quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SALÕES E COLETIVAS - 29 DE OUTUBRO DE 1984


JORNAL A TARDE SALVADOR, 29 DE OUTUBRO DE 1984

               SALÕES E COLETIVAS

 A realização de exposições, salões, leilões e outras formas e métodos que contribuem para o desenvolvimento e expansão das artes plásticas merecem aplausos. Acredito que venho apoiando com muita freqüência estas manifestações que considero da mais alta importância para a cultura desta terra ou de qualquer lugar, onde são realizadas. Mas,observo que ultimamente estão promovendo exposições e salões sem qualquer critério. São expostos trabalhos dignos de figurar no latão do lixo de qualquer metrópole. As exposições coletivas são a forma mais fácil de apresentar falsos artistas, pessoas sem qualquer qualificação profissional que não conhecem técnica, não sabem distinguir as cores, não conhecem desenhos em outras palavras não sabem usar o pincel e não tem a criatividade. Não são artistas! Estão enganando a si próprios e a alguns desavisados, os quais agora estou chamando a atenção. É preciso sanear este mercado de arte, tumultuado por falsos valores que têm oportunidade de expor porcarias em troca de uma taxa qualquer paga numa galeria ou num salão.
Agora Salvador vai sediar um tal Salão Nacional de Artes Plásticas Presciliano Silva, promovido pela União Nacional dos Artistas Plásticos que tem sede em  São Paulo. Até aí tudo bem. Quando a gente começa a saber como será o Salão é o que será exposto não há quem aguente. É uma falta de vergonha! Uma falta de critério, e aí surgem os falsos artistas atraídos pela possibilidade de expor num salão nacional. Basta pagar uma taxa de CR$20 mil e o tal Salão vai figurar no “currículo do artista”. E tem mais: corre o risco de ser premiado e receber uma das muitas “medalhas” ou um “diploma” de Honra ao Mérito. Além de medalhas, sendo 10 de ouro, 10 de prata e 10 de bronze, grandes e pequenas, perfazendo um total de 30.
O cidadão encarregado do tal Sslão já trouxe debaixo do braço nada menos que 120 trabalhos que em termos de quantidade já garante que a sala onde será instalado o Salão não ficará vazia.
Tem muita porcaria para ser exposta. Sei ainda que mais de 20 baianos já estão inscritos. Em sua maioria pseudo artistas ou aqueles mais sabidos que desejam acrescentar mais uma exposição, ou melhor, um “Salão” no seus famigerados currículos. É por esta razão que não devemos nos impressionar muito com a quantidade de exposições inseridas neles e sim questionar o valor de cada uma delas procurando saber inclusive quem mais participou.
Acho que este Salão precisa ser totalmente reformulado. Os critérios de premiação e seleção dos artistas têm que ser feitos com profissionalismo para afastar os sem qualificação e dar realmente importância a este e outros salões.
Não se deve deixar que pessoas desqualificadas acrescentem em seus “currículos” o nome de uma instituição que congrega uma categoria tão importante e que merece muito respeito como é o artista plástico. Mas é preciso também ter a coragem de denunciar que este Salão não conta com os artistas mais renomados, porque eles têm mais informações e sabem que iria prejudicar as suas carreiras. Outros, mais jovens, no afã de aparecer, fazem toda espécie de sacrifícios e arranjam os CR$20 mil da taxa de inscrição para participar. São estes últimos que sustentam salões e exposições deste quilate.
Não estou aqui contra a União Nacional dos Artistas Plásticos, mas, sim, procurando ajudá-la para que os salões e exposições que venha promover no futuro sejam feitos dentro de critérios profissionais. Chega de amadorismo neste mercado já tão confuso, pela presença de indesejáveis. Alerto para os artistas de renome que exijam a reformulação deste e de outros salões sob pena de não participarem. Quanto ao Sr. Ubiratan Fernandes dos Santos, que representa a União Nacional de Artistas Plásticos, UNAP, e que vai promover no Othon Palace Hotel o tal Salão no próximo dia 31, precisa levar aos membros da UNAP estas palavras, que traduzem a verdade e a voz de muitos artistas que tiveram em contato com este colunista.

ARTISTAS SALVAM PAINEL DE GENARO DE CARVALHO
Os restauradores José Dirson Argolo e Selma Silveira Dannemann, do Atelier Argoloque estão realizando a restauração do painel de Genaro de Carvalho, no Hotel da Bahia, afirmaram que os trabalhos estão sendo feitos dentro "dos mais modernos princípios e técnicas de restauração”. O serviço está sendo realizado em ritmo acelerado, a fim de que esteja tudo pronto no final do mês de novembro, uma vez que o hotel será reinaugurado a 1.º de dezembro próximo.
José Dirson afirmou que o painel de Genaro “é de uma importância enorme para a arte baiana, pois pertence ao primeiro ciclo de murais modernos feitos em Salvador”. Ele lembra que o painel quando foi inaugurado, em 1950, “causou polêmica, pois as pessoas estavam acostumadas aos padrões estéticos da época e estranharam as formas de Genaro”.
O mural tem como tema os folguedos e as festas regionais da Bahia, medindo 200 metros quadrados, sendo 50 de comprimento por quatro de altura. Informa José Dirson que o painel foi executado a têmpera de ovo sobre parede, preparada com argamassa de areia de rio e cal virgem e permanece até hoje como o maior mural da Bahia e um dos maiores do Brasil em extensão pintada.

Genaro recortando para seus tapetes
HARMONIA

Disse ainda José Dirson que, apesar das críticas da época, “houve um mérito que ninguém conseguiu tirar: o painel harmonizava-se totalmente com a arquitetura do hotel”. Questionado sobre se esta harmonia continuará, em razão de algumas modificações estéticas realizadas no prédio do hotel, José Dirson disse que sim, porque as mudanças são externas e a arquitetura básica foi conservada.
O restaurador...disse ainda, que encontrou o painel totalmente coberto “por uma camada esbranquiçada de mofo,, o que é natural, considerando-se que o hotel ficou fechado cerca de 10 anos”. Informou também, que os trabalhos de restauração vão manter todas as características originais.
Aliás, disse José Dirson, a função da restauração moderna não é a de fazer com que a obra depois de restaurada pareça nova, mas sim que permaneça viva no tempo, com todas as características, inclusive aquela do envelhecimento natural (Alexandre Ferraz).

GILSON RODRIGUES ESTÁ EXPONDO NO MUSEU DO CACAU

Gilson Rodrigues, um dos mais conhecidos artistas plásticos da Bahia, inaugurou sexta-feira passada uma exposição com 20 de seus quadros, no Museu do Cacau, em Ilhéus. Segundo o artista, a exposição que faz na cidade de Gabriela é uma continuação de Retalhos e um Pedaço, que fez em 73, em Salvador.
Os temas são quase os mesmos, a vida quotidiana da Bahia, o mar, os morros, as ruas, e, principalmente, os quintais, sempre tão repletos de árvores frutíferas.
Nessa exposição, a bananeira entra como elemento novo n ilustração de seu trabalho. Recentemente, Gilson fez uma exposição de seus trabalhos no Hotel Quatro Rodas, apresentando esses mesmos temas, que tem se constituído numa de suas paixões mais fortes.
“É difícil falar do trabalho, é bom que as pessoas possam ver e emitir uma opinião”, explica o artista para justificar a falta de uma explicação muito demorada sobre o trabalho que fez. Cenógrafos dos mais conceituados nos meios artísticos baianos, Gilson Rodrigues não se limita a espaços, por isso vai levando seu trabalho ao teatro e á dança, sem deixar de fazer seus quadro em acrílico sobre tela.
Aproveita o domínio da cor para bem utilizá-la nas peças que constrói para os espetáculos  com sua marca na cenografia: bolero, de Ravel e Branca de Neve e os Sete Anões, ambos para a Academia Baiana de Balé. O povo ilheeense deverá conhecer a obra de um artista honestamente fincada nas raízes da tradição baiana.



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