segunda-feira, 24 de junho de 2013

A CRIANÇA NA PINTURA DE WASHINGTON SALLES

JORNAL  A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO 12 DE  ABRIL DE 1975

Uma bela obra de Wasghinton onde vemos a relação da
 criança com sua boneca
 A criança exerce um fascínio sobre o homem Washington Salles. Ela é presença na maioria de seus trabalhos, muitas vezes escondida por trás de figuras maiores. Dificilmente ela está ausente, até mesmo quando o artista por um motivo qualquer não a retrata. Sim, porque a pintura de Washington Salles é lírica e tem uma ingenuidade só encontrada na criança. A escolha da criança como uma marca de sua pintura  "nada tem a ver com minha vida," como diz o artista "apenas é um símbolo da beleza e da pureza que existe no mundo. Acho que todo pintor deve escolher uma temática preferencial e encontrar a sua personalidade de artista. A criança é o símbolo de minha pintura e até mesmo de meu comportamento. Procuro trilhar e realizar um trabalho puro e digno sem qualquer vinculação com as impurezas que nos rodeiam."
Além da criança, Washington também nos apresenta composições cheias de fantasias como a vivenciar o próprio mundo da criança. 
Suas cores são alegres e fortes sem uma conotação de primitivo. Sua pintura é resultado de um trabalho técnico apurado e pesquisado. Ele está constantemente descobrindo coisas. Esta curiosidade inerente à sua personalidade tem resultado muito positivo. Basta dizer que uma de suas fases que ele chama de oriental, utilizava figuras da mitologia. Hoje a minha pintura é tranqüila, talvez ele reflita o meu estado de tranqüilidade. Sou um artista que não tenho pressa. Vou realizando o meu trabalho devagar e com cuidado para não prejudicar a sua qualidade.

DESDE CEDO


Uma obra de Wasghinton Salles
Disse Washington Salles que desde criança que notou uma tendência a arte."Quando cresci, verifiquei que a pintura era a única coisa possível que podia fazer.Sempre tive uma ligação incrível com a arte. Fiz o vestibular em 1960 para a Escola de Belas Artes e daí para cá venho desenvolvendo o meu trabalho. Porém, estou pintando profissionalmente há pouco tempo. Isto porque sou de opinião que o artista jovem deve primeiro amadurecer o seu trabalho para depois entrar no mercado da arte.
Para isto é preciso pintar muito, produzir muito, sem a preocupação de vender. Se aparecer alguém para comprar um trabalho seu, venda, mas não estudando com esta preocupação imediata. Acontece que muitas vezes o jovem artista é obrigado a entrar cedo para o mercado a fim de conseguir dinheiro para compra de material e seu sustento. Isto realmente contribui para que muitos talentos não sejam reconhecidos mais tarde, porque pintar profissionalmente exige muito do artista."
Mas o artista Washington não está incluído neste grupo. Ele demorou a pintar profissionalmente embora cultivasse uma vontade imensa de trabalhar. Basta dizer que certa vez quebrou um guarda-roupa e arrancou uma tábua de compensado para pintar um quadro. Diz ele que "senti naquele instante uma vontade terrível de pintar e não tinha nada por perto que servisse de tela. Parti para o velho guarda-roupa e fiz um quadro."

FIGURATIVA

O artista descreve a sua pintura como figurativa com conotações surrealistas e justifica esta mistura afirmando que acredita não ser necessário ao pintor que fique acorrentado a uma escola. O trabalho artístico deve evoluir e creio que minha pintura vem evoluindo, e muita coisa ainda tenho a fazer.
O Mundo criado ou retratado por Washington Salles é cheio de fantasia e pureza. É neste mundo que ele vive. Com aparência de uma figura mística, despreocupado e sem muitas ambições materiais ele vai trabalhando e construindo o seu mundo. É capaz de ficar horas e horas admirando uma criança brincar, porque enquanto observa os movimentos dela, vai se inspirando para novas criações. Os anjos que também aparecem nos seus trabalhos tem expressões de pessoas atentas.
Parece que são os guardiões do mundo lírico de Washington Salles.Apesar de ter 24 anos de idade é um artista consciente daquilo que representa nas artes plásticas na Bahia. Mas cultiva a humildade e o espírito. Pensa num mundo ideal e preocupa-se com o destino espiritual do Homem.
Os animais e as flores também são presenças em sua pintura. Mas essas figuras conseguem extrapolar o plano do figurativo para ir ao plano do surrealismo. Ele não gosta muito de dar explicações sobre alguns detalhes que encontramos em sua pintura e quando indagado responde:  "Olha não sei explicar algumas coisas que faço porque acredito ser uma coisa muito pura e as palavras talvez não teriam um significado capaz de expressar o que representam. Faço os meus trabalhos sem a preocupação dos porquês."

CONHECIDO

O pintor Washington Salles já é conhecido não somente na Bahia como em vários estados e suas telas estão espalhadas por todo o País e muitas no exterior.
Já realizou algumas exposições individuais e participou de várias coletivas. Seus quadros são disputados por colecionadores e sua produção é de certo modo limitada, isto é, não chega para atender as pessoas que lhe procuram para adquirir seus trabalhos.

   GILSON RODRIGUES EXPÕE NO TEATRO GAMBOA

Conheço Gilson Rodrigues há vários anos e venho acompanhando o desenvolvimento do seu trabalho artístico. Sua exposição no Teatro Gamboa, que termina amanhã, foi uma das melhores mostras realizadas em Salvador no corrente ano, Gilson apresenta um mundo de fantasia onde mostra tudo aquilo que aprendeu em técnica e cores. As quatro gravuras que está apresentando ao público baiano reflete a personalidade e a originalidade criativa do seu trabalho. E uma coisa que me chamou atenção é que o público pode adquiri-las a Cr$200,00 o que facilita o consumo por aquelas pessoas de limitado poder aquisitivo. Outra curiosidade é o cartaz de sua exposição que já publicamos numa edição de A Tarde. O cartaz apresenta uma bela composição onde um olho azul parece que está a descortinar o que acontece no mundo. Isto porque, Gilson Rodrigues, este jovem talentoso realmente está preocupado com tudo que está ocorrendo por aí e que de certa forma venha a contribuir para aumentar a sua experiência de artista.

ABELARDO ZALUAR MOSTRA 300 OBRAS 

Os vinte e cinco anos de arte de Abelardo Zaluar estão sendo apresentados no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro desde o último dia 10.
Diz Abelardo Zaluar que "ao atingir a maturidade, o artista vive uma dupla situação: ao mesmo tempo em que observa o trepidante avanço das feições vanguardistas mais ousadas, possui dentro de si uma realidade construída pelo tempo, que se expressa em termos de estabilidade emocional, de sedimentação, de continuidade."
Ele está expondo 300 obras, abrangendo o período de 1950 a 1975.  O título da mostra é Da Natureza à Geometria, e representa a trajetória do artista que partiu da representação da natureza, simplificou-a até atingir uma linguagem geométrica absoluta e, na atualidade, conjuga essa geometria e imagens da natureza, completando um ciclo evolutivo.
O próprio Zaluar afirma que sua geometria "sempre foi conceptual e partiu de um desejo de essencializar o real, apresentando-o numa rede de urdimento livre e transcendental."
Trabalhando exclusivamente com elementos gráficos da linha reta, da curva e a superfície, Zaluar confessa que o seu objetivo maior é construir no espaço, o seu espaço, partindo da dinâmica de espaço convoca os poderes da linha, invariavelmente traçada com grafite, régua e compasso. Além do elemento traçado na superfície, vazando formas cujos contornos se revelam pelo contraste com a segunda superfície da de fundo, onde as aplica.

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