domingo, 11 de novembro de 2012

VIENA: 1900 REVELA COMO SENSUALISMO VENCEU TABUS - 11 DE AGOSTO DE 1986


JORNAL A TARDE SALVADOR, 11 DE AGOSTO, DE 1986.

VIENA: 1900, REVELA COMO SENSUALISMO VENCEU TABUS


Nova Iorque (UPI)- Uma mostra artística que provavelmente lidera a lista dos grandes eventos de verão nos Estados Unidos é a exposição Viena:1900, no Museu de Arte Moderna, que conta em detalhes como um novo sensualismo venceu velhos tabus no crepúsculo do império.
A capital austríaca na virada do século era uma combinação de pompa vazia emanada da corte do imperador Francisco José e do nervoso liberalismo ameaçado por crescente anti-semitismo, enquanto o fermento intelectual fomentava o espírito criativo de Sigmund Freud, Ludwig Wittengenstein, Theodor Herzi, Karl Kraus e Arnold Schoenberg.
Viena:1900 tem como centro as extraordinárias décadas entre 1898, quando a imperatriz Isabel foi assassinada por um anarquista, e 1918, que marcou a queda dos Habsburgos. É a primeira exposição de seu gênero nos Estados Unidos e consiste de 700 objetos.
Destaca-se na mostra uma série de telas de Gustave Klimt-, líder do movimento radical artístico, emprestadas pelo governo austríaco, que inicialmente relutou em cedê-las. A exposição vai até 21 de outubro.
 As principais personalidades em torno das quais gira a mostra são os artistas Klimt, Egon Schiele e Oscar  Kokoschka e os arquitetos  Otto Wagner, Joseph Hoffmann e Adolf Loos.
À diferença da maioria dos artistas europeus, os vienenses tinham olhos para o Oriente e pendor pelo requinte bizantino partilhado apenas pelos venezianos.
Retrato de Oscar Kokoschka 
Há também uma extensa série de objetos funcionais, desde aparelhos de chá e taças de vinho e carteiras de couro, confeccionados por artistas e projetistas do Wiener Wekstatte, fundado por Hoffmann e o projetista Koloman Moser, influenciado pelo movimento inglês de artes e ofícios.
O maior triunfo de Hoffmann em matéria de fusão harmoniosa de arquitetura, desenho interior e mobiliário, uma mansão em Bruxelas conhecida como Palais Stoclet, merece especial destaque devido a sua influência sobre o maior arquiteto dos Estados Unidos, Frank Lloyd Wright.
Para complementar a exposição, o Museu de Arte Moderna construiu um café vienense, situado num plano que domina o jardim de esculturas. Nesse inesperado café vienense, são servidas guloseimas folhadas e café em bandejas num modelo do Werkstatte.
Há também ali uma coleção de objetos de um café vienense projetado por Hoffmann, que poderia ser batizado por Richard Strauss com o nome de Kabarett Fledermaus.
O começo do século, os vienenses tentaram livrar-se do estilo arrebicado, mas o excesso de ornatos jamais foi completamente suprimido e voltou a impor-se em 1908.
Essa tendência está melhor representada nas mulheres eróticas, quase sempre do tipo fatal, de Klimt.
As figuras são dominadas por traços densos e as formas e o primeiro plano se fundem num desenho em duas dimensões que reluzem com aplicações douradas de brocado metálico.O estímulo sensorial daí resultante da obra de Klimt o impacto de um artista de grandes recursos, o que ele não foi.
No entanto, suas telas produzem imagens mentais tão fortes quanto aos dos antigos mestres, cujos temas por vezes Gustav Klimt copia(1862-19180) .
Schiele, que morreu aos 28 anos, estava menos interessado na forma do que no agressivo comentário sexual vinculado ao terror e ao sofrimento.
 Ele é um artista muito mais profundo que Klimt, e tela como Abraço, ( Foto ao lado) A Morte e a Moça  e Família transmitem um sentido de alta dramaticidade e compaixão.
Kokoschka, que morreu em 1980, é o artista vienense mais conhecido nos Estados Unidos. Foi um expressionista convencional cujos retratos ornamentados e torturados são fascinantes estudos psicológicos.
Os testemunhos, desenhos e fotos de obras de arquitetura, bem como os exemplos de decoração interior, vêm a ser uma mostra dentro da mostra.
A obra de Wagner combina a nova tecnologia com familiares construções despidas de ornatos. Loos referiu-se a suas fachadas planas como “janelas sem sobrancelhas”.

HOLOGRAFIA TEM MUSEU E ASSUSTA

Paris (AFP) Apóstolos da imagem total, os hológrafos parecem-se com membros de uma seita misteriosa, donos de poderes só ao alcance de seres excepcionais. Pelo menos é esta a impressão que produzem em seu reduto, no já famoso Fórum Dês Halles, onde está montado o Museu de Holografia.
Primeiro impacto sobre o não iniciado, o museu é uma proposta dinâmica que dá volta a todos os conceitos, como se as imagens que atingem o visitante fizessem parte do misterioso princípio que lhes dá origem: são algo como as fotos do vazio criado pela única existência dos objetos, que assim são representados pela omissão da imagem. Os que preferem simplificar costumam conformar-se com a aparência forma das holografias, espécies de foto em relevo onde formas e cores teimam em perseguir os intrusos.
Caçador-caçado, o observador vê-se preso e submetido a um conjunto de leis que escapam da sua compreensão, onde a aparência é estritamente contrária a tudo o que experimentou, e viu, até o momento. O fato de um olho implacável, que muda de ângulo e de cor em função de deslocamentos alheios, vigie permanentemente o visitante, é apenas um ingrediente a mais num mar de tranqüilidade
Atrás desta guinada fundamental está o laser, um elemento já comum da nova iconografia das ciências e técnicas atuais, palavra que define pela função (outra primícia) o aparelho capaz de “ampliar a luz por emissão estimulada da radiação”. Chave indispensável para abrir a caixa do futuro, situada no limiar de uma ciência que assume sem rodeios o papel principal do progresso (e também a quota de fantasia e de horror que lhe cabem) o laser é no entanto um artefato anódino, que só emite ondas luminosas coerentes e monocromáticas.
Certamente, que atrás do laser está o homem, que o aponta para uma nave espacial a fim de dar o primeiro passo de guerra nas estrelas, mas que também o usa para deslumbrar os seus semelhantes com a exploração de outros tipos de beleza. O Museu da Holografia, com a sua selva de imagens indescritíveis, mostra um deslumbrante caminho estético em cujo extremo estão amanhecer do futuro. Formas, cores e movimentos encarregam-se por si só de explicar este mundo alucinante; janela aberta sobre a geometria e a imaginação, a holografia, uma das aplicações do misterioso laser, simultaneamente raio da vida e da morte, invade também a imaginação do ser humano, até levá-lo a refletir sobre limites, destinos e naturezas.

ZALUAR ESCOLHE SERIGRAFIA PARA SOCIALIZAR SUA ARTE

O artista Abelardo Zaluar é um defensor da serigrafia. Ele diz que aderiu a serigrafia pela adequação da linguagem, uma técnica com dinâmica maior que a do quadro, já que, por ser uma edição seriada, pode estar presente em várias partes ao mesmo tempo. É uma técnica mais socializante da arte, no sentido de que mais pessoas podem ver e inclusive possuir a obra”. Zaluar, artista de renome internacional e professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que a serigrafia reflete sua pintura, seu trabalho com linguagem abstrata, construído ao longo de um extenso currículo durante grande parte dos 62 anos de vida.  Zaluar fala das vantagens da técnica da serigrafia.
Para Zaluar que esteve recentemente expondo em São João Del Rei, na Oficina de Aprofundamento, “o professor precisa, urgentemente, eliminar a ideia de ensinar”. Por isso mesmo, ele viu aquele festival como “um encontro, em que a relação professor aluno é a de troca de idéias, na qual o professor é o artista mais experiente e que nesse intercâmbio com os jovens, sai também com lucro”.
Mas o festival não é só um momento de se fazer cursos; é, muito mais, “uma oportunidade de balanço, de uma aferição dos rumos e tendências da arte no momento, momento este em que parece caber tudo. As linguagens estão sendo ressuscitadas, refundidas, no momento atual. Parece existir um desejo de fixar momentos do passado um pouco fugazes, de certas escolas da arte do século XX”.
 Os rumos, as tendências, o que é a arte brasileira contemporânea, como se situa esta arte dentro de uma cultura que ainda busca identificar-se, e, sobretudo, como fica o artista nisso tudo, as questões práticas.
Em 168, momentos tensos no País e sobretudo para quem militava em Diretório Acadêmico; para se distensionar, o mineiro Rubem Grilo, estudante de agronomia, ficava esculpindo com gilete umas cabeças em pedaços de caixote de maça. Daí começou um trabalho que hoje é exponencial na xilogravura brasileira. “Comecei a desenhar aos 23 anos, de maneira compulsiva; o trabalho com a arte, com a gravura, tem para mim um sentido de vida. Fazer xilogravura veio naturalmente; para mim, trabalhar com as mãos é importante para a cabeça”. Esse artistas sem formação acadêmica começou a mostrar seu trabalho por uma via pouco comum, a da imprensa. Ao lado uma bela serigrafia de Zaluar.
Colaborou com os principais jornais do país; “mesmo correndo o risco da perda de uma leitura mais específica em relação à obra”. Grilo considera o caminho da imprensa menos elitista, permitindo pelo menos que a obra atinja maior público, que mesmo assim “é muito pequeno em um país como o nosso”. A experiência com a imprensa levou o artista é uma objetividade e temática; assim, suas gravuras falam de questões relevantes para as pessoas.


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