sábado, 6 de julho de 2013

ROSA CABRAL EXPÕE SUAS FOTOS NO ICBA

JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SÁBADO, 08 DE NOVEMBRO DE 1975

Rosa Cabral singela e criativa
Fazendo um balanço dos acontecimentos ocorridos no setor das artes plásticas durante esta semana que finda temos que considerar que o mais importante, aconteceu quando da apresentação do trabalho de Rosa Cabral, no último dia 06, no Icba, na Vitória.Constou de uma fusão plástica através de sincretismos de linguagens usando o som nordestino com uma projeção de slides conjugada. Criou-se desta forma uma ambientação adequada para a exposição de fotografias, alterando ilusoriamente o espaço real.
Corpos movimentavam-se entre dunas e coqueiros e rolavam sobre esteiras tecidas com fibras encontradas nas matas do Nordeste. Verdadeiras serpentinas a balançar no espaço vazio. Um trabalho em que Rosa Cabral tentou documentar o cotidiano da mulher, culminando com a viola, flauta e triângulo que emitam sons nordestinos.
Participaram do trabalho Maril Sarmento, Suzana Martins, Armando Visuette e ,no som Onias Camardelli, Paulo Cortes e Luciano Chaves.Quanto a Rosa Cabral é artista já conhecida e atualmente está expondo na III Bienal de Internacional de São Paulo. Um detalhe é que chamava-se Rosa  Barreto e hoje, assina Rosa Cabral.

          BABALU E A PROSTITUIÇÃO COMO TEMA MAIOR

Na exposição realizada pelas Voluntárias Sociais na Feira da Previdência, no Rio de Janeiro, um dos trabalhos expostos na barraca da Bahia era de autoria de Babalu. Ao ver fiquei impressionado pelo colorido e principalmente pelo tratamento do tema. A prostituição e o baixo mundo do brega era tratado com tal ingenuidade que os quadros primitivos de Babalu a todos agradam. O seu nome de batismo é Sinval Cunha, mas preferiu adotar o nome Babalu, mais identificado com o tema que desenvolve. Sua arte busca retratar do ponto de vista de sua experiência, cenas que acontecem diariamente naquelas ruas escuras e esburacadas do Maciel, da Ladeira da Preguiça e outros locais freqüentados por prostitutas marginais, marinheiros e boêmios.
É o outro lado da cidade, o lado que durante o dia desaparece e à noite ressuscita com toda a força. Curioso é que Babalu consegue colorir, e colorir bem esta vida marginalizada pela sociedade, dando uma ambientação de alegria. A prostituta ri atoa e o marinheiro alegre consome uma garrafa de cachaça. Das janelas pendem selos e bandeirolas coloridas. O marginal passeia em busca de um incauto. É um mundo estranho ao da Rua Chile, da Barra, que tem suas próprias leis e até mesmo o modo de vestir traz uma identidade própria. Este mundo marginal e maravilhoso e cruel você pode encontrá-lo ingênuo no quadros que Babalu está mostrando na Galeria Cavalete, no Rio Vermelho.

   THOMAS GAINSBOROUGH FOCALIZADO NUMA MOSTRA
Bela tela da pintura romântica de Thomas Gainsborough

Um quadro pintado por Thomas Gainsborough 1727-1788 e que mostra suas filhas quando criança perseguindo uma borboleta é o quarto da série Pinturas em Foco, que está sendo mostrado na National Gallery, em Londres. Outros quadros que o artista pintou de suas filhas já mais velhas também estão incluídos na mostra. O artista gozava da liberdade de pintar o que desejava, sem modificar o seu trabalho para atender as exigências de colecionadores, como acontece hoje, com os melhores e respeitados artistas. O seu quadro sobre a  caça as borboletas é tão bem pintado que os mínimos detalhes podem ser observados.

                 VAMOS CONTESTAR
Nos últimos anos a contestação virou moda. Dentro em breve alguém terá a feliz idéia de contestar a contestação. Tudo é possível. Agora mesmo visando contestar e ironizar a XIII Bienal Internacional de São Paulo que tem 26 anos de vida, surgiu um artista de nome Fred Forest que criou a sua Bienal reunindo obras de 14 artistas brasileiros que os ajudaram a compô-la. Batizou a sua Bienal de Bienal do Ano 2000. Enquanto na XIII Bienal Paulista os prêmios chegaram a três milhões de cruzeiros, na Bienal de Forest ninguém ganha nada. A Bienal paulista tem 26 anos e muitos serviços prestados ao desenvolvimento da arte do País. Discordamos da escolha dos premiados das obras expostas, mas nunca do seu objetivo.

                      COLETIVA NA GALERIA PANORAMA

Está aberta até o próximo dia 9 a coletiva que reúne trabalhos de Ida Athanásio dos Reis, Maria de Lourdes Pereira Souza, Maria Laura Bandeira Florence e de Rosita Dubois e Veturia Azevedo Britto. São novas artistas formada pela Panorama  Galeria de Arte.

                ÁFRICA DO SUL NA BIENAL

Obra do artista Hardy Bhota
Vinte e sete trabalhos executados por quatro artistas: Hardy Botha, Charles Gasnner, Patrick O’Connor e Calud Van Linger, que explora o problema dos conceitos espaciais na arte com um sentido de forma muito individual.
O grupo é formado por artistas de estilos e personalidades divergentes. Os trabalhos de Van Linger são feitos de tiras de espuma de poliuretano flexível de cores muitos vivas, compostas e comprimidas dentro de caixas de acrílico: suas esculturas apresentam grande originalidade no uso de materiais, segundo a tradição da arte POP. As duas obras intituladas Contido n. 1 e Contido n.2 revelam um jogo ambíguo entre a aparente leveza dos materiais e a força com que foram moldados. O artista escolheu um meio difícil de expressão, trabalhando dentro de limites.
As seis portas de Patrick O ‘Connor já foram expostas na África do Sul. Cada porta revela um segmento diferente da realidade contemporânea; cada uma eleva o que é visto na carne e na emoção humanas a uma reflexão filosófica superior: cada uma se torna uma espécie de comentário de situações humanas.
Fantoche, obra de Hardy Bhota exposta na Bienal
Já a inclusão de Charles Gassner do grupo foi uma surpresa para muita gente.Emergindo da obscuridade, esta artista de 60 anos de idade expõe trabalhos que evocam paisagens sul-africanas, flores, e objetos através de ousadas pinceladas.
Outro é o artista Hardy Botha. Depois de estudar arte, trabalhando como designer  pintor, e de fazer várias exposições na África do Sul juntou-se a um circo onde trabalhou como palhaço. Como um verdadeiro palhaço ele retrata o Mundo que lhe cerca, com humor. O circo que exerce um grande fascínio sobre as pessoas, influenciou terrivelmente a visão de vida de Hardy. Seus trabalhos refletem uma verdadeira fantasia. Suas litografias revelam maturidade e habilidade artísticas.

     VILARES À FRENTE DA BIENAL PAULISTA

O Sr. Luís Diedrichsen Villares é candidato mais cotado à presidência da Fundação Bienal de São Paulo, após a renúncia do Sr. Francisco Matarazzo, sexta-feira passada, especialmente na impossibilidade dos dois vices assumirem o cargo.O primeiro Vice, Sr. Oscar Landman está respondendo pela previdência mas não pode ser efetivado porque não é brasileiro nato, e sim, naturalizado.
O candidato deve sair do Conselho, do qual Villares é membro, já tendo recusado antes o cargo, quando convidado pelo próprio Cicilo Matarazzo. Com a possível indicação de Villares surge esperança com relação a retomada do prestígio da Bienal Paulista e que a mesma seja uma alavanca para o desenvolvimento da arte de vanguarda. Porém, uma arte de vanguarda de qualidade.

              MÚLTIPLOS E VANTAGENS

Os colecionadores, críticos e artistas plásticos brasileiros podem agora contar com uma galeria especializada em múltiplos. Trata-se da Galeria Gravura Brasileira, que foi inaugurada, ontem, no Rio de Janeiro.
É a primeira galeria de arte especializada em múltiplos: gravuras, xilo, serigrafias, etc. Assim estará ao alcance do colecionador médio trabalhos de grandes nomes das artes plásticas brasileira. As obras de arte em série representam acima de tudo a possibilidade de um rápido desenvolvimento do mercado de arte do país.

                          OS  CEM MAIS
A revista alemã Capital acaba de publicar uma lista dos 100 artistas mais importantes de 1960 para cá.
A lista considera Picasso, Miró, Max Ernst, Vasarely e Dubuffet hors concours, e coloca em primeiro lugar Robert Rauschenberg, em segundo, Oldenburg, e, em terceiro, Andy Warhol.
Detalhes: os três são americanos, e nenhum hiperrealista foi relacionado entre os 100.
Ao lado uma obra marcante do artista americano Robert Rauschenberg


                              A ARTE DO CARTAZ

A pessoa encarregada de fazer a apresentação da exposição A Arte do Cartaz, uma retrospectiva das principais tendências nos últimos 100 anos, que está sendo realizada no ICBA, afirma que não é necessário que os cartazes agradem a todo mundo. Uma coisa porém é indispensável: tem que chamar a atenção de todo  mundo. Não concordo com esta afirmativa do apresentador. Acho que o cartaz tem que comunicar e só comunica se agrada. Não adianta chamar a atenção se não comunica. O objetivo básico do cartaz é comunicar, comunicar imediatamente.
Quanto à questão de conter mais ou menos texto é outra conversa. O que importa é que o cartaz seja criado de tal forma que possibilite o entendimento de maior número de pessoas. O grotesco ou chocante chama a atenção, mas por outro lado, possibilita uma reação negativa da pessoa que recebe a mensagem.
O cartaz acima de tudo é uma comunicação visual. Ele rompe convenções, porém deve refletir o gosto da maioria. O cartaz possibilita um maior entrosamento entre o artista e o cliente e também permite que sua arte seja levada a um maior número de pessoa.
Digo ainda que o cartaz deve harmonizar a qualidade artística com sua capacidade de comunicar, de transmitir através de uma rápida visualização a mensagem nele inserida.
O cartaz é documento de uma época, embora quase sempre ele rompa com tradições arraigadas no momento histórico que foi concebido. Reflete também as inquietações e aspirações de determinados grupos das comunidades, que são representados pelos criadores, pelos artistas e intelectuais.
A sua importância vem crescendo no decorrer do tempo, importância esta, ligada a sua capacidade de comunicar com um maior número de pessoas em pouco tempo. Portanto, finalizo achando que não adianta simplesmente chamar a atenção. O que interessa e que comunique e agrade a muita gente, senão a todos.

                                 FUNARTE UMA NECESSIDADE
Com a finalidade de promover, incentivar amparar em todo o território nacional, a prática, o desenvolvimento e a difusão das atividades artísticas, resguardada a liberdade de criação, foi proposta ao Congresso Nacional, pelo Presidente da República, a criação da Fundação Nacional de Arte - Funarte.
Vinculada ao Ministério da Educação, à Funarte serão incorporados, com a transferência dos respectivos acervos e atribuições o Serviço Nacional do Teatro, o Museu Nacional de Belas Artes, a Campanha de Defesa do Folclore e a Comissão Nacional de Belas Artes.
A Funarte manterá provisoriamente sede e foro no Rio de janeiro, até a implantação de seus serviços em Brasília, para qual o poder Executivo abrirá um crédito especial, no exercício uma necessidade tendo em vista a desarticulação existente entre vários órgãos que tratam das artes. Assim congregados certamente atingirão melhor os objetivos a que foram criados.

                            O TAPECEIRO THOR ESTÁ NA GALERIA OCA

O tapeceiro Thor ao lado de uma obra recente
Os esboços coloridos foram abandonados pelo tapeceiro Thor em busca de uma participação, de um envolvimento maior do artista com o material a ser utilizado.
É um trabalho de criação e principalmente de envolvimento. Thor não faz esboços, como a maioria dos tapeceiros, os quais depois entregam o cartão ás bordadeiras. Ele prefere riscar diretamente sobre a tela, nas dimensões pré-estabelecidas, o tema idealizado em formas e cores. Daí passa a tecer, a criar pontos, a acrescentar materiais e contas dando ao tapete a dimensão do objeto.
Alguns tapetes deste artista Torquato G. Beltrão. É pernambucano do Recife. E atualmente reside no Rio de Janeiro. Tem tapetes em coleções de vários países, já tendo realizado dezenas de exposições individuais e coletivas.

            RUBEM VALENTIM NO X SALÃO DE CAMPINAS

O  artista Rubem Valentim é um dos debatedores
Até amanhã a arte brasileira estaria sendo debatida no Museu de Arte Contemporânea de Campinas. Foram escolhidos doze artistas para falar sobre os trabalhos que estão desenvolvendo. O salão continuará até o próximo dia 30. Como representante de Brasília, foi escolhido o baiano Rubem Valentim, dentista diplomado, e um dos principais artistas brasileiros. Segundo ele "minha linguagem plástico-visual-sinográfica está ligada aos valores místicos e profundos de uma cultura afro-brasileira ( mestiça- animista-fetichista). Com o peso da Bahia sobre mim -  a cultura vivenciada: com   no mundo, a contemporâneidade; criando os meus signos-símbolos procuro transformar em linguagens visual o mundo encantado, mítico, provavelmente místico que flui continuamente dentro de mim. O substrato vem da terra, sendo eu tão ligado ao complexo cultural da Bahia: cidade produto de  uma grande síntese coletiva que se traduz na fusão de elementos étnicos e culturais de origem européia, africana e americana. Partindo desses dados pessoais e regionais, contemporâneo universal, para expressar-me plasticamente."
 Um caminho voltado para a sua raízes mas sem desconhecer ou ignorar tudo o que se  faz no mundo, sendo isso por certo impossível com os meios de comunicação de  que já dispomos, é o caminho, a difícil via para a criação de uma autêntica linguagem brasileira de arte. Linguagem plástico-vérbico-visual-sonora. Linguagem pluri-sensorial: Transcrevo na íntegra o depoimento de Rubem Valentim proferido no Salão de Campinas, pela sua importância e ligação com a Bahia.

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