quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ANTÔNIO REBOUÇAS ESTÁ EXPONDO NO BAHIANO DE TÊNIS - 31 DE AGOSTO DE 1980

JORNAL A TARDE, SALVADOR, DOMINGO, 31 DE AGOSTO DE 1980

REBOUÇAS ESTÁ EXPONDO NO BAHIANO DE TÊNIS

"Sou um pintor de fundo de quintal ", disse pelo telefone meu amigo Antônio Rebouças, que na realidade é um dos mais importantes artistas da Bahia. Fechado em sua residência, no bairro da Barra Avenida, Rebouças é um verdadeiro alquimista que fica dias e dias misturando drogas em busca de uma tinta ou pigmentação apropriadas para o trabalho que realiza.
Tela de Rebouças com  traços fortes e volumes soltos
Ele mistura os pigmentos e vive intensamente com muita emoção os resultados parciais ou finais que consegue. È um pintor químico; capaz de discutir horas a fio resultando de misturas complicadas, inclusive de resinas, tão comuns nesta sociedade tecnológica. Além disto, como Volpi e outros grandes artistas, prefere esticar suas próprias telas ou utilizar placas de madeira ou conglomerados por ele cortadas nos tamanhos desejados. Assim Rebouças participa de todo o processo, ou seja cuida do suporte, mas até a hora a de realizar sua própria     .falador inveterado, gozador a toda prova, o Rebouças vai construindo no fundo de seu quintal uma obra de grande envergadura. Para nossa satisfação ele nos brinda agora com esta exposição da galeria “O Cavalete”, onde suas pinturas estão mais identificadas com a nossa contemporaneidade.
Os riscos estão mais fortes e os volumes menos definidos, dando uma possibilidade lúdica do espectador. Confesso que gosto da obra de Rebouças, a qual já conheço há mais de uma década e posso afiançar que este artista é por temperamento um inquieto. Um criador nato que nunca está conformado com o que faz, sempre está buscando o aperfeiçoamento, e a medida que busca, sempre apresenta um novo segmento de sua obra, cada vez mais apurada.
É preciso também entender que o quintal de Rebouças é o seu laboratório improvisado, e ali em contato com o silêncio e o verde vai criando o seu mundo fantástico, porque o criador sempre tem em seu espírito um pouco de fantasia dos criadores.
Também quero lembrar que merece aplausos a direção do Clube Bahiano de Tênis que abriu espaço em sua sede social para a exposição do trabalho de arte. Uma decisão que certamente será seguidas pelas direções de outros clubes sociais de nossa cidade.
Se você ainda não viu a mostra de Rebouças, vale a pena dar uma passada no segundo pavimento da sede social do Bahiano de Tênis, onde está funcionando a nova Galeria o Cavalete, que tem à frente a marchand Jaci Brito

MUSEU COSTA PINTO VAI PROMOVER CURSO SOBRE INOVAÇÕES NAS ARTES

O Museu Carlos Costa Pinto vai promover no mês de setembro um curso intitulado “O eclético século XX e as inovações nas artes plásticas”, com palestras da professora Maria Helena Flexor, que no dia 8 falará sobre os “”movimentos artísticos contemporâneos”.
Nos dias 15, 17 e 18, Ivo Vellame falará sobre expoentes nacionais e internacionais. Nos dias 22, 24e 25, a professora Sofia Olszewski Filha falará sobre “Gravura, Técnicas e artistas”.
Finalmente, nos dias 1 e 2 de outubro próximos o artista Jamison Pedra abordará “Arquitetura e Escultura. Portanto, o curso que foi organizado pela diretora do museu, Mercedes Rosa, vai ser de bom nível.
Existem apenas 60 vagas, será acompanhado de material visual e fornecidos certificados aos participantes. As inscrições poderão ser feitas no horário das 15 às 18 horas, na secretária do Museu Costa Pinto, a partir do dia 1º de setembro.

ELEITOS OS CRÍTICOS QUE VÃO SELECIONAR E PREMIAR NO III SALÃO NACIONAL DE ARTES

Walmir Ayala, do Jornal do Comércio, com 210 votos; Jacob Klintowitz, do Estado de S. Paulo, com 121 votos e Frederico de Moraes, do Globo, com 110 votos, foram os três críticos escolhidos pelos artistas inscritos no III Salão Nacional de Artes Plásticas - de 3 a 29 de novembro no Palácio da Cultura, no Rio,-para compor a subcomissão de seleção e premiação dos trabalhos apresentados. Os outros mais votados foram os críticos Ferreira Gullar, Mário Schemberg, Walter zanini e Araci Amaral.
A apuração dos votos foi realizada no Salão Nobre do Museu Nacional de Belas Artes, um mês depois de divulgados os outros três nomes indicados pela Comissão Nacional de Artes Plásticas. São eles: Ítalo Comporfiorito, da Fundação Rio, Olívio Tavares de Araújo, crítico e produtor de filmes sobre artes plásticas e Ennio Marques, da programação cultural da Secretaria de Cultura de Curitiba. O presidente da Funarte, escritor José Cândido de Carvalho faz parte da subcomissão e tem direito a voto de desempate.
O III Salão Nacional de Artes Plásticas premiará os quatro melhores artistas plásticos com viagens ao exterior. Outros artistas ganharão viagens pelo Brasil, havendo também o Prêmio Gustavo Capanema, de CR$100 mil pára o melhor conjunto de obras e os prêmios de aquisição, de CR$100 mil, para as obras que serão incorporadas ao acervo da Funarte.
Consta no regulamento do salão que o artista premiado com a viagem ao exterior ou pelo Brasil, no valor de CR$ 300 mil e CR$ 120 mil, respectivamente, poderá substituí-la por um projeto de trabalho que deverá ser aprovado pela Comissão Nacional de Artes Plásticas.

FRANÇA NÃO TEM MERCADO PARA PINTOR BRASILEIRO

A França não tem mercado para o pintor brasileiro, segundo o marchand Marcel Fleiss, proprietário da Galeria dos Quatro Movimentos em Paris e que se encontra em Salvador buscando comprar objetos de arte indígena, para integrar sua coleção, bem como objetos de vidro Lalique, art-noveau e art-deco.
Marcel Fleiss, "não há mercado para o brasileiro"
Embora tenha colocado anúncio nos jornais, ele recebeu apenas cinco telefonemas de pessoas interessadas em vender pinturas, ao contrário do que ocorreu no Rio de Janeiro, onde ele comprou muitas peças de Lalique, esculturas Rodan e um trabalho do alemão Colbe.
O marchand ficará em Salvador até o dia 30 e como está em férias, tem visitado os museus da cidade, lamentando que tenha encontrado fechado o dos geólogos. Sua atenção foi despertada para o Museu Estácio de Lima onde diversas peças africanas expostas lhe motivaram a entrar em contato com os responsáveis, para que ele tente encontrar objetos similares para comprar.
Enquanto os pintores brasileiros não têm grande expressividade na França, o marchand diz que os santos são muito procurados além da arte primitiva. Inclusive, seu acervo pessoal dispõe de uma coleção de 400 peças compradas há dois anos do brasileiro João Américo Peret. A arte indígena, segundo ele, é de muito interesse na Europa mas infelizmente  os brasileiros não se interessam por ela.
Muitos europeus decoram suas casas com objetos comprados no Mercado Modelo.
Sobre este mercado, Marcel que trabalha  há 25 anos e tem a galeria há dez anos, explica que os barraqueiros fazem mal em vender todos produtos semelhantes. Explica que muitos fregueses podem e se interessam por comparar objetos pelos quais pagariam entre CR$50 mil a CR$100 mil mas não encontram a disposição, o mesmo se dando com os produtos indígenas.
Autodidata, Marcel Fleiss começou selecionando arte primitiva, depois vendendo estes objetos, passando a seguir para o surrealismo. Em sua galeria já promoveu diversas exposições importantes como a de Man-Ray e Sebastião Mata.
Freqüentando leilões, quase diariamente em Paris, aprendeu um pouco de cada tipo de arte. Viajando, comprou muitas peças que hoje formam sua coleção.
A mais importante coleção de vidro Lalique ele possui e é o  que mais procura na Bahia. A família de Lalique ainda continua em Paris reproduzindo suas obras, que foram produzidas em ter 1900 a 1940. Quanto a arte indígena, diz que comprova o interesse dos estrangeiros quando visita o Rio de Janeiro e Campo Grande, onde verifica junto aos encarregados que as visitas se dão mais com relação a visitantes estrangeiros.
Sobre o assunto, diz que num dos últimos leilões que assistiu na França, uma peça brasileira usada pelos índios para aspirar o pó de tariká, feita por uma espécie de cabaça, foi arrematada por dez mil dólares. Caso encontre uma similar aqui, na Bahia, ele se diz disposto a pagar esta quantia a fim de adquirir a peça. (Ângela Barreto).

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