domingo, 24 de março de 2013

ARTES PLÁSTICAS UNIVERSITÁRIAS HOJE - 14 DE JULHO DE 1979


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE JULHO DE 1979

             ARTES PLÁSTICAS UNIVERSITÁRIAS HOJE

Tela de Deraldo Tourinho
Mal chegara dos Estados Unidos Ivo Vellame foi procurado pelo professor Ernest Widmer, coordenador Geral do Festival de Arte da Bahia 79 que lhe comunicou da vontade dos universitários baianos, especialmente um grupo de alunos da Escola de Belas Artes de realizarem uma mostra de arte no foyer do Teatro Castro Alves, já que não programaram o Salão Universitário, tão importante que era para este Estado, onde a arte vai mal, por falta de incentivo. Assim meu amigo Vellame foi lançado numa luta incessante para realizar pelo menos uma amostragem que tivesse uma representação qualitativa.
Quarenta artistas foram convidados e estão expondo um total de setenta trabalhos. Valeu de certa forma o esforço, embora continue no firme propósito de não concordar com a falta de empenho dos organizadores do Festival de Arte Bahia 79 em realizar o Salão Universitário. Uma falta inesquecível.
Trabalho do artista Guache

Fiz uma visita ao Salão no último dia 11 e fiquei surpreso com o que vi. Em primeiro lugar, a agressividade do Zivé que voltou-se para uma preocupação com a temática sexual. O sexo ganhou os espaços, numa limitação a uma fase da obra de Juarez Paraíso.
Como que ouve uma regressão no tratamento do tema. E o que concluo pelo que pude ver. Não que seja um moralista, mas seus trabalhos são gratuitos e primários. Em seguida encontro o Pitanga unido com o Edizio Patriota que apresentam um trabalho intitulado Conseqüências, quando na realidade demonstram que estão perdidos. Pitanga conseguiu realizar uma proposta ecológica no ano passado, infelizmente faltam-lhe alguns requisitos básicos em termos de informação para continuar aquilo que propusera no seu primeiro trabalho, que cheguei a dar um voto de confiança. Depois encontro uma gaivota de Ângela Cunha e restabeleço minha confiança nesta geração 70 como querem denominar este grupo e a seguir vejo um Bel Borba, um Murilo, Guache, Deraldo Tourinho e as jóias de Iza Assumpção os quais conseguem salvar a tal amostragem.
A Gaivota, de Ângela Cunha
Os demais continuam naquela fase amadorística, e mesmo o excelente fotógrafo que é o Antônio Neto, me surpreendeu pela falta de expressividade de suas fotos. Realizou simplesmente um trabalho de laboratório com truques que não me tocam de perto. Espero que o salão seja realizado no próximo ano com um número maior de participantes e também com um caráter mais aberto. Espero que seja feita uma seleção prévia pata que os incapazes seja retirados e lançados a um local até o término da mostra, conforme o regulamento estabelecido. Integram a exposição: Murilo, Antônio Neto, Guache, Antônio Figueiredo, Antônio Andrade, Carlos Lauria; Decaconde, Deraldo Torinho, Dil de Assis, Dudu Martinez, Emílio Beramendi, Filomena Modesto, Florival Oliveira, Gabriela Joau, Hermani Gusmão, Iza Assumpção, José Araripe, Senna, José Renato, Luiz Mário, Lu Requião, Luís Tourinho, D’ávila, Maria Eunice, Maso, Milton Menezes, Pedro Jorge, Roberto Oliver, Ronaldo Ferreira, Teones, Walmir Cirne, Wilson Bersnosik, Alberto Rocha, Alberto Araújo, Cal, Ângela Cunha, Robério Cordeiro, Joelino ferreira, Bel Borba, Pitanga, Edizio Patriota e Zivé.

                        BAIANO NOS ESTADOS UNIDOS.


O baiano Fernando Oliveira está terminando seus estudos juntamente com mais 111 colegas japoneses, coreanos e de outras nacionalidades na Academia de Belas Artes da Pensilvânia. Ele acaba de fazer uma mostra espécie de competição onde foi considerados um dos melhores pela técnica e a mensagem que anunciam suas telas. Deve voltar ao Brasil em agosto próximo trazendo consigo alguns desses trabalhos e aqui pretende manter contatos com artistas e galerias. Na carta que fez, a esta colunista, Fernando alimenta a ideia de manter correspondências com brasileiros e deixa o seu endereço que é:214 W. Duncannon Ave, Phila, PA 19120 e o telefone 215-4561495. Agora vejam o que publicaram os jornais da Filadélfia sobre sua obra.




O artista brasileiro Fernando Oliveira deu aos seus instrutores uma aura de santidade.Ele os pintou como Cristo e seus discípulos num quadro de 7 x 12 representando a Última Ceia.
"Eu conheço alguma coisa da Bíblia disse o estudante da Academia de Belas Artes da Pensilvânia. E, há alguns anos atrás  decidi que faria uma pintura como esta.Olhando para alguns instrutores, com suas barbas e tudo, imaginei que seria uma boa ideia convidá-los para vir a ser modelo em meu trabalho.A pintura tomou a maior parte da sua primavera na academia e alguns pontos ainda não estão concluídos", disse ele.
Mas quando ele estava pendurado na galeria principal do museu da academia, tornou-se um ponto focal com os estudantes tentando adivinhar a qual membro da faculdade pertencia aquele discípulo.
Franklin Shore, que tinha sido um dos instrutores durante os cinco anos de estudos de Oliveira, está claramente identificado como Cristo, enquanto Bill Omwake está representado como um abatido Judas.
Oliveira, que é notado no Brasil por sua ultra-realista pintura, estudou Leonardo da Vinci por um longo período antes dele iniciar seu trabalho. Ele também estudou a versão de Salvador Dali ,na Galeria Nacional, em Washington, para a pintura seu primeiro bíblico.
Eu decidi fazê-lo completamente diferente, disse ele. Embora os apóstolos estejam mais animados como no original, não há alimentos na toalha branca da mesa e a postura indefinida do original está claramente identificada como os pilares e paredes da academia na versão de Oliveira.
Oliveira, 34 anos, submeteu o quadro numa fracassada tentativa para conseguir uma Bolsa de Estudo na Europa. Ele está vendendo por 10.000 dólares.Oliveira veio a Salvador, na Bahia, Brasil, há cinco anos atrás.

NÃO SABIA

Franklin Shore não sabia que iria acabar como Cristo quando parou no estúdio de Fernando Oliveira para procurar por um quadro no qual ele estava trabalhando.
Oliveira, um estudante da Academia de Belas Artes da Pensilvânia, estava pintando sua versão da última ceia, e pediu a Shore, um instrutor da academia, para posar para ele.
Eu não sabia para que ele iria me usar, mas quando ele me deu o pão para segurar, eu comecei a entender a idéia. Disse Shore.
Shore posou com um robe branco, segurando um pedaço de pão partido com seus braços levantados, para sempre consagrado na pintura, ele não é o único. A pintura realista de Oliveira, sua entrada na amostra anual de quadros estudantis da academia em 3 de junho, tomou-o numa espécie de Quem é Quem jogos adivinhar para aqueles familiares da faculdade de academia.
Lá na extrema direita da mesa como um desesperado, humilhado, Judas é Bill Omwake. Perto dele está outro membro da Faculdade Louis Sloan. A direita de Cristo está Tony Greenwood, dois lugares para a esquerda está o acadêmico conservador Joseph Amaroto. Na verdade todos os discípulos tem as fisionomias dos membros da academia  e o local desta última ceia e a escola Broad na rua Cherry Streeets.
Oliveira, um brasileiro que havia completado os cinco anos de estudos na academia, disse que não tinha nenhum motivo particular para usar os membros da academia como modelos. Ele disse que colocou os personagens onde elas ficariam melhor, não por causa de qualquer afinidade que ele pudessem ter com qualquer um dos discípulos em particular.
Por que Shore, que ensinou perspectiva a Oliveira durante cinco anos, tinha sido escolhido para ser o Cristo?
"Eu estava tentando encontrar alguém que aparecesse bem no centro do quadro disse Oliveira.
Eu realmente não conhecia ninguém além de Franklin Shore. Eu queria alguém com uma barba não tão envelhecida."
Ninguém pesquisando o trabalho de Oliveira teria conseguido identificar sem a ajuda do artista. A mesa, coberta com uma toalha branca está pobre de iguarias. Uma pomba branca voa acima da mesa e alguns apóstolos aparecem apontando para ela.
Tudo isto está no quadro, e Oliveira disse porque: Eu decidi colocá-la.
Oliveira explicou que imaginou que teria muita dificuldade para encontrar alguém que consentisse ser Judas. Eu não desejava que ninguém ficasse meu inimigo.Não houve problema para encontrar o traidor de Cristo.
Ele pediu-me para posar e eu disse que o faria se fosse o Judas, disse Omwake, o qual adiantou, que a sua visão de Judas não era  a mesma  vista por Oliveira. Ele o fez triste e abatido. Minha ideia de Judas é mais de um homem desgastado entre o mundo real e o espiritual. (Tradução de Suely Temporal Soares).

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