quinta-feira, 2 de maio de 2013

A FALTA DE SUTILEZA DAS FIGURAS DE SCALDAFERRI


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SEGUNDA-FEIRA 04 DE SETEMBRO DE 1984



O artista Sante Scaldaferri não fica parado.Agora mesmo vai abrir uma exposição no próximo dia 12 de setembro na Galeria Ana Maria Niemeyer e, no dia 04 de outubro, na Performance, em Brasília.
A apresentação, das duas mostras, consta de um catálogo único e foi escrita por Marcus de Lontra Costa, falando sobre a obra de Sante, o Marcus diz que ele rejeita de imediato, o olhar colonizado, a sedução do folclórico, a ânsia regionalista. Ele se quer e se faz para o mundo. Ele integra a corrente do contemporâneo, pisca de olhos para a art brut e para a transvanguarda. Sante olha para o mar e para a magia e vê a essência das coisas, a alma universal. O seu trabalho diz um vigoroso não ás obviedades, ás falsas místicas, ao modelo epidérmico determinado que visa a condenar toda a riqueza da primeira capital brasileira a uma espécie de narcisismos e vomita exótico.
Concordo com Marcus que as imagens de Sante se formam do embate com o mundo. Daí ter escrito várias vezes que sua pintura tem uma linguagem universal, e atinge a todas as pessoas que tem oportunidade de olhar a sua obra com o olhar critico, com o olhar de quem realmente deseja pensar.
Olhando de soslaio ou de relance parece que suas figuras são horrorosas e a gente tende a desprezá-las. Mas, quando o olhamos mais devagar e vamos decodificando as mensagens nelas embutidas enxergamos a grandeza e a baixeza dos homens. E isto é muito importante porque inclusive nos leva a uma autocrítica, quando surgem ou se esboçam as nossas mazelas. Ali está explícito, com crueza, a nossa existência, sem lugar para a sutilezas.
Marcus Lontra diz em sua apresentação que se tudo já foi dito, nada se perdeu. Ao falar do mundo, ao falar da arte, Sante releva o verdadeiro ser de nossas faces camufladas pelo espelho.
Aqui não há espaço para as pequenas sutilezas, para as mãos limpas, longos silêncios. Tudo explode, nasce apodrece diante de nós, morte nossa de cada dia, de toda a vida á espera e o artista faz desse embate seu instrumento de ação, sua justificativa de ser a sua droga e o seu horror. Tudo aqui é território do fogo e da paixão, essas figuras, essas pessoas, essas coisas, esses todos nós de uma rede intricada que enfocam a língua para registrar e justificar o olhar.
E continua: Há um processo, um método, uma lógica. Há, em todas as ações. Um desejo, uma consciência de crise. Essa é a alavanca que move a arte. A dor é, também, um instrumento da paixão. Ela é mais que um simples reflexo, ela é a proteção do Ser. Sante torna visível o verdadeiro retrato. Ele trabalha o kitsch como elemento da subversão, provocação intelectual. E a obra se projeta inteira e provocante, a sua dualidade,o seu clichê é intencional,pois é a partir dessa situação de ambiguidade que o artista elabora seu discurso. A ironia invade o deboche a intenção tensiona o gesto, a estrutura expande e contrai a miséria.

PAULISTA E MINEIRA EXPÕEM SUAS OBRAS NO  GABINETE PORTUGUÊS
Marlene e Marília mostram suas obras mais recentes


Uma paulista de São Vicente e uma mineira de Belo Horizonte estão expondo suas obras desde o último dia 1ª no Gabinete Português de Leitura Marília Perez, a mineira, afirma que sempre a pintura exerceu uma grande atração sobre ela e que seus primeiros trabalhos foram feitos em bico-de-pena.
Trabalhou alguns anos como professora e neste período passou a utilizar o guache para ilustrar as histórias infantis que passava para seus alunos. Já resistindo em Salvador foi fazer o Curso Livre na Escola de Belas Artes, ocasião em que tomou conhecimento mais de perto das vantagens do uso das tintas acrílicas. Também começou a utilizar tinta óleo e até mesmo como exercício chegou a executar alguns trabalhos em vitral e cerâmica.
Confessa que está preocupada com valores nacionais, buscando nas suas raízes uma linguagem adequada a sua obra ou a sua maneira de manifestar a sua emoção. Chega a reconhecer que em determinados momentos sua pintura aparece simplista e até ingênua, mas é a forma que encontrou para revelar sua emoção. Seus trabalhos, principalmente os que tratam de temas ligados ao casario colonial, tem suas cores alternadas com texturas mais espessas, que ela consegue com a utilização de espátula.
Já Marlene Sibílio Simão, a paulista, tem vários cursos livres de pintura promovidos pela Secretaria de Cultura e Faculdade de Artes Plásticas Santa Cecília, ambas da cidade de Santos.
Faz questão de ressaltar que seus orientadores foram os professores Jorge Guerreiro e Wega Neri. Tem uma pintura mais solta, fugindo do figurativo.
Acredito que Marlene está precisando ousar mais para que a sua pintura se firme por ela mesma. Sabe manejar com as cores e não fica presa a um desenho rígido. É neste instante que mostra-se mais criativa. A qualidade de sua obra tende a melhorar a depender da sua disposição em pintar, em adquirir informações, que inconscientemente vão sendo incorporadas pela artista e termina aparecendo em suas obras.

CARMEM PENIDO E CÉLIA MALLET EM CONQUISTA

No confronto que se possa estabelecer entre a pintura desenvolvida por Carmem Penido e Célia Mallet podemos afirmar apenas que a afinidade está na amizade e na determinação de exporem juntas na Galeria Geraldo Rocha, de Vitória da Conquista. Carmem nos apresenta os personagens urbanos com suas caras anônimas, enfrentando situações rotineiras como a espera, uma compra de guloseimas por crianças, pessoas tomando ônibus, enfim, um verdadeiro cineminha de coisas que estão acontecendo nas ruas de qualquer metrópole. Sua pintura vem dando uma demonstração de maturidade técnica e isto basta à gente verificar com mais atenção os espaços que compõem as telas onde habitam os seus personagens.
Carmem Mallet me impressionou com os volumes, movimentos  e por sua capacidade em pintar por pintar. Uma pintura que se sustenta por ser uma pintura forte, uma pintura que pode até desprezar o figurativo e funcionar com mensagens emotivas. Quase uma tendência á abstração, onde ela simplifica as linhas e vai definindo os volumes com pinceladas densas. Ela esteve na Inglaterra durante seis anos, tempo suficiente para observar as manifestações artísticas que ocorriam por lá. Mas as obras que ora apresenta são fruto de suas observações do movimento do mar, as rochas e a areia molhada do Farol de Itapuã. As ondulações e as marcas deixadas pela água na areia da praia servem de temática para sua arte.





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