domingo, 9 de dezembro de 2012

ALMIRO BORGES REVIVE A POESIA DA MARIA- FUMAÇA - 03 DE DEZEMBRO DE 1984


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 03 DE DEZEMBRO DE 1984

ALMIRO BORGES REVIVE A POESIA DA MARIA-FUMAÇA

O pintor Almiro Borges ao lado de uma tela onde ele retrata a  Maria-Fumaça numa estação.
 O trem é uma marca saudosa na vida de muitos brasileiros. Uma marca que, inexplicavelmente, não está presente na vivência das novas gerações porque simplesmente as nossas ferrovias estão sendo desativadas ao invés de ampliadas, como acontece em todo o mundo civilizado. O Brasil optou pela solução mais cara e inviável que é a rodovia.
Questão de estilo e burrice dos nossos administradores. Mas fico contente quando vejo que esta marca permanece viva no pensamento daquelas pessoas mais sensíveis. É o caso do artista Almiro Borges, que reside entre Salvador e Alagoinhas. É exatamente em Santa Luzia, hoje, município de Santa Luz, que ele manteve quando criança um contato mais forte e íntimo com a Maria-Fumaça. Seus tios e irmão eram ajustadores e maquinistas da Leste Brasileiro da década de 30.
Com eles Almiro viajou muito de Alagoinhas para a localidade de Santa Luzia.O combustível era a lenha e a água que se transformavam em vapor e movia as caldeiras da Maria-Fumaça. De infância humilde, Almiro relembra o duro danado que dava para sobreviver com sua mãe viúva cavando manganês para vender uma lata por 500 réis.
Aos nove anos de idade rabiscava com carvão as calçadas de cimento e até as paredes de sua casa desenhando os trens que passavam apitando por sua terra natal. Aos poucos seus desenhos tornaram-se conhecidos por moradores da localidade, e o então prefeito de Santa Luz, José Marques da Silva, sensibilizado com o seu talento, lhe propôs trazê-lo para Salvador a fim de estudar na Escola de Belas Artes. Na época, seus parentes discordaram da idéia, e Almiro Borges teve que continuar ganhando a vida de outras formas. Em 1947 retornou a Alagoinhas e aí trabalhou de pintor de paredes, operador de cinema, cenógrafo dos frades capuchinhos, vendedor de laranjas e foi ajudante de caminhão em Alagoinhas, Nova Soure, Caldas de Cipó e Ribeira do Pombal.
Mas a arte era mais forte! Seu talento permanecia á espera de uma oportunidade. Em 1957, Almiro Borges pinta suas primeiras telas enfocando os trens. Uma dessas telas foi adquirida por 36 mil rés por Ernani Barbosa para presentear o diretor da empresa que residia em Periperi. Logo depois foi convidado para pintar alguns painéis e telas. Inclusive o atual prefeito Judélio Carmo, na sua primeira administração, convocou o artista para elaborar alguns painéis.
Vejo a fase de Alagados e casarios. Mas, a grande vocação de Almiro é retratar a Maria-Fumaça.
Convicto ele diz. “Estou certo, as que pinto são autênticas. Convivi com elas. Viajei muito nelas e ás vezes até ajudava a botar lenha na fornalha para ver a bicha correr solta em cima dos trilhos”.
Obra onde Almiro pintou outra Maria-Fumaça
Agora Almiro Borges está ultimando a exposição que fará no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, a partir do dia 5, quando mostrará 25 telas onde as Marias-Fumaça estão correndo soltas nos trilhos. Os trabalhos de Almiro nos fazem retornar num passe de mágica áqueles tempos vividos na infância. As pequenas estações, que funcionam como centro das novidades, as despedidas dos que iam viajar ou o encontro dos que chegavam da capital com as novidades. O apito funcionava como um chamamento e as pessoas, especialmente as crianças e os velhos, já sabiam os horários e aguardavam com alegria e ansiedade aqueles momentos. O apito ficou gravado nos ouvidos de Almiro Borges e principalmente, aquelas imagens belas, com a Maria-Fumaça deixando para trás o seu rastro no céu, levando e trazendo as pessoas queridas. Esta exposição é como uma volta a um tempo de lembranças.
As cores e a figuração utilizadas por Almiro nos dão todo aquele clima que muitos de nós vivemos na infância. É uma exposição que nos dá prazer de examinar cada quadro, nos traz lembranças e saudades.
Se você gosta de lembranças, se o trem lhe traz recordações, não deixe de visitar a mostra de Almiro. Se você não teve a oportunidade de conhecer e viajar numa Maria-Fumaça vá até o Museu de Arte que poderá por alguns instantes realizar este sonho.

EXPOSIÇÃO DE DESENHOS E GRAVURAS DE 18 ARTISTAS

Serigrafia de
 Floriano Teixeira
Uma exposição de desenhos e gravuras de 18 artistas baianos será aberta no próximo dia 7, na Mab Galeria de Arte, localizada na Pituba. Esta exposição merece ser vistas por todos aqueles que gostam de arte, além de ser uma oportunidade rara de você adquirir um trabalho de artistas consagrados a preços acessíveis.Como estamos próximos do Natal, um trabalho de arte é uma boa opção para presentear.
Desenho de Mário Cravo Júnior
Para Mário Cravo esta mostra também tem outro aspecto que deve ser ressaltado, ou seja os artistas plásticos, pintores e escultores constantemente atuam nas técnicas do desenho e da gravura, como também acontece com os gravadores profissionais que por muitos anos atuaram no campo da pintura e da escultura. Daí outro elemento que deve despertar interesse.
Acrescento ainda a esta observação de Mário que é uma oportunidade de divulgar o trabalho de arte que utiliza o papel como suporte. Os menos avisados ou desinformados costumam rejeitar ou fazer restrições ao trabalho de arte em papel sob e falsa visão de que é muito frágil. Isto é uma grande inverdade e para comprovar basta a gente lembrar dos desenhos de Leonardo Da Vinci e dos mapas e anotações existentes feitos á séculos.
Gravura de Calasans Neto
A gravura, por exemplo, começa a adquirir notoriedade, lembra Mário Cravo, “a partir do século XV, como instrumento de difusão das artes de impressão de textos e livros de um modo geral. No universo das artes Visuais não me parece existir nenhum elemento que qualifique uma técnica superior a outra. No reino da criação tanto vale um gesto criador sobre o papel quanto no mármore ou bronze”. E continua Mário afirmando “que a idéia, a invenção, a descoberta, o achado, o encontro, estes sim, são as referências que definem com maior clareza o fenômeno criador”.
No seu critério de avaliação, Mário diz que um dos mais importantes artistas plásticos deste País, neste século, chama-se Oswaldo Goeldi. Era exatamente gravador e desenhista.
Participarão da exposição os artistas Bel Borba, Calasans Neto, Carlos Bastos, Carybé, Floriano Teixeira, Guta Gomenech, Jussara, Jorge Cravo, Justino Marinho, Mário Cravo Júnior, Maria Adair, Murilo, Sante Scaldaferri, Sérgio Rabinovitz, Yedamaria, dentre outros.

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