sexta-feira, 5 de abril de 2013

CRISPIM E ZELITA PINTARAM A EXPLOSÃO DE CORES DO CARNAVAL - 06 DE MARÇO DE 1989.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 06 DE MARÇO DE 1989.

CRISPIM E ZELITA PINTARAM A EXPLOSÃO DE CORES DO CARNAVAL

É sempre bom a gente encontrar pessoas que despertam para a arte, mesmo que tenha passado boa parte de sua existência envolvidas em outros afazeres completamente distantes. É o caso de Zelita que passou anos trabalhando como funcionária pública, cuidando dos afazeres domésticos e agora está totalmente voltada para sua arte.
Seu trabalho destaca-se em retenção a outros primitivos porque suas figuras além daquele colorido forte têm um excepcional movimento, e o mais curioso é que o seu pincel é quase o próprio tubo de onde sai a tinta. De maneira que suas telas ficam pastosas, porém com as figuras de contornos bem definidos.
Pouco sabe falar do seu trabalho. Aliás, não é preciso. Basta expô-los e deixar que as pessoas descubram as nuances, os detalhes, as expressões estampadas nas caras de suas figuras. É verdade que seu trabalho lembra um pouco o da folclórica Ema Valle.
Só que o trabalho de Ema é envolvido por linhas e contornos de curvas dando uma impressão de um emaranhado de situações. O de Zelita nos apresenta espaços bem definidos, com cada figura em seu lugar. Com isto não estou afirmando que o seu trabalho seja melhor do que o de Ema. Ao contrário, o de Ema é mais bem elaborado, é a própria representação da grande figura humana que é a Ema. São dois estilos diferentes.
Já o Crispim tem toda uma carga de aprendizagem e de conhecimento que adquiriu na academia ou seja na Escola de Belas-Artes.
O desenho é de qualidade superior, o movimento bem mais envolvido num clima descontraído e mais próximo da realidade. Ambos estarão participando a partir do dia 11 de uma exposição na Galeria do Sesc/SENAC, no Pelourinho organizada pelo também artista plástico Belchote.
O Crispim é mineiro de Montes Claros, mas está radicado em Salvador desde 1976  e tem sua formação acadêmica, além de ter recebido orientação de Leonardo Alencar, Odete Valente e Roberval Marinho. Enquanto Zelita Rodrigues é baiana e ambos vão mostrar o lado alegre e colorido do maior espetáculo da terra que é o Carnaval.

MINEIRA EXPÕE SUAS TELAS NUMA PRAÇA DO IGUATEMI

Mineira de Monlevade, mas radicada há mais de 10 anos na Bahia, Terê vai mostrar, a partir de hoje, na Praça Jorge Amado, do Shopping Iguatemi, uma exposição de seus mais recentes trabalhos, todos em óleo sobre tela.
Premiada em salões, consagrada e elogiada em 40 exposições entre individuais e coletivas realizadas em várias cidades brasileiras, essa mineira, quase baiana, resume sua vocação pela arte com uma simples frase Nasci pintando.

OPINIÕES

O critico de arte e professor da Universidade Federal da Bahia, Carlos Pedreira Alves, ao escrever sobre o seu trabalho enumerou alguns questionamentos: Que dizer das figuras humanas retratadas em cores permanentemente frias, mas cheias de sentimentos, onde o olhar inquisitivo dos seus personagens extrapola os quatro cantos da tela para nos interrogar? Falar dos seus casarios arquitetonicamente pesados, conforme a realidade urbanística de Salvador, em seu colorido verde-azul-amarelado, mostrando as asperezas do tempo sobre argamassas seculares? O que dizer dos seus interiores de igrejas e conventos onde o mosaico marmóreo faz contraponto visual com pesados volumes e vergas abobadadas cheios de místicas elucubrações?
Parecem-me desnecessárias quaisquer considerações estéticas ante a pujante mensagem colorística que a artista nos apresenta. É ver e sentir.
Embora diplomada em Letras, Terê fez cursos livres de Pintura em Minas Gerais, na Escola de Belas-Artes da UFba. E na Panorama Galeria de Arte.
A tudo isso, soma-se a orientação recebida de Graça Ramos, uma artista e uma mestra de arte de mãos cheias.
O critico Romano Galeffi analisou três dos seus trabalhos: uma perspectiva do característico urbanístico da antiga Rua do Posso; o claustro da Ordem Terceira do Carmo; e uma cena com três feirantes sentados no chão, perto de cocos secos.
Ao final, escreveu: As demarcações do jogo alternado de cheios e vazios, mediante um ritmo acelerado graças ao afastamento dos planos devido á perspectiva, assumem, no grande quadro da Terê o nível de uma recriação, capaz de encher de admiração todo fruidor esteticamente distanciado, independentemente de toda comparação possível com a realidade do objeto retratado. Será, então, apenas uma questão de gostos o fato de prevalecer os opacos toques de terra e de neutros sobre tons cromáticos transparentes e luminosos ao molde dos pintores impressionistas do século passado e seus limitadores de todos os tempos. Com efeito o tratamento espatulado das fachadas dos vetustos casarões aos dois lados da rua e no pavimento da mesma a cabeça-de-nego com o alcance de uma textura de vitalizante vibratilidade é mais que suficiente a provar as virtualidades recriadoras da artista, m que pese ao tom dominante do céu que estaria a demandar ao azul-anil típico da Bahia, mas em obediência é bem mais importante exigência da harmonia do conjunto.
Semelhantes qualidades no tratamento matérico-expressional encontramos no quadro dos feirantes, em virtude de sua controlada combinação de terras e de variadas tensões dinâmicas por contrastes claro-escuras.
Mais da beleza e da qualidade das peças de Terê somente indo in loco conhecê-las, admirá-las e ver de perto um trabalho plástico da mais alta qualidade. Muito se poderia dizer do trabalho de Terê, porém Carlos Pedreira Alves definiu-o muito bem. É ver e sentir.

 A INQUIETA LIANE KATSUKI TEM AGENDA MOVIMENTADA

 Artista Liane Katsuki está com uma vida profissional agitadíssima na Europa. Em dezembro ela deixou a Holanda onde estava estabelecida, logo após realizar uma exposição em Borger. De lá seguiu para a Espanha onde prepara uma exposição de esculturas em bronze para maio, em Madri.
Neste período voltou à Holanda onde participou do Festival de Haia. A embaixada brasileira e a Fundação Cultural Art Holandesa programaram um grande evento intitulado Carnaval Rio, e lá estava a Liane representando o nosso país.
De volta à Espanha, aconteceu a grande Feira Internacional de Arte Contemporânea Arco, em Madri. Segui para Lisboa onde, a chamado de uma galeria portuguesa está preparando algumas peças para o concurso de jóias em Córdoba. Estou encantada com o movimento e a vida artística em Madri: ao nível e bom mercado, registra a incansável Liane que tem demonstrado muito pique para enfrentar a concorrência leal e competente dos europeus.

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