quinta-feira, 22 de novembro de 2012

RECONHECIMENTO DA OBRA DE SANTE SCALDAFERRI -24 DE FEVEREIRO DE 1986.


JORNAL A TARDE , SALVADOR, 24 DE FEVEREIRO DE 1986.

RECONHECIMENTO DA OBRA DE SANTE SCALDAFERRI

O artista Sante Scaldaferri ao lado de dois quadros. O reconhecimento merecido está chegando
Leio com grande alegria nos jornais do sul do País que Sante Scaldaferri é um dos grandes vitoriosos do 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, que obteve o prêmio de aquisição quando, na opinião de muitos, deveria ter recebido o Prêmio Viagem ao Exterior. Isto me conforta por duas razões: primeiro, porque Sante é indiscutivelmente o artista baiano de sua geração que procura inovar, que procura dar a volta por cima, arriscando até muitos anos de criação e reconhecimento em busca de novos caminhos. Esta postura inovadora, fora dos modismos condenáveis, alimenta e tonifica a sua obra,; segundo, porque desde que ele surgiu com suas criaturas disformes mostrando aquele lado “ feio” das pessoas, aquele lado que nós escondemos por trás de civilidades e comportamentos estabelecidos, que venho aplaudindo.
Sante desnuda o homem e o coloca diante do espelho para que sinta as qualidades que esconde por trás da pele de cordeiro.Escrevi aqui várias vezes enaltecendo sua obra. Agora, fico mais contente ainda porque vejo confirmada a vitória de Sante e, conseqüentemente, também, estou alegre porque indiretamente, é também o reconhecimento do que escrevi sobre este artista que deve ser orgulho da Bahia.
Informa-me Sante que em setembro realizará duas exposições nas Itália. Uma na Galleria D’Arte Citá di Pontofino, outra na Cívica Galleria D’Arte Contemporânea, de Milão; outra em Nova Iorque, todas com curadoria de Daniele Crippa, um dos mais eficientes profissionais italianos.
Publico aqui alguns trechos de Ferreira Gullar, da revista Isto É; Frederico de Morais, do jornal O Globo, e Walmir Ayala, do Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro.
Veja o que diz Walmir Ayala:

SCALDAFERRI , BOAS VINDAS .
Um dos grandes vitoriosos do 8º Salão Nacional de Artes Plásticas foi o baiano Sante Scaldaferri. Obteve um Prêmio de Aquisição quando, na opinião de muitos, deveria ter recebido o Prêmio Viagem ao Exterior.
Mas Scaldaferri não é da “panelinha” protegida pelo júri, nem é parente dos cabos eleitorais dos mesmos, não é aluno das escolinhas que os melhores amigos  do júri orientam, nem é tão rico que possa convencer o júri a lhe conceder as honrarias curriculares, mesmo que sob a imagem cabal da injustiça. Sante Scaldaferri é apenas um grande pintor, um dos maiores do País, e isto conta muito pouco no atual estágio do Salão. A voz de protesto que se vem avolumando, se ramificando em vários espaços especializados do Rio de Janeiro, parece não chegar aos ouvidos dos maiores responsáveis por esta opereta, como o chargista Ziraldo Alves Pinto e o próprio Ministro Aluísio Pimenta.
Mas voltemos à Scaldaferri. Não tendo obtido o Prêmio Viagem ao Exterior, juntou suas economias e realizou uma modesta viagem à Europa. De volta, nos comunica que vai realizar um painel para a nova sede da Bahiatursa, no Palácio da Aclamação. Foi-lhe proposta ainda, que uma colecionadora francesa, quer uma nova versão de Guernica. Já tem propostas para aquisição dos quadros do Salão N
acional de Artes Plásticas e dos que expôs na Bienal de São Paulo. Considerando que Scaldaferri não faz concessão, nem á moda nem ao decorativismo, este, consumo inteligente e crescente é de se aplaudir. Honra mais o colecionador do que o próprio artista.
Um trecho do artista de Frederico de Morais de O Globo, que foi ilustrado com a obra O Namoro, de Sante, com esta legenda: Pintura de Sante Scaldaferri, artista baiano que trata de assuntos nossos, locais, em linguagem internacional.
Eis o trecho do texto:
“As obras dos 20 artistas que receberam prêmios aquisitivos no 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, encerrado no último domingo, estarão expostas na Galeria Sérgio Milliet, na Funarte. O Salão foi muito malhado pela crítica especializada e, na opinião deste colunista, os prêmios de viagem foram equivocados. Contudo, algumas das melhores presenças do salão foram contempladas com a aquisição de suas obras. É o caso dos cuiabanos Adir Sodré e Nilson Pimenta, o primeiro com obra deliciosamente erótica; dos desenhistas mineiros Castaño, Glaura Pereira e Isaura Pena; dos paulistas Fábio Miguez e Rodrigo Andrade, do grupo Casa 7 e, Sobretudo, do baiano Sante Scaldaferri, tratando de assuntos nossos, locais, em linguagem moderna e internacional. As aquisições confirmaram a tendência do júri de privilegiar sobretudo a pintura”.
E o que disse Ferreira Gullar:
“As manifestações arrojadas ou supostamente arrojadas, freqüentes nos salões anteriores, foram escasseando, e neste já não existem, a não ser uma ou outra obra que soa defasada. Mesmo fazendo quadro sem moldura e sem chassi, o pessoal voltou a pintar no retângulo e em grande formato. Gasta muita tinta e dizem pouco. É em geral uma pintura suja, opaca, que não se abre para nada:
Sem espírito de um novo tipo de formalismo ou de academicismo. Arte sem vitalidade, sem poesia, é coisa morta, acadêmica. Não é imprescindível pintar tachos brilhando para ser acadêmico. Há muito academicismo disfarçado de vanguardismo. A retórica do grande formato pode ser ilusória; tem mais valor um pequeno quadro bem pintado, desde que nele haja alguma manifestação que nos toca.
É, por isso, um alívio, quando agente defronta, nesse salão, com os quadros de Sante Scaldaferi, por exemplo, onde há domínio da técnica pictórica e riqueza de expressão, uma expressão que bebe nas fontes populares mas não se rende ao popularesco”.

LEONEL MATTOS FARÁ UMA NOVA MOSTRA EM SÃO PAULO



O destemido Leonel Mattos está distribuindo o catálogo de uma exposição individual, que fará, agora, em março na Galeria Paulo Prado, em São Paulo, com apresentação do crítico Olney Kruze. Ele faz uma saudação a Leonel falando de sua pintura como “fascinate”, perturbadora, bela e extravagante..- Evidente que as mensagens inseridas na figuração de Leonel deixam perplexas todas àquelas pessoas que não  acompanharam de perto a sua trajetória. Realmente não fico perplexo, porque sei do potencial criativo que tem Leonel e conheço as suas inquietações. Sua pintura é acima de tudo impulsiva e retrata a agilidade do seu pensamento. É aí que está o motor de sua febril vontade de criar, porque ele tem um grande poder de inventividade. Lembro da influência exercida pelos trabalhadores rurais e os pescadores da Ilha de Itaparica, dos cajus e outras frutas silvestres, em sua obra, e que ele tanto explorou em trabalhos anteriores. Leonel vibra que aquilo que toca de perto de seus sentimentos, e é capaz de manter um discurso, evidente, fora dos limites das cátedras ou do clássico, mas com aquela garra de um entusiasta. O colorido é forte e casado com a própria figuração que pega desprevenidas algumas pessoas.
Desta série de trabalhos, que mostrará na Galeria Paulo, Prado consta esta tela que ele chama de “Relógio da Metrópole” (que reproduzo), onde faz uma relação entre o relógio, que marca o tempo e as pessoas enfrentando as caóticas fitas do metrô ou dos ônibus. Nos mostradores, ao invés dos ponteiros, aparecem situações de pontos de transporte coletivo e, no alto, a cabeça de um homem, que anda sobre duas frágeis rodinhas. Este é um resumo da inquietação e da criatividade deste baiano que começa a despontar no Sul do País.

   BAHIA VISTA PELO CHILENO GONZALO CÁRCAMO

Vinte e cinco aquarelas do artista chileno Gonzalo Cárcamo estão sendo apresentadas na galeria do Hotel Méridien. Ele fala da escolha desta técnica (aquarela), porque lhe permite a leveza, embora exija soluções muito rápidas, devido à sua secagem quase instantânea. Isto o estimula obrigando-o a um diálogo constante com o trabalho no momento que está realizando.
Gonzalo está encantado, como qualquer visitante que aqui desembarca, com a luminosidade baiana e “principalmente quando esta luz incide sobre a arquitetura, que quase não respira, ela não se interrompe, apenas se contorce com suas ruas estreitas, verdadeiros labirintos ondulantes, as escadarias intermináveis conduzem ao céu. Toda esta magia combina harmoniosamente com o jingado baiano”.
Lembra ainda Gonzalo que sua exposição “não é um registro da Bahia em sua magnitude, e sim momentos que, com certeza, são relevantes na vida de Salvador, momentos que todo mundo que mora aqui está acostumado. Mas, fica aqui a minha impressão mais espontânea e singela do que me apaixona na Bahia.





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