em parcelas  para que os mesmos criassem e tocassem seus projetos particulares de construir ou adquirir uma nova moradia, comprar um automóvel, etc. 
Era um relacionamento muito próximo entre Domenico Gatto e os vários artistas de sua época. O Carybé num depoimento disse : "O colecionador entusiasta foi Domenico Gatto, que acompanhava o movimento , corria os ateliers,    comprava arte, sempre ajudando quem precisasse".
Algumas  obras de arte remanescentes da coleção do
empresário e colecionador Domenico Gatto.

Portanto, está ai um testemunho de como este italiano procurava comprar e incentivar os artistas e em consequência a arte na Bahia. É certo também que sendo empresário do setor da construção civil  tinha uma visão de mercado  e da busca do lucro  quando lidava com vendas de imóveis ou até mesmo  com obras de arte , tanto ao adquirir e comercializar.
Segundo me informou  o empresário Antônio Gatto "a coleção permanece com a família. Apenas algumas obras foram divididas , a maioria está com minha mãe".
A professora Jancileide Souza Santos, em artigo apresentado num Encontro de História da Arte, na Unicamp , em São Paulo, escreveu : "Os colecionadores de arte fazem parte de um grupo social importante no mundo da arte, e a prática de colecionismo, motivada por questões estéticas, 
políticas,sociais ou simplesmente a paixão pela arte,contribuiu para o enriquecimento do patrimônio  artístico do país, além de estimular o gosto artístico em um determinado contexto social, histórico e social. Na Bahia , os colecionadores de arte exerceram um importante papel na construção de um mercado de arte, bem como despertaram o interesse pela aquisição de objetos para a formação de coleções no Estado". 
A professora Jancileide Souza, que é doutora em História da Arte,  focou o seu artigo na arte popular , mas certamente suas observações podem ser aplicadas numa forma mais ampla,abrangendo também o colecionador de obras de arte de modo geral.
Na realidade Domenico começou tarde a garimpar obras de arte nos ateliers dos artistas,mas seu entusiasmo era tanto que ele superou este atraso e se transformou no maior colecionador em nosso Estado. Foi na década de 1950 que  construiu na Ladeira de São Bento o Hotel Oxumaré e foi instalada a galeria do mesmo nome no térreo, onde aconteceram grandes exposições. 
Ele nasceu em 1923 em Rocca Imperiale, província de Cosenza, região da Calábria, na Itália, e faleceu aos 69 anos de idade, uma morte prematura para os padrões de hoje. Teve três filhos Adele, Antônio e Anna Paola com Teolita Noya Gatto.  Domenico Gatto chegou ao Brasil em 1938.
A empresa que ele criou completou 58 anos -  a Gatto Empreendimentos - de  atuação no mercado imobiliário ,tendo iniciado suas atividades  em 9 de agosto de 1963, construindo pequenos prédios residenciais e comerciais em diversos pontos da cidade, tendo inclusive lançado um dos primeiros loteamentos de condomínio residencial, o Belvedere, no bairro do Bomfim.Construiu também um dos primeiros cinemas da Cidade, o Cine Capri, no Largo Dois de Julho, além de fundar o Banco do Trabalho, sendo sua primeira agência localizada na cidade de Feira de Santana.
Através do escritor Vasconcelos Maia, em 1963, o artista Calasans Neto, iniciando sua vitoriosa carreira, foi apresentado ao empresário e colecionador Domenico Gatto que estava ultimando a construção do Hotel Oxumaré. 
A bela xilogravura feita por Calasans Neto
 para ilustrar o cardápio do Hotel Oxumaré.
Na ocasião lhe  encomendou fazer umas gravuras para ilustrar o cardápio e todos os impressos do hotel. A gravura principal é esta ao lado que mostra a Cidade do Salvador dominada no céu por um grande arco-iris de Oxumaré. 
Conta sua filha Adele Gatto num depoimento no catálogo  do The Catt Parade  que lembra de seu pai "chegando em casa com o paletó no braço , jornais numa mão e na outra uma tela que acabara de adquirir com a tinta ainda fresca. Ia logo falando: "Teo! Martelo e pregos!", ele estava chamando sua esposa Teolita Gatto , que sempre o ajudava a colocar mais uma obra na parede da casa, que tinha um pé direito duplo, localizada na Avenida  Princesa Isabel, no bairro da Barra Avenida. Assim,  sempre cabia mais uma tela nas paredes de sua residência.  
Ele tinha em casa um armário grande  no seu gabinete com três andares , onde guardava centenas de obras de arte.
Diz Adele "Minha mãe era quem subia na escada, com uma caixa com martelo e pregos, e assumia o trabalho ... Ao final , satisfeito, deixava as paredes redecoradas até a próxima leva de quadros, que às vezes chegava no dia seguinte".
Já o maranhense Floriano Teixeira , que veio para a Bahia a convite de Jorge Amado, declarou que "Colecionar obras de arte se faz com tempo disponível, sensibilidade, amor , cultura e muito dinheiro, e o Domenico tinha tudo isto junto além de sua capacidade de fazer amizades ." E continuou " Ele sabia por instinto e sensibilidade que as revoluções culturais são benéficas , porque é da natureza humana mudar e acrescentar para melhor".
 Estes depoimentos estão no catálogo da exposição e leilão The Catt Parade que seu filho Antônio Gatto mandou editar em comemoração aos "50 anos da Gatto Empreendimentos", quando cinquenta  artistas de todo o país foram convidados a pintar  esculturas  de um gato feitas em resina.




sábado, 17 de abril de 2021

A SENSIBILIDADE DO FOTÓGRAFO WILSON BESNOSIK

Wilson Besnosik, foto
 de Antônio Queirós.
Vou falar de um dos mais importantes fotógrafos que a Bahia teve no século XX,   que foi Wilson Besnosik  nascido em 27 de dezembro de 1958, em Salvador, vindo a   falecer em 6 de maio de 2007. Faleceu prematuramente aos  48 anos de um enfarte fulminante. Ele foi  um   dos fundadores do Grupo de Fotógrafos da Bahia , sendo também diretor da Arfoc   e  um dos responsáveis pela introdução da fotografia digital em jornais baianos e   de Sergipe. A ideia de escrever sobre este profissional da fotografia  já vinha   amadurecendo há algum tempo. Porém, sempre surgem novos assuntos e terminei   adiando. Quando estava colhendo e pesquisando materiais para escrever o texto   sobre os 50 anos da Galeria Cañizares, que publiquei recentemente ,   Juarez 
 Paraíso lembrou da importância de Wilson que  ele e Márcia Magno convidaram para participar  do Salão de Fotografia da Escola de Belas Artes. Então, decidi iniciar a busca por material sobre Wilson Besnosik, que no próximo seis de maio completa 14 anos do seu falecimento. Ao falar com Gissélia Besnosik, com quem foi casado durante 25 anos , ela me disse espontaneamente " Wilson é atemporal, com sua alegria , seu jeito de ser, de ver e tratar as pessoas".
Trabalhei com Wilson 
A poeta Myrian Fraga (1937-2016) pela
lente de Wilson Besnosik.
 vários anos no Jornal  A Tarde . Ele chegou em  1989 saindo em  2003. Foi  editor de fotografia devido a sua dedicação e qualidade do seu trabalho como fotógrafo . Era membro do grupo de jovens da Juventude Espírita, editou a revista Presença Espírita, da Mansão do Caminho.

Nos primeiros anos de sua atividade de   fotógrafo trabalhou no extinto Instituto   de Desenvolvimento Urbano e   Articulação Municipal ( Interurb) e também na área da fotografia para   publicidade. Durante sua carreira de repórter fotográfico recebeu alguns   prêmios  .Tem imagens publicadas nos jornais Estado de São Paulo,   Folha de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil , o americano Dayle   Telegraph, e também nas revistas Isto É, Veja, Época, e na americana   News Week. Em 2004 fotografou e publicou  o livro  "Revelações do  Tempo" mostrando as riquezas históricas e culturais das cidades de Cachoeira e São Félix.
Foto do livro "Revelações do Tempo"

Nos anos 80 foi diretor de teatro amador e autor de algumas peças  entre elas "Destino" e "Festival dos Vegetais",tornando-se membro da Associação de Autores Teatrais. Em 1993 é convidado a participar do Salão Nacional de Fotografia na Escola de Belas Artes e sendo um dos palestrantes. Foi um dos responsáveis pela vinda à Salvador das exposições dos fotógrafos Henri
Cartier Bresson e Robert Doisneau.
Quero aqui chamar atenção de artistas, fotógrafos , escritores e outros criadores da importância de conservar e acondicionar bem suas produções, porque qualquer deslize tudo pode ser perdido. Centenas de negativos das fotografias de Wilson Besnosik, e até mesmo algumas xilos e outras obras de arte foram perdidas nas mudanças que a família foi obrigada a fazer. Eu mesmo perdi uma caixa contendo vários negativos de fotografias feitas por mim e outros fotógrafos durante uma mudança de escritório.
Esta bela xilogravura mostra seu lado
de artista plástico
.

Vejam o que o mestre Juarez Paraíso , professor,   artista plástico e grande fotógrafo  me enviou.   "Márcia Magno criou na sua gestão  o Salão   Nacional de Fotografia . Foi muito relevante , pois   Salvador era um deserto neste setor. Durante a   minha  gestão , deu prosseguimento  ao Salão e para   isto  contamos com a colaboração de uma Comissão   que fizemos, com    Maria Sampaio e outros. Mas,   nesta Comissão tinha   um nome importantíssimo, o   Wilson Besnosik,   fotógrafo do jornal A Tarde"
Foto do  Baixio, que Wilson tinha predileção
 por ela. Talvez pela  natureza exuberante.

Aqui o depoimento sincero e emocionante de Antônio Queirós  que diz " Falar do chefe e companheiro Wilson Besnosik  é tarefa fácil! Como colega, pessoa de uma humanidade ímpar, sempre disposto em ajudar a quem ele comandava. Lembro que  tinha uns trabalhos no Pólo Petroquímico, e sempre me convidava para ajudá-lo e pagava bem. Metido a goleiro em nossos campeonatos internos e, às vezes, dava sorte. Foi onde ele se descobriu como jogador de futebol. Todos sabem que o  jogador  ruim de bola ou é o dono da bola ou goleiro. Como chefe, foi muito dedicado e cobrador das obrigações. Aprendi muito com ele, em levar o melhor para o jornal e,até hoje, onde passo, quero fazer o melhor: devo isso a Wilson !                                                              
Foto de MichaelJackson no Pelourinho.
Quando saiu do jornal foi tentar realizar seu sonho maior, que era abrir seu próprio negócio, ser seu próprio patrão, mas foi interrompido precocemente. Espero e acredito que esteja fazendo ótimas fotos no outro plano."

O jornalista José Bonfim  escreveu um dia após seu falecimento: " Wilson Besnosik foi uma grande figura. Do tipo que vem ao Planeta e marca ponto, não passa em branco. Perfeccionista, ajudou muitos jornalistas a aprenderem ou aperfeiçoarem seu ofício, dando dicas, dando broncas, aplaudindo. Wilson morreu dia 6 de maio de 2007. Fiquei lembrando das tantas reportagens que fizemos juntos. Das viagens, dos prêmios. Lembro bem de três: sobre  a agonia e morte de Irmã Dulce , o combate ao trabalho escravo em vários municípios baianos, o combate à exploração do trabalho infantil, na região do Sisal. Foram prêmios da ABI, do Banco do Brasil, da Visão Mundial e outros mais que comprovam a finitude da passagem do Besnosik pela Terra. 

Mandela na Bahia com baiana autêntica.

Sinto-me honrado por ter trabalhado com uma figura assim. Sinto-me honrado por ter conhecido e ter sido amigo de um profissional e de uma figura humana que tinha sempre como meta a superação. Nada de choramingas, mesmo quando algum absurdo Ihe acontecia, como o assalto à pousada - um antigo sonho realizado por ele e a esposa  e que uma dessas quadrilhas de ladrões acabou. "
Wilson em ação com sua alegria inconfundível.

Para finalizar, deixo aqui registrado o depoimento de sua filha Marina Besnosik , hoje mãe de dois meninos Felipe e Marcelo que reverberam a alegria e o carisma do "vovô anjo" como eles costumam chamar o Wilson. "Difícil é explicar com palavras o que você sabia fazer tão bem com as imagens... passar emoção! Você tinha uma sensibilidade única, que juntava o amor ao trabalho com uma criatividade peculiar. É pai ... o que a gente não podia prever é que o para sempre, sempre acaba. Mas, nada vai conseguir mudar o que ficou."










quinta-feira, 15 de abril de 2021

CINQUENTA ANOS DA GALERIA CAÑIZARES

A Galeria Cañizares completou cinquenta anos  em novembro do ano passado, pois ela foi fundada em 1970 para ser um espaço de exposições da Escola de Belas Artes , da Universidade Federal da Bahia, durante o reitorado do professor Roberto Santos. Foi criada antes da  transferência da Escola de Belas Artes, que funcionava na rua 28 de setembro, no Centro Histórico de Salvador,  e veio ocupar o casarão onde até hoje se encontra na rua Araújo Pinho, 212. Na década de 70  o número era 15, no bairro do Canela. Na época era diretor da escola o professor Evandro Schneiter ,  e o nome Cañizares é uma homenagem ao fundador da Escola de Belas Artes ,em 1877, o mestre Miguel Navarro Y Cañizares. Ele era natural de Valencia,na Espanha, e aportou aqui não podendo seguir viagem para o Rio de Janeiro devido uma epidemia de peste .Ele foi convidado a dar aulas no Liceu de Artes e Ofícios. Depois se desentendeu com a direção da instituição,  e junto com colegas e alunos criou a Academia de Belas Artes que funcionava em sua própria casa. Para isto  
contou com a  colaboração dos artistas João Francisco Lopes Rodrigues e dos seus filhos João Francisco Lopes Rodrigues Filho e Manuel Silvestre Lopes. Rodrigues, além de   Manoel Raymundo Querino ,dentre outros A Galeria Cañizares ocupa quatro salas de um prédio em estilo  neoclássico , ao lado da Escola de Belas Artes , e é uma ferramenta importante para os alunos, que além de apreciar obras de vários artistas, podem expor os seus trabalhos . Portanto, ali se inicia  uma carreira profissional. Muitos já realizaram suas primeiras exposições, antes de enfrentar o mercado de arte fora dos muros da academia. Vejo a Cañizares como um local privilegiado , onde o graduado pode expor seus trabalhos e iniciar sua trajetória em busca de mercado para suas futuras produções. Além de proporcionar a aproximção deste novo artista com a comunidade ligada à produção de arte, como também a todos os que gostam de arte.

É  a galeria mais antiga em funcionamento em Salvador. Ocorre um fenômeno com as galerias de arte da Cidade  . Muitas delas abrem e têm um breve período de funcionamento. Já inclusive escrevi   alguns artigos sobre importantes galerias que foram responsáveis por grandes exposições e lançamentos de artistas, hoje, consagrados nos mercados de arte brasileiro e até internacional. 

Miguel Navarro y Cañizares,
auto-retrato de 1887.
Na Galeria Cañizares são realizadas exposições individuais e coletivas através de edital publicado anualmente , e são expostos projetos de professores da Escola de Beas Artes e artistas de modo geral. É um espaço muito interessante  que dá uma boa visitação e vizualização às obras ali mostradas. 
Os projetos de professores ocupam a pauta da Galeria Cañizares, além do Salão da Escola de Belas Artes, Docentes em Pauta, É tudo Design, Mostra de Performance e exposições comemorativas têm também  lugar na .galeria.   São organizados ainda encontros sobre as exposições, e publicações  dos eventos concretizados ao longo do ano. Todas as exposições são abertas para que possam ser vistas pela comunidade acadêmica, e também pelos amantes das artes residentes aqui ou não.
A diretora da EBA, professora Nanci Novaes
Para a atual diretora da Escola de Belas Artes a professora Nanci Novaes "o conhecimento em arte é um aprendizado que começa na observação de uma obra de arte , da sua leitura e da prática artística, entendendo que o estudante de arte precisa ser informado sobre fatos e ações contidos na produção artística para uma exposição e, inclusive numa montagem de exposição e que tipo de ordenação pode-se vivenciar de uma visita. Desde que   assumi a Direção da Escola de Belas Artes em 2013, venho  priorizando e valorizando a Galeria Cañizares como um importante laboratório na formação dos profissionais das artes visuais e do design, pois possibilita ao estudante não apenas ampliar o seu conhecimento sobre a profissão, mas enriquecer sua formação cultural e melhorar a sua capacidade de expressão, além de proporcionar  aos estudantes uma melhor interação com o meio social em que vivem.
Nesse sentido, a importância da criação de uma Galeria arte Arte no âmbito universitário, dentro de uma Escola de Arte é o que faz a diferença na sua função,a Galeria cumpre seu papel de intermediar,o conhecimento sócio-artístico-cultural entre a comunidade interna da Ufba e externa, contribuindo também para a formação de público,produção cultural e a arte na efervescente Capital da Bahia".

Para o professor Juarez Paraíso "a Galeria Cañizares tem como principal objetivo proporcionar exposições de artistas profissionais , da arte moderna e pós-moderna , assim como da vanguarda local e nacional. Os melhores exemplos da produção artística comtemporânea é o que se busca apresentar à comunidade baiana em em particular, à comunidade universitária e aos alunos da Escola de Belas Artes.  Também tem havido exposições em homenagem aos grandes mestres do passado, professores da Escola, assim como exposições de alunos concluintes , já em fase de franco amadurecimento artístico".

No rápido depoimento que Juarez me enviou ele diz: " fiz melhorias na galeria e realizei importantes exposições. Márcia Magno criou na sua gestão o Salão Nacional de Fotografia. Foi muito importante , pois Salvador era um deserto neste setor   Na minha gestão , dei prosseguimento ao Salão e,  contamos com a colaboração de uma comissão que fizemos, com nomes como Aristides Alves, Maria Sampaio e outros .Nesta comissão tinha um nome importante, o Wilson  Besnosik,fotógrafo do jornal A Tarde um dos pioneiros da fotografia digital em Salvador .
A galeria era a moeda de troca mais importante para a saída da Escola da 28 de setembro para o Canela, pois lá a EBA teria uma galeria muito bem localizada para suas exposições. Lá fizemos exposições memoráveis, como a que Márcia Magno organizou , “Mulheres em Movimento 1 e 2 ”. Muita coisa importante para a Cidade , para a UFBA e principalmente para os alunos , muitos , atualmente, artistas consagrados e que tiveram também a sua valiosa ajuda crítica . Lá fizemos exposições de trabalhos de gêneros e técnicas avançadas". 

É bom saber que antes, em 1964,  foi criada  a Galeria Permanente de Artistas Baianos na Escola de Belas Artes com uma exposição de obras dos artistas Hélio Oliveira, Ângelo Roberto,Maria Ângela, Luiz Gonzaga, Eurico Luiz, Oriosvaldo Lima, Liana Bloisi, Elizabeth Roters, Edísio Coelho, Edison da Luz,Humberto Rocha,Edvaldo Araújo ( Gato) , Sônia Sacramento, Gilberto Oliveira e Edsoleda com a coordenação do Diretório Acadêmico  da Escola de Belas Artes . Ai ao lado alguns dos artistas que participaram . Da direita pra esquerda Gato,Edison da Luz, Sônia Sacramento e Oriosvaldo Moura Lima, presidente do Diretório .

ALGUMAS EXPOSIÇÕES DA CAÑIZARES 

RESGATE DA II BIENAL - 1968

Esta  exposição  gerou polêmica  a " 68+40: O Resgate da II Bienal de Artes Plásticas da
Bahia" - o projeto foi idealizado visando "retomar  o fato histórico da II Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia inaugurada em 20 de dezembro de 1968 e fechada de forma violenta e desastrosa naquele mesmo ano ..." Participaram da mostra vários artistas que integraram a II Bienal  que contou com  65, e neste novo projeto apenas 56 deles  foram contactados, devido às dificuldades de encontrá-los. Portanto, foram expostas uma obra de cada artista  . Dizia ainda o manifesto que " A exposição atual trará para o grande público, que não presenciou o fato, obras recentes destes artistas como forma de descrever o percurso das Artes no Brasil e, em particular , na Bahia,desde o ocorrido em dezembro de 1968". Juarez Paraíso foi o cordenador juntamente com a então diretoria da Galeria Cañizares. Os artistas participantes foram:Alberico Mota, Ana Lúcia, Ana Pinto, Ângelo Roberto, Anísio de Carvalho,Áureo Abílio,Caetano Liberato Lima,Carlos Augusto D.L.de V. Bandeira, Carlos Estivalete, Chico Liberato, David Freire, Dilze Mendonça da Silva, Domingos Terciliano Jr., Edsoleda Maria Maciel Santos, Edison Benício da Luz, Edvaldo Gato, Fernando Coelho, Gilson Rodrigues, Gley Freire Cabral de Mello, Hilda de Oliveira, Yedamaria, Juarez Paraíso, Jamison Pedra, João Carlos Assunção Pita, Joaquim Pedroso G. Oliveira, José Antônio Cunha, José Carlos Augustio Jatobá, José Tiago de Carvalho Filho, Lázaro Torres, Leonardo Alencar, Liana Bloise, Lucídio Lopes, Ligia Milton, Lizete Mattos Ventura, Luciano Figueiredo, Luis Fernandes Martins, Luis Fernando Pinto,Luzíades Duarte Belfort,Maria Regina Pedreira, Marisa Gusmão Fernandes, Marlene Cardoso, Mercedes Kauark Kruschewsky, Mimi Fonseca, Moreno, Norma Athay de Couto, Paulo Guimarães,Pedro Amado de Souza, Reinaldo Eckenberger, Renato da Silveira, Rogério José Brito de Carvalho, Sante Scaldaferri, Sílvio Robatto, Sônia Castro, Tânia Vita, Vera Lima e Zu Campos.

EXPOSIÇÃO DIDÁTICA DE GRAVURA  - 1971 
 Outra exposição interessante foi realizada de 13 a 31 de agosto de 1971 chamada Exposição Diática de Gravura, cuja matriz em xilogravura do cartaz foi feita por Edvaldo Gato. Não sei so nomes de todos os participantes porque não foi feito catálogo por total falta de dinheiro. Disse Gato "que enfrentamos dificuldades até para imprimir as gravuras e o próprio cartaz". O professor era o Lobianco , e ao sair Gato ficou como monitor porque Hansen Bahia tinha ido para a Alemanha. Quando Hansen retornou reassumiu e passou a ministrar o curso de gravura. Gato venceu em primeiro lugar o concurso desta exposição, e os certificados  foram entregues pela então diretora Mercedes Kruschewsky a Gato, primeiro lugar; em segundo,  Sônia Lúcia Rangel com a obra "Canção para Astronautas", e em terceiro lugar a Elizabeth da Silva com uma xilo abstrata.
O Edvaldo Araújo, hoje conhecido por Edvaldo Gato, participou de várias exposições da Cañizares como a realizada de 10 a 30 de julho de 1981 intitulada "35 Anos de Gravura na Escola de Belas Artes",comemorativa dos 35 anos da federalização da Universidade Federal da Bahia. Além de ser um mestre na arte da gravura Gato integrou as equipes que decoraram vários  carnavais de Salvador. Também, fez parte  do grupo de artistas do 1º Leilão de Arte da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.

SEIS MULHERES NA CAÑIZARES - 1976

Em 23 de outubro de 1976 seis artistas mostraram suas obras mais recentes na Galeria Cañizares e também publiquei na coluna .Vejamos: " Seis artistas estão expondo na Galeria Cañizares, na Escola de Belas Artes ,da Universidade Federal da Bahia.Umas são professoras e outras alunas. No final um trabalho integrado e de qualidade. Carmem Carvalho com suas estamparias abstratas, Zélia Maria com suas cerâmicas, Terezinha Dumet Hilda Oliveira com as xilos, Rosa Alice com bico de pena e Graça Ramos com uma técnica mista de colagem e desenho. Assim, o visitante tem a possibilidade de observar trabalhos com várias técnicas concebidos por artistas que venceram a tão criticada barreira da academia. Estudar Belas Artes para alguns é considerado um sacrilégio."
 Esta foto de Carmen Carvalho é de 2018. Gostaria de conseguir uma foto reunindo todas as seis artistas.


A PRIMEIRA MOSTRA - 1976                                         

Centenas de alunos tiveram sensações semelhantes  ao expor pela primeira vez numa galeria de arte, e ali seus trabalhos serem vistos e comentados por convidados, visitantes e professores. Uma sensação indescritível. Entre eles, o hoje consagrado artista plástico Zivé Giudice, experimentou esta sensação em novembro de  1976, quando fez sua primeira exposição numa galeria.  No convite da mostra ele conversa com o professor Juarez Paraiso que lhe faz algumas colocações sobre a temática escolhida  que foca na solidão e nas angústias do homem frente à sociedade competitiva que vivemos deste muito tempo. Zivé disse que através da pintura de algumas figuras isoladas apresenta a total impossibilidade de comunicação,e nas desintegradas procura mostrar a angústia em que muitos vivem. Quanto à escolha de uma cor para realizar seu trabalho disse que não é pensada, apenas intuitiva, emocional. A exposição ficou em cartaz de 19 a 30 de novembro de 1976. 

"Durante o tempo que estive na Eba-Ufba , vi a Cañizares , através da sua atuação e articulação com alunos e professores , constribuir substancialmente com a formação de alunos. Salve o Galeria Cañizares nos seus 50 anos ! "  Na foto:  Oswaldo e Leonardo Alencar, pintores sergipanos; Ivo Vellame, o poeta Ildásio Tavares , Zivé e visitantes .

MÉDICOS PINTORES  - 1978

Lembro que existia um movimento interessante de médicos que também gostavam de pintar. Eles organizaram várias exposições, e  sempre era procurado por Affonso Roberto Martins Garrido, uma pessoa  de temperamento afável que além de médico, pintava e gostava de frequentar as exposições da Cidade. Em 1978 eles fizeram uma exposição na Cañizares e uns alunos mais rebeldes não gostaram.  Daí se vestiram de jalecos e com estetoscópios pendurados no pescoço fizeram um protesto no dia da exposição. Coisa de estudantes cheios de energia. Mas, devemos apoiar todos àqueles que pintam e gostam de arte, independente da profissão que exercem. Na época apoiei os estudantes na defesa do mercado. Acontece que a maioria dos médicos pintava por prazer, diletantismo, não queria se transformar em pintor profissional. Desses lembro apenas que Mirabeau Sampaio ( falecido) e César Romero  pintavam profissionalmente.

Eu publiquei na coluna em 21 de outubro de 1978 o manifesto dos estudantes, e também divulguei a exposição dos médicos pintores e escultores .Vejam ai:

"Nós artistas plásticos, estudantes, diante de um mercado cada vez mais difícil e restrito ao artista plástico, onde a sua profissão ainda não encontra-se regulamentada, vimos nos posicionar contra a convivência das galerias de arte, que possibilitam e permitem a interferência de profissionais de outras áreas, no mercado do profissional Artista Plástico, o que constitui por um lado num cerceamento do mercado e por outro, numa falta de ética e respeito profissional, a partir do momento em que a interferência de um profissional de uma área, na do outro. Observando-se porém que a recíproca poderia ser verdadeira.
Não questionamos aqui a validade artística do trabalho de quem quer que seja, apenas indagamos:
a)      Estariam agindo corretamente as galerias em abrir o mercado a outros profissionais?
b)      Estariam agindo corretamente estes profissionais em interferir, no nosso mercado?
c)      Como esses profissionais agiriam diante da possibilidade de uma interferência recíproca?
d)     Isso não contribuiria para um enfraquecimento à organização de classes?
                      Pela regulamentação da profissão do Artista Plástico 
      Diretórios Setoriais de Artes Plásticas e Licenciatura em Desenho e Plástica

Abaixo  os médicos que participaram da exposição que provocou o movimento de artistas  e estudantes preocupados com o precário mercado de arte de então.

MÉDICOS PINTORES- na Galeria Cañizares estão expondo Affonso Roberto Martins Garrido, Artur Ventura de Matos, Carlos Gilberto Widmer, Carlos Lopes Bittencourt, César Romero, Dulce Serrano Schaeppi, Eduardo Araújo Filho, Fernando Fortuna Guimarães, Flanklin Witz Leite Neto, Geraldo Bastos Guimarães, Gilberto Apê, Gilberto Carvalhal ,França Gomes, Humberto R. V. Peixoto, Italvar Cruz Rios, Jaime Nunes da Silva, Jessé Acioly; José Mirabeau Sampaio, José Pedreira Carrera, José Stanchi Correia, Lourival Burgos Muccini, Nancy Carvalho Cruz, Nelson Hart Madureira, Osvaldo Leal e Rodolfo Dantas Júnior. Expondo esculturas: Luís Fernando Pinto e Luís Carlos Medrado Sampaio. 

- 1981

De 10 a 31 de julho de 1981 coordenando a Galeria Cañizares, a artista  Ana Lúcia Uchoa Peixoto  organizou a exposição " 35 Anos de Gravura na Escola de Belas Artes" em comemoração aos 35 anos de federalização da Universidade Federal da Bahia. Esta exposição contou com as presenças de artistas-professores como Mário Cravo Jr., Hansen Bahia e Henrique Oswald . Dos primeiros gravadores : Carlos Sepúlveda, Calasans Neto, José Maria, Hélio Oliveira, Sônia Castro, Juarez Paraíso , Leonardo Alencar, Edísio Coelho, Edison da Luz, Gilberto Oliveira, Emanoel Araújo, Gley Mello, Yedamaria e Gisélia Figueiredo. Tambem, os gravadores das décadas de 70 e 80 : Vera Lima, Hilda Oliveira, Edvaldo Gato, Terezinha Dumet , Sônia Rangel, Paulo Rufino, Márcia Magno, Graça Ramos, Ana Lúcia Uchoa, Guache, Maria Adair, Fátima Hanack, Wilson Besnosik, Milton Menezes, Didier Hubert, Edsoleda Santos e Marta Gross.
O professor Juarez Paraíso apresentou os expositores lembrando que "os cursos de gravura implantados da Escola de Belas Artes a partir de 1953 constituem a maior referência para o estudo da implantação e desenvolvimento da produção da gravura na Bahia.".

O curioso é que houve uma clara preferência dos alunos pela xilogravura,  e Juarez atribui  isto pela novidade e também pela simplicidade do uso desta técnica , além do baixos custos dos materiais e facilidade em serem comercializadas as cópías. Ele afirma ainda que a mais importante produção da gravura em nosso Estado aconteceu de 1953 até os finais da década de 60,talvez porque a Eba detinha a única prensa de gravura. É bom saber que esta prensa foi adquirida em 1951, de uma antiga gráfica que funcionava no Maciel,  para o curso de gravura ministrado por Poty Lazaroto, sendo que  o uso do  compensado para as matrizes  foi introiduzido por Calasans Neto.

ASTRAIS BANANAIS ETC E TAIS - 1986

No verão do ano de 1986 Maria Adair decidiu trabalhar com um grupo de alunos da Escola de Belas Artes , tendo como proposta criar  juntos preservando a individualidade e a independência de cada um dos participantes. Inicialmente, onze alunos da EBA, um de  Arquitetura e outro de Física se apresentaram com vontade de pintar e desenhar. Mas, apenas cinco deles, conseguiram organizar um horário para entregar suas obras . Confessa Adair que "foi um trabalho gostoso e integrado de produção e companheirismo." Tinham encontros não apenas na EBA como também nas festas do Rio Vermelho,no Bonfim ou atrás do trio elétrico, e até na casa dela. Era pleno verão de 1986 e eles aproveitaram para fruir e receber inspiração da Cidade e de seu povo. O resultado foi uma exposição na Galeria Cañizares com a participação de pinturas e desenhos dos artistas Emília , Márcia Abreu, Paulo Carvalho, Hedi Lamar e Saulo. A exposição permaneceu aberta à visitação pública de 12 às 24 de março.

EXPOSIÇÃO DO BICENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO FRANCESA - 1980


Durante o Bicentenário da Revolução Francesa comemorada em julho de1989  foi realizada uma exposição comemoratva  - Arte,França e Bahia, com a participação dos professores da Escola de Belas Artes com obras de Maria Vrginia Gordilho,Maria Bernadete Capelo. Mercedes Kruchewsky,José Milton Menezes, Sonia Rangel,Ana Maria Vilar, Augusto da Silva, Yêda Maria, C.de Oliveira, Iza guimarães, Graça Ramos, Ailton Lima, Marlene Cardoso, Norma de Athayde,Terezinha Dumet, Edson de Oliveira Barbosa, Herbert Magalhães,Adele Goes, Denise Pitágoras, Juarez Paraíso, Márcia Magno, Gisélia Figueiredo, Humberto Rocha, Odete Magalhães, Onias Camardelli, Roberval Marinho, Maria Adair, Carmem Cavalho, Ana Lúcia Uchoa, Zélia Maria, Manoelito Damasceno e Roberio Marcelo Ribeiro. A exposição permaneceu aberta ao público de 14 a 30 de julho de 1989. Ao lado alguns dos artitas-professores que participaram da exposição.


CENTENÁRIO DE ALBERTO VALENÇA - 1991

Outra  exposição importante ali realizada foi no centenário do mestre Alberto Valença (1890-1983)  de 7 de junho a 7 de julho de 1991 na realidade a exposição foi realizada com um ano de atraso, pois Alberto Valença completara 100 anos em 7 de junho de 1990. Relembra Vera Spinola que "olhando para o passado, pois assim tive a oportunidade de chegar à família Valença num momento de celebração, que teve a Galeria Cañizares como porta de entrada. Até então, conhecia muito pouco a obra do pintor.No vernissage , lembro da presença do discípulo dileto de Valença, Juarez Paraíso; de Márcia Magno, então diretora da Escola de Belas Artes (EBA) ; dos artistas Mário Cravo Junior e Carybé, além de estudantes, personagens do mundo das artes, familiares e amigos."

A exposição contou com pinturas do acervo da EBA, do Museu Costa Pinto, do Museu de Arte da Bahia, e de colecionadores particulares. Um dos quadros que chamou sua atenção foi este ao lado de nome  "Ladeira da Montanha", do acervo do Museu Costa Pinto .datado da década de 1910, onde se vê a lateral do Teatro São joão, destruído por incêndio em 1923".

1º LEILÃO DE ARTE DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA UFBA - 1991

A Escola de Belas Artes estava vivendo uma grande crise financeira e a então Diretora Márcia Magno resolveu fazer um leilão de arte para arrecadar fundos, e passou a solicitar de artistas da comunidade, professores e alunos obras para serem leiloadas. Isto foi novembro de 1991 . Foram doadas dezenas de obras, inclusive algumas de valor inestimável dos velhos mestres da EBA , e de artistas consagrados no mercado de arte brasileira, e até uma cópia da escultura Vênus de Milo foi leloada.
 O leilão foi realizado no Salão Aratu, do então Hotel Meridien, e as obras expostas à visitação pública ficaram na Galeria Cañizares de 25 a 30 de novembro de 1991. Foram arrecadados mais de 30 milhões de cruzeiros.
A escultura Vênus de Milo original foi esculpida em mármore pariano e mede 204 cm de altura, de autor anônimo.Foi encontrada em 1820, e encontra-se no Museu do Louvre , em Paris. Já a cópia da EBA foi adquirida em 1897, e para o Brasil vieram duas cópias ,sendo que a outra está na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Esta cópia leiloada foi realizada por Juarez Paraiso e Nanci Uchoa em resina poliester marmorizada e  fibra de vidro, tirada exatamente da pertencente à EBA.


MULHERES EM MOVIMENTO - 1 e 2 - 2007 e 2009

Com a curadoria de Márcia Magno, que também já dirigiu a EBA, foram realizadas duas exposições Mulheres em Movimento 1 e 2 com o objetivo de mostrar a atuação de todas as mulheres artistas relacionadas com a vida docente e discente da Escola de Belas Artes , de sua fundação em 1877 até a década de 1990. 
Disse   Márcia que diante do número de artistas  ser grande decidimos realizar duas exposições : Mulheres em Movimento 1 de  5 de setembro de 2007, com artistas relacionadas de 40 até a década de 1970, e Mulheres em Movimento 2 com mulheres até a década de 1990.

Veja as artistas das décadas de 40,50,60 e 70  que participaram da mostra Mulheres em Movimento 1 : ( De cima para baixo,da esquerda para a direita) Denise Pitágoras, Carmen Carvalho, Hilda Oliveira, Lizia Rocha,Edsoleda Santos,Terezinha Dumet,Norma Courp ,Malie Matsuda ( texto) ,Celia Azevedo, Ana Maria Vilar, Márcia Magno, Rosalice França, Grace Gradin, Iza Guimarães, Bernadete Campelo, Vera Lima, Margaritta Lamegho, Graça Ramos, Suza Machado ( revisora do texto),Célia Aguiar, Sônia Castro ,Lygia Sampaio, Maria Carrano, Iza Moniz, Lygia Milton, Haydée Valente, Mercedes Kruschewsky,. Artistas ausentes na foto: Maria Célia Calmon, Jacyra Oswald, Mariza Fernandes Correa, Adele Balazs, Dagmar Pessoa, Liana Bloise, Zelia Maria, Yedamaria, Ângela Cunha, Hilda Salomão, Liane Katsuky, Maria Adair , Sônia Rangel, Sofia Olszwski e Célia Gomes. 

Participaram da mostra Mulheres em Movimento 2 realizada  de 8 a 28 de outubro de 2009 - as artistas Aruane Garzedin, Beth Souza, Bia Santos, Betânia Vargas, Carmem Penido,Célia Mallett, Claudia Moraes, Conceição Fernandes, Elizabete Actis, Eneida Sanches, Giovana Dantas, Gleciara , Goya Lopes, Ieda Oliveira, Inês Melgaço, Inha Bastos, Jane Lídia, Jani Sault, Ledna Barbeitos, Márcia Abreu, Maria Luedy, Maristela Ribeiro, Nanci Novaes, Rosemarian, Tinna Pimentel, Therezinha Lima, Valéria Simões , Viga Gordilho, Zau Pimentel e Zilmar Souza.  Elas são oriundas das décadas de 80 e 90 na Escola de Belas Artes.
Segundo escreveu Márcia Magno no catálogo da exposição estamos " diante de um número de artistas mulheres , algumas egressas da arte moderna,mas todas presentes com a mesma relevância na arte pós-moderna e contemporânea. Desde a primeira mostra ficou demonstrado a superação de muitas limitações, tendo as artistas mulheres praticado todas as correntes e gêneros artísticos, todas as técnicas disponíveis, e muitas delas inventando outras, por meio da pesquisa de novos meios de expressão artística. Diversas destas artistas, já com mestrado e doutorado, vêm desempenhando funções de coordenação pedagógica e administrativa, na própria EBA, em museus e galerias de Arte da Bahia. A sua presença tem sido constante nas galerias, salões e bienais,com premiações , com a consagração do público e da crítica

especializada". 
Na foto aolado  algumas das participantes Claudia Moraes,Valéria Simões, Rosemarian, Ledna Barbeitos, Elizabete Actis, Márcia Magno, Nanci Novaes,Beth Souza , Celia Mallett  e Ignês Melgaço. 
Durante a gestão de Márcia Magno à frente da direção da Escola de Belas Artes , de 1988 à 1992 ela nomeou Ana Lúcia Uchoa como coordenadora da Galeria Cañizares  a qual fez um trabalho relevante, mantendo ativa este importante espaço das artes plásticas. Já na gestão de Juarez Paraíso de 1992 à 1996  foi a própria Márcia Magno quem coordenou a galeria, periodo em que se destacou com as exposições Mulheres em Movimento 1 e 2.