sábado, 10 de agosto de 2013

UMA PAISAGEM DE AUTOR IGNORADO

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 23 DE DEZEMBRO DE 1978


De autor ignorado, esta paisagem, preciosa como pintura da primeira metade do século passado entre nós, provavelmente de mão de viajante estrangeiro pelo Brasil, nos remete a certas paisagens de Nicolas de Taunay dos arredores do Rio. De qualquer forma, reflete um clima idílico, numa concepção romântica de natureza, aqui projetada de forma organizadora e acolhedora. Pertence a Pinacoteca do MASP.
Focalizando uma fazenda do interior utilizando a cor como elemento fundamental para o estudo de luz e sombra, o pintor compõe o quadro dividindo a paisagem em planos que se sobrepõem, em faixas horizontais. Assim, no primeiro plano, jogando simultaneamente com luz e sombras, vemos as figuras dos dois homens, à esquerda, como distanciados da cena das escravas sentadas ao sol, em seus afazeres, a animar, estas figuras, o que em verdade comporia este primeiro plano, uma cerca de mourões coberta de vegetação e beira de estrada. O segundo plano, mais sóbrio, já representa entre arbustos mais densos dois paiois de construção rústica. Amplamente ensolarado, o terceiro plano destaca, á distância, a casa-grande, á esquerda, o terreiro, a casa dos serviçais, e á direita o casario da senzala. O tratamento de miniaturista, em factura ordenada, permite conferir a impressão de distância em tela de tão pequenas proporções. O último plano focaliza a mata na encosta da montanha contra o céu.
Estamos, portanto, bem distantes das paisagens espontâneas pelo seu auto didatismo, das cenas do Rio ou da Baía de Guanabara de Leandro Joaquim de fins do século XVIII, assim como das paisagens que começam a aparecer nas dunas últimas décadas do século XIX entre os discípulos da Academia Imperial de Belas Artes.
São raros, na primeira metade do século XIX, os artistas brasileiros que fixam e interpretam o seu entorno físico. Com a implantação da Academia impõem-se gêneros como a pintura histórica, a de temática religiosa, ou mesmo a retratística, e a paisagem somente começaria a ter adeptos e entusiastas no fim do século. Assim, eram sobretudo estrangeiros, de passagem ou que aqui se radicaram, os que se encantavam com nossa natureza, desejando retê-la, de forma documental como os membros das missões científicas, ou interpretativa, através da pintura.

             MORRE RESTAURADOR AUGUSTO VERMEHREN

O restautador de obras de arte Augusto Vermehren, conhecido do mundo todo por introduzir modernos métodos científicos em sua profissão morreu, aos 80 anos, segundo informou a família, sem revelar a causa da morte.
Vermehren introduziu o uso de microscópio, da fotografia estereoscópica e de exames com raio-x na restauração de quadros de autoria de mestres do renascimento como Leonardo da Vinci, Rafael Verrocchio, Ticiano e Masaccio.
Antes desses, Vermehren também restaurou obras de Rubens, Velásquez, Vandyk e Bronzino.

                         ARTE DO BRASIL EM KING’S ROAD

Em King’s Road, Chelsea, uma rua famosa por seus lançamentos de moda e pela marca da vanguarda de todos os seus empreendimentos, está sendo apresentada uma exposição de arte com temática brasileira. A Galeria  Chenil, uma das mais bem montadas de Londres, e os artistas são jovens, um brasileiro e outro britânico. São eles Mário Borges Coelho de Sousa e Anthony Moorc.
Moorc já tem amplo currículo internacional, inclusive com bolsas do Governo brasileiro. Seus quadros, de acento moderno, são representações da paisagem e do povo do Brasil. Foram feitos nas suas duas últimas viagens ao país.
Mário Borges é formado pela Esdi, do Rio, Cida onde já se apresentou individualmente muitas vezes. Para a atual mostra ele pintou em Londres, nos últimos quatro anos, mas o tema permanece brasileiro.
São paisagens rurais e urbanas, igrejas coloniais e formas humanas, parcialmente abstratas. O artista recorre ás técnicas da colagem e da inserção e suas superfícies altamente elaboradas em cartão ou madeira produzem um efeito tridimensional de grande interesse, que só reforça a mensagem humana e religiosa dos quadros.
 O Brasil que emerge desse tratamento é o de paisagem transformada em símbolo, mas que retém sua qualidade pictórica. O contraste entre os trabalhos dos dois artistas é dos mais estimulantes e tem o Brasil como fator de unificação.

                     O LUGAR DA FOTOGRAFIA
"Colecionar fotografias é colecionar o mundo", Susan Sontag, On Photography


A fotografia, sua criação, aproveitamento, preservação e exposição um dos componentes mais estimulantes, acessíveis e amplamente discutidos do cenário artístico contemporâneo dos Estados Unidos. Após anos sem ser levada a sério, e ser revelada às alas menos visitas dos poucos museus que exibiam fotografias, este retardatário entre os gêneros visuais conquistou, nitidamente, seu lugar ao sol.
Um amplo sistema de apoio vem se formando em torno dele, disse Renato Danese, diretor adjunto do programa de artes visuais da Fundação Nacional para as Artes, dos EUA. As exposições em museus, o interesse que os norte-americanos vêm demonstrando em  colecionar e em investir em fotografias históricas, estão sendo impulsionados por uma análise crítica maior da arte, por um crescente número de livros sobre o assunto e um incremento nas posições adotadas em importantes museus, bibliotecas e arquivos e relação á fotografia.
O interesse por esta forma específica de arte passou a fermentar nos últimos poucos anos.
Uma série de acontecimentos específicos levou-a  a despertar a atenção do público.
Por exemplo:
O valor comercial de material de vinheta aumentou. Os diretores de importantes galerias começaram a interessar-se em preservar provas fotográficas do passado e as coleções particulares, bem como de instituições. Aumentaram.
Os jovens passaram a tomar conhecimento desta recém-adquirida base comercial que a fotografia usufrui atualmente. Como resultado, um número sem precedente de fotógrafos está se dedicando à fotografia como uma atividade artística.
A fotografia está sendo submetida a um escrutínio crítico cada vez maior e merecendo uma aclamação generalizada. A série de artigos de Suzan Sontag relativa a esta modalidade de arte, publicada originalmente no The New York Revlew of Books obteve grande penetração e foi transformada em um livro, On Photography, em fins de 1977.
Foto de Ralph Gibson A Mão Encantada,  1969
E, em princípios deste ano, foi distinguida com o prêmio para o melhor trabalho sobre não- ficção pelo National Book Critics Circle. Um outro exemplo é que o The New York Times e outros importantes órgãos da imprensa dos EUA designam, com regularidade, seus críticos d arte para fazerem a cobertura de exposições fotográficas e traçarem o perfil dos que se dedicam ao ofício.
As doações de verbas, tanto privadas como públicas estão aumentando.
As exposições fotográficas desenvolveram-se consideravelmente. Os museus exibiam, com certa freqüência, coleções de fotografias mas não com a assiduidade com que fazem hoje.
Desde os dias do fotógrafo histórico da Guerra da Secessão, Matthew Brady, e dos retratistas e especializados em paisagens do final do século XIX até nomes como Diane Arbuse, Richard Avedon e Lee Friedlander da era contemporânea, a fotografia tem gozado de uma presença curiosa e esquizóide uma presença que perpetuou o desgastado debate entre a fotografia como jornalismo e comentário social e a fotografia como arte. Cada categoria tem tido seus defensores; hoje, entretanto, os valores artísticos da fotografia estão merecendo um reconhecimento sem precedente.
A presença em rápida expansão da fotografia promete crescer ainda mais na medida em que se segue o debate, a discussão e a reconsideração. Recentemente, uma mostra de trabalhos contemporâneos no Museu de Arte Moderna de Nova Yorque, Espelhos e Janelas: A fotografia Norte-Americana a partir de 1960, provocou um acalorado debate sobre o papel da fotografia nos dias que correm como um espelho de nossa época, uma arte intemporal vis-a-vis.
Este debate deverá aumentar quando a exposição cumprir a sua programação de visitar sete outros museus norte-americanos.
Também estão sendo analisados os aspectos não-criativos do fenômeno da fotografia na década de 1970. Um simpósio de dois dias de duração realizado na Galeria de Arte Corcoran, de Washington, em fevereiro último, teve como tema: Fotografia: Onde Estamos.
Os participantes, que incluíam fotógrafos, curadores, críticos e colecionadores, manifestaram opiniões sobre os preços cada vez mais elevados das peças colecionáveis, o papel da crítica e a fotografia como arte.
E qual  a sua qualidade especial? Deve adaptar-se á arte ou à vida? Parte de sua singularidade, sugere Renato Danese, é sua ausência de singularidade.É tão ampla como o ambiente visual. A boa fotografia tem sempre refletido idéias firmes sobre a arte, mesmo quando não há intenção, uma certa integridade visual da mesma forma que reflete algo importante sobre a vida.

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