quinta-feira, 2 de maio de 2013

GILBERTO SALVADOR FAZ PRIMEIRA MOSTRA EM PARIS


JORNAL A TARDE , SALVADOR,  SEGUNDA-FEIRA 09 DE OUTUBRO 1989



O pintor paulista Gilberto Salvador
Paris (AFP) Ardente defensor das tribos indígenas do Brasil e do patrimônio ecológico que representa a Amazônia, o pintor paulista Gilberto Salvador, apresentou-se com sua sinfonia de telas, na Galeria Brasil Inter Art, que dirige na capital francesa e goiana Marci Gaymu.
A apresentação deste barbado paulista, que se assemelha mais a um barítono de ópera que um delicado manipulador de pincéis e cores, originou um belíssimo vernissage nessa galeria, situada a poucos metros da célebre Praça da Bastilha, que, este ano, comemora um duplo acontecimento: o bicentenário da Revolução Francesa e a inauguração da nova ópera parisiense.
A Brasil Inter Art Galerie converteu-se, este ano, em um destacado centro da arte pictórica deste rincão da velha Paris, que lentamente está aspirando galerias e livrarias de outros afamados bairros, entre eles o de Saint German.
Inspirado pelos cocares com plumas usados pelas tribos indígenas, Gilberto Salvador conseguiu dar a suas telas uma singular transparência, utilizando unicamente material acrílico.
Marci Gaymu explicou que os cocares brasileiros são uma incursão na cultura dos indígenas de seu País, sobre o tema da plumagem dos mais bonitos pássaros que adornam a cabeça dos ainda primitivos habitantes da Amazônia.
Tempo de Rei, uma pintura de Gilberto Salvador

Acrescentou Marci que através destes objetos Gilberto expressa sua maneira de combater para defender a cultura indígena através de suas linhas, suas curvas e seus símbolos, quase abstratos, guiado pelas leis geométricas. É todo um diálogo entre o homem e o pássaro.
"É a segunda vez que venho à França, mas é a primeira vez que faço uma exposição em Paris ", afirma em depurado português este artista nascido em 1946, em São Paulo, de pais italianos e espanhóis, que fez seus estudos na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo, e sempre viveu no Brasil, onde tem uma relação muito forte com os movimentos ecológicos.
O artista brasileiro faz parte de uma organização ecológica em São Paulo chamada SOS Mata Atlântica relacionada com Green Peace, que é um movimento de preservação de natureza e, principalmente, dos territórios indígenas da Amazônia.

A exposição que apresento aqui é uma parte do meu trabalho relacionado com a utilização dos elementos indígenas como os cocares utilizados nas manifestações mitológicas.
A ideia desta exposição foi a de trazer, exatamente, uma tradição da  Coiffuture Indienne e mostrar a maneira de como se vê o problema dos elementos indígenas através do olho do pintor.

DUAS EXPOSIÇÕES DE KATE SCHERPENBERG NO RIO

A artista Katie van Scherpenberg realiza duas exposições simultâneas no Rio de Janeiro. Sendo uma na Artespaço onde mostra seus desenhos e na Galeria Anna Maria Niemeyer apresentando trabalhos que traduzem o aprofundamento de certas questões da pintura e da formação da imagem. Diz a artista que apesar de alguns trabalhos não serem desenhos no entendimento usual desse termo, eles o são no que se refere a três aspectos: a relação direta com o suporte; não há modificações importantes do material empregado; a não-utilização de instrumentos de pintura, isto é pincel, pigmentos suspensos em meios previamente preparados, etc. As datas desses trabalhos vão de 1985 até 1988.
Estes trabalhos são a base para o projeto A Via Sacra, apresentado na XX Bienal de São Paulo deste ano.
Os trabalhos que estão na Galeria Anna Maria Niemeyer tentam traduzir um aprofundamento de certas questões de pintura e da formação da imagem.
Nos trabalhos de 110cm por 160cm em sua maioria usa vários materiais e meios, de acordo com a demanda do processo sobre a imagem, ou da imagem sobre o processo.
Em certos trabalhos o linho é colado sobre um painel de madeira e sobre o suporte é usado desde a têmpera a ovo até a eucástica fria.
Em outros, a têmpera e a folha, de ouro se completam.Os pigmentos, os meios e as colas são usados mantendo uma dialética entre o material e a imagem- A Realidade e o Sonho.

VIA SACRA NA BIENAL

Katie participa da XX Bienal de São Paulo com uma Via Sacra baseada nas 14 estações da cruz da religião católica.
Sua ideia principal é o local do rito e na seqüência ela consegue levar o visitante a tentar decifrar um sentido, uma maneira de ver. Como fundo pintado em óxido de ferro sugere o barroco colonial ou uma caveira. Diz a artista que são formas mais simples, são sugeridas pela própria matéria e não representam absolutamente nada. E prossegue:
Não há conhecimento prévio. Isto não é uma ilustração de uma Via Sacra.Tenta ser talvez o próprio caminho para algo ainda invisível, como o conjunto final dessas obras.Na pintura contemporânea existe um trabalho a que eu poderia me referir.
As Quatorze Estações da Cruz de Barnett Newnwnn, no National Gallery em Washington. Esta Via Sacra é na realidade uma continuação de um caminho que estou trilhando há quase 10 anos, tentando ver e pensar pintura.


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