domingo, 12 de maio de 2013

O HOMO FABER DE ANTÔNIO PETICOV


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 26 DE NOVEMBRO DE 1977

            
O artista Antônio Peticov
Foto recente
O Museu De Arte Moderna do Rio de Janeiro está exibindo a obra mais recente do artista brasileiro, radicado na Itália, Milão, Antônio Peticov.A mostra cujo conjunto de trabalhos o autor intitulou de Homo Faber, consta de 30 telas, 35 desenhos e 60 fotografias. Acompanha a exposição um catálogo com reproduções coloridas e um texto do artista, enfocando a sua obra e o ato de criar.
Sobre a sua obra, ele diz o seguinte: "A partir do momento em que a reflexão e a análise do meu trabalho o qual considero em grande parte intuitivo, deixaram de ser mera especulação para tomar lentamente a forma de conceito teórico consciente, creio que seja apropriado transmitir certos dados que contribuirão para uma leitura mais completa e fiel dele.
Esses dados seriam a luz. O processo de criação. O cosmo. A interação do homem e o infinito. Deus, seu amor. Todo o mágico realismo que nos cerca."
O espaço. O infinito interior. O homem e sua relação com o seu (?) planeta. A beleza interna. Harmonia. O equilíbrio. O instante da rutura. Comunicação. Intercomunicação. A passagem. Hojeamanhãontem. Entrada e saída.A possibilidade. A chave do mistério.
Quanto ao ato de criar, ele se refere fazendo uma analogia a partir de elementos abstratos:
A cor é um fenômeno similar ao comprimento da onda, do som e do perfume, e para que se possa compreender a sua natureza se faz necessário indagar o mistério do processo de criação, o qual, ocupando uma faixa  de tempo variável e relativo, paradoxalmente se auto justifica."

O ARTISTA

O próprio artista fez questão de elaborar o seu curriculum vitae que, segundo ele, foge às normas tradicionais e está muito mais próximo da pessoa e do artista Antônio Peticov. Passei os meus primeiros anos de vida na cidade de Cachoeira de Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, vivendo em uma casa, onde funcionava um pequeno internato feminino junto a uma escola, na parte de trás de um grande terreno, tendo na frente a II Igreja Batista, da qual o meu pai era o Pastor. Em tal propriedade havia uns trinta tipos de árvores frutíferas e, aos cinco anos de idade, calcei meu primeiro sapato.
Cinco anos na Mooca, que em 1953 e ainda às margens de São Paulo, e depois a Tijuca e o Rio de Janeiro a me trazer uma quantidade de informação e contato humano que me conduziram a um preciso instante de interesse pelas artes. Com 13 anos de idade via uma média de seis filmes por semana.
Mário Sales Jr., um artista que conhecei na época, foi o primeiro a estimular em mim uma visão plástica, que iria depois, em São Paulo, nos anos 60, manifestar-se em uma série de exposições, tanto individuais como coletivas, entre estas as Bienais de 67 e 69.
Diversas medalhas, prêmios e menções especiais, mais a participação em alguns grupos de vanguarda antecederam a minha primeira viagem á Europa e EEUU em 1969. O retorno ao Brasil, depois de alguns meses de ausência, marcou um período de início de pesquisas quando tendo quase que definitivamente abandonado o concretismo sempre retendo, porém, toda a herança construtivista deste, influenciado pelo ambiente artístico internacional e com destaque o inglês, produzi uma série de trabalhos principalmente desenhos, nos quais se antevia uma preocupação já maior em relação á magia cósmica que caracteriza o ato de criação.
Voltei à Europa em 1970, desta vez com a intenção de permanecer por algum tempo em Londres. Observações, contatos e estudos, destacando-se o curso de serigrafia no Candem Arts Center, inclinaram-me contudo, a transferir-me para Milão. O resultado do contato com a vanguarda italiana ao mesmo tempo que com a fantástica presença dos mestres renascentistas, extrapolou relações de tempo e espaço, mostrando-me um caminho onde a própria observação das relações físico-matemáticas adquiria uma chave de leitura mágico-poética.
Uma obra de Peticov,sempre antenado

Na Itália, já há quase seis anos, fiz tanta coisa... De posters, cúpulas geodésicas, trabalhos relacionados com a macrobiótica, ecologia e formas de energia alternava á fotografia, design gráfica posters, capas de discos e revistas e grandes afrescos murais.De não deixar de lado a experiência com as primeiras rádios livres italianas, ás quais pude dar a minha colaboração aprendendo muito.
Em 1974, através de um trabalho que fizera com a Record, vim a conhecer Serighelli, ótimo impressor, com o qual reativei a minha produção gráfica, realizando onze edições de serigrafias. A pintura, porém, continuou a ocupar a parte maior do meu tempo e neste período realizei diversas exposições em algumas cidades europeias. Em março de 1975 depois de cinco anos de ausência, fiz uma mostra em São Paulo. O afluxo do público e os louvores da critica me pareceram justificar a exposição.
Desde então, outras três exposições de gráfica e desenho em São Paulo e na Suíça, prepararam o caminho para HOMO FABER, que apresento no Brasil em duas cidades: em novembro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e em dezembro, na Galeria Luísa Strina, em São Paulo.

FERNANDO COELHO

O  artista continua buscando novas formas de dizer as coisas relacionadas com o significado do homem em cada linha, gesto ou pincelada. Uma busca que ficou marcante com a rutura pictórica dada em 1976, quando Fernando extravasou todo um sentimento retido nas formas e cores de seus trabalhos anteriores. Vieram assim os palhaços que apareciam no palco onde as caixas e retângulos limitavam seus espaços. Seguros em finíssimos fios eles balançavam no tempo. Uma visão da vida onde muitos procuram um equilíbrio e terminam por cair.
Outros mais seguros, conseguem um equilíbrio parcial, desta ou daquela forma e dão o espetáculo. A cainhada de Fernando Coelho será longa e certamente encontrará pela frente coisas que vão causar alguns tropeços.
Sim, porque os caminhos tem alamedas e lugares inacessíveis. Confesso que os trabalhos de 1975 e1976 agradam mais que os expostos gora na Galeria Teresa. Uma busca é certo a simplificação, uma ova linguagem visual e verbal, porém, aquela era mais forte, mais direta e tocava mais de perto a qualquer um. Cada palhaço funcionava como um espelho onde as pessoas procuravam um diálogo silencioso, mas profundo e sério. Sei que o trabalho ora desenvolvido é tão consciente quanto aquele de 1975 a 1976, mas a simplificação através de tendências tirou um pouco a força que carregavam os palhaços.
O próprio Clarival Prado Valadares quando da apresentação que fez para sua mostra um ano depois no Rio de Janeiro falava que o artista abria as portas de seu mundo de duendes como se a vida fosse, em toda condição humana, o ininterrupto espetáculo de um circo fantástico em que gesto, cada ação, cada tipo é uma simples tradução de que se vai acontecendo na terra dos vivos.
Assim vai Fernando caminhando num doce vale, estranho, em busca de novas formas de dizer as coisas.
Entendi perfeitamente sua linguagem tanto nos óleos como nos desenhos, porém continuo pensando nos palhaços que agora completam um e dois anos de idade., respectivamente 75 e76. E que este capítulo de 1977 tenha uma continuidade e uma conclusão realmente significativa.

     CODEVASF REALIZA EXPOSIÇÃO DE ARTE

Uma exposição de artes plásticas e um concurso literário assinalaram o terceiro aniversário de fundação da Companhia de Desenvolvimento do Vale de São Francisco, empresa pública vinculada ao Ministério do Interior.
Foi aberto ao público na sede oficial do clube do congresso o I Salão de Arte e Cultura do Vale do São Francisco, com trabalhos de artes plástica do pessoal da empresa que tem cerca de 2 mil funcionários, lotados nos cinco Estados da Lusa sanfranciscana e em Brasília
A finalidade da mostra, que se prolongou até o dia 25 passado foi estimular as vocações artístico-literária dos funcionários promovendo ao mesmo tempo, o interesse pelo aspectos culturais do Vale de São Francisco.
Os trabalhos apresentados no salão de arte e cultura foram selecionados por uma comissão dos seguintes especialistas: Walter Mello, assessor para artes plásticas da Fundação Cultural do DF. Hugo Mund. Diretor do Centro de Criatividade do DF, e Raimundo Nonato Veloso Filho professor de Artes Plásticas da Universidade de Brasília. A comissão premiou os melhores trabalhos expostos.
Concomitantemente com esta mostra a Codevasf promove um concurso literário entre os seus funcionários, cujos trabalhos, serão julgados por outra comissão, constituída pelo poeta Fernando Mendes Viana, autor de Silfohipofrifo que, em 1972, recebeu o prêmio literário nacional de poesia inédita, Ronai Vieira, editora de arte e cultura do Jornal de Brasília, e Tetê Catalão, editor de arte e cultura do Correio Brasiliense.

                              PAINEL
PEDRO ROBERTO- Está expondo no Clube Cajueiro, em Feira de Santana o artista Paulo Roberto, que já participou de algumas coletivas e individuais desde 1973. Já fez figurinos para várias peças de teatro e é autor de um painel em concreto que existe no Feira Palace Hotel, além de vários cartazes para espetáculos. Seu catálogo apresenta um desenho onde a figuração de uma mulher sobressai e demonstra o perfeito equilíbrio e capacidade de preencher os espaços com belas composições. Um mundo imaginativo que Pedro Roberto constrói partindo de sua visão e sensibilidade.

LEILÃO- Ainda em comemoração aos dez anos de A Galeria ,em São Paulo será realizado no próximo dia 20 o último leilão do ano de obras de autores nacionais antigos e modernos. Foram selecionadas cem obras entre as quais Marinha, de Rossi Ozir; Ouro Preto, Paisagem Com Casario e Igreja, de Perissinoto; Uma Mulata, de Di Cavalcanti e Igrejas de Minas, de Guignard, entre outras.

SERIGRAFIAS- Estão expostas serigrafias de Alexandre L. Caldenhof e Michael Walker numa mostra intitulada Impressões Bahianas, no ICBA. Também estão sendo mostrados fotos, desenhos, objetos e slides.
Continuam atuando os Falsos Valores... Cuidado.
DUKE- Os cariocas terão oportunidade de ver uma das principais exposições já realizadas neste país. Serão trabalhos de Wesley Duke Lee que a partir de 3 de dezembro estarão na Galeria Luís Buarque de Holanda e Paulo Bitencourt.
FAYGA VIAJOU- A gravadora Fayga Ostrower realiza uma retrospectiva em Madri abrangendo vinte anos de sua produção artística. Os espanhóis ganham um presente antes dos brasileiros, que ainda não tiveram a oportunidade de uma mostra da gravadora, deste porte.As exposições estão diminuindo de número neste fim de ano. Talvez a safra de artistas tenha acabado, embora nesta cidade de São Salvador muitas pessoas continuam iludidas...
RIOLAN- O mestre Riolan Coutinho está expondo na Galeria Cañizares com a apresentação de Ivo Vellame.Um mestre no lápis e no pincel. Capaz de uns poucos traços definir uma figura livre e bela. Ex discípulo de André Lothe, em Paris, hoje Riolan divide o seu tempo entre os ensinamentos que dá aos seus alunos na Escola de Belas Artes da UFBa e seu atelier no exercício individual de sua principal atividade que é de desenhista e pintor. Filho de Pojuca hoje com 45 anos de idade, Riolan tem muito ainda que produzir, porque capacidade não lhe falta. Foto II.
DELIMA MEDEIROS- O pernambucano está expondo na Galeria da Pousada do Carmo. Desde janeiro de 1961 que reside na Europa tendo frequentado estúdios de alguns artistas na França e viajado por quase toda a Europa agora está radicado em Milão. Sua exposição fica aberta até 4 de dezembro.



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