quinta-feira, 15 de novembro de 2012

WASHINGTON SALES BRINCA COM SUAS BONECAS MÁGICAS - 16 DE JUNHO DE 1986.

JORNAL A TARDE, SALVADOR, 16 DE JUNHO DE 1986.

WASHINGTON SALES BRINCA COM SUAS BONECAS MÁGICAS

O artista baiano Washington Sales mostra o seu lirismo plástico com suas alegres bonecas.
A boneca é a companheira, a irmã ou amiga. Os meninos e meninas de todo mundo gostam de brincar com bonecas e muitos adultos as guardam com carinho ou as colecionam. As bonecas preenchem as fantasias, as alegrias e a solidão. É também uma válvula de escape para os sentimentos infantis de mágoa, raiva ou outras emoções, quando as crianças se apegam às bonecas ou as maltratam dando tapinhas ou atiçando longe.
Detalhe do quadro Maternidade
Dizem que elas começaram a existir, como as conhecemos hoje, por volta do século XVIII, embora as imagens de épocas anteriores tragam as características que nos permitem identificá-las com as de hoje. E, aos artistas fazem suas imagens com cara de gente, mas muito parecidas com as antigas bonecas de louça. Portanto, as bonecas exercem um fascínio e possuem uma mágica própria que gira em torno de nossas fantasias. Mas existe aqui na Bahia um adulto que brinca com as bonecas. Uma pessoa sensível que dedica sua vida criatividade artística para enaltecê-las, para colocá-las nas mais variadas situações, dando-lhes um colorido especial. Esta pessoa é o artista Washington Sales o “mago das bonecas”. Ele ri e chora com elas, passeia com suas amigas e as introduz nas casas chics dos colecionadores, nas galerias e nos museus. Como um verdadeiro pai, as encaminham para uma vida melhor. E suas bonecas têm características especiais: elas não crescem, não se tornam adultas e nem envelhecem. Passam através do tempo demonstrando aquele lirismo, aquela graça que somente uma criança ou uma boneca conseguem.
Particularmente não brinquei de bonecas quando garoto. Mas, hoje tenho duas bonecas feitas por Washington Sales que vieram preencher esta lacuna da minha infância. Uma branca e uma negra. Integradas e alegres, elas conseguem em meio a tantas outras figuras e abstratos chamar a atenção de todos aqueles que têm oportunidade de apreciá-las.
O lúdico de Washington Sales são as suas bonecas em momentos de festas com bolas de soprar, refrigerantes, línguas-de-sogra, bolos e corre-corre nos playgrounds.
Um artista que cuida das coisas simples e a beleza e a magia surgem exatamente das coisas simples exatamente das coisas simples e que não são queridas.
Quem não se lembra dos seus aniversários quando era criança?
Dos coleguinhas que vinham e da satisfação em abrir os embrulhos com os presentes: Quanta surpresa! São tempos que não voltam mais, porém, a gente tem o consolo de sentir esta alegria olhando os filhos, sobrinhos ou até netos.
É neste mundo mágico que gravita a arte de Washington Sales, esta pessoa sensível que é capaz de se emocionar com grande facilidade, e de envolver seus amigos.
Agora mesmo alguns quadros foram pintados por ele e outros artistas. O primeiro que ilustra o catálogo desta exposição que fará a partir do dia 19 na Época Galeria de Arte intitulado “Ontem à noite” tem uma tela ao fundo integrando o seu trabalho com uma figura que foi pintada por Carybé e outra por José Cláudio, do Recife.
Entre as 25 telas que vai expor, Washington chama ainda atenção para uma chamada de “A Casa do Colecionador”, que foi inspirada num compartimento da residência do professor Carlos Eduardo da Rocha. O quadro mostra uma mesa com alguns objetos de arte e nas paredes laterais telas que serão pintadas por Fernando Coelho, Zivé Giudice e César Romero. O quadro tem 1,55cm por 1,25cm. Aliás, todos os quadros que serão expostos têm cerca de um metro em diante. Evidente que ele não é nenhum vanguadista.
Aliás, ele tem uma posição filmada sobre a vanguarda, principalmente sobre seu lado perecível. Embora ressalte que nada tem contra aqueles que fazem trabalhos de vanguarda, mas prefere o seu lirismo e o jogo lúdico de suas bonecas.

                  O HIPER-REALISMO DE BEL BORBA
O artista Bel Borba envolvido na sua atmosfera hiper-realista que ele criou
O hiper-realismo explode por toda a parte. Nas bienais e nas galerias mais sofisticadas das grandes metrópoles você encontra centenas de artistas se expressando desta forma. E há algum tempo que venho observando que Bel Borba também caminhava nesta direção usando com maestria o seu aerógrafo. Os pássaros metálicos com seus bicos geométricos deram lugar a elementos novos que permitem o surgimento de momentos definidos numa atmosfera hiper-realista.
Desde o início de sua carreira na década de 70 que Bel Borba vem criando uma atmosfera própria, que veio desaguar no hiper-realismo, porque ele nunca se contentou em passar para suas telas o que via ao seu redor. Sempre procurava acrescentar novos elementos e transportá-los para outras paragens criando atmosferas as mais diversas para que suas figuras pudessem sentir-se mais à vontade. Porém, não podemos ver esta manifestação como uma simples ousadia de um jovem artista, mas sim como uma chegada triunfante, como uma passada firme de alguém que domina a técnica e que transborda em criatividade. Agora com os elementos não-formais, com os espaços largos e fios que se cruzam em várias direções Bel Borba tece calmamente o seu mundo como uma aranha teimosa e paciente faz a sua tela. É a própria atmosfera de um tempo que passa enfeitado por luzes de cores mais variadas e que é documentado em fitas magnéticas capazes de extasiar milhões de pessoas. Bel é deste tempo e sua arte é o reflexo desta juventude que se exprime numa Salete barulhenta e super-iluminada e que explode em alegria na noite para dormir durante o dia.É a arte deste tempo de incerteza que aerograficamente trafega entre luzes e retas.







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