quarta-feira, 10 de julho de 2013

ITAMAR ESPINHEIRA NA RUA INTERNACIONAL

JORNAL A TARDE SALVADOR SÁBADO, 2 DE OUTUBRO DE 1976

Bananeiras, obras de Itamar Espinheira
O pintor Itamar Espinheira está com seu novo atelier na Rua Internacional, 255 no bairro da Pituba.Na tranqüilidade de uma rua onde o asfalto ainda não chegou com o barulho infernal das descargas dos automóveis ele pinta e trabalha numa liberdade total de temática e formas. "Sou completamente livre para realizar o meu trabalho pictórico e pinto tanto casarios como marinhas e paisagens.Estou hoje fazendo aquilo que sempre desejei fazer dentro das artes visuais sem uma preocupação imediatista de agradar a colecionadores ou críticos. O que realmente me interessa é aprimorar minha técnica e acredito que isto venho conseguindo aos poucos", disse.
Realmente o artista Itamar Espinheira vem amadurecendo o seu trabalho e seu modo de espatular é cada vez mais livre e por isto as formas conseguidas são mais expressivas. As cores tornaram-se mais sóbrias em seus quadros onde lugares bucólicos ganham uma força invejável. Surgiram os barcos, a vegetação e os detalhes das areias e dunas que ele agora utiliza como temática, além dos casarios e monumentos históricos. Um detalhe importante em seus quadros é a liberdade no desenho. Isto é, ele faz um pequeno esboço das linhas principais daquilo que pretende pintar e este desenho fica sujeito a composição, ao contrário do acadêmico, que fica preso ao desenho e com a preocupação de conseguir cores semelhantes ao real.
Itamar espinheira já realizou várias exposições coletivas e individuais tanto em Salvador como em outras capitais do país. Ao todo 15 coletivas e 12 individuais, portanto portador de um curriculum razoável, considerando as aquisições e seu prestígio como profissional.
Quando planeja uma mostra este artista produz uma série de quadros para em seguida fazer uma seleção e esta produção demanda tempo. Muitas vezes é difícil a realização de uma exposição deste artista porque seus quadros são disputados por colecionadores e galerias que a toda hora estão adquirindo-os.
O trabalho de Itamar está muito diferente daquele que estamos acostumados a ver e admirar. Agora as espatuladas são mais firmes e definem os espaços e as formas desejadas com mais liberdade. O desenho passou para a um plano secundário dando a primazia a composição como um todo.
Embora tenha uma prole numerosa, Itamar espinheira consegue equilibrar sua vida particular e profissional. É um artista que sabe valorizar o seu trabalho e não abre mão de sua consciência em busca de concessões ou dinheiro fácil.
Notamos em seus recentes trabalhos uma preocupação com a vegetação, talvez levado inconscientemente pela gritaria que estamos assistindo na imprensa contra a destruição da natureza pelo homem. A figura humana aparece em suas telas fazendo parte de composição. São indefinidas na forma e ocupam lugar secundário dentro da composição plástica. Quase que as figuras humanas são diluídas, pequenos pontos de referência para mostrar um pouco de vida e de presença. As formas são conseguidas através do jogo de cores das espatuladas. O desenho depende da cor. As sombras e a presença de luz pela mesma forma.
Na pintura de Itamar Espinheira as cores sugerem formas que normalmente seriam difíceis de serem conseguidas obedecendo a  rigidez do desenho. Neste jogo plástico o artista consegue tons belos e sóbrios que dão ao seu trabalho uma boa qualidade.
Como exemplo podemos citar um quadro da Ladeira da Conceição onde as cores sugerem os casarões. As cores diferem  do real porque ele encontrou uma tonalidade melhor para se expressar. Os casarões desgastados pelo tempo aparecem numa tonalidade misteriosa. Um trabalho portanto sem um compromisso com a realidade.
Quanto às marinhas e a linha do horizonte surge sempre de meio para cima da tela e abaixo surgem os detalhes com pedras e movimento de ondas e areia. Só Pancetti trabalhava assim em suas famosas marinhas, talvez pela dificuldade em se encontrar uma boa composição devido ao trabalho que dão os detalhes, que finalmente só surgem para enriquecer as suas telas.
 Quando vai pintar uma paisagem, uma marinha, o casario colonial da velha Bahia, Itamar Espinheira preocupa-se apenas em captar o essencial e o restante fica por conta de sua mente criadora. Podemos afirmar que o artista aprimorou sua técnica, aumentou sua expressão pictórica abrindo para uma temática descompromissada e assim continuará pintando.

O ARQUITETO E FOTÓGRAFO SÍLVIO ROBATTO

É uma cena comum a gente encontrar o Sílvio Robatto apressado com todo aquele corpo carregando a tiracolo uma pequena máquina fotográfica . O corpo é pesado e a sensibilidade leve.Uma preocupação constante em registrar as imagens e os momentos dos mais variados lugares. Uma preocupação em não apenas registrar mas de captar toda a expressão e depois manipular o filme numa câmara escura. Seu trabalho portanto não fica limitado à escolha do tema, ao enquadramento do assunto e ao disparo da câmara. Ele prossegue no laboratório quando Sílvio controla os valores tonais, os graus de contraste, as dimensões das ampliações, a solarização, a superposição de imagens, enfim todos este processo fascinante que exige a arte da fotografia. 
Esta sua mostra que foi aberta ontem no Museu de Arte Moderna da Bahia , no Solar do unhão, é sobre o Senegal, país africano onde a tecnologia ainda não se fez presente em várias localidades. Os cortes dados as fotografias são excelentes. Examine esta fotografia e veja os bois em primeiro plano e a extensão que o artista deu ao céu.

               DOZE HORAS POR DIA E MUITOS VISITANTES

Este móbil aquático está em Munique, na Alemanha, no maior campo de recreio da técnica e que diariamente conta com milhares de visitantes. Esta obra prima funciona 12 horas por dia e demonstra uma forma esteticamente bem conseguida uma experiência física. Está exatamente no Deustschen Museum, e durante os meses de verão passado foi um ponto de atração irresistível. O movimento contínuo da água – 15 mil litros movidos constantemente através de bombas e seis canais êmbolos – transmite-se a um sistema de alcatruzes colorido, que torna o todo um prazer visual.A água é reunida em 21 recipientes e transferida de um nível para outro. Aqui podem  ser observados os fenômenos mecânicos, elétricos e até atômicos.

                            PAINEL

LUÍS JASMIM – Acabo de receber algumas fotografias dos quadros de Luís Jasmim que estão expostos na Galeria Acalaca. Esta foto de detalhes de um de seus quadros mostra claramente o caminho do artista, que prima pelo onírico.
Mesmo quando retrata uma figura humana Jasmim parte para o seu mundo de sonhos e fantasias. O gato, uma presença constante em seu trabalho pictórico contribui para a conotação mística.



RAIMUNDO OLIVEIRA- Dez anos após a sua morte uma galeria paulista está apresentando uma mostra de 35 trabalhos do artista.
É a Galeria Portal, e ao preços oscilam de 20 a 400 mil cruzeiros.

TEIMOSIA- Continuam distribuindo o mau feito catálogo das realizações da Fundação Cultural do Estado da Bahia. O logotipo é uma quase cópia do logotipo do Centro Industrial de Aratu. O mau gosto impera.

MANECA- O Hotel Turismo Carro de Boi, de Feira de Santana apresenta uma mostra  dos trabalhos de Maneca Muniz, conhecido por seus carros com linhas arrojadas. A pintura é sua atual preocupação.

FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTE- Funarte, do Ministério da Educação e Cultura está patrocinando em convênio com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro a exposição Arte Concretista Brasileira, numa tentativa de fazer uma retrospectiva do movimento concretista nas artes plásticas no país.

ITAPUÃ SKY - A Art Gallery Of The Brazilian - American Cultural Institute vai mostrar durante este mês vários trabalhos integrantes do álbum Itapuã Sky ( Itapuã Céu), edição em inglês, do gravador baiano Calasans Neto. Assim os pássaros imaginários e noturnos de Itapuã vão cruzar os céus dos States e certamente nenhum radar os captará , porque o vôo dessas aves é livre.

SÉRGIO MILLET- Outro concurso promovido pela Funarte é de monografias sobre a contribuição de Sérgio Millet à crítica de Artes Plásticas no Brasil. As monografias deverão apresentar um levantamento biobibliográfico de Sérgio, incluindo trabalhos publicados em jornais e revistas, contendo no mínimo 30 laudas, datilografadas, em espaço dois. Os originais devem ser encaminhados à Avenida. Rio Branco nº 199, Rio de Janeiro, até 1º de dezembro do corrente ano.

NACIONAL E INTERNACIONAL- Os artistas selecionados na Bienal Nacional serão depois representantes no Brasil na Bienal Internacional. Um concurso dentro de outro.

UM GUIA DE ARTES- Está sendo anunciado para este mês o lançamento do Guia Internacional de Artes/76, editado por Leo Christiano. Trata-se da primeira reação nacional de profissionais ligados à arte, de 70 cidades brasileiras e de 20 no exterior. O Guia conterá endereços de artistas plásticos, galerias, museus, restauradores, moldureiros, fundidores, antiquários, arquitetos, críticos de arte, editores de múltiplos e gravuras.



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