terça-feira, 25 de junho de 2013

A ARTE DE EMOLDURAR DE JÚLIO MONTEIRO

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 24 DE JANEIRO DE 1976

O português Julio Monteiro está revolucionado
 as molduras na Bahia.
Formado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em Escultura e Pintura, Júlio Monteiro, português de nascimento, desde julho de 1975, está em Salvador com um atelier montado no Pelourinho, colocando molduras em quadros de arte dos principais artistas baianos.
Como o próprio Júlio Monteiro define, ser moldureiro é uma questão de sensibilidade. Aliado a um conhecimento artístico. A finalidade é que a moldura, apenas se enquadra à pintura, passando despercebida e se harmonizando com o artístico, valorizando-o.
Na Escola Nacional de Lisboa, Júlio Monteiro iniciou seus estudos em pintura e escultura sendo que nos dois últimos anos do curso, ganhou uma bolsa de estudos para Paris e Londres, onde ficou alguns anos. Segundo ele, ao voltar para Portugal e sabendo de antemão que o mercado por lá era quase inexistente, desistiu da pintura e da escultura, passando a trabalhar no Ministério do Trabalho durante oito anos, sem que neste período fizesse qualquer trabalho artístico.
Após este período, Júlio Monteiro começou a trabalhar junto a Dimitri, em lojas de tecidos. E já a partir deste momento desenhava as roupas que vendíamos, diz Júlio Monteiro, e com isto montamos duas galerias e durante quatro anos fizemos apenas isto, quando resolvemos vir à Bahia.
Esta ideia, continua ele, veio depois de uma visita que o Dimitri fez ao Brasil, onde entrou em contato com o ex-Diretor da Fundação da Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia.
Primeiramente, a nossa preocupação era vender obras de arte, na Galeria do Dimitri, no Pelourinho, quando, sentimos a deficiência no setor de molduras, praticamente inexistente aqui na Bahia, resolvemos então montar um atelier.
Para Júlio Monteiro, na Bahia existe quem faça moldura mas não a moldura artística. As que fazem por aqui, diz ele, são simplesmente pedaços de madeira colocados para que o quadro não fique a solto.
Eles não procuram aliar a moldura à pintura, dando-lhes uma verdadeira continuação da obra. A moldura, continua Júlio Monteiro requer um conhecimento artístico.É a complementação da pintura, e não simplesmente saber cortar madeira. Tem-se que ter sensibilidade e criação.
Não aceito imposição no meu trabalho. As molduras que faço, afirma ele, são criadas por mim de acordo com o quadro e não uma mera escolha da cor, formato, que o cliente deseja. Sem o quadro é impossível para mim trabalhar, criar, e por isto me recuso a fazer qualquer tipo de moldura, que não seja por minha criação.
Apesar de trabalhar para clientes de toda a Bahia e mesmo de várias partes do Brasil, Júlio Monteiro ressalta que prefere trabalhar para os artistas e que no momento já trabalha com a maioria dos artistas baianos, entre eles Carybé, Luís Brito, Michel e muitos outros.
Como a Bahia não possui tradição de moldura artística, como em Portugal, afirma Júlio Monteiro, o maior problema encontrado por um moldureiro artístico, é a dificuldade em se encontrar material de trabalho, o que ás vezes implica em mudar sempre as nossas criações. Aqui, produtos como folhas d’ouro, de qualidade, que é essencial para o nosso trabalho, não existe e temos que mandar procurar no Sul do País, o que leva bastante tempo, além de perfis de alumínio, vidro de dois milímetros. Tudo isto, continua Júlio Monteiro, dificulta o nosso trabalho.
Creio que o motivo da falta no mercado destes produtos, vem em consequência da não existência de uma tradição de moldura artística na Bahia.
O atelier de Júlio Monteiro, fica na Rua Alfredo Brito, número 10, no Pelourinho, local de visita constante de todo o mundo da arte baiana. Para finalizar. Júlio Monteiro afirma que, um bom trabalho, seja ele em moinho, pintura ou qualquer tipo de arte, requer antes de tudo, a criação e a sensibilidade do seu autor, além do que o próprio meio em que ele vive. Isto diz ele, só se pode encontrar aqui na Bahia, onde a terra é a própria natureza artística.

             OS ESCOLHIDOS PARA ARTE AGORA I

A mostra Arte Agora I, Brasil 70/75 que será inaugurada no próximo dia 11 de março no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro já tem definido seus participantes. Os baianos escolhidos foram: Mário Cravo Neto e Bené Fonteles. Foram escolhidos em todo o Brasil 100 artistas e apenas um da Bahia porque se não me engano, o Bené Fonteles é cearense. Ora, o critério de julgamento segundo os organizadores foi fixado na atualidade, qualidade e outras exigências variáveis e adaptadas ás diversas regiões do Estado. Mais uma vez a Bahia está bem representada na pessoa de Mário Cravo Neto e também em Bené Fonteles, porém outras pessoas poderiam ter figurado e sido convidados para essa mostra. A grande maioria dos escolhidos está no eixo Rio-São Paulo, sendo que os estados de Pernambuco Minas Gerais estão com um maior número de representantes em relação à Bahia.
Dizem os juízes que da relação acham-se ausentes certos nomes cuja obra apresenta hoje o mais inegável interesse de atualidade, mas que já se tinham afirmado de maneira incontestável em momentos anteriores. Com isto podemos crer que a maior a dos artistas baianos está nesta faixa. Mas devemos ressaltar também, que, na realidade pouca gente vem apresentando alguma novidade. Muitos de nossos famosos artistas vivem dos loiros. Vivem a pintar alagados, casarios e a fazer retrato de pessoas de destaque na sociedade, sem uma preocupação maior com a criatividade. O resultado desta escolha de dois jovens demonstra de certa forma a necessidade de uma tomada de consciência. Vamos criar. Criar e apresentar novidades, mas não confundir com modismos.

              HÉLIO VAZ EXPORÁ NO SALVADOR PRAIA

O mundo interior de Hélio Vaz será mais uma vez mostrado ao público baiano através dos seus quadros, com toda a espiritualidade que cerca a vida deste homem, que vive hoje exclusivamente dedicado à sua arte. A personalidade tímida de Hélio Vaz desaparece quando ele está diante de uma tela alva para conceber um quadro. Mesmo as naturezas mortas mostram esta vitalidade e as cores dão uma idéia ao observador daquilo que está escondido na pessoa do artista, Hélio Vaz começou a pintar em 1932, interrompendo por alguns anos sua carreira de artista e recomeçando há poucos anos atrás com toda força. Sua mostra será inaugurada no próximo dia 5, às 21 horas.

              PROTEÇÃO NUCLEAR

Como estamos vivendo na época das nucleações, é chegada a hora de o Brasil proteger seu acervo cultural através da utilização de equipamentos nucleares. Assim, um núcleo pioneiro em irradiação nuclear com finalidade puramente cultural, que é a proteção de documentos e obras de arte, utilizando-se a tecnologia da irradiação atômica, será criado em Minas Gerais.
Esta técnica será transferida para o Brasil com o objetivo de exterminar os fungos, as traças e os cupins que estão destruindo impiedosamente o nosso acervo.

                     MAIS UM REMBRANDT

 A Galeria Nacional de Arte da Inglaterra anunciou hoje a compra de uma obra prima de Rembrandt, muito pouca conhecida.
Não foi revelado o preço, mas fontes do setor artístico disseram que foi mais de um milhão de dólares.
A pintura é um retrato de Hendrickje Stoffels, mulher de Rembrandt realizada por volta do ano de 1650.
Segundo o Diretor da Galeria, Michael Levey, trata-se de uma obra de arte muito importante.
O preço pago pela Galeria ao proprietário da obra, depois de dois anos de negociações, ficou muito aquém do que seria pago para arrematar o quadro num leilão de arte, disse Levey.
O quadro, conhecido apenas pelos estudiosos, não foi exposto ao público desde 1936. Coberta por um verniz de cor escura pálida, a obra não será exposta na Galeria, senão depois de limpa e restaurada. O trabalho de restauração durará provavelmente até o mês de abril.
Durante 160 anos, a obra esteve em mãos de ingleses.
Com esta aquisição, a Galeria de Arte de Londres passa a contar com 21 obras de Rembrandt, sem incluir os quadros parcialmente pintados por ele, os que lhes são atribuídos, ou então que foram pintados por discípulos do mestre holandês, falecido no ano de 1669.

OS DEUSES AFRICANOS NO MUSEU DA CIDADE
Os velhos Orixás, Voduns e Inkices estão representados nos trabalhos de Raul Giovanni Lody, que estão expostos no Museu da Cidade, no Pelourinho. Suas festas, sem símbolos e representações mágicas foram captados por este artista com toda a dinâmica e magia que cercam os deuses africanos e sua influência no Brasil e espacialmente na Bahia.

A primeira vista, seus trabalhos lembram outros feitos por dezenas de artistas que vivem exclusivamente explorando a gasta temática das  baianas. No entanto, os seus trabalhos vão mais além porque retratam de certa forma cenas e festas dos negros com base em pesquisa, traduzindo alguma coisa de realidade. A simples fantasia a gosto do artista, a criação de imagens e cenas que provocam a distorção do que seja um candomblé, do que seja um samba-de-roda tem prejudicado o nosso folclore, e a própria seita o candomblé.

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