JORNAL A TARDE SEGUNDA-FEIRA, 14
DE NOVEMBRO DE 1988
TRINTA DESENHOS DE AILTON LIMA NA
GALERIA CAÑIZARES
Vejam a plasticidade da folha de bananeira neste desenho de Ailton Lima |
Trinta
desenhos em pastel-seco serão mostrados a partir do próximo dia 25 na Galeria
Cañizares, da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, de
autoria do professor Ailton Lima. Há 16 anos que o artista leciona o curso de
Licenciatura em Desenho e Plástica. Ele tem mestrado em Arte/Educação nos
Estados Unidos. Natural de Estância, no vizinho estado de Sergipe Ailton é de
origem rural, onde morou com sua família até a idade adulta numa propriedade
chamada Usina Cedro, secular fazenda de cana-de-açúcar.
A
técnica dos trabalhos que vai apresentar-pastel-seco-é de origem italiana de
fins do século XVI, mas foi com os impressionistas que esta técnica ganhou
destaque entre os artistas. Tem uma grande vantagem sobre outras técnicas
porque a ausência de aglutinantes permite que as cores utilizadas sejam
mantidas com toda sua intensidade durante longos períodos.
Ailton
Lima é um dos poucos artistas que gosta de falar do seu trabalho. Durante a
exposição estará lá para prestar informações didáticas sobre o uso dessa
técnica centenária. Seus trabalhos são atualmente facilmente identificados,
principalmente pelo uso de um verde suave, a base de sua expressão. A figura
humana, pombos e a vegetação surgem em composições suaves e equilibradas. É
quase uma simbologia com uma linguagem ecológica forte. Diria que Ailton é
protagonista de uma sociedade onde se respeita a natureza.Tem momentos que
lembro da falta de sentimento ecológico de pessoas que nos cercam, as quais
continuam destruindo as matas, caçando irresponsavelmente os animais selvagens,
que sinto Ailton como uma peça rara, um
elemento que se assemelha a um Don Quixote tal a quantidade de insensatos
em sua volta. Mas espero que ele continue com esta sua temática suave e, por
que não dizer, romântica, que agrada aos olhos e transporta uma paz espiritual.
"Não
é à toa que sua exposição chama-se Geração Sonhos ...Diz
Ailton, continuo pintando uma temática suave, romântica, pautada numa linha
dorsal neo expressionista, mas, acima de tudo, usando uma linguagem pictórica
nada complicada. Por isso as pessoas têm facilidade em decodificá-la, o que
lhes dá uma chance de maior emoção... O conjunto de trabalhos versa basicamente
sobre a figura humana; uma figura humana que está ali assumindo a posição de um
símbolo, modelada em verde, traduzindo o ser jovem, cercado ainda em seu
pequeno mundo maior, que poderia ser bonito e acolhedor, mas ás vezes se torna meio
assustador. Gosto de usar formas ricas em simbolismo, pois elas me ajudam a
criar no quadro o clima propício para o viajar com o pensamento para além das
fronteiras estabelecidas pelas limitações do seu espaço físico, gerando
sonhos... A proposta é um mergulhar introspectivo, lírico e romântico nas
interioridades existenciais de cada símbolo.Gosto
da capacidade expressiva mistério e sensualidade, suavidade e dramaticidade - uma
certa magia. Essa é a minha pretensão ao pintar."
MURALISMO
BRASILEIRO É TRATADO NUM NOVO LIVRO
O livro Artistas do Muralismo Brasileiro, que a Volkswagen do Brasil lança no dia
23 de novembro, é também uma homenagem a um dos nomes mais importantes da arte
do Brasil: Clóvis Graciano, falecido em junho, que deixou mais de uma centena
de murais em São Paulo. A
capa do livro reproduz um de seus trabalhos na Avenida Rubem Berta, em azulejo,
que resiste à poluição de uma das principais vilas de tráfego da cidade. Para
Graciano, o mural era a forma mais democrática de compartilhar a arte.
Ao
publicar um livro pioneiro sobre muralismo brasileiro, a empresa procura
registrar e valorizar essa manifestação artística sujeita a destruição pelo
tempo e pela omissão. A obra não pretende ser definitiva nem enciclopédica, mas
abre espaço para 17 artistas de diferentes gerações e tendências, a partir de
Cândido Portinari. Muito deles, como João Câmara, Athos Bulcão, Carybé, Miguel
dos Santos, Mário Gruber e Cláudio Tozzi, estarão reunidos no dia do lançamento
um momento raro.
OBRA
NA RUA
Artistas
do Muralismo Brasileiro é o prosseguimento de uma tradição iniciada há sete
anos, de registro, memória e divulgação de arte brasileira. Acreditamos que uma
das obrigações da iniciativa privada é colaborar, de todas as maneiras
possíveis, para o aprimoramento cultura e a divulgação do melhor de nossa
produção artística, diz Wolfgang Sauer, presidente da Autolatina, holding que
reúne Volkswagen e Ford.
O
argentino-baiano Hector Júlio Paride Bernabó-Carybé-77, considera a publicação
da empresa necessária e importante: “Desperta a atenção e o entusiasmo pelo
mural, valorizando-o”. Foi essa a intenção do crítico de arte Jacob Klintowitz,
44, ao sugerir o tema e selecionar artistas e obras para as 240 páginas do
livro: O mural representa uma resposta do artista brasileiro à questão do
espaço urbano. Ou como diz o pintor e escultor Miguel dos Santos, 43, é a obra
que todo artista gostaria de fazer- a obra na rua, um grande espelho onde o
povo se vê.
Não
foi por acaso que o artista plástico Mário Gluber, 60 chamou o povo para
participar, com sugestões, da elaboração de seu mural no metrô da Sé,
inaugurado em janeiro de 1987, depois de seis anos de trabalho. Essa obra está
registrada no livro “Como sempre esteve, o amanhã está em nossas mãos nome
sugerido por um estudante. Gluber preocupa-se com a preservação do mural no
Brasil. E tem motivos para isso: de um painel que fez para um grupo escolar de
Santos, em 1965, só restam vestígios.
TEMA
ATUAL
Além
de registrar o mural nas estações do metrô de São Paulo -Mano Gluber e Cláudio
Tozzi, ambos na Sé -, Artistas do Muralismo Brasileiro documenta também painéis
em clubes e igrejas, como os de Maria Beromi em concreto mostrado; em hospitais
e museus, como os de Francisco Brennand; em órgãos públicos, como os de Emanuel
Araújo e Lula Cardoso Ayres.
O
livro reproduz ainda a obra “Inconfidência Mineira”, do paraibano João Câmara,
que está no Memorial JK. Mural que o artista considera como uma pintura para
jovens: Algo que sublinha nossa memória solidária e tem o impulso da esperança.
De
Athos Bulcão, Klintowitz foi buscar, em Brasília, o maior mural da história do
País: o jogo de volumes da parede externa do Teatro Nacional, de concreto em
alto-relevo, tão integrado à paisagem urbana a ponto de poucos de darem conta
de que se trata de um mural.
Para
o artista, o livro é oportuno:
“Trata
de assunto atual, a arte na arquitetura, diz
OS
CRISTOS DE TATI MORENO ESTÃO NA GALERIA ÉPOCA
Depois de passar uma boa temporada venerando os orixás do candomblé, o escultor Tati Moreno resolveu voltar sua atenção para a figura do Cristo e introduzir mais um elemento como matéria-prima de sua arte, a madeira. Com esta sua nova visão plástica surgiram obras de grande significado e, também, carregadas de uma carga de religiosidade principalmente quando pensamos no mistério da cruz que o Cristianismo, durante séculos, vem pregando em suas catacumbas, igrejas e, mais recentemente, em sedes de entidades associativas dos bairros periféricos das grandes cidades.
Aí surge a dualidade entre o bem e o mal. Tema sempre tratado no decorre dos
séculos e que podemos observar dos museus europeus e americanos, onde existem
guardados e preservados tesouros pictóricos retratando o Cristo e cenas de sua
passagem por esta terra.
São
os 12 grandes cristos e 11 menores onde Tati Moreno surpreende a todos àqueles
que vem acompanhando o seu trabalho. Vejo a introdução da madeira como um
elemento muito positivo em sua obra e, também, o respeito a própria tradição do
Cristianismo onde aprendemos que Jesus carregou uma pesada cruz em seus ombros
percorrendo as ruas íngremes de Jerusalém para depois ser crucificado. Esta sua
preocupação, intuitiva ou não, serva para mostrar que o mistério da cruz é um
dado importante na própria formação do artista. Também nos apresenta cristos
com um toque de modernidade, fugindo dos padrões estabelecidos. Tati ousou, ao
voltar os seus olhos para uma temática eminentemente religiosa, forte, mística.
Nenhum comentário:
Postar um comentário