terça-feira, 23 de julho de 2013

ANTONIO DIAS : THE AMERICAN DEATH BAMBOO !

JORNAL A TARDE,SALVADOR,  SÁBADO, 29 DE JULHO DE 1978

Obra The American Death: Bamboo!
(A Morte americana:
Bamboo!)
Após algumas décadas de pesquisas em torno da arte abstrata, a partir da metade dos anos 50 e por toda a década de 60, artistas ingleses e norte-americanos propuseram, uma renovação de sua linguagem, diretamente relacionada com os novos fenômenos da comunicação de massas, o desenho industrial, a moda, os mitos e os costumes urbanos, ficção científica, etc. As estórias em quadrinhos, a linguagem publicitária, a visualidade das cidades com sua sinalização de tráfego e seus cartazes de neon passaram então a integrar o repertório de imagens da nova tendência chamada pop art de popular pelos ingleses e norte-americanos e que no Brasil encontraria uma correspondência no que denominamos de Nova Figuração. Talvez a própria instantaneidade de informação que caracteriza esses fenômenos, justifique a amplitude alcançada pela nova proposta. É fora de dúvida que ela está presente na arte dos 60 no Brasil, assumindo aqui um caráter preponderante de denúncia social.
Exemplo disso é The American Death: Bamboo!, pertencente a Pinacoteca do Estado de São Paulo . O rigor da fatura, a gravidade a cor e da figura no seu trabalho conseguem uma contundência que extrapola o mero formalismo artístico. Na crítica de uma situação exterior, é interessante notar que o artista se utiliza de um código figurativo que nos é familiar posto que uma imposição cultural e isso vale em particular para a geração de artistas a que pertence Antonio Dias.
The American Death: Bamboo! é estruturalmente resolvida a partir da reunião de 3 módulos no que se aproximaria, duplamente, das experiências pouco anteriores do neoconcretismo que já havia questionado, pelo trabalho de alguns artistas, o enquadramento convencional da pintura e da seriação das estórias em quadrinhos, prescindindo, porém, de uma leitura linear em função de simultaneidade, de complementação mútua das figuras em cada módulo. Essa estruturação alude a essas de aviões, de águias, á emblemática de guerra, às bandagens postas sobre ferimentos, a símbolos que, embora antigos, permaneçam vivos.
Nesse suporte, sem se constituir num objeto, a figuração de Antonio Dias ultrapassa a fronteira do bidimensional, da mera representação, para ocupar, no espectador, seus espaços interiores, sensíveis.
Sua figuração é fragmentada, há ali pedaços de ossos, de miras, de trens de aterrissagem, há silhuetas, estereótipos, marcas, cores simbólicas que incorporam a experiência pessoal e social do artista.
Cabe a cada expectador a leitura final, de acordo com seu próprio sistema de referências. É nesse espaço que Dias propõe a obra, a ideia completa; onde entende ser o lugar de arte.
No Brasil, junto com outros jovens artistas, Antonio Dias participou das principais exposições da época entre as quais devemos destacar Opinião 65/66 (Rio), Propostas 65/66 (São Paulo) e Nova Objetividade 67 (Rio). Reside desde 1967 na Europa, radicado em Milão, onde tem realizado pesquisas no campo da arte conceitual, tendo experimentado o cinema, o processo gráfico, o audiovisual, o environment e mesmo pesquisas de materiais como faz recentemente com o papel, junto a um grupo de artesãos no Nepal, em constante questionamento do suporte na obra de arte.Destaque do Mês da Pinacoteca.

                     UM MURAL PARTICULAR DE SANTE SCALDAFERRI

Foto que fiz quando visitei Sante,que
 aparece ai sentado
Uma grande parede vazia é sempre motivo de complementação pra qualquer artista que começa a imaginar como terá que aproveitar aquele espaço.
Foi diante de tal contemplação que Sante Scaldaferri resolveu fazer um mural no alpendre de sua casa, utilizando vários fragmentos, materiais e objetos de arte popular.
Um mural que está perfeitamente integrado com vários fatos, quando de suas andanças pelo interior. No mural colocou ainda uma carranca esculpida por Francisco Biquiba Guarany, de Santa Maria da Vitória.
Numa dessas viagens, ao navegar numa lancha pelo Rio São Francisco tomou conhecimento de uma estória de um milagreiro que residia num velho curral onde ensina a palavra de Deus. O condutor da lancha contou-lhe que o milagreiro era um homem santo que fazia milagres e ensinava a palavra de Deus, e que tinha um sobrinho que fora curado. Ele subia no madeirame do curral para ficar mais alto e gritava e gesticulava muito com as mãos e braços. Seu corpo se envergava, mas nunca caiu. Ele era amparado por Deus. O homem santo já era bem velhinho com todos os cabelos brancos e sempre dizia para o povo não pecar porque se assim procedesse o sertão ia virar mar e o mar virar sertão, a exemplo de Antônio Conselheiro, diz Scaldaferri que olhando a posição do alpendre que estava construindo em apoio à piscina, "notei que guardadas as proporções, ficava na mesma situação do curral do Pai Santo. Daí surgiu a ideia de fazer o alpendre com todas as características de um curral."
"Na parte correspondente ao rampado íngreme, fiz um painel com cacos de azulejos imitando peixes.Dentro do curral numa parede de 6.00 x 5.00m, executei um mural com ex-votos, madeira agreste e objetos de arte popular nordestina. Ao lado, uma escultura abstrata formada por tábuas dos andaimes e pintadas em cores puras e vibrantes. Tudo integrado na parede e no conjunto arquitetônico, deixando cada objeto de ser unidade para formar um todo. Os ex-votos foram pintados formando desenhos abstratos em cada um deles. Em lugar de destaque a carranca. Mais em baixo com os pés e mãos feitos de ex-votos, o corpo à maneira dos santos de roca vestindo uma bata azul. Colocado em cima do madeirame, num gesto dramático e com um rosário nas mãos, está o Pai Santo. Sua cabeça é um ex-voto com uma peruca feita de cordão."
O rosário é outra obra de artesanato executado no Centro Artesanal da Fundação do Pelourinho. No mural também está representada a roda do suplício eterno. Dizia o Pai Santo, que os pecadores seriam amarrados a uma roda e condenados a girar eternamente.
"Ao lado estou criando um jardim, composto de mandacarus, xiques-xiques e cabeças-de-frade. Tudo isto narrado, serviu realmente para a concepção do mural. Porém o mural, como a minha pintura, não são descritivos ou ilustrativos. Minha arte é uma arte dialética. Eu sou um pintor do povo, e absorvo tudo que diz respeito a este povo. Esta absorção atua de modo decisivo no meu processo de trabalho. É o início do processo criativo interior.
"Minha arte é de transfiguração e não de transposição. Gente com cara de ex-voto, na é a mesma coisa de ex-voto com cara de gente."

                    MAKALÉ E SUA EXPOSIÇÃO CARA CARA


O artista Makalé não é conhecido no meio artístico baiano, muito embora ele já esteja radicado na Bahia há cerca de quatro anos.Durante o tempo em que esteve aqui, vindo de Recife, sua terra natal, não mostrou publicamente o seu trabalho. Porém, no dia 1º de agosto, no Instituto Cultural Brasil-Alemanha, ICBA, às 21 horas, vai realizar a sua primeira exposição, Cara Cara, que vem com a apresentação de Ivo Vellame, Diretor da Escola de Belas Artes ,da UFBa. São figuras abstratas ou concretas, letras ou números, tudo isso faz parte de um emaranhado de coisas que Makalé toma como expressão para dialogar com o público.
Makalé diz que o nome desta exposição é por justa causa. Cara Cara é tudo aquilo que passa por nossas vistas, tudo que o dia-a-dia nos mostra e faz com que o povo se encha de riso ou choro, vida ou morte.
"Nessa minha primeira mostra há uma série de quadros que são especialmente significativos para esse muito embora todos eles estejam inseridos no mesmo contexto.Eles representam quatro atos de viver mostrados dentro da técnica de bico-de-pena e colagem de recortes de jornais com notícias que vão das páginas policiais às páginas sociais. A intenção é mostrar o dia-a-dia do homem de hoje, em qualquer contexto social, sua vida, uma vida que simplesmente acaba no fim", diz o artista.
Makalé começou a desenhar por volta de 1969 quando concluiu um curso de escola profissionalizante e passou a frequentar a Escola de Belas Artes ,de Recife. Em 1971 já participava do Salão dos Novos realizado no Museu de Arte Contemporânea de Olinda recebendo no ano seguinte, no mesmo Salão, Menção Honrosa.Em 1974 Makalé veio para Salvador muito embora ainda continuasse participando das movimentações artísticas de Recife.Foi assim que participou do I e II Salão Global onde ganhou o Prêmio de Aquisição e do III Salão dos Novos.

                    PAINEL

BAIANOS I - Pinturas, gravuras, desenhos e entalhes estarão expostos até o dia 12 de agosto no Clube de Engenharia da Bahia, na Rua Carlos Gomes, reunindo trabalhos de Ângelo Roberto, Denise Pitágoras, Hilda Oliveira, Juarez Paraíso, Leonardo Alencar, Káthya Berbet, Márcia Magno, Maria Adair, Marlene Cardoso, Oscar Caetano, Renato Vianna, Terezinha Dumet, Zu Campos, dentre outros.

MESTRE RAYMUNDO - O Gabinete Português de Leitura está convidando para inauguração no próximo dia 8 em comemoração dos oitenta e cinco anos de idade e 51 de atividades artísticas do mestre Raymundo Aguiar. Em plena atividade ele está entregando um a um os convites de sua mostra porque" não confia nos correios".Serão mostrados 52 trabalhos em gravura e pintura de interiores e paisagens.

MOSTRA EM ILHÉUS- RAG está promovendo uma coletiva com trabalhos de J. Arthur, Edson da Luz, Nide, Ademar Lopes, Maria Elvira e muitos outros. A mostra será aberta no próximo dia 9 de setembro e tem participação especial de Prates. O RAG está levando a arte para o interior. Já promoveu uma mostra em Valença e agora vai para a terra do cacau.

IMOBILIZADAS- Uma pintura expressionista, em cores cruas. As figuras humanas imobilizadas em grandes espaços vazios. São obras de Wilson Garoges Nassif, expostas na Galeria da Funarte Sérgio Milliet. Sessenta trabalhos, sendo 30 desenhos e 30 pinturas.

PINTORA E RESTAURADORA- A artista Noélia de Paula está trabalhando na restauração de importantes objetos de arte na Catedral Basílica.Com uma formação estruturada, inclusive trabalhou durante nove anos na Europa, ela está realizando paralelamente um trabalho pictórico com uma linguagem universal. Ela comprovou a imagem que existe em determinados setores artísticos europeus, que acreditam que em nosso país subsiste uma arte pobre, isto porque muitos turistas que aqui aportam retornam levando consigo quadros primitivos de qualidade duvidosa.Noélia está vinculada à Empresa Gráfica da Bahia, embora trabalhando na Catedral.

LUGMAR- Os mineiros descobriram a Bahia. Alguns deles já participaram de coletivas organizadas pela Galeria Panorama e também de indivíduais. Esta é a primeira individual de Lugmar, na Bahia, sobre o qual escrevi : "Existe no seu trabalho uma individualidade tão necessária a um artista que se preza. Lugmar nos mostra a exuberância do colorido tropical. As manchas mais claras que surgem dos morros criados por Lugmar nos dão a necessária leveza e vontade de procura dos campos."
Estas palavras acima estão contidas em seu catálogo juntamente com considerações de outros críticos. Conheço alguns trabalhos de Lugmar de outras mostras e os que integram esta individual. São realmente de qualidade. Cores fortes que traduzem toda a pujança de sua capacidade criativa.
Figuras contemplativas de moças e paisagens bucólicas. Paisagens diferentes daquelas que estamos acostumados a ver na pintura acadêmica.Acredito que Lugmar terá ainda muita coisa para nos mostrar."


GRÁFICAS MINEIRAS- Por duas vezes fui vítima de erros em catálogos de artistas mineiros sobre os quais emiti opiniões. No catálogo de Cristiano inadvertidamente colocarem espontânea e espectador escritos com x em vez de s. Agora no de Lugmar também veio um erro, pois a palavra preza está grafada erradamente com s.

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