JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MAIO DE 1988
BRASILEIROS E AMERICANOS DISCUTEM A
CULTURA NEGRA
CULTURA NEGRA
Algumas das obras que serão expostas a partir de hoje , no Solar do Unhão |
Através
de conferências, debates e exposições, os artistas terão uma visão crítica
desta realidade. Mesmo os que não estão expondo devem comparecer para
participar desse evento. A organização da mostra está a cargo do Departamento
de Artes Visuais da Fundação Cultural do Estado e da National Conference of
Artists -NCA e conta com a colaboração da Bahiatursa. Esta integração entre os
artistas que sofrem influências africanas é muito importante porque, inclusive,
facilitará o intercâmbio com a troca de informações e será um momento de
afirmação cultural para muito deles.
A
PROGRAMAÇÃO
Os
americanos chegaram hoje por volta das 5 horas da manhã. A abertura será às 20
horas, no Solar do Unhão, e logo depois a Banda Olodum fará uma apresentação
para os visitantes. Amanhã começarão as conferências, por volta das 9 horas da
manhã, no Hotel da Bahia, sobre Arte e Religião, com Ordep Serra.
Às
14 horas, serão abordadas as Expressões Contemporâneas da Estética Africana,
por Renato da Silveira, e a noite, às 21 horas, haverá um show com o grupo
musical llú-Bata e África Poesia. No dia 26, sessão Imagens Afro-americanas na
Mídia, por Benedito Paulo da Luz, e a palestra A Realidade Africana no Brasil,
de Hélio Santos. No encerramento, uma sessão de cinema afro-americano-criação
de imagem da Diáspora com palestra de Cacá Diegues.
OS
TRABALHOS
Tive
oportunidade de visitar a mostra quando da sua montagem, e pude verificar que a
rigor não podemos ficar deslumbrados diante do que os americanos nos
apresentam. Vimos os trabalhos, os quais nos revelam que os artistas
americanos, embora vivam no centro
cultural desenvolvido, estão muito confusos numa mistura incompreensível de
materiais, falta de qualidade técnica e outros elementos que são básicos para
se determinar e compreender a importância de um trabalho plástico. Faço este
reparo para que tenhamos os olhos abertos para fazermos um contraponto entre o
que fazermos aqui e o que determinados segmentos estão fazendo lá fora.
Também
lamentamos a ausência de vários artistas que forma convidados e selecionados
por uma comissão, da qual fizemos parte juntamente com o professor Ivo Vellame,
Dante Galeffi, Carlos Eduardo da Rocha e Matilde Mattos. Simplesmente não deram
com as caras. Se estivessem de fora, certamente estariam esbravejando que foram
discriminados.
A expressividade do negro,nesta obra do baiano Carlos Bastos |
Mestre Didi com obra de sua autoria |
Quais
as razões? Será que não queriam ser identificados como artistas que sofrem
influências da cultura africana, ou que seus trabalhos nada tem a ver com a
negritude? Evidente que precisaríamos de mais espaço para outras considerações,
sobre esta postura, que a princípio considero lamentável
O
QUE É A NCA
Quanto
a NCA, funciona ligada a Universidade de Atlanta, nos Estados Unidos desde
1959, e realiza um trabalho ligado aos países do Caribe e da África em prol do
fortalecimento do artista afro americano. Seus fundadores foram Margareth
Burroughs, James D. Parks, Eugênio Dumer, Jewel Simon e Virgínia Klah.
A primeira conferência foi realizada em Dakar, no Senegal, tendo como tema central Reexame da Negritude - reafirmação de nossas afinidades culturais.
A primeira conferência foi realizada em Dakar, no Senegal, tendo como tema central Reexame da Negritude - reafirmação de nossas afinidades culturais.
Portanto,
aí estarão reunidos negros e brancos, visando a preservação e o desenvolvimento
da arte e em particular da influência da cultura africana sobre a arte. Será um
momento de reflexão e, para nós baianos, que nascemos num estado de grande
influência negra em todas suas manifestações, temos muita coisa pra dizer,
talvez até mais do que ouvir.
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