quinta-feira, 1 de novembro de 2012

JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 14 DE DEZEMBRO DE 1987.

AS CORES POÉTICAS DE MANOEL JERÔNIMO RECRIAM A NATUREZA
Os volumes são definidos por densas manchas de cor, tênues e líricas que se espalham e se integram numa perfeita combinação. E antes de tudo um colorista de mão cheia. Embora sua arte possa assumir uma linguagem universal, traz embutida em seu conteúdo, elementos que a identificam com a Bahia. O mar é sempre de um azul intenso, o céu com grandes manchas com flocos de algodão pintados por tênues camadas de cinza ou azul e, as dunas brancas lembram de longe, campos cobertos de neve. Esta dualidade de interpretação é que dá a dimensão maior da obra de Manoel Jerônimo, onde a figura humana entre como um elemento de significado menor, em quase todas as composições. A água é que é o elemento marcante e, quase sempre está a invadir todos os espaços dos quadros.
Diria que Manoel Jerônimo faz um trabalho semi-abstrato, mas que nos permite identificar alguns objetos e em determinadas obras a figura humana surge, mesmo não tendo uma presença marcante. O homem ou a mulher que aparecem nas telas estão sempre num estado contemplativo, como nós mesmos ficamos diante da beleza inconfundível desta nossa Bahia que explode em cores. Lembro de minha querida Lígia Milton com sua irresistível figura feminina a contemplar o horizonte. Tanto a sua pintura como a de Lígia nos transmitem uma sensação de paz de tranqüilidade, como se fosse feita por um monge que olhasse de sua janela a paisagem que se perde no horizonte.
Seu colega de ofício Jenner Augusto destaca da sua obra “a maneira pela qual sabe valorizar, pelo colorido intenso, determinados espaços de composição, com vazados, grutas/ Elevações?- para onde convergem tênues figuras femininas, apenas sugeridas, para um hipotético ritual a terra baiana, com um todo fascinante.
“Dessas abstrações do mundo exterior, Manoel Jerônimo extrai a essência de sua pintura, com uma linguagem aparentemente simples e, no entanto, rica em sugestões coloridas”. Ele mostrou seus quadros recentes até o último dia 11, na Época Galeria de Arte, no Rio vermelho.

                   AS MARINHAS DE ADEMAR GALVÃO

A areia se espraia e a família reunida sai para garantir a sobrevivência do mar imenso que beija mansamente a terra. Os coqueiros debruçam seus tentáculos verdejantes e garantem a sombra ao descanso merecido. Esta perfeita imagem que a natureza exuberante oferece é realmente um tema constante na obra de Ademar Galvão. Marinhas? Dirão, alguns a torcer o nariz porque entendem que depois de Pancetti ninguém Será capaz de pintá-las. Por que? Uma visão um pouco radical e de apaixonados pela obra do mestre Pancetti. Mas, outros artistas estão utilizando a temática marinha e cada um dando a sua contribuição dentro do seu universo e habilidade. Sempre afirmo que a arte, além do dom inato do artista é fruto do ato de exercitar. O criador só encontra a qualidade depois de fazer muito. Ao tornar-se hábil no manejar as cores e pincéis. Ademar vem assim melhorando a cada exposição que realiza, e noto, inclusive, que começa a captar com mais destreza o lado social, na medida em que enfoca no silêncio da labuta dos homens que vivem no mar. Começa desta foram a penetrar na essência da vida e no relacionamento milenar entre o homem e o mar, tão conhecido de todos nós que lembramos “O Velho e o Mar”, de Ernest Hermingway. Como diz Mirabeau Sampaio, “a natureza é uma fonte inesgotável de temas”. Assim, Ademar Galvão vai construindo o seu mundo pictórico tomando por base a natureza. Ele está expondo na Galeria Arte Viva, na Avenida Oceânica, 8 loja 1, na Barra.

O DESENHO APRIMORADO DA SENSÍVEL 
EDSOLEDA SANTOS

A artista Edsoleda Santos está expondo seus últimos desenhos no Restaurante Bom Vivant, um importante espaço alternativo que fica na Rua Barão de Itapuã, 2, na Barra. É uma das mais criativas desenhistas que existem na Bahia. Tem muitos anos de ofício e ensinamento. Desde 1964 que iniciou a desenhar onde figuravam grandes superfícies transparentes envolvidas por traços ricos em sinuosidade. Foi exatamente esta cidade cheia de declives e construções barrocas que contribuiu para a visão plástica de Edsoleda. Ela mesma, num depoimento que enviou a este colunista, revela que o trabalho “que apresento atualmente sobre orixás e festas populares é o resultado de uma reflexão meticulosa e de profunda meditação... Na fase atual, a cor é um elemento preponderante que não obedece regras nem limites."
Os planos se interpenetraram através da superposição de cores transparentes criando áreas de maior ou menor concentração, buscando entre si o equilíbrio da forma no espaço.
Quanto à variedade de texturas que exploro, no meu trabalho, e que são propositadamente transportadas em ritmos espaciais, foram inspiradas nas estampas, rendas bordados, colares e demais elementos que vestem as nossas baianas. “A presença das entidades de defende pela vibração da sua cor correspondente, pelo movimento geral das linhas e planos e dos símbolos que as particularizam”.
Recentemente integrou a equipe de cinema de Nelson Pereira dos Santos, criando figurinos para o filme Jubiabá, cujo exercício  estimulou suas investigações a respeito dos figurinos de época. Planejou a decoração carnavalesca do Gepom, e realizou outros figurinos.
“Importante se faz ressaltar o livro São Paulo a autoria de Nildnéia Andrade, no qual fui responsável pelas ilustrações, assim como também a coordenação dos trabalhos  de programação visual a composição do mesmo realizados pelos alunos do grupo de Habilitação em Artes do Colégio Estadual Severino Vieira”, finalizou.

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