quarta-feira, 6 de março de 2013

RESTAURAÇÃO PERDE SEU MESTRE E GRANDE ALIADO - 11 DE MAIO DE 1981


JORNAL A TARDE, SALVADOR ,11 DE MAIO DE 1981

RESTAURAÇÃO PERDE SEU MESTRE E GRANDE ALIADO

Professor e restaurador Edson Motta
Com a morte de Edson Motta nossos monumentos e obras de arte estão mais ameaçados. O professor Edson era um destemido batalhador e um homem que cuidava com muito carinho das obras que lhe chegavam às mãos. Por centenas e centenas de vezes conseguiu sensibilizar pessoas e entidades para a necessidade de cuidar do nosso patrimônio histórico. Assim, publico consternado estas informações sobre este homem que deixa uma lacuna em tão importante setor, com sua morte no último dia 4.
Depois de algum tempo internado, devido a problemas pulmonares e respiratório, morreu aos 71 anos o professor, pintor e restaurador, Edson Motta, considerado uma das principais figuras da restauração brasileira e mesmo mundial. Há três anos o professor Motta era também o Diretor do Museu Nacional de Belas Artes que, somente em sua gestão, conseguiu a conclusão das reformas do prédio antigo e colonial da Avenida Rio Branco e a reabertura das galerias do 2º andar, há muito fechadas.
" Museu para mim não é apenas uma casa de contemplação, mas uma casa de cultura ativa, oferecendo concertos, conferências, aulas para alunos de todos os níveis, sendo uma oportunidade para aprender a viver melhor", declarava ele em 1978, quando assumia a direção do MNBA, justificando todas as melhorias que pretendia e efetivamente implantou, remanejou pessoal e departamentos para que espaços mais amplos pudessem servir ao objetivo que pretendia, a arte. Nos dois anos e três meses em que, anteriormente, completou a gestão de Maria Elisa Carrazzonim na direção do museu, Edson Motta, já iniciara as reformas que viriam a melhorar o estado geral do museu. Á frente de uma equipe promoveu restaurações em grande parte do acervo.
Durante 33 anos Edson Motta dirigiu o Setor de Restauração do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, depois transformado em instituto que ele dirigiu até 1978. Durante este tempo restaurações brasileiras importantes, como a do acervo do Teatro Municipal e do Museu de Arte Moderna, foram empreendidas por ele.
Sem contar os muitos trabalhos internacionais para os quais era requisitado na América Latina e mesmo na América do Norte, onde cursou pós-graduação, em Harvard.
Foi como restaurador que, em 1978, já diretor do MNBA, Motta recebeu o Prêmio Estácio de Sá, como a personalidade que mais trabalhou em favor, das artes plásticas.
Nem todos sabiam que a sua restauração, considerada perfeita, tinha suas origens no desenho e na pintura, que também lhe valeram prêmios nacionais e internacionais.
Nos últimos tempos ele havia abandonado as atividades de professor que exerceu durante muitos anos na Escola Nacional de Belas Artes, e já não se dedicava tão intensamente à restauração. Sem, contudo, recusar qualquer restauração de quadros de amigos que fazia quase por hobby, em seu atelier do bairro carioca da Urca, nunca deixou de pintar, ainda que fossem raras suas exposições.
Mineiro de Juiz de Fora em 1931, Edson Mota criou, junto com amigos como Joaquim Tenreiro, João Rescála, Bustamante Sá Milton da Costa, Ealdo Malagoli, o Núcleo Bernadelli, que muito fez pelas artes plásticas, do Rio e do Brasil. Edson Mota juntou, ao longo de toda a sua vida, muitos títulos que encarava com discrição e tranqüilidade. Foi presidente do Conselho Estadual de Cultura ,do Rio de Janeiro e membro da Academia Delle Arti di Disegno, de Florença.

   PROFESSORES DA ESCOLA DE BELAS ARTES EXPÕEM

Uma obra de Pássaro que
trabalha com sucata
O Museu de Arte da Bahia realiza no próximo dia 15 uma exposição de um grupo de artistas que tem uma linguagem plástica comum. A apresentação dos artistas é de Mário Cravo que conhece de perto o trabalho de todos eles. E, também fala de Pássaro, um artesão que frequenta o seu atelier. Participam do grupo Ana Lúcia Uchoa, Graça Ramos, Márcia Magno e o Pássaro. Deixo algumas palavras do Mário que expressam em ligeiras pinceladas um pouco do trabalho do grupo: Vejamos:
Ana Lúcia através de suas xilogravuras de cores intensas e vibrantes estabelece o contorno de suas figuras com linhas luminosas que envolvem seus personagens trágicos e contemplativos.Sem pertencer à correntes contemporâneas sentimos no entanto certa carga expressionista em suas gravuras. Ana Lúcia empresta na sua impressão das áreas de cor acentuada dramaticidade.
Na mesma direção, Graça Ramos mostra suas litografias de pleno domínio técnico e sua densidade dramática é enriquecida nas variáveis de sua rica textura. No tratamento do plano elaborado de suas litografias há na amarração das formas penetração da superfície na qual imprime seus sonhos e personagens.
Apresentando-se pela primeira vez, o escultor Firmino Pássaro mostra suas esculturas em sucata de ferro, Pássaro, como o conhecemos na intimidade, é artesão de várias técnicas e arruma seus elementos construindo figuras e ritmos em suas esculturas. Deslancha em experiências as mais variadas dentro do mundo fantástico dos seus personagens.
Finalmente, fazendo parte do grupo está Márcia Magno com suas xilogravuras de grande formato, demonstrando uma particular segurança na construção de suas colagens. Márcia utiliza a cor em áreas de transparências e superposições, assim como sua superfície cromática é rica e vibrante. Na liberdade que tem ao utilizar a técnica mista usando a xilo como base, demonstra uma energia e segurança pouco comuns.
Não pretendemos estabelecer parâmetros e juízo crítico ortodoxo, achamos simplesmente que este grupo de artistas traz de novo à nossa cidade a presença do entendimento expondo seus trabalhos livres e desenibidamente."
Esperamos que fatos similares se repitam nesta casa de arte, estimulando assim, público e artistas.
IMAGENS AGRESTES- A Galeria de Arte Impacto de Comunicação apresentará a partir do dia 14 a exposição do pintor Alderico de Freitas.São 30 quadros em óleo sobre tela de imagens agrestes inspiradas na sua infância passada em Pindobaçu no sertão baiano, sob o sol escaldante e entre os mandacarus do Nordeste.
Fiquei comovido com as notícias sobre a seca em 1980, conta Freitas. Então comecei a me lembrar da minha infância e percebia que conhecia o problema . Então me deu aquela vontade de pintar, usando o mandacuru para compor os quadros.Isso foi mais de um ano, e ainda continuo querendo mostrar essa imagem que faz parte da minha infância.Os trabalhos de Freitas custam de CR$10 mil a CR$30 mil e ficarão expostos na galeria (Al. Joaquim Eugênio de Lima, 30) até o dia 30 de maio.

LATINOS- Quadros do pintor mexicano Diego Rivera obtiveram os preços mais altos do leilão de arte latino-americana registrado o final de semana na Galeria Sotheby Parke Bennet.
La Canoa Enflorada ( Foto ao lado) foi vendida por 220 mil dólares em apenas oito minutos e Delfina Flores com sua Sobrina Modesta atingiu os 210 mil,  em seis minutos.
Ainda de Rivera, foram vendidos Las Naranjas, por 100 mil dólares; Madre Y Nina, por 60 mil e Retrato de América: Union Proletária, por 25 mil.
Vista Del Canal de Xochimilco, de Joaquim Clausell, atingiu os 90 mil de dólares; Sandias, de Rufino Tamayo, 92.500 e Retrato de Um Niño, do mesmo autor, 55 mil.
Duas obras, de José Clemente Orozco atingiram preços altos: El Dolor, 70 mil dólares e Calle Catorze: Manhattan, 57.500.


HUMOR- A partir deste mês, os desenhistas de humor de todo o Brasil ganham um espaço permanente para expor suas charges, cartuns, quadrinhos e caricaturas.Trata-se da Galeria Nair de Teffé, que pertence ao recém-criado Núcleo de Grafismo da Funarte, com sede em Brasília, no Setor de Divulgação Cultural do MEC.
A inauguração ocorreu no último dia 7 com a abertura da exposição Criaturas II, reunindo cartunistas conhecidos e seus afilhados, gente nova que começa a despontar no desenho de humor. A escolha do nome de Nair de Teffé para batizar a galeria é uma homenagem a primeira caricaturista mulher do Brasil, que se tornou famosa no início do século.
Participam de Criaturas II os seguintes cartuninstas: Cão, de Blumenau, que apresenta Bonsom; Guidacci apresentando Elihu, do Rio; Humberto, de Recife, e seu afilhado Lailson, Juarez Machado e seu irmão mais novo, Edson; Lan mostra o ceramista Eduardo, do Rio Grande do Sul; Lage revela Zé Vieira, de Salvador; Lor apresenta Aroeira, de Belo Horizonte; Marco Aurélio e o afilhado Rekern, de Porto Alegre; Mariza traz Glauco, de São Paulo; Milson apresentando Dino, de Vitória; Mino e o afilhado Sinfrônio, de Fortaleza; Racsow e Oscar, de Brasília; Zélio mostra Jun, de São Paulo; e Millor Fernandez.Depois de Brasília, a exposição de Criaturas II percorrerá diversas capitais brasileiras passando primeiro pelo Rio de Janeiro (junho) e Salvador (julho).

PROPOSTAS - Em presença de alguns membros da Comissão Julgadora do concurso promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia foram assinados os contratos para a execução das propostas escolhidas. Espero que realmente os vencedores elaborem trabalhos dignos de representar o que de mais importante existe nas artes plásticas baianas. A assinatura ocorreu no Museu de Arte Moderna onde está sendo realizada a exposição dos ganhadores do III Salão Nacional. Coube a Geraldo Machado receber os artistas e na foto ele cumprimenta Bel Borba.

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