terça-feira, 16 de outubro de 2012

O SUCESSO DAS OFICINAS DE EXPRESSÃO PLÁSTICA DO MAMB - 13 DE DEZEMBRO DE 1983.


JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FERIA, 13 DE DEZEMBRO DE 1983

O SUCESSO DAS OFICINAS DE EXPRESSÃO PLÁSTICA 
DO MAMB

Juarez,Guache,Florival,Zu Campos,Márcia Magno,Betânia e Yeda Maria com alguns alunos das oficinas.

Uma opção alternativa e sem os entraves acadêmicos de currículos e avaliações ganhou corpo e hoje representa um importante segmento para o desenvolvimento da arte em nosso Estado. Trata-se das Oficinas de Expressão Plástica do Museu de Arte Moderna da Bahia com seus cursos de gravura em metal, xilogravura, litogravura, serigrafia, cerâmica e escultura em madeira. Aí os alunos são orientados por artistas profissionais e talentosos que estão repassando, informalmente, tudo que aprenderam durante anos de trabalho dedicado a arte.
As oficinas surgiram de um convênio entre a Fundação Cultural e a Funarte em 1979 e os seus cursos foram realmente instalados em 1980. Surgiram com o objetivo de ampliar e dinamizar a ação do Museu de Arte Moderna da Bahia na área da produção de obras de arte em série, beneficiando diretamente aos artistas carentes pela gratuidade dos seus cursos e pela utilização dos seus espaços e equipamentos.
Com isto, os cursos vêm proporcionando que um número significativo de pessoas que gostam de arte tenham acesso às técnicas e instrumentos para o desenvolvimento de sua criatividade. São dezenas de jovens de idades e níveis os mais diversificados, que, diariamente, estão recebendo informações e orientação. Um estímulo informal para o ressurgimento, não apenas de gravadores, mas também de escultores e ceramistas, contribuindo desta forma para o incremento das artes plásticas em nosso Estado. É bom salientar que as oficinas não buscam ou têm como objetivo primordial a formação de artistas. Como os cursos são impregnados de informalidade, é certo que o surgimento de algum artista terá por base as informações que lhes forma transmitidas durante o curso, mas especialmente do seu dom natural e do próprio esforço em desenvolver a criatividade.
Isto porque é uma escola informal, uma escola onde o esforço do aprendiz tem que ser redobrado, ou seja, o aluno deve tomar gosto pelo que está fazendo já que não é obrigado a nada. Aí entra um elemento importante que é a espontaneidade do aprendiz.

ORIENTAÇÃO

Quem está à frente das oficinas é o artista Juarez Paraíso. Ele explica que existe um clima muito bom entre professores e alunos. “Aqui a coisa funciona como uma família. Tudo é informal, mas todos são responsáveis pelo seu próprio trabalho, pelo material que utiliza etc. E, devido a este clima e a receptividade desta escola informal foi que decidimos ampliar com a criação das oficinas de cerâmica e de escultura, em madeira. A vinda desses dois cursos aumentou significativamente o trabalho que já vinha sendo desenvolvido há três anos pelas Oficinas de Arte em Série, reforçando assim alguns dos seus objetivos e matas, além de enriquecer a estrutura cultural e educacional do MAMB.
Por si, a carência de meios de criação e de produção de arte em Salvador na área da cerâmica e da escultura em madeira já justifica a criação destas novas oficinas.
São espaços que possibilitam o surgimento de novos ceramistas e escultores. O coordenador da oficina é Juarez Paraíso e orientam os alunos os artistas: Márcia Magno e Guache, na xilogravura; Paulo Rufino, na litogravura; Yeda Maria, na gravura em metal; Zu Campos, na escultura em madeira; Maria Betânia, na cerâmica.

UM NOVO CONCEITO

Se examinarmos o surgimento das oficinas, notamos que elas fazem parte de um novo conceito de administração de museu.À frente do Museu de Arte Moderna da Bahia, o artista Francisco Liberato é um dos incentivadores das oficinas, porque ele mesmo já sentiu na própria pele a necessidade de espaço e instrumental para realizar a sua obra. Daí a razão da escolha da arte em série, porque além de serem mais baratos os materiais utilizados para sua execução, possibilita ainda que a produção possa ser comercializada no futuro próximo, a preço também acessível. Não existe uma preocupação imediata em auferir a qualidade do trabalho dos alunos das oficinas, como acontece com as avaliações na escola formal. Os professores que os orientam fazem uma avaliação constante sem a presença de notas ou conceitos. O aluno trabalha com mais liberdade, procurando dar tudo de si para que possa superar suas dificuldades no manuseio do instrumental e tentando aperfeiçoar o desenho. Do ponto de vista pedagógico funciona muito bem, inclusive quase que desaparece aquela diferença bastante acentuada na escola formal com relação a idade, por exemplo. Basta dizer que um senhor de 70 anos senta-se ao lado de um garoto de 11 e ambos enfrentam com simplicidade as mesmas dificuldades. Numa escola formal esta diferença de idade tem um reflexo significativo, porque indicaria que o senhor de 70 anos estaria bem atrasado. O mesmo acontece com o nível cultural e outros nivelamentos sociais, tão presentes nas escolas presas aos currículos e status.
Preocupados também com a situação dos ex-alunos dos cursos, os professores das oficinas resolveram, juntamente com a direção do MAMB, abrir espaço para eles.
Portanto, na parte da tarde você encontra vários deles trabalhando tranqüilamente. São cerca de 15 a 20 ex-alunos que aparecem quando desejam ou necessitam desenvolver algum trabalho. Tudo dentro de uma total espontaneidade, porque afinal de contas aquele amplo e belo espaço pertence mesmo à comunidade. Até mesmo profissionais que expõem em galerias aparecem para imprimir os seus trabalhos, por não dispor de prensa e outros equipamentos mais sofisticados que existem no MAMB. E, se algum artista desejar imprimir algum trabalho será atendido pagando uma pequena taxa de manutenção, o pessoal envolvido nas oficinas cuida de tudo.E, isto já acontece com certa freqüência.

ENCONTROS COM OS ALUNOS E MESTRES

Estive visitando as oficinas e conversando com os professores e alunos. Confesso que saí gratificado com a presença espontânea de vários deles e especialmente com a disposição em falar do trabalho ali desenvolvido. Encontrei desde garoto do curso ginasial, uma professora com 35 anos de experiência, operários do Pólo Petroquímico e jovens artistas com algumas participações em coletivas. Fiquei contente com o bom relacionamento entre eles e com o clima e a vontade de criar manifestados.
Falando sobre sua experiência, como professor nas oficinas, Guache Marques disse que aparecem por lá pessoas que já são dotadas de algum conhecimento das técnicas de xilogravura, já fazem algum aprendizado e outras que nunca manusearam uma goiva. “Então o nosso trabalho é feito com a ajuda de muitas cabeças e muitas mãos”. E, vem dando um excelente resultado. Uma prova da informalidade é que ao terminar sua intervenção, Guache foi seguido por Sônia Carvalho, uma carioquinha de 22 anos, que está freqüentando a oficina de xilo. Ela mostrou-se entusiasmada com as informações que vem recebendo e pensa seguir a carreira de artista plástica.
O que concluo baseado em alguns depoimentos que me foram prestados é que realmente existe uma disposição de ensino e aprendizado. Também pude sentir na exposição, que eles realizam, que o nível é muito heterogêneo quanto á qualidade.
Todos têm muita disposição e sensibilidade e que com o passar do tempo e muito trabalho é que poderemos auferir melhor a capacidade e o potencial criativo de cada um. Mas, é certo que o nível não deixa nada a desejar do que tenho presenciado em outras escolas formais ou informais.
Sei que muitos estão ali por alguma influência passageira e que vão ficar, no decorrer do tempo, no meio do caminho. Mesmo assim valeu, porque pelo menos prestarão melhor atenção á arte ou a um trabalho de arte, quando tiverem diante deles. Espero, portanto, que as oficinas continuem recebendo apoio tanto da direção do MAMB, e, principalmente, da Fundação Cultural da Funarte para que possamos oferecer esta alternativa informal de produção de arte.
Este é um espaço importante conquistado. Seus idealizadores e todos nós que estamos envolvidos no momento cultural não podemos deixar que esta peteca venha cair um dia.
Esta foto mostra a participação e o entusiasmo dos alunos das oficinas no Museu de Arte Moderna da Bahia.


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