quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

HÉLIO OITICICA MORREU AO PRINCIPIAR O IMPORTANTE - 30 DE MARÇO DE 1980


JORNAL A TARDE DOMINGO, 30 DE MARÇO DE 1980

HÉLIO OITICICA MORREU AO PRINCIPIAR O IMPORTANTE

"Sempre gostei do que é proibido, da vida de malandragem, que representa a aventura, das pessoas que vivem de forma intensa e imediata, porque correm riscos.São tão inteligentes, essas pessoas. Grande parte de minha vida passei visitando meus amigos na prisão. Tive grandes amigos, pessoas admiráveis como Cara de Cavalo, Miguelzinho da Lapa.Tenho grandes amigos na família real da malandragem.O ambiente de arte é muito careta." Estas palavras foram pronunciadas em 1978 por Hélio Oiticica o grande artista vanguardista que morreu no penúltimo sábado, no Rio de Janeiro aos 43 anos de idade.
Uma figura discutida e de atitudes estranhas e imprevisíveis. Um homem capaz de captar o invisível. Um dos inspiradores do movimento tropicalista e um dos participantes da controvertida mostra Information, realizada no início da década passada no Museu de Nova Iorque.
Era toxicônamo, tinha uma vida irregular e por isto muitas vezes não era tão bem recebido em alguns setores artísticos, daí a sua reação de chamar o setor de arte muito careta. Era de personalidade inquieta e criador. Todos os temas e todos os suportes serviam à sua arte inovadora, sendo sem sombra de dúvidas um dos líderes da arte de vanguarda neste país. Durante sua existência viveu e defendeu algumas idéias. Em 1955 integrou o grupo Frente, em 1959 estava no movimento Neoconcreto, Além de participar de numerosas manifestações plásticas. Diria que Oiticica foi um personagem ativo da marginalidade. Digo da marginalidade fora dos padrões costumeiros e aceitos por todas as pessoas que obedecem e defendem valores estabelecidos. Como artista, um inovador. Um menino prodígio que aos 17 anos como aluno de Ivan Serpa já demonstrou o seu talento e a sua inquietude. E janeiro do ano passado retornou ao Brasil e ficou entocado num pequeno apartamento no Leblon em meio a um emaranhado de livros, recortes, fotografias e seus arquivos que preferia chamá-los de ninhos. Porém, mesmo o espaço exíguo de sua moradia não impedia de trabalhar com suas maquetes e imaginar mais espaços para os outros. Não gostava que o chamasse de um vanguardista porque no seu entender a vanguarda se faz num dia e se desfaz no outro. É a mitificação e a desmitificação, o acaso, a chance operation. Preferia que não definissem seu processo artístico, por ser atualmente uma tendência universal e não definição, “porque valores são criados cada vez que alguma coisa é abordada”.
Tinha uma estranha (para muitos) posição sobre o conceito de artista. Enquanto muitos defendem a profissionalização do artista, com honrosas exceções, tornou-se mais de caráter comercial que artístico. Todo artista autêntico é um desclassificado e desde que você transforma a arte numa profissão, cria a contradição. Ganhar dinheiro não é uma coisa, dizia Oiticica, essencial da arte, da atividade artística, não pertence à sua estrutura.
E, por ironia do destino, Oiticica sentenciava em 1978 “Tudo que fiz até hoje era o prólogo. O importante está começando agora”. Porém, Hélio teve sua carreira interrompida bruscamente aos 43 anos de idade. Morreu no último dia 15, ao meio-dia, e cinco horas depois era enterrado sem que muitos dos seus amigos soubessem. Sua morte teve lances dramáticos e imprevisíveis como sua obra. Sofreu uma derrame cerebral e caido entre suas obras, ferido, imobilizado e sem voz, ainda pode ouvir a campainha tocar, os amigos chamarem o seu nome ou da porta, sem poder fazer nada. No quarto dia sua amiga Lygia Pape resolveu entrar por uma janela aberta no seu apartamento e o encontrou quase sem vida.Operado, veio a falecer.

JUSTINO MARINHO NA GALERIA DON CAMILO

Trinta desenhos feitos a pastel e lápis de cera estão expostos na Galeria Don Camilo, no Othon Palace Hotel.É um projeto que Justino vem desenvolvendo há algum tempo e podemos afirmar que é a continuação da mostra que fez anteriormente na Galeria ACBEU. Um trabalho neofigurativo onde o artista procura dar forma à figura humana. Um desenho caprichado, uma técnica que ele desenvolve com muito critério e agora nestes trabalhos vemos a presença da cor como elemento novo que veio dar maior dimensão à sua obra. A cor aparece definida e marcante. Surge como um complemento do desenho.
Embora algumas pessoas não gostem e até critiquem a presença da cor no desenho, a meu ver a cor muitas vezes dá maior dimensão, especialmente quando é bem utilizada. Também não concordo que a sua mostra anterior tinha conotação panfletária. Apenas entendo que o artista não pode ausentar-se totalmente da realidade. A própria fantasia do escritor sempre tem um ponto de partida ou referência com o real. Parte do real para abstração. Vejo a obra de Justino com uma temática onde a figura humana está presente.
Um movimentar constante de formas e situações que ele lança nos espaços vazios do papel ou outro qualquer suporte que utiliza para sua manifestação artística.
É o próprio Justino quem diz: " Hoje, depois de todo esse tempo que venho desenhando, acho que meu desenho toma uma forma mais definida. Sem compromissos de antes. Quem viu a minha exposição anterior e for ver esta, vai notar. O que faço agora, faço dentro de uma saída de dentro pra fora, sem a preocupação de conteúdo explícito. Acho que o conteúdo está na própria evolução de fazer o desenho.
Quando fiz a exposição passada, (na ACBEU), tinha uma estória pra contar, através do trabalho. “Nesta exposição da Don Camilo, tenho a evolução do meu trabalho, da técnica, o uso da cor, enfim, é o que está aí pra ser visto”.
E posso garantir que merece ser visto porque Justino é um dos maiores profícuos desenhistas baianos.

    GUERNICA,  DE PICASSO VAI PARA A ESPANHA



O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque assinou acordo para devolver à Espanha no final deste ano, o quadro Guernica de Pablo Picasso, informou a agência noticiosa Europa Press.Citando fontes culturais espanholas, a agência disse que a obra de Picasso, retratando o bombardeiro de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola de 1936 a 1939, deve ser enviada à Espanha em outubro, depois da retrospectiva do museu sobre Picasso.
O pintor, que morreu em 1973, deixou instruções para que Guernica fosse entregue a sua terra natal depois da queda do regime franquista e da instauração de uma democracia no país.
A pintura, que nunca foi exposta na Espanha, é conservada a título de empréstimo no Museu de Arte Moderna desde 1939.
Picasso havia pedido que a pintura passasse a integrar a coleção do Museu do Prado, de Madri, mas outras cidades já pediram para ficar com a obra, como as cidades bascas de Guernica e Bilbao, a cidade de  Málaga, onde o pintor nasceu, e Barcelona, onde fica o Museu de Picasso.
Na carta ao primeiro-ministro Adolfo Suarez, divulgada ontem, Jacqueline, viúva de Picasso, revelou que o pintor sempre lhe falou em ver um dia Guernica figurar no acervo do Museu do Prado, do qual foi administrador durante os últimos anos da Segunda República.

NOVA ETAPA NA FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO

Tendo em vista a necessidade de revisão e conseqüente reestruturação da Bienal de São Paulo, de acordo com o pronunciamento do novo presidente Luiz Villares, por ocasião de sua posse, em conformidade com as alterações do meio sócio-cultural brasileiro nas últimas décadas, seja em seu contexto cultural municipal imediato a que a entidade é afeta e por que deve responder, bem como ao nível estadual, nacional, latino-americano e internacional, a atual diretoria considera que seu objeto mais urgente é reformular a atuação da Fundação Bienal de São Paulo, prevendo dentro de um prazo mínimo necessário de discussões, um anteprojeto para um programa de ocupação do espaço físico de seus locais nos períodos de inexistência das exposições internacionais, a fim de satisfazer á carência de espaço para as mais diversas manifestações artísticas de todas as áreas, e para encontros de natureza cultural por parte da população da cidade, do estado, do país e do exterior.
É importante notar que neste período de reformulação a diretoria convocará, profissionalmente, os elementos que considere. Poderão trazer depoimentos enriquecedores para suas definições, críticos e artistas plásticos, além dos membros de seu Conselho de Arte e Cultura.

INEXEQUÍVEL

Tendo a nova diretoria como meta, implantar um novo espírito, pode chegar a suceder, como está ocorrendo agora, que isso traga implícito o adiamento, ou o atraso, no caso da Bienal latino-americana, d realização de um evento de tal importância, conquista difícil somente concretizada em 1978. Porém o adiantamento de uma presença maciça da América Latina em evento, autônomo, foi imperioso por que:
1º) não se tinha em mãos quaisquer entendimentos já iniciados com meios culturais desses países que pudessem dar margem a um evento significativo.
2º) a Bienal de São Paulo deseja ouvir, prioritariamente, representantes culturais dos diversos países sobre sua expectativa a respeito da presença latino-americana nas bienais de São Paulo.
 ) os problemas econômicos porque passamos no momento não são exclusivos do Brasil, refletem toda uma crise mundial e os países da América Latina, em particular, têm dificuldades em se fazer presentes anualmente em São Paulo. Daí por que representantes dessas nações devem ser ouvidos sobre como melhor representar seus meios artísticos nas bienais brasileiras.
Um Encontro de Críticos e Representantes Culturais da América Latina (diretores de museus, historiadores, artistas) para outubro próximo, já está em pauta na diretoria da Bienal de São Paulo.
Ao mesmo tempo, acha-se também em fase de estudo preliminar, a organização, também para outubro, de uma Jornada de Documentários Cinematográficos da América Latina, que, cogita diretoria,  deveria realizar-se durante 15 dias seguidos de projeções, em sua maioria filmes inéditos no Brasil.
Projeto já em tramitação pela diretoria anterior, uma exposição de Antropologia Brasileira a partir da Coleção do Museu Goeldi.

      NILZA BARUDE ESTÁ PROCURANDO ACERTAR

Venho acompanhando, com interesse, o trabalho que vem desenvolvendo Nilza Barude. Uma vontade ferrenha em acertar, em encontrar o seu caminho artístico. Certa ocasião, fiz uma crítica muito forte sobre uma exposição que ela fez, de algumas peças em cerâmica, na Galeria ACBEU. A princípio, diria que Nilza estava mal acompanhada, ou seja, estava expondo com outra pessoa que teima em ser artista. Mas o tempo passou e Nilza vem procurando melhorar e dar uma forma mais apurada à sua obra. Confesso que ainda não me dou por satisfeito com que o que Nilza vai apresentar. Diria até que ela devia esperar mais um pouco para realizar sua exposição. Porém, ela é inquieta, e tem necessidade de mostrar, de extravasar o que está fazendo, resolveu expor o que já fez.
Realmente vem melhorando e uma transformação já se pode notar, aliás, desde a sua exposição realizada na Galeria O Cavalete, onde mostrou algumas figuras humanas dando importância às formas. Nesta sua exposição programada para a Katya Galeria de Arte vai mostrar ainda algumas figuras, porém não tão definidas como as que apresentou na exposição anterior.
Diz Nilza que essas figuras são as pessoas do seu tempo.São as figuras em pedaços, incompletas e cortadas. As faixas, como que representam as dificuldades que enfrentam para almejar o desejado. Algumas largas, as situações mais difíceis?, outras mais estreitas, as situações mais fáceis de ser contornadas?, Também surgem interferências de cartas de baralho e dados.

     GONZAGA EXPÔS NA CASA DO BRASIL

Pinturas e colagens do gaúcho Luiz Gonzaga Mello Gomes (ou simplesmente Gonzaga) foram expostas na Casa do Brasil, em Madri, numa promoção da embaixada brasileira naquele país.
Gonzaga é professor adjunto do Centro de Artes da Universidade federal de Santa Maria e atualmente está fazendo um curso de especialização em pintura mural na Faculdade de Belas Artes de San Fernando, em Madri, sob a orientação do professor Manuel L. Villasenõr. Desde 1965 que Gonzaga vem participando de várias exposições individuais e coletivas e já foi agraciado com alguns prêmios em salões realizados em sua terra natal.
Quem faz a apresentação é o mestre Manuel L. Villasenõr que em certo trecho afirma: “Quando Luiz Gonzaga veio do Brasil trazia uma bagagem de escultor. Aqui chegando, entregou-se ao campo da investigação pictórica. Como um enriquecimento de seu mundo. O espaço tem conseqüente importância desempenhada na sua pintura. Ressonâncias surrealistas predomínio do teima sobre as cores puramente plásticas, dificultam prever a radical evolução de sua pintura como um milagroso autodescobrimento.

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