segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

GERAÇÃO 70 - 1.ª MOSTRA - 01 DE JUNHO DE 1985.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 01 DE JUNHO DE 1985.

         GERAÇÃO 70 - 1.ª MOSTRA 
Os artistas Flori , Justino Marinho, Murilo,Zivé Giudice,Bel Borba,Guache e este colunista .
Como vinha prometendo, que logo que tivesse a definição dos nomes que participarão desta primeira mostra da Geração 70, eu os traria a público, chegou o dia. São eles: Murilo, Zivé Giudice, Justino Marino, Fred Schaeppi, Guache, Fiori, Astor Lima, Chico Diabo, Bel Borba e Maso.
Aguardo apenas a confirmação esta semana dos nomes que vão compor a performance para que possa também divulgá-los. As fotos do catálogo foram feitas por Arestides Baptista e o programador visual é Washigton Falcão.
Tudo está caminhando dentro do que nos propomos a realizar e espero que os artistas convidados, realmente, façam jus com a qualidade de seus trabalhos e esta escolha que representa uma seleção e uma saída na frente.
Também apresento uma novidade no título deste artigo com o acréscimo da expressão 1ª mostra. Sim, esta é a primeira de uma série que deve acontecer por aí, enfocando outros aspectos da Geração 70, que tem uma cabeça inesgotável de questionamentos e nomes a serem guinados, a serem expostos com muita qualificação. É verdade também que, mesmo tendo iniciado a trabalhar por este período, existem pessoas desqualificadas e sem talento que continuam insistindo sem muitas chances. Isto via de regra acontece em todas as profissões e geralmente essas pessoas continuam insistindo porque são vítimas dos falsos elogios.
Por falar em elogio, sempre tenho dito por aí que o papel da crítica é muito discutido e muito questionado. Quando um critico, por exemplo, tece comentários satisfatórios acerca da obra de um artista, para valorizar o elogio ou o reconhecimento que recebeu, este artista enaltece as qualidades do critico. Quando, o contrário, o critico tece considerações e faz algumas restrições, o artista passa a tentar diminuir as qualificações do critico. Isto de certa forma é compreensível porque todos somos vaidosos e gostamos do elogio, mesmo aqueles que insistentemente negam que não gostam de serem elogiados.
Tive com a presença deste grupo de artistas uma surpresa agradável. Depois das marchas e contramarchas o encontro entre eles me surpreendeu. Porque, se havia algumas restrições entre eles sobre o trabalho de um ou de outro no momento que os trabalhos foram apresentados para serem fotografados, as dúvidas e restrições caíram por terra.
Ouvi expressões e palavras de satisfação entre eles. O gelo quebrou-se. Esta mostra servirá também como uma tentativa de aproximação entre alguns artistas que estavam eqüidistantes.
Quero esclarecer que não me proponho a liderar coisa alguma. Gosto muito da espontaneidade do relacionamento e que, também, ninguém quer dirigir ninguém. Embora entenda que algumas pessoas ainda precisam de amadurecer, porque estão mordidas pela mosca azul da auto-suficiência e da independência ou da liberdade absoluta. Posições evidentemente utópicas, passageiras, as quais serão revistas e reavaliadas com o decorrer do tempo.
Mas todo este questionamento faz parte do universo humano. Especialmente quando estão agrupadas pessoas de sensibilidades aguçadas e que carregam dentro de si uma quantidade de informações variadas. Portanto, reagem diferentemente a cada estímulo, e de quando em vez algumas reações destoam.
Pretendo mais próximo da exposição tecer algumas opiniões sobre o trabalho de cada artista. Um pequeno depoimento de como vejo a obra dentro do contexto da arte baiana. Não faço agora para não precipitar as coisas, porque a exposição deverá ser aberta ainda no próximo dia 25 de julho.
Recebi alguns telefonemas de artistas, solicitando que sugerisse a organização de uma exposição de primitivos. Que fossem escolhidos uns 10 ou mais primitivos baianos e que reunidos num catálogo exprimissem a grandiosidade desta manifestação. Depois de João Alves realmente as galerias tem dado pouco espaço aos primitivos. Fica aí a sugestão para a Fundação Cultural expor, através de um de seus museus, os primitivos baianos evidente fazendo uma pré-seleção porque tem muita coisa ruim nesta área.
     Os artistas Maso, Chico Diabo , Astor Lima e Fred Schaeppi integrantes da Geração 70.
                    
                       UMA PROGRAMAÇÃO QUE PROMETE

Entre as várias correspondências que tenho recebido acerca da exposição Geração 70 - a 1ª Mostra me chamou a atenção duas delas. A primeira, do Coordenador dos Museus, Heitor Reis, expressa com a fidalguia que lhe é peculiar. Ele expressa a confiança na realização da exposição e esclarece aos que tinham dúvidas de que “a intenção da Fundação Cultural quando lhe confiou a curadoria era a escolha de 10 artistas emergentes para a realização de uma exposição coletiva”. E ressalva quanto à afirmação de alguns mais precipitados de que “o órgão estaria usando o colunista para arregimentar artistas que normalmente estariam numa postura crítica em relação à política cultural”, não procede porque nunca foi o posicionamento da Fundação Cultural e você tem razão quando diz que perderam tempo os que fizeram esta afirmação.
Diz ainda que a “posição da Fundação Cultural coincide com a sua afirmação de não estar preocupada em agradar nenhum segmento e não toma conhecimento e nem apóia nenhuma “panelinha”. E continua dizendo, “mesmo porque tem sido uma constante expressa por vários meios de comunicação a posição da Dr.ª Olívia Gomes Barradas, presidenta da Fundação Cultural, contrária a qualquer espécie de paternalismos. Aproveitando a oportunidade temos a divulgar que a Fundação Cultural produz os seus projetos e está aberta a analisar qualquer projeto cultural apresentado por artista ou grupos de artistas.
Portanto a disposição do órgão é a organização de exposições contínuas e de caráter cultural ou didático, ocupando os espaços geridos pela Fundação Cultura, tendo preferência- segundo me informa Heitor Reis- “mostras coletivas e individuais de artista emergentes da Bahia.
Heitor Reis e o artista Calasans Neto
Revela ainda que “os outros projetos que pretendemos realizar na área das Artes Plásticas são: uma sala de arte contemporânea no átrio do Teatro Castro Alves; a continuidade do Concurso de Projetos;  a instalação de um Centro de Referência de Identidade Cultural que abrangerá um Museu de Arte Popular; exposições de artistas com notoriedade nacional que viriam acompanhados de um crítico de arte para palestras e debates e mais alguns que serão divulgados no devido tempo”. Realmente, a programação proposta é significativa e espero ver tudo isto realizado em benefício do próprio movimento cultural baiano.
Porém, ao lado destas considerações e informações valiosas provindas de Heitor Reis, recebi uma carta com texto bem mais curto e não menos valiosa de Calasans Neto. Diz Calá que a Geração 70 sob sua batuta fico tranqüilo. Espero que dêem a você os meios ‘materiais’ para levar o barco. Critério, isto você tem de sobra. Do seu amigo, Calasans Neto..
São estas manifestações que nos levam a tentar realizar as coisas. Não que o colunista só goste de apoio e elogio.Nada disto! Mas, como a realização é sempre espinhosa, principalmente quando existe seleção, então é preciso também que a gente cultive as manifestações de apoio para contrabalançá-las com as de críticas e àquelas veladas, que, às vezes, a gente nem toma conhecimento, mas que existem e são fortes.

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