sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

JURACY DÓREA E JOSÉ RESENDE REPRESENTAM O PAÍS EM VENEZA - 27 DE JUNHO DE 1988


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 1988

JURACY DÓREA E JOSÉ RESENDE REPRESENTAM O PAÍS 
EM VENEZA 
Uma escultura feita de
couro cru e varas.
Está acontecendo em Veneza a mais velha e discutida exposição internacional de arte ou seja a 43ª exposição Internacional de Arte mais conhecida por Bienal de Veneza. É uma reunião do velho, e do estabelecido em confronto com o novo. È o local mais visitado neste Verão europeu porque até aqueles que não estão expondo dão uma olhadela para tomar conhecimento do que está acontecendo por lá. Desde ontem que o público começou a circular nos imensos pavilhões e áreas descobertas do castelo, onde a bienal é realizada, contribuindo para colorir e dar vida ao ambiente. Os mais sofisticados, badalados ou imprevisíveis artistas contemporâneos foram convidados e uma presença certa é o americano Jasper Johns, aquele que trouxe para a bienal de São Paulo, em 1958, o trabalho intitulado “Bandeiras”, onde ressaltava o pavilhão de seu país. Aliás, a bandeira nos Estados Unidos é motivo de orgulho e presença obrigatória em quase todos os festejos que ocorrem na terra do Tio Sam.
Entre os artistas brasileiros, apenas dois foram convidados a participar da Bienal de Veneza. O baiano, de Feira de Santana, Juracy Dórea e José Resende, de São Paulo. Ele é o autor do muro inclinado e suspenso por barras de ferro que foi instalado na Praça da Sé na capital paulista. Os artistas não estão agrupados por temas, mas individualmente. E, quem dá explicação para esta mudança significativa de postura é o diretor da exposição Giovanni Carandente. Nos anos passados a Bienal perdeu credibilidade exatamente porque foi transformada numa manifestação ideológica, representada mais por ensaios críticos que por obras. Como vemos a ideologia misturada com a arte prejudica a criatividade porque condiciona a parâmetros e elementos que de certa forma limitam o próprio pensamento.
Quatro exposições abrigam as obras individuais.
Sertanejos ao lado de uma obra de
Juracy Dórea feita em plena Caatinga
No chamados pavilhões nacionais estão representados 46 países com um total de 116 artistas. O maior pavilhão, obviamente, é o da Itália com 26 participantes. A outra mostra chama-se “perto 88, tem caráter aberto com 86 artistas de 26 países. A terceira, é dedicada aos escultores estrangeiros e a quarta, uma espécie de documentação “Frente Nova da Arte”, é composta de documentos e obras de artistas que dela participaram em 48.
A Bienal distribuirá três grandes prêmios. O prêmio internacional que é um Leão de Ouro, dado ao artista vivo que participa em qualquer uma das exposições e que for escolhido pelo júri composto do italiano Maurizio Calvesi, o americano Tom Messes, o francês Pierre Restanay, o alemão ocidental Werner Schmalenbach, o polonês Ruzard Stanislawski, o inglês Davi Sylvester e o escritor mexicano Octávio Paz. Haverá ainda Prêmio Duemila, o equivalente a 20 mil dólares, ao melhor artista jovem com menos de 40 anos.
Informa a curadora responsável pela escolha de José Resende e Juracy Dórea que eles foram escolhidos exatamente pela dessemelhança de suas obras. A curadora Leila Coelho Frota justifica esta diferenciação como razão da escolha dos dois artistas. Juracy participou no ano passado da Bienal de São Paulo, quando tive oportunidade de dizer que sua obra ficou deslocada do ambiente onde funciona ou seja na caatinga, numa encruzilhada do sertão. Agora leio um artigo de Alberto Tassinari na Folha de São Paulo onde ele faz uma observação bem semelhante ao que fiz naquela época. A obra de Juracy Dórea também se enfrenta com a natureza, mas de uma forma até aqui mais literária e visual.
São as fotos das suas esculturas feitas do entrecruzamento de paus e couro sobre o fundo do sertão baiano que carregam um certo encanto. Elas mesmas, como aparecem na última Bienal de São Paulo, ficam estáticas quando deixam de ser um marco visual no meio da paisagem.
Em Veneza, o Projeto Terra (1981-1988) está sendo apresentado por documentação fotográfica e vídeo. Painéis fotográficos representando a construção de esculturas em vários pontos do sertão baiano. A maior parte destas obras foi inserida na região de Canudos, tendo como público o homem do campo. As fotografias de Juracy Dórea, José Carlos Teixeira e Ana Rosário, ampliadas nesses painéis, vêm precedidas de marcas da região, e representam os seguintes momentos do projeto: a construção de uma escultura, Tapera, 1987; Escultura da Lagoa das Bestas, 1984; Escultura do Raso da Catarina, 1984; Escultura de Canudos, 1984; escultura do Cumbe, 1985; Mural da Casa de Edwirges, 1984;Exposições itinerantes no sertão, 1985; textos que reproduzem as interpretações e comentários dos sertanejos sobre a arte pública de Juracy Dórea acompanham os painéis fotográficos, duas esculturas dos Jardins de Veneza, em couro e madeira, 3,60x3.00x3.00. Vídeos sobre a obra de Juracy Dórea que serão apresentados na Exposição do Pavilhão Brasileiro: “Terra”, 1982, transcrito do Super 8, fotografia de Robinson Roberto, e Escultura de tapera, imagens de Dimas Oliveira e Juracy Dórea, texto de Antônio Brasileiro, assistência de Ana Rosário, edição de Amadeu Campos e Dimas de Oliveira, músicas de Elomar e Fábio Paes, transcodificação pela Embratel. A exposição do Pavilhão Brasileiro na Bienal de Veneza tem como órgão responsável o Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e a curadoria de Leila Coelho Frota.

LICURGO EXPÕE NO RIO DE JANEIRO

O baiano Licurgo está no Rio de Janeiro, onde tem participado de várias coletivas e individuais. Embora esteja longe, o artista sempre nos escreve dando noticias de sua atuação. Para satisfação de seus amigos baianos, sua arte vem crescendo e ganhando mais expressividade, talvez frutos de novas experiências e observações. É um frequentador assíduo das galerias , onde pode constatar o que está sendo feito no sul maravilha. Aqui, ele parece com uma pequena tela  intitulada Mulher da Glória, onde sobressai o ar triste de suas figuras humanas, o colorido de suas tintas e a exuberância tropical aparece com muita luminosidade. O traço é firme, delineando os volumes, que são visivelmente definidos. Uma pintura limpa e acima de tudo feita com sensibilidade de um artista que também gosta de se comunicar.

SÉRGIO RABINOVITZ NA GALERIA SERENDIPITY
Sérgio Rabinovitz, baiano da Pituba, da mesma geração de outros dois artistas criados no mesmo bairro. Carlos Alberto Quirino, músico que não esquece Smetak, e Claudius Portugal, poeta do verso que diz que o  homem não espera seu tempo  fruta na fruteira, concluiu exposição na Serendipity, a galeria paulista da Avenida paulista Horácio Lafer, no Itaim.
Sérgio expôs 11 quadros onde utilizou a técnica do vinil sobre tela, nos quais mantém a linha de trabalhos anteriores, criando novas conjunções ao meu ver, do desenho moderno, nervoso, firme com a pintura rupestre guardada no mais recôndito do ser humano.
A abertura da exposição foi no dia 4 passado, da qual participou, prestigiando o evento, outro artista da jovem geração baiana Bel Borba.O trabalho de Sérgio que fica bem nas paredes de Yuppies ou não, provocou a curiosidade de marchands. Marjory Alves de A Galeria depois de examinar cuidadosamente os quadros deixou no livro de visitantes sua impressão Lindos (Luís Guilherme).



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