quarta-feira, 1 de maio de 2013

SEIS MINEIROS NA BAHIA - 02 DE ABRIL DE 1977


JORNAL A TARDE ,SALVADOR, SÁBADO, 02 DE ABRIL DE 1977

              SEIS ARTISTAS MINEIROS NA BAHIA
Exuberância das montanhas na obra de Lugmar

A Galeria Panorama reuniu seis artistas de Minas Gerais numa exposição coletiva que continua aberta ao público. Os trabalhos expostos são em sua grande maioria de alta qualidade destacando-se os de autoria de Yara Tupinambá, Lugmar, Cristiano e Marcelo AB, especialmente este último, com um trabalho pictórico mais consciente e ligado á região onde habita.
Cristiano já conhecido dos baianos, pois recentemente fez uma exposição na mesma galeria, no ano passado, mostra alguns trabalhos onde sua temática cavalos e pássaros enchem as telas de movimento. Com pinceladas rápidas ele sugere formas belíssimas que vão aumentando de intensidade a medida que o espectador demora um pouco mais examinando-as. São descobertas que suas pinceladas proporcionaram. Sem dúvida uma pintura espontânea, porém dentro de um critério e normas preestabelecidas pelo artista. Seus quadros agradam em cheio, principalmente àqueles que gostam das cores vivas e buscam numa obra de arte a beleza.
Pássaros e cavalos do artista Cristiano

A pintura de Lugmar é forte e conhecendo a técnica ele faz boas variações com os azuis, verdes e lilases. O preto aparece em alguns contornos com traços largos e tortuosos acompanhando a sinuosidade dos montes de Minas Gerais. Existe no seu trabalho uma individualidade tão necessária a um artista que se presa. Lugmar nos mostra a exuberância do colorido tropical. As manchas mais claras que surgem nos morros criados por Lugmar nos dão a necessária leveza e a vontade de procura dos campos. Trabalhou algum tempo em ilustrações na Companhia Melhoramentos e também, em algumas agências publicitárias, o que demonstra a sua inclinação de artista que procura sobreviver dentro de ramos correlatos. Já realizou várias individuais e esta exposição da Panorama dá oportunidade de conhecermos melhor o estágio atual do seu trabalho.
Manoel Augusto Serpa, com suas paisagens, lembra alguns artistas japoneses. Um desenho leve onde o céu ganha grandes espaços e o solo e a vegetação, estreitas faixas. Você nota o cuidado com a manipulação das tintas. Mostra uma grande leveza. Um desenho bonito mais que não me toca de perto. Uma pintura também de boa qualidade porém fica no bonitinho. Sei que o artista é bem conceituado em Minas Gerais. Talvez esta minha interpretação tenha a ver com a necessidade que sinto da pintura penetrar um pouco nos sentimentos das pessoas. A suavidade e a homogeneidade trazem em conseqüência uma umidade cálida. É como diz Selma Andrade um passeio sem fronteiras, sem passaporte, à paisagem irreais, atmosferas oníricas cujos únicos sons são o rufiar das asas de algum pássaro longínquo e agreste, o batido surdo do mar, ou a conversa interminável a vegetação com o vento. Portanto, uma  mensagem bem subjetiva e paisagens irreais que dão descanso á vista do espectador.
Yara Tupinambá é uma das principais expressões das artes visuais em Minas. Realizou seus estudos com Guinard e Goeldi. Uma pintura regionalista onde as figuras de cantadores e de místicos além de imagens preenchem os espaços de suas telas. Ela utiliza tinta a óleo, mistura com carvão, e assim por diante. Confesso que embora tenha um respeito especial pelo que Yara produz não gosto da temática das cores utilizadas pela artista.
As montanhas na obra de Marcelo AB 
Mas não posso negar o seu valor como conhecedora que é das diversas técnicas e por sua larga experiência, inclusive na direção da Escola de Belas Artes de Minas Gerais.
Os trabalhos expostos na Panorama são integrantes da série Congadas e apresenta a exuberância dos grotescos trajes dos seus figurantes.
Marlene Trindade enviou alguns tapetes com grossos traçados. Segue a linha da busca do objeto. As tranças e outros elementos como que querem sair da tradicionalidade do tapete.
Uma tentativa de ganhar os espaços através dos fios grossos e finos, macios e ásperos. Um trabalho integrado no interesse da arte contemporânea.
Finalmente, quero falar de Marcelo Afonso Brandão (Marcelo AB) que mostra um trabalho mais ligado á sua terra. As montanhas de Minas Gerais hoje, tão mutiladas pela busca incessante dos homens das riquezas escondidas por debaixo de sua espessa vegetação. A calmaria das montanhas é mostrada com grande intensidade e consciência de um trabalho integrado com a realidade.
Seus desenhos são de alta qualidade e poderão figurar nas mais exigentes coleções particulares ou de museus e outras instituições. Um trabalho que apresenta grande  unidade figurativa. Marcelo já pintou por algum tempo o casario colonial de Ouro Preto em suas cores sóbrias e agora brinda a Bahia com poucos trabalhos que integram esta coletiva.

                     PAINEL

RICHARD WAGNER- Está expondo na Galeria Cavalete, o artista Richard Wagner. O nome é um pouco pomposo para um artista baiano. Apresenta um currículum vasto. Porém, o artista é quase desconhecido dos baianos. Gostei de alguns trabalhos, especialmente aqueles onde o artista se preocupou em sugerir formas. Os outros ficam simplesmente os traços sem maiores conseqüências plásticas. Alguns lembram abstratos sem grande qualidade. É preciso um certo cuidado com a inovação por inovação.

INTERFERÊNCIA-O Vice Ministro da Cultura soviético informa através um despacho da UPI, que seus país não está interferindo na Bienal de Veneza. Disse Vladimir Popov que ao contrário houve uma injustificada interferência nos assuntos internos soviéticos, por meio da tentativa de introduzir a questão dos  dissidentes na bienal. Esta tentativa está claramente vinculada  a campanha Iniciada pelos mais reacionários círculos ocidentais. Interessados em obstruir o processo de distensão internacional, concluiu.

RECUPERADO- A polícia italiana recuperou parte de um afresco do século XII, representando Nossa Senhora e o Menino Jesus, roubado da gruta Belle Formelle, em 1974. O afresco foi localizado na residência de um empresário. A gruta fica perto de Caseria, na Itália, e abriga várias obras do período bizantino. 

ACERTARAM- uma equipe de técnicos da Universidade da Califórnia localizou uma obra prima de Leonardo da Vinci, oculta durante séculos. Utilizando-se de sofisticados aparelhos de ultra-som, os técnicos pesquisaram demoradamente as paredes do salão do Palazzo Vechio de Florença, a procura do mural da Batalha do Angliari, pintado por Leonardo Da Vinci  em 1505. O mural estava oculto por trás de uma falsa parede erguida pelo Giorgio Vasari, que redecorou o salão há vários anos
Perguntam os especialistas: haveria uma obra de Da Vinci atrás de um Vasari, numa parede do Palazzo Vecchio? Escolher entre uma e outra obra de arte parece ser a grande dúvida que continua perdurando em Roma.

INTEGRADO- em Feira de Santana foi realizado um trabalho integrado, onde foram apresentadas exposições permanente de artes plásticas, literatura regional, cordel e artesanato. O encerramento ocorreu no último dia 31, com um espetáculo de música do Grupo Raízes de São Paulo.

LEILÃO- foi realizado no último dia 29, um grande Leilão de Arte comemorativo dos 10 anos de A Galeria. Integraram o leilão obras importantes de autoria de Di Cavalcanti, Aldo Bonadei, Milton da Costa, Ismael Neri e Carlos Oswaldo, dentre outros.

CIPÓ NAS FORMAS- o pessoal do Grupo Edsedron sob a coordenação dos artistas Edison da Luz e Joel Estácio continuam trabalhando num grande projeto na cidade de Porto Seguro.
O trabalho é integrado e o grupo está transmitindo aos artesãos locais novas técnicas e mostrando a sua importância dentro da comunidade. Aquelas pessoas que tiveram oportunidade de visitá-los em Porto Seguro, estão torcendo para que tudo dê certo, tendo em vista os objetivos sérios do Grupo.

AS TELAS DE CHURCHILL - Cinco quadros de propriedade da baronesa Spencer Churchill, viúva de sir Winston Churchill, que tem 91 anos de idade, foram vendidos recentemente por 86 mil e 300 libras, o que equivale a um milhão e novecentos e vinte mil e 175 cruzeiros. A venda foi efetuada num leilão público. Os quadros, dois dos quais pintados pelo próprio Churchill foram vendidos por um preço duas vezes e meia superior ao preço estabelecido pela galeria antes do início do leilão, o qual foi dobrado pouco antes do início da sessão.
Lady Churchill está atualmente enfrentando problemas financeiros devido à inflação e a queda das rendas de seus investimentos e por isto resolveu leiloar os quadros para ajudar a pagar as suas contas de manutenção.
O Palácio Papal de Avignon, quadro pintado por Churchill, foi vendido por 26 mil libras (578 mil e 500 cruzeiros. Mimizan, também de sua autoria por 48 mil libras (um milhão e seiscentos e sessenta e oito mil cruzeiros). Já a tela de Sir Willian Nicholson, Cisne no Ninho Chartwell, obteve cinco mil e 500 libras. Além desses foram comercializados duas telas de John Lavery onde aparecem a Lady Churchill e sua filha Sarah, e Cisnes Negros em Chartwell.


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