sábado, 23 de fevereiro de 2013

EM DEFESA DA BIENAL - 02 DE NOVEMBRO DE 1981

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  02 DE NOVEMBRO DE 1981

            EM DEFESA DA BIENAL

A arte reflete a sociedade e se a sociedade está em crise sua arte também entra neste processo. Se fizermos um exame da arte pré-colombiana, da arte renascentista e assim por diante chegaremos a arte contemporânea com expressões abstratas, cibernéticas e eletrônicas. Daí, não concordar com algumas idéias de  acerbados e descontentes críticos de arte do Sul do País de que a Bienal deve acabar, por que não tem mais significado. Esta postura mostra apenas opiniões apaixonadas que não suportam uma análise mais profunda. São trinta anos de Bienal e só assim tivemos oportunidade de conhecer obras e artistas contemporâneos dos mais longínquos países e avaliar a nossa arte através deste caleidoscópio da arte universal.
Muitos gostam de aparecer criticando por criticar. Acho que a Bienal é polêmica e indispensável. Polêmica  porque suscita controvérsias toda vez que o homem inova e no campo da criação a presença do subjetivo fortalece as discussões, que a meu ver devem existir e se esgotar para daí aparecerem as soluções, no caso, plásticas ou mesmo administrativas que venham enriquecer mais ainda futuras bienais.
A Bienal é indispensável e nenhuma outra manifestação plástica da América Latina é tão reconhecida no mundo como a Bienal de São Paulo.
Erros existem, muitos já corrigidos e outros continuam como disse recentemente Ivo Zanini num artigo. Sei que existem obras selecionadas e indicadas de qualidades duvidosas e algumas ausências inconcebíveis. Mas tudo isto não representa um somatório que venha determinar a extinção da promoção. Lembro quando estive na última Bienal do número significativo de jovens, de estudantes que em grupo tinham reações as mais diversas em frente a obras de vanguarda. Aquilo que exteriormente parecia uma brincadeira de adolescente, com suas reações espontâneas, te por outro lado papel importantíssimo, porque sempre nas suas consciências ficou a mensagem da inovação e da criação. São Imagens inesquecíveis e que podem determinar ás vezes até inconscientemente novos criadores. É grande o papel educacional de uma mostra tão significativa com esta. Ainda não visitei esta bienal, mas pretendo visitá-la nesta primeira quinzena e tenho lido tudo que tem sido publicado nos jornais do Sul do país sobre a promoção.
Continuo defendendo a sua existência como única de forma de nós brasileiros, principalmente aqueles que não dispõem de condições de girar em torno da Europa e outros continentes para ver a arte produzida nestas paragens e é exatamente neste momento, na concretização de uma Bienal que isto é possível. São trinta países que estão participando e vejam que este ano a arte dos loucos mereceu um espaço surpreendente e foi batizada de Arte Incomum ou seja, aquela arte que não pode ser enquadrada em nenhuma das correntes conhecidas. Esta arte emanada do inconsciente dos que tem distúrbios mentais demonstra uma riqueza extraordinária e a sensibilidade de quem as realiza. Vamos lutar para que a Bienal seja cada ano mais fortalecida para que possamos continuar, e da melhor forma, usufruindo desta panorâmica da arte universal que acontece em São Paulo. E que os trinta anos de trabalhos dos vários organizadores da Bienal sejam somados a outros tantos e que cada vez mais sejam engajados, artistas, países e outras pessoas que militam neste campo. Chega de críticos pueris contra a Bienal, que é a maior manifestação no campo das artes plásticas na América latina.

O HIPER-REALISMO DE FERJÓ SERÁ EXPOSTO 
EM DEZEMBRO
Uma das telas que será exposta por Ferjó
na Tereza Galeria de Arte
Depois de sete anos nos Estados Unidos está em Salvador o artista Fernando Oliveira, Ferjó. Aqui trabalhou fazendo retratos e telas com a temática casario. Porém, o Ferjó que retorna é outro completamente diferente daquele de sete anos atrás. Agora, com um trabalho de alta qualidade, fruto de estudos na Universidade de Filadélfia e de um trabalho exaustivo Ferjó é um hiper-realista, que não deve nada aos grandes e famosos hiper-realistas. São tão perfeitas as suas obras que se aproximam da fotografia e quando fotografadas dão uma ideia do real.
Chegou e já tem uma exposição programada em comemoração ao quarto aniversário da Tereza Galeria de Arte, no Largo da Mariquita, em 1.º de dezembro próximo. Será uma exposição com grandes painéis pintados pelo artista nos Estados Unidos. É bom salientar que lá, ele foi um dos primeiros classificados durante os cursos que fez na Escola de Belas-Artes, da Filadélfia, Fernando conta que sua ida aos Estados Unidos deu-se por acaso. Trabalhava na secretaria do Planejamento e precisava comprar um relógio de pulso e foi apresentado ao proprietário da joalheria que terminou conhecendo os seus quadros e comprou alguns sobre a temática Pelourinho. É o dono da Rival Jóias, com o qual fez uma grande amizade, inclusive passou a pintar retratos de boa parte da família do comerciante e este terminou por apresentar-lhe a José Vaz Espinheira que era o presidente da Aliança das Cidades de Salvador e Filadélfia.
Este perguntou-lhe se gostaria de estudar nos Estados Unidos. Não acreditou na possibilidade, mas respondeu que sim e meses depois voava para o Estado da Pensilvânia. Estudou quatro anos na Escola de Belas-Artes e tornou-se conhecido e respeitado como pintor, ficando mais Três anos. Devido a problemas familiares retorna a Salvador e aqui pretende fixar residência, porém, sem abandonar os Estados Unidos,onde realmente desenvolveu a sua arte. " Estou lutando para ficar na Bahia e aqui pretendo ter oportunidade de mostrar a minha arte. Caso não consiga me estabelecer terei que retornar aos Estados Unidos, onde já tenho um público certo que conhece o meu trabalho. Mas esta segunda hipótese, espero que não vire realidade."

MOBILIÁRIO CONTEMPORÂNEO TEM EXPOSIÇÃO DO MAMB

Adriana Adam e sua cadeira adaptável
Uma retrospectiva  do Mobiliário Contemporâneo é a exposição que será aberta amanhã pela Forma, no Museu de Arte Moderna, no Solar do Unhão, onde são mostradas peças de mobiliário da Bauhaus até o design brasileiro de hoje.
A exposição conta ainda com cinco moviolas onde serão apresentados os depoimentos e desenhos de arquitetos, artistas plásticos e intelectuais representativos de nossa época como Oscar Niemayer, Sérgio Bernardes, Décio Pignatari, Lina Bardi, Sérgio Rodrigues, Pietro Maria Bardi, Alexandre Woliner, Samuel Szpiegel, entre outros como Mário Cravo e Caetano Veloso. Consta ainda a apresentação de um filme sobre Le Corbusier.
Entre os brasileiros que desenharam os móveis desta mostra encontra-se Adriana Adam que trabalhou três anos seguidos pesquisando o comportamento do brasileiro sentado juntamente com médicos e outros especialistas em busca do desenho de uma cadeira adaptável a várias formas de sentar.
Portanto, Adriana conseguiu concretizar a sua proposta, e, amanhã, estará expondo entre os grandes mestres da Bauhaus. Além deste design Adriana tem uma linha de móveis executivos e dois projetos revolucionários de residências onde explora a madeira em toda a sua grandiosidade.
Embora pareça para os apressados uma exposição comercial, pela presença de uma indústria de móveis na promoção, a mostra é muito didática e representativa. Temos que aplaudir as empresas que incentivam as artes, pois os artistas estão necessitando o apoio dos empresários para que levem avante seus projetos. Defendo que as manifestações de arte não devem esperar apoio apenas do poder público e que o empresariado tem responsabilidade para com elas, além disto o governo dá uma série de incentivos a todos aqueles que investem em arte, como por exemplo, abatimento no Imposto de Renda.
Por outro lado, não podemos esquecer que desde os primórdios que o mobiliário tem presença marcante, na vida dos homens, na moradia, nos templos ou nos locais públicos. Sentar e deitar são necessidades básicas e inerentes ao próprio organismo do homem.

LEILÃO DE GASPARETTO- No próximo dia 6 haverá um leilão de obras do médium Luís Antonio Gasparetto no salão do Clube Espanhol. Serão leiloadas telas pintadas por Gasparetto sob a influência de Degar, Modigliani, Van Gogg, Lautrec, Da Vinci, Tissout, Picasso, Portinari e muito outros. O leilão será dirigido por Orlando Pereira em benefício da Associação Mensageira do Amor Cristão, a qual mantém 140 criancinhas abandonadas.
JURANDY E OS ORIXÁS- Desde o curso primário que Jurandy Paulo Carvalho gosta de desenhar, porém, somente aos 19 anos resolveu partir para divulgar o culto afro-brasileiro através de sua visão plástica. Em vários terreiros de candomblé de Salvador encontramos nas paredes os Orixás pintados por Jurandy entre os quais o Gêge Dahomé Imburacy (Valéria), no terreiro de Ogum (Lauro de Freitas) no terreiro Boiadeiro (Cidade Nova) no llê Axé Yá-Onim (Uruguai) e em muitos outros.
Seu objetivo é criar o Grupo Afro-Orixás Arte Negra-Stúdio.

NORMA E GLÁUCIA- As artistas Norma Badaró e Gláucia Lemos estão expondo até 14 do corrente na Galeria do Hotel Meridien.
Norma revela que sua arte é carregada de emoção, deixando que os fragmentos do seu interior aflorem espontaneamente. Dentro desta sua verdade transpõe seus momentos conscientes e inconscientes.

SALÃO PARANAENSE- O 38º Salão Paranaense tem abertura marcada para o próximo 20 do corrente na Sala de Exposições do Teatro Guairá, em Curitiba, reunindo artistas de todo o país. A comissão julgadora é composta de Arcângelo Lanelli (SP), Vera Chaves Barcellos (RS), Elmer Barbosa (RJ), Eduardo Rocha Virmond(PR) e Aurélio Benitez (PR).

CAMILO E NOÉLIA- Os artistas Camilo S. Neto e Noélia de Paula expõem até o dia 24 no Museu de Arte Moderna da Bahia.
Camilo é paulista e trabalhou durante vários anos, como cineasta. EM 1976 transferiu-se para a Bahia e fixou residência em Ilhéus onde desenvolveu o seu Studio de gravura e pintura.
Agora expõe suas gravuras em metal juntamente com Noélia de Paula, que é baiana e expõe desde 1968.

INSCRIÇÕES DE PAUTA- A Funarte comunica que estão abertas as inscrições aos caricaturistas e desenhistas de humor que desejam expor seus trabalhos, em 82, na Galeria Nair de Teffé.
As inscrições podem ser feitas no Escritório Funarte/Brasília, até o dia 30 de janeiro de 82.
Poderão inscrever-se artistas novos, de qualquer parte do país, mesmo que não tenham realizado nenhuma exposição anterior.
A inscrição será feita em carta dirigida à Funarte Brasília, contendo: a indicação da época de preferência do artista para a exposição; pequeno texto explicativo do trabalho. Alguns dados curriculares e fotos de trabalhos do artista.


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