quinta-feira, 24 de abril de 2014

CARETAS E BAIANOS

Os caretas brincando durante  o Carnaval de Maragogipe
 Dois belos livros de fotografias me chegaram às mãos: Careta, Quem é Você - Carnaval de Maragogipe, de Álvaro Villela, e Baianos, de  Manu Dias. São trabalhos que engrandecem a fotografia em nosso estado e revelam a capacidade e, principalmente, a sensibilidade, além é claro, da técnica apurada , desses dois profissionais da fotografia.
Para surpresa minha, os livros me foram presenteados por uma pessoa querida que sabe do meu interesse pela arte da fotografia, inclusive tenho feito algumas fotos ao longo de minha carreira de jornalista. Feito não apenas fotos de reportagem, mas também, de assuntos que causam algum interesse do meu olhar.
O Carnaval de Maragogipe foi tombado como patrimônio imaterial pela sua singularidade, participação e espontaneidade de todos àqueles que curtem a festa nesta pequena cidade do Recôncavo Baiano. Além dos famosos caretas  ainda  tem uma entidade  chamada de Bloco das Almas, que sempre sai a partir da meia-noite assombrando as crianças do local.
Portanto, foi exatamente este Carnaval que o fotógrafo Álvaro Villela, natural de Sergipe, mas residente  em Salvador, resolveu focar com suas lentes. Ele nos brinda com fotos sensacionais, revelando nas páginas do seu livro Caretas a simplicidade desta gente e sua forma alegre de brincar o Carnaval.
Sempre tive uma curiosidade sobre os caretas solitários, que surgem nos becos, nas ruas e procuram a todo custo esconder suas identidades. Mas, desde o tempo de criança observava que meus colegas saíam acompanhando os caretas em Ribeira do Pombal , querendo saber quem eram. Já adulto, morando em Salvador, no bairro do Tororó, notei que acontecia este mesmo comportamento durante o Carnaval, com as crianças seguindo os caretas  com o objetivo de identificá-los, mesmo quando o careta utilizava recursos para modificar o jeito de andar, engrossar ou afinar a voz, para disfarçar.  Quando conseguiam identificar algum careta de pronto as crianças  saiam gritando o seu nome  e este  tratava de sumir daquele local o mais breve possível.
Álvaro passou sete anos fotografando os caretas e diz no seu livro que descobriu por acaso quando viu crianças brincando com as máscaras. Essas máscaras, em sua maioria feitas artesanalmente possibilitou ao fotógrafo fazer uma narrativa visual e documental de fazer inveja.
Já Manu Dias focou, em suas viagens pelo interior, pessoas  de vários tons de pele, religiões e sotaques. Mostra o grande mosaico do que é constituído o povo baiano. Fotografou desde as crianças com sua alegria e ingenuidade, aos garotos e garotas das fanfarras com suas roupas de gala, gente do candomblé, índios  e os valorosos vaqueiros do sertão.
O valoroso vaqueiro na missa celebrada em Curaçá-Bahia
Este livro mostra exatamente através das imagens como nosso estado é formado por uma população multirracial composta de índios, negros, brancos, mulatos, sararás, pardos, enfim, por indivíduos   que se misturam e se completam em todos os níveis imaginados. Pessoas que transmitem em seus rostos e olhares a generosidade desta gente, muitas vezes sofrida, mas que vai em frente acreditando sempre em dias melhores.
Portanto, o Manu Dias também está de parabéns por seu livro Baianos, contribuição importante, documentando com suas imagens, estes rostos de uma expressividade ímpar para que possamos compreender quem somos e o que significa viver num estado composto de uma variedade fantástica de indivíduos de diferentes matizes de cor de pele, religião e nível social.

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