JORNAL A TARDE, SALVADOR, 29 DE DEZEMBRO DE
1980
LYGIA CLARK TEM EXPOSIÇÃO E LIVRO
COM APOIO
DA FUNARTE
DA FUNARTE
Exposição retrospectiva de Lygia no Itau Cultural |
O
antigo espaço, entretanto, ainda recebeu uma última exposição antes de ser
desativado: a do escultor José Resende, inaugurada no dia 16 e permanecerá até
31 de janeiro.
Lygia
Clark- O livro sobre a obra de Lygia Clark é o sétimo volume da coleção ABC,
Edições Funarte, que já focalizou os artistas Rubens Gerchman, Anna Bella Geiger,
Antônio Dias, Vergara, Barrio e Weslwy Duke Lee. A exposição vai até 16 de
janeiro e está aberta de segunda a sexta das 9h30min às 18h30min.
Precursora
dos principais movimentos de vanguarda no Brasil, Lygia Clark iniciou sua
trajetória artística na década de 1950, havendo participado do movimento
concreto. Em 1958, assim Ferreira Gullar se manifestava sobre a artista: “Os
quadros de Lygia Clark não têm moldura de qualquer espécie, não estão separados
do espaço, não são objetos fechados dentro do espaço: estão abertos para o
espaço que neles penetra e neles se dá incessante e recente: tempo”. A evolução
da obra de Lygia Clark foi muito bem fixada por Mário Pedrosa, que em 1963
escrevia: “Lygia arrebentou a moldura, passou a integrá-la no retângulo e,
depois, com as superfícies moduladas, rompeu com a noção mesma do quadro, e
passou a construir planos justapostos ou superpostos até chegar às constelações
suspensas à parede, aos contra-relevos e aos atuais casulos, em que um plano
básico de superfície permite que sobre ele se ergam desdobramento planiméticos
e variações espaciais, os quais, por sua vez, como que evoluem num bojo
espacial ideal delimitado pela mesma superfície básica.
Ela
costuma dizer que seus atuais bichos caíram, como se dá com os casulos de
verdade, da parede ao chão. A partir de 1963, Lygia inaugura sua fase
sensorial, quando a percepção e a vivência do instante passam a construir a
própria essência do trabalho. É quando ela chama o espectador a participar da
obra como uma única forma possível de fazê-la existir.
Como
ela própria diz, “recusamos o artista que pretende emitir através de seu objeto
uma comunicação integral de sua mensagem, sem a participação do espectador”. Na
década de 1970, a
artista leciona na Sorbonne, em Paris, realizando até 1975, quando volta ao
Brasil, seus últimos trabalhos ainda ditos de arte. A partir de 1975, e sempre
em buscas de novas fronteiras. Lygia se dedica ao seu trabalho de consultório,
ou seja, na utilização dos chamados “objetos relacionais” para fins
terapêuticos.. Segundo a artista, o “objeto relacional” não tem especificamente
em si, “como seu próprio nome indica é na relação com a fantasia do sujeito que
ele se define. O mesmo objeto pode expressar significados diferentes para
diferentes sujeitos ou para um mesmo sujeito, em diferentes momentos.
Em
resumo: o livro da Coleção Arte Brasileira Contemporânea, editado pela Funarte,
procura documentar todas as metamorfoses clarkeanas, dando assim uma visão
bastante ampla do próprio caminho percorrido pela chamada vanguarda brasileira
nos últimos vinte anos.
Cadernos
do Espaço ABC n.º1- Os cadernos iniciam mais uma série de publicações da
Funarte.
Eles
pretendem abordar temas bastante abrangentes, numa reflexão sobre o artista e o
ato de criar.
Neste
primeiro há dois textos polêmicos que estimulam o debate: do Moderno ao
Contemporâneo- O Novo e O Outro Novo de Ronaldo Brito e Luhgar Nenhum- O Meio
de Arte no Brasil de Paulo Venâncio Filho. Esses trabalhos destinam-se,
principalmente, ao público universitário, sobretudo aos cursos de arte e às
cadeiras de Estética, como temas provocantes para as discussões em aula.
O
primeiro texto trata de questões teóricas ligadas ao limite problemático que
separa a modernidade da contemporaneidade na produção artística. O segundo,
traça um quadro crítico dos aspectos negativos do meio e da arte no Brasil, da
inadequação de algumas de suas instituições básicas, mercado de trabalho,
crítica, entidades culturais e do jogo calculado dessa inadequação ao não dar
conta das necessidades da produção de
arte, de fixar sua história, de promover a superação de velhas questões. Traz
ainda como apêndice três textos significativos de autoria de artistas plásticos
brasileiros.
Os
cadernos têm 48 páginas ilustradas e custam CR$200,00.
José
Resende- A exposição que ainda ocupará o Espaço ABC Parque da Catacumba de 16
de dezembro a 31 de janeiro, estará aberta diariamente das 15 às 19h e mostra
obras do escultor José Resende.
Professor
de arte na PUC de Campinas, na Escola de Comunicação e Arte da USP e arquiteto,
José Resende foi membro da Escola Brasil em São Paulo onde detalhou
trabalhos junto com Fajardo, Bovarelli e outros. Foi membro do grupo editorial
da revista Malazartes e de A Parte de Fogo, sendo também o representante do
Brasil na última Bienal de Paris, selecionado, em Paris, pela comissão
organizadora.
Suas
esculturas são, segundo o crítico Ronaldo Brito, formas de interrogação. Elas
são em si mesmas a questão e o problema, daí sua estranheza e, também, daí sua
força. O trabalho de Resende confunde porque nele vigor e rigor são um só e não
podem ser submetido ás categorias da estética tradicional para serem
decompostos, divididos, analisados.
Surpreendendo
e solicitando do espectador uma contrapartida, um trabalho, contribuem
efetivamente para a arte contemporânea no Brasil.
MOMENTOS
DE FÉ
O Papa e o Menino Jesus, sob o sol de Roma. |
ROMA (ANSA)- No domingo antes do Natal, o papa João Paulo II abençoou do balcão de sua biblioteca as milhares de imagens do Menino Jesus, para os presépios que os fiéis da Itália inteira vão preparar em suas casas. Brilhava o sol,
AUMENTA A PARTICIPAÇÃO DOS NORTE-AMERICANOS
NAS ARTES
Os
Estados Unidos experimentavam um verdadeiro surto de participação nas artes,
que se faz acompanhar por uma expansão generalizada de interesse e participação
nas humanidades.
Na
última década, o número das orquestras sinfônicas triplicou; houve um aumento
de mais do dobro do número das companhias de ópera; o das companhias de dança
aumentou 10 vezes, e os dos teatros profissionais, seis vezes.
Testemunhamos,
também, nos Estados Unidos, uma surpreendente eclosão nas artes visuais
-principalmente fotográfica-, no artesanato, e nas exposições de arte
contemporânea dos museus.
No
setor das humanidades, onde, há uma década, não havia participação do público,
temos hoje comitês voluntários de cidadãos em todos os Estados, que incentivam
programas nesse setor
O Museu de Arte de Nova Iorque - Moma, é um dos berços da arte norte-americana |
Persiste
uma indagação sobre este fenômeno. Quais são as causas?
Não
sabemos até que ponto as iniciativas governamentais federal, estaduais e
municipais- contribuíram para esta expansão cultural. A questão mais
interessante é a contribuição exata de certas iniciativas do governo federal
nos últimos 15 anos.
Tradicionalmente, o governo federal dos EUA nunca desempenhou um papel significativo nos assuntos culturais. As únicas exceções, até pouco tempo, eram a instituição Smithsoniana, que administra nossos museus nacionais, e a Biblioteca do Congresso. Durante os anos de depressão da década de 30, o apoio do governo aos escritores, artistas e projetos teatrais foi energicamente combatido por muitos e ocasionalmente, abandonado.
Tradicionalmente, o governo federal dos EUA nunca desempenhou um papel significativo nos assuntos culturais. As únicas exceções, até pouco tempo, eram a instituição Smithsoniana, que administra nossos museus nacionais, e a Biblioteca do Congresso. Durante os anos de depressão da década de 30, o apoio do governo aos escritores, artistas e projetos teatrais foi energicamente combatido por muitos e ocasionalmente, abandonado.
A
principal contribuição dos governos estaduais à vida cultural era o apoio do
seu sistema educacional, inclusive da rede de grandes universidades e colégios
estaduais.
No
que se referia ao governo, era a nível de autoridades de condado e municipais
que se prestavam as contribuições mais diretas às atividades culturais.
Entretanto,
nos primórdios da década de 1960, passou a haver uma considerável preocupação
com a situação das artes e humanidades nos Estados Unidos. A impressão
generalizada era de quem estavam sendo negligenciadas em comparação com as
ciências, que já vinham recebendo verbas generosas da Fundação Nacional de
Ciências do governo federal.
Em
resposta a esses apelos de ajuda federal para as atividades culturais
norte-americanas, o Congresso dos Estados Unidos, após minuciosos estudo da
questão, criou em 1965 duas agências federais isoladas e independentes: a
Fundação Nacional para as Humanidades e a Fundação Nacional para as Artes.
As
dotações iniciais para as duas agências foram de cinco milhões de dólares.
Hoje, 15 anos depois, as dotações em conjunto são de cerca de 300 milhões de
dólares.
Além
disso, foram criadas agências federais encarregadas de museus e transmissões
radiofônicas, suas atividades, juntamente com maiores dotações para a Biblioteca
do Congresso, Instituição Smithsoniana e atividades culturais do Serviço
Nacional de Parques, respondem atualmente por 350 milhões de dólares adicionais
em verbas federais.
Embora
não possamos negar o efeito estimulante do interesse e das iniciativas do
governo federal sobre a expansão cultural dos Estados Unidos, o fato é que o
aumento na participação cultural pelos norte-americanos é natural e espontâneo-
parte da própria formação da sociedade do país.
No
setor cultural, o governo principalmente o federal trabalho em associação com a
iniciativa privada. O governo é um fator importante, mas a força propulsora
procede da sociedade em geral.
As
realidades da adoção de verbas para a cultura confirmam claramente a primazia
da iniciativa popular e individual.
Em
1978- o ano mais recente sobre o qual se dispõe de dados completos, as
contribuições para as artes e humanidade, procedente de todas as fontes, nos
Estados Unidos, somaram mais de 2.490 milhões de dólares.
Deste
total, cerca de 291 milhões foram a forma de verbas federais; as fundações
privadas contribuíram com 216 milhões de dólares; as empresas, e os
legislativos estaduais designaram cerca de 69 milhões de dólares.
As
doações individuais, em 1978- que variaram de alguns poucos dólares e legados
de vários milhões de dólares atingiram a surpreendente soma de 1.670 milhões de
dólares.
Desta
forma, as fontes de receita mais importante para as atividades culturais nos
Estados Unidos continua sendo as receitas de bilheterias e as doações
individuais.
Em
que pese toda a confusão, todos os reveses, os Estados Unidos continuam
profundamente apegados á diversidade em sua vida cultural. Poderá perfeitamente
ser o único sistema prático para uma sociedade tão diversificada como a nossa.
Alguns
observadores do cenário cultural norte-americano já declararam que nossa
diversidade na doação de verbas para atividades culturais “tronam impossível
uma política cultural nacional”.
Porém,
a ausência de uma política cultural nacional nos Estados Unidos não é o
resultado do pluralismo na concessão de verbas. É justamente o contrário. É
nossa política nacional salvaguardar a ausência de uma política governamental
federal, por meio de pluralismo na concessão de verbas para finalidades
culturais. (Joseph Duyfey, presidente da Fundação Nacional para as
Humanidades).
Verdadeira ou Falsa. É a dúvida que está separando os críticos de arte italianos, com relação a esta escultura, Maternidade Sentada, que, para alguns, é de autoria do escultor Arturo Martini, e para outros não.Envolvidas no mesmo dilema estão mais de 55 obras deste artista, atualmente expostas numa galeria romana. O caso foi levado inclusive a Justiça, e o Tribunal de Roma, apoiando a tese da “não autenticidade”, emitiu seu veredicto definindo as obras “falsificadas”. As belas peças (pertencente a um amigo do escultor) não estão à venda, mas “expostas para serem examinadas e estudadas”. Esta Maternidade Sentada, que já foi muito admirada por Paulo VI, será doada agora ao papa Wojtyla.
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