terça-feira, 19 de março de 2013

HANSEN BAHIA - 21 DE ABRIL DE 1979


JORNAL A TARDE SALVADOR, 21 DE ABRIL DE 1979

                      HANSEN -BAHIA

Hansen-Bahia não posso esquecer a última vez que visitei Hansen em sua bela casa na época em construção em São Félix.Estava deitado em seu leito dando ordens aos trabalhadores. Era um homem dinâmico e cheio de vitalidade, que é só os criadores e verdadeiros artistas possuem. Não tencionava parar e de vez em quando queixava-se de dores. Eu, que já o conhecia e por diversas vezes estive entrevistando-o em sua antiga residência em Armação saí entristecido devido a seu aspecto. Como afirma Ivo Vellame é difícil a gente falar de Hansen, especialmente neste momento em que não está mais aqui.
Hansen foi um desses grandes artistas que com o passar do tempo sua obra será ainda mais prestigiada e admirada. Dos gravadores que já tivemos e temos Hansen foi o maior e, é difícil superá-lo. Um gringo que chegou e virou baiano a começar pelo nome que adotou em homenagem a esta terra que ele tanto amou. Quando percebeu o crescimento de Salvador, os ruídos dos carros, chegada dos vizinhos barulhentos resolveu mudar para o interior e no topo de um morro fez sua casa que descortina toda a cidade de São Félix e o leito do Paraguaçu.
 E neste momento não posso deixar de registrar a sinceridade de sua companheira Ilse que lhe confortou até os últimos momentos. Hansen era um mestre que será reconhecido e festejado dentro de pouco tempo. E, em boa hora o Museu da Fundação Hansen-Bahia está fazendo esta homenagem com uma mostra de algumas das centenas de gravuras todas dotadas de um toque artístico indescritível pela movimentação, pelo traço, pelos movimentos e detalhes, pelas expressões contidas em cada rosto de suas figuras miseráveis ou diabólicas. Um artista que soube sentir as manifestações populares, o dia a dia da prostituição, e não esqueçamos o seu mural onde retrata da Odisséia, de Ulisses.

                                                             JOSÉ PINTO E O MUNDO COLORIDO

Examinando a tela A Santa Ceia, de José Pinto posso sentir a grandiosidade deste mundo tropical que vivemos. Uma festa de cores e a gesticulação simples de suas figuras, todas de chapéu sentados ou ao lado de uma mesa que não é farta. Aliás não é farta a mesa do brasileiro. Dois abacaxis e outras pequenas frutas e ao centro um peixe. Fico imaginando a simplicidade de José Pinto que mora no sul do país, no sul maravilha. Será? Mas que não esquece suas origens de filho da região cacaueira onde ele tanto busca inspiração para sua obra. José Pinto é um desses artistas simples que consegue captar com facilidade este mundo fantástico. A nossa fauna e flora tão mal exploradas e depredadas pelos insensíveis. Ele faz inconscientemente o registro desta beleza tropical que precisa ser preservada. Suas telas são retratos de um mundo fantástico e acima de tudo fascinante. Basta lembrarmos dos escritos de Marthius quando aqui esteve e descreveu as paisagens de nosso país. É isto que nos traz em linguagem plástica.

Para ele o que chama agora de primitiva é uma arte que guarda sua pureza e frescura, a sensibilidade primeira da força motriz.Assim fala citando o Mário Pedrosa que dizia em 1958 que o excesso de erudição tolhe a intuição. Ele prefere continuar autêntico e intuitivo porque a arte consiste na descoberta e na expressão original do artista. Uma nova maneira de enxergar que da sua marca seu sentido do novo e do inédito a busca da inocência como qualidade de imaginação A inocência do poeta que deve existir no artista. José Pinto é falante e com facilidade discorre sobre sua arte como estivesse pintando. Defende a necessidade de manter a clareza infantil na fase adulta e a novidade da cor.

Nesta  outra A Santa Ceia do artista podemos
 ver presença de uma igreja.
Diz que criticar um artista que manipula informações dentro da comunidade e teima em ser primitivo é bobagem.Tudo isto é falso, porque depois que você pinta cem quadros já aprende a técnica. Em geral muitos acadêmicos ficam repetindo mesmos temas. A arte nasce como artista que precisa conservar a sua intuição. Pinto como eu gosto de fazer. Se fizesse diferente seria tudo falso. Mas isto não acontecerá porque sou autêntico e pinto aquilo que me toca, jamais por exemplo pintaria os edifícios de concreto do Rio de Janeiro. Eles não me dizem respeito.
Sou um estranho neste mundo frio e emaranhado do concreto armado. Prefiro as aves, os animais e as florestas ricas em cores e vida.
José Pinto está expondo na Kátia Galeria de Arte.

                     JOÃO AUGUSTO ESTÁ NA TERRA

É sempre gratificante a volta de um bom artista. E João Augusto é um desses criadores inquietos que sempre está procurando conhecer novas manifestações artísticas e para isto ele tem que viajar para a Europa, Estados Unidos, etc.
Agora ele volta de New York onde estava residindo há um ao e para onde pretende voltar em breve. Veio para nos mostrar nove grandes telas que estarão expostas na galeria do Leo ou seja  a Galeria Grossman. Suas telas serão expostas a partir do dia 26 deste mês. São telas que apresentam uma linguagem plástica contemporânea com os volumes geométricos e traços gestuais. Ele não sabe definir a razão do crescimento de seus quadrados e retângulos. Isto porque começou a criá-los pequenos e talvez influenciado pela presença de telas muitos grandes entre os artistas contemporâneos radicados os Estados Unidos também sentiu a necessidade de aumentá-los de tamanho. E graças a isto podemos ver a grandiosidade do seu trabalho e especialmente suas telas cinzentas e esbranquecidas, pois os cinzas e os brancos predominam.
Esta vivência com outros povos lhe abriu a visão plástica fora  do figurativo para uma arte mais atual, contemporâneas e forte. Como revela João Augusto vivo há uns dez anos fora do país.  Mas sempre estou voltando. Na Europa onde demorei mais foi na França onde passei quatro anos. Agora fui aos Estados Unidos e noto uma grande diferença entre os europeus e americanos. Neste momento tenho condições de fazer um paralelo entre a arte feita na Europa e nos Estados Unidos. Hoje, posso afirmar que as coisas nascem nos Estados Unidos e depois vão para a Europa que não é mais um centro revolucionário em termos artísticos. E isso me estimulou a criar novos espaços em minhas telas e me deu mais liberdade com os pincéis e tintas.

                                                    PAINEL

* SEIS ARTISTAS- A Escola de Belas Artes e a Kompasso Galeria de Arte abriram a exposição de AL Gonzalez, Helene Sudsilowsky, Laura Tereza, Luiz Mário, Rosário Barroso e Stela Gatis. São estudantes que começam a dar os primeiros passos em busca de reconhecimento do público pela sua arte. As técnicas são as mais variadas. Vale a pena fazer uma visita a esta exposição.

* CARTAZES- Em boa hora o Senado aprova um projeto de lei que nacionaliza a criação, produção e impressão de cartazes cinematográficos nos mesmos termos aprovados pela Cãmara de Deputados. O projeto vai ser agora enviado para sanção presidencial. É hora de prestigiar os artistas brasileiros, além da importância para o mercado de trabalho.

* ARTE RELIGIOSA - A Galeria Panorama está expondo trabalhos de Beré, Leonel Mattos, Licurgo, Lima, Luciana, Miguel Najar, Mirabeau Sampaio, pedroso, Tiago, Vivaldo ramos. A mostra continuará até o próximo dia 30 do corrente.

* PIERRE POPHILLAT -   O pintor e escultor francês está expondo na Aliança Francesa, na Rua Recife, 22, Barra. Sua pintura é calcada na temática natureza.

*QUADROS TRANSSISTORIZADOS! É que o espanhol Isidro Fernandez Gonzalez trabalha aplicando vários materiais que tomam formas de carros antigos. Além disto ele coloca rádios transistorizados de maneira que os carros tem som. Evidente que não se trata de nenhuma obra-de-arte. Apenas um trabalho artesanal e decorativo. Isidro afirma que seus quadros que emitem sons são muito procurados. (Foto).

*48 TONELADAS- O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro já recebeu as 48 toneladas de vidros oferecidas graciosamente pela Interbrás e destinadas às obras de reconstrução. As lâminas de vidro foram fabricadas nos Estados Unidos e são lisas de cor cinza. Por outro lado,a Prefeitura do Rio liberou uma verba de CR$5 milhões como contribuição para as obras de reconstrução. Enquanto isto os nossos museus continuam acéfalos, entregues  a pessoas sem competência, vivem de migalhas e funcionam como depósito

MELHOR BALÉ- O governador Ney Braga, do Paraná, anuncia que vai montar o melhor balé do Brasil em Curitiba, Na Fundação do Teatro Guaira. Está empenhado em desenvolver a cultura do seu estado. Aqui até agora nada. Tudo está parado como antes.

DOCES BÁRBAROS- É que os Bárbaros terão assento no Conselho da Cultura do Estado. Uma ideia que a meu ver busca apenas publicidade. Não que Bethânia, Gil e Caymmi sejam incompetentes, mas porque não residem aqui e tem compromissos outros e viagens constantes que certamente lhes impedirão de participar das reuniões.Acho que a medida busca apenas impressionar o meio artístico. Nada mais.

JOSILTON - Realizou exposição no Gabinete Português de Leitura, onde usou a cor para valorizar a textura e os relevos de seus entalhes.

CRIANÇA NO MAM- sob a denominação de As crianças deste mundo o Museu de Arte Moderna da Bahia apresenta a 4º Exposição Mundial da Fotografia onde participam 55 países com 515 fotos. Do Brasil constam cinco fotos, sendo uma feita na Bahia, por um gringo.

SÉRGIO LEMOS- Está expondo na Galeria O Cavalete. Aproveitou para lançar o seu livro Inventário de um Feudalismo Cultural e passar o seu filme Frutais Jogos Frugais, ambos de parceira com Jomard Muniz de Brito.



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