quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CARAS ANÔNIMAS ESTÃO NA EXPOSIÇÃO DE JÔ BARRETO - 14 DE MARÇO DE 1988


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE MARÇO DE 1988

CARAS ANÔNIMAS ESTÃO NA EXPOSIÇÃO DE JÔ BARRETO

Jô Barreto pintando em seu atelier as
Caras anônimas
Caras é título da exposição que Jô Barreto vai iniciar, a partir do próximo dia 17, na Galeria Água do Mar, que fica no Farol da Barra, exatamente na Avenida Oceânica, 639. Ela expõe suas mais recentes pinturas e diz que desde que começou a pintar que conserva a mesma pincelada, só que está envolta, cada dia mais, por uma busca e uma inquietação muito grande. Trabalho, pouco, a produção é pequena, e isto vem da necessidade de experimentar processos novos. Jô você deve trabalhar e produzir muito. Somente este exercício contínuo vai melhorar a qualidade técnica de seu trabalho. Quem pode produzir ouço são artistas consagrados, que já experimentaram na trajetória de suas existências muitos processos, já viram muitas coisas, já tiveram muitas dificuldades e, hoje, são requisitados, às vezes até mais do que produzem. O artista jovem tem que batalhar, pintar sem parar. Com isto não quero dizer que vá vender tudo que faz. Não. Deve trabalhar para exercitar, para melhorar o traço, a composição, a textura, enfim para que a obra tenha uma qualidade e seja reconhecida como marca de individualidade. Pintar pouco para o jovem que começa não deve ser visto como um elemento positivo.
Por outro lado, ela demonstra que seu tema é atual e trata do cotidiano das pessoas. Diz mesmo que sua arte traz uma preocupação com a ânsia de liberdade. Recife, ainda, a sua preocupação com o momento político, social e econômico e existencial do País. “Há uma descrença geral. Uma falta de caras. Com a pintura pago para ver, pois visualizo a arte como um registro de um instante histórico de um povo. Pintar é o meu ato de refletir e questionar”.
São caras anônimas que saem às ruas para mostrar a inquietação, as incertezas que ora rodeiam a sociedade brasileira.São nossas caras em plena multidão dos comícios, nas arquibancadas da passarela do samba ou mesmo nos estádios de futebol. Elas estão onde existem aglomerações e também entre as quatro paredes de uma sala.São caras que ora assumem postura de ternura, de revolta, da ansiedade, enfim, caras que refletem as nossas emoções.

                A LUTA DE UMA BOA CERAMISTA


 Uma batalhadora. Esta é a impressão que fica quando a ceramista Sônia Costa começa a falar das imensas dificuldades que vem enfrentando para sobreviver de sua arte. Aliás, a luta começa bem antes, quando esta moça de poucos recursos financeiros resolve se dedicar à cerâmica. E isto já se vai quase uma década. Aprendeu sozinha a mexer com o barro e em seguida fez um curso com a ceramista italiana Della Cera, na Aliança Francesa. Por falta de condições para pagar o curso o pessoal da Aliança deixou que ela  frequentasse alguns dias mais, porém, depois teve que abandonar. Foi estudar Belas Artes e arranjou uma prestação de serviço numa repartição federal. Demitida, voltou-se para sua arte e passou a viver pintando camisetas para vender.Estou apenas citando algumas  passagens para atestar a sua dificuldade. Mas isto é muito pouco, e o que interessa mesmo é a sua arte.
Forte e vibrante. Tudo começa com sua ida à Feira de São Joaquim onde compra os fardos de barro que vem de Aratuípe, os quais são vendidos pelo velho oleiro de Maragogipinho, Vitorino. Cada fardo custa em torno de CZ$500,00. “Dá para trabalhar um mês”, diz rapidamente Sônia Costa.
Este barro já pode ser utilizado quase direto da confecção de esculturas.Porém, quando se trata de peças menores, mais finas, ela tem que lavar e coar para retirar o excesso de areia.
Suas esculturas são ocas. É um trabalho muito cuidadoso. Depois de modelar a escultura num bloco de barro ela corta ao meio com instrumentos especiais e cava com esteca para que a peça ganhe leveza.
Em seguida, com a goma que retira do próprio barro, que chama de barbotina, consegue unir as duas partes da escultura e com uma pequena colher inoxidável dá a lisura necessária. Diz Sônia Costa que depois de cavada a peça fica com 1,5cm a 2cm de espessura. Sônia revela que o ato de burnir, de alisar a peça, com uma colher e um ato muito sensitivo. Porém, quando vou esmaltar não preciso burnir. Leva a peça ao forno onde pode atingir até mil graus. Sônia Costa conta rindo que muitas vezes o artista não percebe que a peça tem uma bolha de ar e quando abre o forno a peça está quebrada. “Esta quebra é terrível porque a gente tem que desmanchar tudo”
Nem tudo se perde. Ela quebra em pedacinhos e transforma no chamote, que é o resíduo formado pelo barro cozido que é misturado com o barro novo, dando maior fortaleza à peça. São segredos e mais segredos que Sônia Costa vai destilando como um verdadeiro rosário.


    CARTOZE MULHERES REUNIDAS NUMA MOSTRA

Núbia mostra garra e sua arte vem crescendo
“Mulher é base, é terra, é raiz, é brisa, é aurora...”, diz um dos versos do poema mulher de Lavínia Gondin, que abre o catálogo da exposição que está no Abrigo Arte Galeria em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado todos os anos no dia 8 de março.
Esta é a 1ª Expo-Mulher e reúne trabalhos de Betty, Celsina, Cristina Petitinga, Dirajara, Elys Rosa, Evanilde Pereira, Gote, Haydée Freixá, Inalda Peixoto, Laninia Gondim, Maria José Cunha, Maria Assunçção, Núbia Cerqueira e Zélia Couto.
Como podemos notar são 14 mulheres que variam de nível de conhecimentos. São mulheres que pintam com temáticas variadas e também que estão trilhando este tortuoso caminho da profissionalização.
Destaco, por uma questão de maior convivência e até mesmo afetividade, Núbia Cerqueira, que trabalha aqui mesmo em A TARDE, há muitos anos, e que é um exemplo de persistência, de abnegação. Muitas vezes trabalha varando a madrugada para concluir as suas obras, porque durante o dia está diagramado as páginas do jornal. Núbia é exatamente um exemplo que deve ser seguido pelos que iniciam a jornada, porque tem uma dedicação ferra. Vem melhorando sensivelmente a qualidade técnica dos seus trabalhos e o colorido está proporcionando composições caprichadas. A exposição está aberta até o próximo dia 24 e a galeria fica na Avenida salvador, n.25, Baixa do Bonfim.

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