quarta-feira, 6 de março de 2013

CRESCE O NÚMERO DE ADESÕES À XVI BIENAL DE SÃO PAULO - 20 DE ABRIL DE 1981


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 20 DE ABRIL DE 1981

            CRESCE O NÚMERO DE ADESÕES À XVI BIENAL DE  SÃO PAULO

Até agora, treze países confirmaram participação na XVI Bienal Internacional de São Paulo, que se realizará entre outubro e dezembro próximos. Além dos Estados Unidos, México e Venezuela, dez países europeus e asiáticos estarão presentes á exposição: França, Itália, Bélgica, Portugal, Espanha, Iugoslávia, Checoslováquia, Alemanha Ocidental, Bangladesh e Filipinas. Países como Holanda, Suécia, Suíça, Grã-Bretanha e Polônia estão em fase de negociações, enquanto outras nações já iniciaram contatos ou estão mobilizando representantes a fim de participarem da mostra internacional promovida pelo Brasil.
As últimas confirmações foram obtidas durante recente viagem que a diretoria da Bienal fez aos Estados Unidos e Europa. O principal objetivo da viagem foi consolidar as propostas para esta mostra de arte em São Paulo. Além de conseguirem novas adesões, Luiz Villares, presidente da Fundação Bienal e Walter Zanini, curador da Bienal, deram esclarecimentos sobre o Regulamento da XVI Bienal a diretores de museus, de fundações e órgãos culturais, a críticos de arte e a nomes reconhecidamente importantes no mundo artístico, igualmente sugerindo-lhe tendências e orientando-os sobre as formas de apresentação da arte.
A Itália confirmou sua presença com obras de altíssimo nível. O artista Paul Delvaux, representando a Bélgica, apresentará uma retrospectiva de sua obra, com cerca de cinqüenta telas.
Portugal delegou a escolha das obras a Sommer Ribeiro, conselheiro da Fundação Gulbenkian, que pretende a apresentação de um grupo de poesia ligado ás artes plásticas. A Alemanha trará trabalhos que revelam novas investigações na área dos veículos tradicionais da arte.
A Grã-Bretanha prepara-se para apresentar criações ambientais com materiais diversos. Seis artistas franceses confirmaram sua participação no núcleo I, que se destina à criatividade contemporânea. Os Estados Unidos dedicarão seu espaço à arte ambiental, com a presença física dos artistas; assim, o grande público que a XVI Bienal aguarda, apreciará performances e arte auto-realizada em construções feitas pelos artistas norte-americanos no próprio local da exposição, muitas vezes com a colaboração de artistas brasileiros.
Através dos contatos pessoais com os diferentes órgãos estrangeiros, a diretoria da XVI Bienal mantém viva a tentativa de interferir na organização da mostra internacional, como acontecia nos anos 50, quando Ciccilio Mattarazzo e Sérgio Milliet faziam contatos pessoais com os artistas e os países expositores. Hoje, além dos contatos pessoais, a Bienal Internacional de São Paulo se atualiza para acompanhar as rápidas modificações sociais e artísticas previstas para os anos 80, reformulando inclusive seu conceito de apresentação da arte, não mais por países, mas por assemelhação de linguagens, o que está sendo bastante apreciado por todos os países contatados.

                              HANSEN-BAHIA TEM BUSTO NA CIDADE DE CACHOEIRA

A Fundação Hansen-Bahia, em Cachoeira, promoveu, no último sábado, uma homenagem ao grande gravador com inauguração do seu busto, exposição de seus ex-alunos etiopes, além da apresentação do Quarteto de Cordas da Bahia na Igreja Matriz da cidade. Uma justa homenagem ao gravador que elegeu a Bahia como seu porto e aqui realizou a principal etapa de sua obra.

Ficou tão ligado à Bahia que adotou o nome de nosso estado como seu sobrenome. Uma identificação perfeita com nossas coisas e nossa gente. Um gringo de natureza latina. Uma criatura que a princípio parecia rude, mas que escondia por trás uma humildade e uma bondade insuperáveis. Conheci de perto Hansen-Bahia e pude sentir quanto humano ele era. Não é conversa fiada ou elogios pós-morte, como fazem muitos com falsidade.

VIDA E OBRA DE HANSEN-BAHIA

E para somar às homenagens a Hansen publico a pedido um texto inédito do saudoso José Pedreira:
"Karl Hansen... Quantas memórias! Que tempos! Os tempos não esquecidos, os tempos lembrados, não os tempos esperdiçados. A juventude afoita, a criatividade atropelada e sincera, a expressão indisciplina, a ausência da técnica e dos recursos, as verdades ditas na sua forma mais rude e mais sofrida, o ímpeto, o gosto, o sabor do sangue e o cheiro da cor." 
A Bahia, a velha Bahia, agonizante e heróica, a pressentir os carrascos que apontavam, os engolidores de sobrados e casarões, matadores de fantasmas, inimigos das intimidades dos sótãos e dos quintais, os fincadores de estacas de concreto, anjos apocalípticos de cornucópias de cimento, cavalgando caterpillares.
Karl Hansen chegou à Bahia nessa hora inquietante, os sérios, apreensivos, os gananciosos, contentes no cálculo de seus pomares, onde árvores antigas forneciam sombras e frutos. Mas, a Bahia ainda era a Bahia. A velha Bahia. A Bahia velha. A velha cidade dos primeiros romances de Jorge Amado, das primeiras canções de Caymmi e das aquarelas de Mário Paraguassu.
E Karl Hansen chegou, alemão e forasteiro, para gravar essa cidade sobre quem a Europa escutava e sonhava coqueirais, igrejas, palácios avarandados, praias e serenatas. E Karl Hansen se deslumbrou e caminhou praças e ladeiras e viu procissões e capoeiras e mar azul e céu azul e torres barrocas e Pelourinho não restaurado e galerias e mangue de putas tristes e castas e malandros honrados e perigosos.
Amaralina, a vizinha tranquila e urbana de Pituba e Piatã, tinha casas singelas, grandes jardins e praias de areia branca e botequins de cachaça e cerveja. E o alemão, tonto de beleza e de Bahia aí foi morar. Passeava sozinho pelas areias, ia ver puxada de xaréu e aprendia português com os pescadores. Logo o sol lhe queimou a pele e enegreceu as figuras dos seus primeiros desenhos.
Três palavras ele já dizia na língua desse povo e dessa cidade que ele amou sem questão: Hansen viver Bahia! Às tardes ele corria para o centro, a descobrir becos e ruas e subir e descer ladeiras, olhar igrejas, espiar barroco e terminar vendo o crepúsculo do Porto dos Saveiros, um sol de fogueira detrás dos mastros e das velas.
À noite, era o mangue, a grande cidade vermelha, detrás do ouro de São Francisco e da Catedral. E Karl Hansen gastava tinta e papel e gravava as mulheres na intimidade das camas da espera e da conquista, debruçadas nas sacadas de ferro torcido, enquadradas nas cantarias, pensativas e filosóficas nos vestíbulos de chão de pedra, flores sorumbáticas pousadas em velhas cadeiras e tamboretes. E tudo isso era a pompa e a tristeza para o alemão Hansen. E Hansen Viver Bahia. E viver Flor de São Miguel. Flor de São Miguel! O último dos grandes botecos da cidade das putas e que virou álbum dos seus primeiros gravados.
E o texto que escrevi. O canto que tentei cantar! A oração de Odete, santificada pelo pecado, pela dor, pela fome e pelas navalhadas.
Quantas memórias.

E memórias de quando Karl Hansen se foi para voltar. As terras da Abissínia e a Bahia na cabeça. Hansen não esquecer Bahia! E Karl Hansen voltou dessas terras da bíblia e com ele veio a moça camponesa, a frágil, forte e risonha rapariga dos trigais da Germânia, nova companheira, amiga nova dessa Bahia que ele a havia feito íntima e apaixonada, graças à sua bagagem de desenhos e esboços. Ilse e Hansen-Hansen e llse viver e morrer Bahia. Agora era para sempre.
Hansen- não mais Karl-mas só e simplesmente Hansen-Bahia. Quantas memórias e quanta beleza!
Hansen-Bahia não mais encontrou a sua Amaralina, a vizinha urbana e caipira do Atlântico de Piatã. E Hansen-Bahia e llse-Bahia fizeram casa em Piatã e Piatã cresceu e virou Amaralina. E llse e Hansen-Bahia viver São Félix e olhar Cachoeira.
Quanta beleza e quanto sonho! A casa-oficina na terra da nova paixão.
Que cidades, que amigas, que irmãs! E o rio,  o rio que Hansen-Bahia llse e eu amamos, o rio das nossas vidas e das nossas mortes. Oh! Paraguaçu dos dendezeiros e dos engenhos-ruínas, a separar e unir essas duas cidades, santo e fêmea, esses dois milagres de urbanismo português na singularidade do Recôncavo. Cantar Cachoeira, cantar São Félix, cantar Hansen-Bahia.
Hansen-Bahia vivo? Por acaso, não são seus desenhos e gravuras, nessa Fundação (tão bem dirigida por sua ex-aluna e querida Noelice), que deixou para o seu último amor, anjos tutelares velando para perenidade do seu nome e da sua lembrança.
Quantas preces faço eu agora para essa Virgem do Rosário . Essa Rainha Beleza Pura da Boa Morte, para que Ela - oh! Mãe Maravilha do céu e da eternidade, guardes essas cidades esse rio, paixão do alemão-baiano, altares à beira d’água, arquitetura e paisagem que os homens, os homens do poder, já aprenderam a amar, e cuidem de manter para os tempos que virão.
Hansen-Bahia Morto? Hansen-Bahia Vivo! '

           FUNCIONÁRIOS DE TALENTO ARTÍSTICO NA ALEMANHA

Durante mais de 35 anos, Hans Weber trabalhou em ministérios alemães. Engenheiro de construções, acabou sendo requisitado pelo Ministério de pesquisa Espacial alemão. Funcionário, daqueles diligentes, que jamais deixam para daqui a pouco o que podem fazer agora, Hans- assim se pensava, não tinha pressa de sair do escritório. Sabido é aparências enganam, na verdade, as horas na repartição lhe pareciam intermináveis. Se pudesse, voaria para casa, a fim de se ocupar com seu hobby.
Obras de Heinz Trumpener foram elogiadas
pelo bom nível.
Quadros e mais quadros Hans Weber pintou nas suas horas de lazer, em longos anos. Pinturas delicadas, que ninguém entende como é que saíram daquelas mãos fortes e peludas mãos de construtor, não de pintor de românticos pores do sol.
Suas mais bonitas pinturas são da Grécia, onde Hans gosta de passar longas temporadas, agora que se aposentou. Pinta na praia ou mesmo dentro de seu barco à vela, barco de oito metros de comprimento, que Hans construiu bem sozinho, ocupando aí todas as horas de folga, durante cinco anos.Isso antes de começar a pintar, pois como ele diz, comecei a pintar porque não tinha mais o que fazer quando acabei o barco. O talento artístico de Hans Weber  não ficou desconhecido de seus colegas, ainda mais que ele se encarregava de fazer exposições numa sala do Ministério, não só de suas telas e de suas esculturas,mas também trabalho de colegas de repartição.
Muitas repartições públicas na Alemanha, costumam incentivar seus funcionários a se ocupar nas horas de lazer com hobies que possam preencher o vazio que deixa, de modo geral, o trabalho realizado em escritório. Passar o dia lidando com papéis e mais papéis que nada dizem e pouco resolvem como costumava dizer Hans Weber, em seu tempo de serviço ativo, quase que o obriga a ter uma ocupação das horas livres.
Numa recente exposição organizada por iniciativa do Sindicato dos Funcionários Públicos, apresentada em Bonn, pelo Departamento Federal de Imprensa, nada menos que 20 funcionários entre 700 que trabalham neste Departamento, se mostraram artistas de mão cheia. Entre centenas de trabalhos da BPA-Hobby 81 destacavam-se os quadros a óleo do porteiro Wahner .
Wahner não é propriamente um amador; há poucos anos cursou um profissionalizante de pintura e restauração de igrejas e o gosto pelas tintas não se perdeu. Heins Trümpener com sua coleção de telas Sonhos e Sentimentos provocou agradável surpresa até aos críticos de arte, ainda mais que expôs pela primeira vez.
Segundo o Coordenador da Seção Política Social do Departamento de Imprensa Sr. Detlev Grabe , descobriu os colegas também do seu outro lado  ou conhecer colegas de outras seções é um passo dentro da humanização do lugar de trabalho.Já o Secretário de Estado, junto ao Departamento de Imprensa, Becker , ao visitar a interessante exposição comentou, brincando: Espero que esses trabalhos sejam feitos, de fato só nas horas de lazer... ( de Carmen Michels).

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