domingo, 25 de novembro de 2012

RAMIRO FIXA NAS GRAVURAS SEUS MOMENTOS PSÍQUICOS - 26 DE MARÇO DE 1984.


JORNAL A TARDE , SALVADOR, 26 DE MARÇO DE 1984.

RAMIRO FIXA NAS GRAVURAS SEUS MOMENTOS PSÍQUICOS


O artista Ramiro ao lado de uma gravura de sua autoria, durante sua exposição na Galeria MAB.
As gravuras expostas na Galeria MAB, de Ramiro Bernabó, são expressões fixadas em composições que nos revelam momentos psíquicos. São trabalhos por vezes difíceis de uma leitura mais apressada. É preciso vê-los com calma descobrindo os muitos elementos que os integram.
A obra de Ramiro é uma busca constante, uma demonstração da cobrança cotidiana que ele faz de si próprio. São muitos questionamentos, inclusive, sobre o papel do artista numa sociedade onde ele enxerga grandes desníveis e outras necessidades mais urgentes, e também, sobre a função da arte. Ramiro não está preocupado simplesmente com a parte técnica ou estética do seu trabalho. Deseja o reconhecimento público da sua obra, mas que aconteça como uma coisa natural, e tendo por base a qualidade.
É preciso que o artista carrega consigo um grande peso por ser filho de artista famoso e ter escolhido a mesma profissão do pai. Aliás, isto tem provocado muitos problemas em jovens filhos de pessoas famosas, porque a sociedade passa a fazer cobranças e exigências absurdas. Muitos inclusive têm renegado sua própria paternidade ou maternidade procurando um distanciamento da família.
Ramiro tem uma grande virtude. Embora seja filho de Carybé, que é um artista consagrado, e que tem um estilo inconfundível e forte,não sofreu influência de seu pai. Ao contrário, seu trabalho segue por outro caminho e não existe qualquer relacionamento quer seja no traço, temática ou técnica. Ramiro, embora carregue consigo alguns problemas existências, procura superá-los através de sua arte que tem a marca de sua própria personalidade. Ao meu ver, este é um dado importante, porque está buscando a sua própria identidade artística.
Como disse acima, é difícil ser reconhecido profissionalmente quando já se tem um pai famoso.Mas, perto de nós está o exemplo dos Cravo.Mariozinho, o fotógrafo, é tão reconhecido no mercado de arte quanto seu pai,. Mário, o escultor. E isto vem demonstrar que Ramiro pode, e certamente será reconhecido se continuar insistindo e trabalhando com afinco em suas gravuras. Os obstáculos, quer sejam de mercado e de técnica, serão superados, porque posso afiançar, que não lhe falta talento.
Ele ainda está descobrindo materiais para o seu trabalho artístico. Tem uma preocupação com o artesanal,  com a impressão bem feita,com o resultado final de tudo que faz.Usa vários tipos de materiais, alguns até encontrados nas ruas e no lixo industrial, os quais são levados para seu atelier como um achado importante. Ali estuda a textura e os imprime várias vezes em busca de resultados mais emocionantes. E, quase sempre, surgem no papel impressões curiosas e que funcionam perfeitamente. É a procura do seu estilo próprio, e também, da função, que determinados objetos, considerados por nós imprestáveis, tem e que ele realça. Assim esses objetos ganham a nobreza de uma matriz, de um elemento importante dentro de uma composição plástica. São pedaços de pneus velhos, de eucatex, tecidos, lixas e tudo que realmente ele seleciona pela textura, com bons resultados ao serem impressos.
Existem na obra de Ramiro altos e baixos. Evidente que isto depende dos momentos psíquicos. Mas, estes altos e baixos são também presença constante na obra de muitos artista que já estão consagrados. Em qualquer exposição onde são apresentados 30 quadros, quase sempre encontramos dois ou mais que fogem totalmente em qualidade do conjunto. Muitas vezes até destoam, e os espectadores quase sempre são unânimes em reconhecer este fato. Em Ramiro esta ocorrência dá-se como reflexo de sua perplexidade, que se estabelece diante das muitas perguntas que faz a si próprio. O artista é muito exigente com seu trabalho e quando não tem uma resposta que lhe satisfaça ou o reconhecimento imediato, fica mais inquieto.Mas, é preciso que entenda que o reconhecimento público é coisa que demanda tempo, e é um processo um pouco demorado, e que depende além do talento, que não lhe falta, e muito trabalho e muitas circunstâncias. É preciso cuidar da organização, da divulgação e, principalmente, trabalhar muito. Se trilhar por este caminho, dentro de alguns anos sua obra será reconhecida e festejada.


LASAR SEGALL E SONIA  BRUSCKY NO SOLAR DO UNHÃO

Lasar Segall – 1891-1957 – O escultor não é menos notável  que o pintor e o gravador; esse é, decerto, extraordinário em todas as técnicas., Segall não foi um pintor que gravava – como Malfatti ou mesmo Portinari – e sim um gravador autêntico, alguém que, em todos os momentos de sua carreira, bem compreendeu as leis peculiares à gravura, e soube elaborar , obediente a elas, uma obra pessoal.
Quantitativa e e qualitativamente, essa obra gravada é importante. Acrescente-se a tal a circunstância de ter sido Segall, cronologicamente , dos primeiros a fazer gravura no Brasil – entregando-se com idêntica maestria à litografia, à xilografia e à gravura em metal – e se há de chegar à conclusão lógica de que,na história da gravura brasileira, esse artista merece lugar no primeiro plano.

Sonia Von Brusky é carioca , pintora,escultora e desenhista. Sobre o seu trabalho a crítica se manifestou através de nomes como : Adonias Filho, José Roberto Teixeira Leite, Frederico Morais, Carlos Drummond de Andrade , dentre outros.
Sonia e alguns de seus trabalhos  no Solar do Unhão
Sonia tem o seu trabalho inserido dentro da nova figuração; ela se manifesta na dimensão do surreal “porém sua genialidade está no feliz achado de um objeto  que simboliza toda a nossa necessidade de afeto, carinho, contacto, a nossa fome de comunicação: a carta postal. São cartas ( envelopes) com endereços, selos e carimbos, cartas escritas por gente humana e entregues ao Correio, jogadas em suas pinturas irregularmente num espaço vazio, cercado e semi fechado por varas mecânicas de uma arquitetura ocasional.O colorido, as formas , as variadas formulações de alto nível plástico e estético mostram a artista plenamente amadurecida e realizada”.


AINDA ESTÁ PARA SER IMPRESSO O VERDADEIRO CATÁLOGO DO MAMB

Não sei qual foi o critério da escolha das ilustrações do Catálogo do Museu de Arte Moderna da Bahia.Mas,como interessado no assunto, posso dizer sem medo de errar que não usou um critério justo. Para afirmar isto consultei a lista das obras que integram o acervo e passei a examinar detalhadamente o catálogo. Cheguei à conclusão que houve interferência política ou afetiva. Não justifica a omissão nas ilustrações dos artistas que iniciaram o movimento de vanguarda na Bahia há décadas passadas entre eles Floriano Teixeira,Carybé e Jenner Augusto dentre outros. Isto é a demonstração que no momento em que as pessoas estão com o poder, na situação privilegiada de decidir, pendem para critérios duvidosos. Gosto dos trabalhos de João Grijó, César Romero, Sérgio Veloso e outros aí incluídos, exageradamente, com páginas inteiras no referido catálogo, em detrimento de artistas que têm uma vinculação maior , inclusive, com a própria história do Museu de Arte Moderna da Bahia. É uma falha irreparável que inclusive revela o surgimento das famosas “igrejinhas”. Criticam que existem “igrejinhas entre os artistas mais consagrados e cometem o mesmo erro. Acho uma coisa terrível este tipo de comportamento. E, posso falar e escrever de alto e bom som porque, além de não pertencer à geração dos artistas omitidos, não tenho qualquer vinculação com grupos. O que me interessa é o talento, é a obra do artista. E pelo talento e a obra não se pode esquecer o papel que esta gente desempenhou e desempenha no cenário artístico baiano.
Sei que este comentário pode gerar alguns problemas pessoais com alguns artistas.Mas ele traduz o que as pessoas ligadas à arte na Bahia estão falando nos museus, nas galerias e em todos os locais onde é lembrado o catálogo do MAMB, que chega com 25 anos de atraso e não reflete o conteúdo do seu acervo como deveria. Alguns irão perguntar: por que o Reynivaldo não falou logo sobre isto? Exatamente porque não adiantaram meus esforços em conseguir antes uma prova para que pudesse fazer uma avaliação. Só consegui a capa que publiquei na coluna na semana passada. Agora, de posse do catálogo, verifico que houve manipulação, prejudicando-o.
O verdadeiro catálogo do MAMB ainda está para ser feito! Enfocando e ilustrando com as principais obras dos artistas que tiveram importante papel no movimento artístico baiano e participaram ativamente da fase áurea do Museu de Arte Moderna da Bahia. Faltou critério e principalmente, isenção de ânimos para relevar outros interesses em benefício da própria cultura. Não desejo polemizar. Mas registro aqui a minha discordância para não pecar por omissão.

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