sexta-feira, 9 de novembro de 2012

VINTE ANOS DE FOTOGRAFIA REUNINDO 42 PROFISSIONAIS - 20 DE OUTUBRO DE 1986


JORNAL A TARDE SALVADOR, 20 DE OUTUBRO DE 1986.

VINTE ANOS DE FOTOGRAFIA REUNINDO 42 PROFISSIONAIS

Uma iniciativa que merece aplausos a do Núcleo de Arte do Desenbanco em promover uma exposição de fotografia reunindo 42 profissionais que enfocaram, com suas lentes, situações, objetos e paisagens as mais diversas. Predomina a figura humana com toda a sua expressividade. Porém, acho que deveria ter havido uma melhor seleção porque no meio de fotos excelentes encontrei algumas muito comuns, sem maior grandeza de técnica e expressão. Fotos que foram feitas, algumas, por profissionais de reconhecido talento, mas, parece que escolheram sem muito critério o que iam expor.
Não se trata de uma retrospectiva e sim de um levantamento dos trabalhos produzidos por alguns dos mais inventivos profissionais que surgiram nas duas últimas décadas e a mostra integra os 20 anos da instituição promotora do evento.
Foto de Arestides Baptista do meu amigo e saudoso mestre Pastinha jogando sua Capoeira de Angola.
Um dado muito positivo foi a homenagem prestada a quatro fotógrafos que atuaram antes deste período:
Vavá, o homem que documenta a socialite baiana há algumas décadas; Voltaire Fraga; o arquiteto-fotógrafo Sílvio Robatto e o nosso querido Anízio Carvalho, um homem que tem presença assegurada na história da imprensa baiana. Anízio é uma lição viva para aqueles profissionais da fotografia que começam, pela sua simplicidade e sagacidade. Quando vejo alguns que mal sabem segurar uma câmara se arvorando de “grandes profissionais” penso em Anízio Carvalho, em Romualdo Bahiense, Djalma Carvalho e no Zé Cavalvanti. Digo aos iniciantes que procurem conhecer a obra desta gente e tenham mais humildade e procurem trabalhar cada vez mais. Informa a organizadora Maria Sampaio que procurou valorizar o trabalho cotidiano dos profissionais no seu dia-a-dia.
Vale a iniciativa porque é um grande painel de estilos e tendências com temas muito variados e alguns até banais. Aplausos para o catálogo que tem a coordenação visual de Washington Falcão.

         ADAUTO MACHADO EXPÕE 20 TELAS

Ao abrir o catálogo lembrei-me do velho e saudoso Teruz. Os cavalos em disparada e ao fundo as manchas amareladas e avermelhadas do firmamento. São imagens como esta, cheias de poesia, que estão reunidas em 20 quadros onde o artista sergipano Adauto enfoca poeticamente a paisagem sergipana. Morei muitos anos em Sergipe, exatamente numa cidadezinha chamada Riachão do Dantas, a qual revi à pouco tempo, e continua pequenina e inexpressiva do mesmo jeito. A exposição é na Ludus Artis Galeria, em Aracaju, e traz no catálogo a apresentação de Walmir Ayala, que destaca a luminosidade e a simplicidade das composições.
Evidente que no decorrer do tempo estas composições tendem a ganhar mais força, porém, destaco as grandes manchas onde o horizonte se destaca.
O crítico carioca lembrou os versos da Cecília Meirelles: “Eu canto porque o instante existe/ e minha vida está completa”. Certamente, que a vida de Adauto não está completa, está se completando a cada instante e desejo que ele continue com seus cavalos cavalgando as belas paisagens sergipanas, vencendo os prados e suaves montanhas. Que explode outras temáticas, e que as composições ganhem novos elementos plásticos.

             IMAGENS DO UNIVERSO DE CELUQUE

Suas telas exprimem imagens que se multiplicam aos milhões nas áreas insondáveis das galáxias. Uma arte que alguns classificariam de realismo científico, porque se assemelha a movimentos ou reflexos de astros ou lembram as moléculas que surgem nos microscópios e as cédulas que se movimentam, depois de coloridas, por um investigador. É uma arte nova, embora já tenhamos visto nos livros e revistas científicas imagens semelhantes, mas as de Celuque são criadas dentro de sua visão e emoção. O colorido é exuberante e nos dá uma ideia muito forte da pequenez do homem diante da grandeza do Universo. Do ponto de vista estético as telas são muito agradáveis aos olhos e nos dão ideia que Celuque se apossou de um grande telescópio e passou a gravar num papel fotográfico as imagens coloridas das galáxias. São estrelas que nascem, que se movimentam, que explodem e que mudam de cores de acordo com os reflexos de outros astros. Diria que é uma mistura de ciência e arte, onde os limites inexistem em sua obra. Celuque trocou o pincel e passou a vasculhar os céus com seu telescópio eletrônico e captou aquilo que mais o sensibilizou, aquilo que mais se identificou com o seu próprio universo de reconhecimento.
Neste contato entre o homem e o desconhecido surge a arte de Celuque.

     A GEOMETRIA DE UM PINTOR SEM ESTILO

Está expondo na Galeria do Aluno, na Escola de Belas Artes, Crispim, que deixou um tranqüilo cargo de Diretor de Arte de uma agência publicidade para trilhar o caminho da academia. “Sou um pintor sem estilo”, confessa o artista, que é mineiro de nascimento e traz uma obra marcada pelo geometrismo. O curioso é que dentro desta sua linguagem, ele introduz outros elementos como a Lua, o Sol, peixes e até figuras que lembram seres humanos. Mas, o que fica é a geometria das formas retas e ponteagudas. Elas sobressaem em cores fortes e alegres. Para Ivo Vellame, vindo das serras e dos montes de Minas Gerais, Crispim radicou-se na Bahia e viu o mar e encantou-se. Nas suas telas figuram barcos cujas velas invadem ousadas formas de peixes que interferem nas configurações dos barcos.



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