JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 05 DE SETEMBRO DE 1983
SETE ARTISTAS PINTARAM MURAL NO RIO VERMELHO
Uma visão geral do mural. Da esquerda para direita: Bel Borba, Zivé, Luiz Tourinho, Florival Oliveira, Chico Diabo, Hans Peter e Ângela Cunha.
A falta de incentivo por parte dos órgãos oficiais não
constituiu obstáculo para que um grupo de jovens artistas realizasse um
projeto, que considero da mais alta importância. Trata-se de levar a arte às
ruas, para o público, que normalmente não frequenta as galerias e outros locais
que abrigam as obras de arte. O uso do muro como espaço alternativo merece,
portanto aplauso de todos nós. Particularmente, acho que uma maneira da própria
Escola de Belas Artes exercitar seus alunos poderia ser com a utilização de
espaços alternativos, embelezando a cidade. Evidente, que os espaços teriam que
ser bem escolhidos para que os trabalhos tivessem uma durabilidade razoável,
atendendo assim ao objetivo de alcançar um número cada vez maior de pessoas.
Neste detalhe acima podemos examinar melhor , da esquerda para a direita os trabalhos de Chico Diabo,Hans Peter e Ângela Cunha.
Esta manifestação através dos muros já existe em muitas
cidades da Europa e Estados Unidos, e sempre é bem recebida pela comunidade. E,
como estamos numa cidade tropical, de um sol de verão em pleno inverno, temos é
que colorir os muros e arranjar locais para instalar painéis com trabalhos de
artistas emergentes.
Aí também, é bom salientar que seus autores são beneficiados
porque ficam conhecidos e passam a conquistar seu próprio público. Por estas e
outras razões considero que os trabalhos a serem inseridos num projeto deste
porte têm que ser muito bem feitos, muito criativos. Erra quem relaciona: o
mural vai desaparecer e estragar rápido e assim o artista deixa de lado o
cuidado na elaboração. Esta postura é totalmente errada e quem assim pensa deve
ser afastado, sob pena de prejudicar todo o grupo.
Mas, vamos falar do painel do Rio Vermelho. Ele foi
idealizado e executado por sete artistas, entre os dias 26 e 27 de agosto
último, com o apoio da família. Tambou, que cedeu o muro para que pudesse
trabalhar. As tintas foram doadas pela Politintas- Suvinil e os andaimes pela
Comam. Coloco propositadamente os nomes dessas empresas, para que o exemplo
seja imitado por outras, e assim possamos dar um colorido especial a esta
cidade, para contrabalançar com o descaso municipal e a lixeira a que foram
transformadas muitas ruas. Pelo menos o colorido e a plasticidade dos
trabalhos, que tenho certeza, serão inseridos em vários outros locais, vão de
certa forma aliviar a nossa visão, além de contribuir para a educação artística
do nosso povo.
Os sete artistas Bel Borba, Zivé, Luiz Tourinho, Florival
Oliveira, Chico Diabo, Hans Peter e Ângela Cunha demonstraram amor por esta
cidade, tão cantada em verso e prosa, e tão abandonada por quem deveria zelar,
para que se transformasse numa capital limpa e bela.
O grupo não tem nome, não tem rótulos. Apenas os artistas
estão unidos para aproveitar os espaços alternativos dentro de seus processos
individuais.
Assim, se você passar pelo Rio Vermelho terá oportunidade de
ver e reagir diante dos trabalhos produzidos espontaneamente e com bons
propósitos por estes artistas que representam uma parcela significativa do que
existe de melhor nesta nova geração, que está emergindo. Particularmente,
conheço o trabalho de todos eles e tenho certeza que muita coisa boa ainda está
por vir.
O RECONHECIMENTO TARDIO DA OBRA DE MILTON AVERY
O “Whitney Museum” de Nova Iorque, ao organizar a exposição
retrospectiva da obra de Milton Avery, ofereceu realmente ao público
possibilidade de conhecer e avaliar o trabalho deste grande mestre americano. A
obra de Milton Avery, na verdade, permaneceu por longo tempo ignorada pela
crítica contemporânea, uma vez que o artista sempre foi um pensador livre,
dificilmente afeito a etiquetas.
Durante toda a sua vida Avery perseguiu o seu ponto de vista
estético, freqüentemente discordante do estilo dominante na época. Não sendo um
intelectual, a teoria modernista das diferentes fases de seu tempo pouco lhe
interessava. Durante os anos 30, quando nos Estados Unidos florescia o
entusiasmo pelo realismo social legado da própria vida americana, a sua obra
era então considerada muito abstrata, enquanto que nos anos 50, quando o abstracionismo
teve maior aceitação, Milton Avery, a quem os críticos haviam simplesmente
ignorado, mantinha as suas preferências naturalistas.
Assim é que, a cada ano, enquanto os nomes de Pollock,
Rothko, de Kooning, Gottlieb e Newman chegava a uma ponta a outra do Atlântico,
crescia o número daqueles que conheciam o nome de Milton Avery, então já trazia
em seus ombros uma carreira artística bem mais longa que a de seus famosos
contemporâneos.
E, pensar que muitos desses artistas, direta ou
indiretamente, foram bastante influenciados pela sua extraordinária qualidade
de pintor! Infelizmente, a crítica do pós-guerra não foi capaz de entender a
mensagem de AverY, sendo que sua retrospectiva de 1960, em Nova Iorque , no
“Whitney Museum”, permaneceu ignorada, deixando que ele morresse, em 1965, sem
ver reconhecido o seu valor.
Naquele período, porém, alguns marchands notórios como Paul
Rosemberg e Durand-Ruel, de Nova Iorque, colecionadores como Phillips de
Washington e, sobretudo artistas como Rothko, Gottlieb e a mais jovem geração
de pintores da “Color Field School” passaram a reconhecer e estimar o trabalho
de Avery. Para eles, era o mestre, “uma figura solitária que trabalhava contra
a corrente”.
Os tempos mudaram e muitas das teorias críticas sobre a arte
que predominaram naqueles anos caducaram, passando daí em diante a levar em
conta, acima de tudo, a opção do artista, mesmo que não fosse à última palavra,
só então, pôde a arte de Milton Avery ser plenamente apreciada e dada o seu
justo valor.
Seria bom lembrar aqui uma frase pronunciada por Mark
Rothko, quando de uma solenidade por ele realizada logo após o desaparecimento
de Milton Avery: “O que representa a obra de Avery? A sua sala de estar, o
Central Park, sua esposa Sally, sua filha March, as folhas e as montanhas onde
eles passaram o verão; as vacas, os peixes, o vôo dos pássaros; seus amigos e
tudo e que foi extraviado do mundo para seu atelier: as figuras domésticas e
comuns retratadas nos seus quadros. A partir delas foram pintadas grandes
telas, as quais fugindo das implicações casuais transitórias do tema, sempre
apresentaram um forte lirismo e muitas vezes um acabamento que se aproximava da
monumentalidade do Egito.
Deste modo, o cotidiano banal que acompanhou a existência de
Milton Avery, tal qual o de qualquer um de nós, foi captado pelos seus olhos,
suas mãos e suas cores, juntamente com a luz que não se poderá mais negar ou
confundir. É a luz da arte de Milton Avery. (Traduzido de um texto em italiano
de Claudio Bruni Sakraichic, especialmente feito para a Grande Exposição Milton
Avery, em Roma, na “Galleria La
Medusa ”, 1983).
UMA NOVA GALERIA NA CIDADE
Estava trabalhando no fechamento da edição do jornal do
último sábado quando por volta das 22 horas recebo um telefonema de Gil, da
Galeria Época.“Estou abrindo a minha galeria no Boulevard 161. Acontece
que os convites estão muito mal impressos e resolvi adiar a abertura que a
princípio estava marcada para o dia 8. Mas, não posso abrir uma galeria
começando a oferecer ao público um convite de péssima qualidade. Como estava
assoberbado de serviço, respondi que só vindo pessoalmente. Minutos depois
surge Gil, trazendo alguns convites.Realmente, muito mal impressos.
Ao lado uma obra de autoria de Vauluizo Bezerra.
Assim, a coletiva da nova Galeria Art Boulevard, com trabalhos
de: Anísio Dantas, Britto, Calasans Netto, Capelotti, Carlos Bastos, Carybé,
César Romero, Eduardo Carvalho, Fernando Coelho, Floriano Teixeira, Jenner
Augusto, José Maria de Souza, Justino Marinho, Lev Smarcewsky, Lygia Milton,
Mirabeau Sampaio, Rescala, Vauluizo Bezerra, Washington Sales e Zivé Giudice,
está transferida para o dia 15 do corrente mês, quando Gil já terá distribuído
os novos convites.
Por outro lado, na Época Galeria de Arte, dirigida por seus
pais, estão expondo Vauluizo, Justino Marinho e Eckenberg.
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