terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ARLINDO GOMES UM ESCULTOR QUE ENRIQUECE A NATUREZA - 24 DE NOVEMBRO DE 1980

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  24 DE NOVEMBRO DE 1980

ARLINDO GOMES UM ESCULTOR QUE ENRIQUECE
 A NATUREZA
Esculturas de Arlindo feitas em madeira.
O ato de pesquisar a natureza já soma pontos. Enquanto milhões de pessoas vivem sentadas nos assentos de velozes carros pelas grandes metrópoles, outros, poucos, buscam um contato maior com a natureza. Procuram encontrar a descobrir a beleza que existe nos mares, nas florestas e nos campos. Vivem melhor, embora aparentemente não, porque não dispõem dos sofisticados aparelhos domésticos e não manejam computadores. Arlindo é uma dessas pessoas pacientes e observadoras. Dos troncos inertes que encontra nas florestas e nos campos ele faz vibrar a sua criatividade. Os galhos mortos renascem, ganham vida e força. Parecem renascer para a eternidade talhados com maestria e ganha até uma aparência de humano, encobertos por uma pele lisa e brilhante. Tudo nos faz crer que renascidos poderão assistir a vitória do artista.
Calado e recolhido em seu atelier num edifício no corredor da Vitória, o qual despeja suas janelas e portas para a Baía de Todos os Santos ele vive e recria o seu mundo de galhos e troncos retorcidos ou lisos. Humilde e bom. Um homem que merece  uma atenção maior de todos aqueles que gostam e militam no mercado de arte.
Sua exposição está na Galeria Cavalete, no Clube Baiano de Tênis até o próximo três de dezembro.

                                                       DOIS ESCULTORES

Seus colegas Mário Cravo e Antônio Rebouças, também mestre na arte de talhar o ferro, o bronze ou a madeira escreveram algumas palavras sobre a obra de Arlindo Gomes as quais publico agora:
                          
                             MÁRIO CRAVO
Existem pretendentes inúmeros à escultura, diríamos mesmo ao talhe-direto, porém poucos conseguem o colóquio com o material eleito.
Progressivamente tomo consciência de que poucos comportamentos de base definem a vocação do artista.
Sem um obsessivo relacionamento com a madeira, o escultor entalhador, não alcançará o envolvimento com a matéria, e sem este, dificilmente poderá surgir experiências sensoriais de maiores sutilezas.
Se as mãos não se tornarem raízes, estas não serão redivivas, se do toque do profundo amor não surgirem as “novas árvores”, por certo pouca vida transmitirão.
Do suor, da carícia, do “calo do amor” físico e espiritual nasce a aura, a atmosfera da permanência e a vibração do ato criador.
Arlindo Gomes trata as raízes com o toque mágico do perfeito amante, a dose de carinho com curvas e fibras, cortes de envolvimento para evidenciar ritmos, domínio das superfícies do lenho que readiquirem peles acetinadas, brilhantes e opacas.
Da lição de dedicação coadunada com a permanência, brota magnífica lição do ofício e é com respeito que parabenizo Arlindo, pelo gesto de sua contribuição humilde e profundamente concisa, autodidata e exemplarmente universal."

ANTÔNIO REBOUÇAS

“Não será inexata a classificação que estabelecer para o aprendizado de Arte, 4 categorias distintas:
A primeira, abrangendo os primitivos e ingênuos onde a arte participa de uma matriz atávica chegando a sugerir uma formação orgânica integrante do próprio artista.
A segunda, a dos artistas considerados autodidatas, aqueles que são os mestres de si mesmos.
A terceira, a dos artistas escolarizados, aqueles que, tudo que sabem, foi apreendido através das professoras de Arte!!!
A quarta aqueles que se fizeram artistas, aprendendo arte com a natureza e neste caso está Arlindo, procurando salvar na praia deserta ou na floresta esquartejada pelo homem, aquele tronco no seu último suspiro.
Ele faz, com a mesma emoção da criança e separa a sua boneca preferida, para brincar com os seus amigos, e acrescenta aqui e ali, e às vezes em tudo, o mistério da sua sensibilidade de artista, e assim, Arlindo, irmanado com os segredos da vida se fez escultor! Provando ser verdadeira a tese que sustenta, ser o artista, antes de tudo, um ser bom. Sobre o mérito de cada trabalho tem o espectador o seu direito amplo de opinar."

                   ALBERY E SEU VÔO CEGO NA MIRA DA LIBERDADE

Vinte e cinco telas em óleo, sete desenhos, algumas cerâmicas e um só tema ligando todos eles: o vôo livre. Essa é a exposição que Albery inaugurou, na Realidade Galeria de Arte, Rio de Janeiro. A sensação de liberdade, essencial ao processo criativo, o visual extremamente belo que o voar oferece são as explicações -se é que se pode explicar para a homenagem ás asas, que o artista plástico rende nesta sua 9ª Exposição no Brasil desde que voltou de Paris, em 1978.
O Céu Sem Limites, nome escolhido para a mostra, além da não limitação espacial sugerida, abrange também a não limitação a um único estilo ou técnica, apesar de serem todas as peças do mesmo autor e do voo estar presente, de alguma forma, em sua totalidade. Não é bem a inspiração através do espaço amplo que o voo dá, é um estado de espírito favorável a descoberta de elementos que fazem parte da própria criatividade.
Conseguir sobreviver no Brasil como artista plástico é sabidamente difícil. Viver bem com o produto da arte, mais difícil ainda Albery sobrevive e vive muito bem, seu nome é conhecido nacional e internacionalmente. Não nega que tenha galgado posições difíceis, em termos artísticos, no Brasil. Mas também não esconde as muitas dificuldades iniciais, nem camufla sua história com lances de sortes e acasos. “Foi tudo muito batalhado mesmo ", conta o artista, que ficou famoso por retratar com um estilo muito próprio, os cabelos em formas de medusas, serpentes e arabescos, as mulheres, principalmente da alta sociedade.

                                   GRANDE DESCOBERTA ARTÍSTICA EM MILÃO

Foi o próprio Leonardo da Vinci quem pintou uma cópia da sua famosa obra A Virgem da Rochas segundo afirmou o professor de Latin e Grego, Grazioso Sironi e um jovem estudante chamado Arnaldo Ganda.
Encontraram-se sinais de que Leonardo trabalhou não só sobre a versão original da citada obra, mas que também de vez em quando, ela era levada para outro lugar onde Leonardo e os seus colaboradores realizavam uma réplica.
Existem duas versões de A Virgem das Rochas de Leonardo, uma no Museu do Louvre de Paris e a outra na Galeria Nacional de Londres. Procedem da Igreja de São Francisco de Milão ( a maior dessa cidade depois do Duomo, catedral).
Encontraram no arquivo histórico de Milão, documentos datados de 18 de agosto de 1508 que provam que a confraternidade da conceição (encarregado do pagamento da obra) autorizava o seu translado da sede até uma câmara do convento ou uma capela, por um período de quatro meses para facilitar o trabalho de Leonardo e do seu grupo.
O trabalho realizava-se sob as ordens de Leonardo e tinha como objetivo ser vendido. O lucro foi de 820 liras imperiais mas não se pagou a recompensa suplementar que havia sido perdida, mas sem uma quantia menor.

                                              A ROUPA DO POLÍTICO

Uma cena comum num palácio qualquer, em qualquer lugar. São velhos e moços que chegam do interior do estado para avistarem-se com o chefe. Para melhorar a aparência arranjam de véspera alguma roupa: paletó e gravata. Rumam para o palácio e lá recebem os últimos retoques dos amigos.
O paletó geralmente é maior, a camisa e a gravata não combinam com a roupa, mas não importa. Acham que estão bem e cruzam garbosamente as salas e salões do palácio para falar com o chefe, trazendo ao peito a segurança que serão bem recebidos, porque votos não lhe faltam. Alceu Tamer, fotógrafo arguto flagrou estes dois políticos ajeitando-se minutos antes do encontro “histórico”. Uma cena comum para muitos palacianos, porém gloriosa, para os tabaréus. No alto, um homem petrificado com suas vestes impecáveis assiste o desenrolar desta cena engraçada e patética. É preciso cuidar da aparência, mas principalmente do espírito, da consciência e enxergar adiante. Muitas vezes o chefe não está com a razão e esconde seu poder coisas que é preciso saber.
Mas, ao tabaréu não interessa nada disto a fórmula de sua vida acostumada com a seca tenaz, com a chuva que provoca também seus estragos, reza e clama por Deus. Acredita também em inverdades ditas com empostação. A verdade é para ele quase cega, provinda de um bilhete para uma autoridade inferior ou de uma ordem a ser cumprida no interior. Saído dos lugarejos empoeirados, só pode coitado ficar envaidecido com os pisos brilhantes e escorregadios dos palácios...


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