A ARTE VANGUARDISTA DO ARQUITETO
ALMANDRADE
Está expondo na Galeria Macunaíma, da Funarte, o artista plástico, poeta e arquiteto de São Felipe, Bahia, Antônio Luiz M. Andrade, o Almandrade. Sua figura magra e irrequieta é uma presença constante nas discussões e teorizações sobre tudo que diz respeito à arte. É um artista de vanguarda, que traz na sua obra a marca do aprendizado de uma escola de Arquitetura. Já participou de muitas coletivas, de bienais e salões, tendo recebido Menção Honrosa, no I Salão Estudantil, em 1972.
Foi recusado em vários salões,
devido principalmente o distanciamento entre a teoria e a capacidade de
realizar aquilo a que se propunha. Ausente das galerias, por razões também óbvias,
optou por movimentos alternativos, e é um dos fundadores do Grupo de Estudos de
Linhagem da Bahia, onde editou a revista Semiótica, em julho de 1974.
IDÉIAS DE ALMANDRADE
Para o artista baiano, “a arte é
uma fala singular, especializada, que permite operacionalizar o absurdo, o
contrário, a inversão. A seriedade do riso. A economia da emoção. Importante
são os seus problemas, o uso de uma formalização mais precisa contra a
superstição de um saber fácil e a ilusão de uma totalidade sem relações verticais.
Como desmontar esta máquina semiótica (objeto/arte) ou acioná-la? É a grande
dúvida. O segredo íntimo que irrita a ansiedade de uma satisfação imediata dos
sentidos. É oportuno se falar numa política localizada, a ocupação do
aparelho/arte em construir a um certo nível, um código incomunicável,
intrigante, que altera a disciplina que rege o consumo de signos”.
Explica Almandrade que a
princípio esta mostra que permanecerá até o próximo dia 13, na Galeria Macunaíma, “são
duas exposições ocupando o mesmo espaço: uma objetos de carpete, a outra
registros fotográficos de eventos diversos, realizados entre 1976 e 1982,
articuladas pelos incômodos irônicos”.
As fotos são informações sobre o
uso de uma multiplicidade de suportes e experiências localizadas no território
da arte. A questão central não é fazer uma exposição mais demonstrar um método
de trabalho, as interrogações que ele tenta colocar ao olhar clínico e
intencional predisposto a uma relação de pensamento. São na realidade
experimentações tipo laboratório com efeitos exclusivos no campo cultural (meio
de arte). Ou produtos de uma ciência que goza de suas próprias “inutilidades”.
Como podemos perceber, o artista vive questionando conceitos e está sempre
propenso a lançar suas idéias, discuti-las, e acima de tudo, lutar para que
sejam aceitas. Diria que Almandrade é um daqueles “guerreiros”, que sente na
pele a batalha em todos os campos e níveis. Está disposto a usar seus
argumentos e teorias não apenas na defensiva, mas principalmente na ofensiva
tentando conquistar espaço. E, graças a persistência, aliada a sua capacidade
de criação tem conseguido vencer algumas “batalhas”, embora ainda sem maior
projeção no cenário artístico nacional.
Sou daqueles que acredita em sua
vitória. A princípio, o próprio artista imaginava (ele sempre está imaginando
coisas!) Que me colocava numa posição de apatia ou mesmo contrária a sua obra.
Pelo contrário, algumas restrições
que diz limitavam-se a distancia que existe entre a sua teorização e a
capacidade de colocar as idéias na prática. Lembro-me por exemplo, que num dos
salões que integrei o júri o escolhemos entre os expositores. Na hora de
realizar, Almandrade não cumpriu o que tinha estabelecido, e passou a culpar os
organizadores, quando, na realidade, faltou foi determinação de sua parte.
Mas, agora formado, mais maduro,
o Almandrade começa a deslanchar e espero que esta oportunidade que tem de
expor na Galeria Macunaíma, no Rio de Janeiro, seja o passo decisivo para
continuar defendendo suas idéias inovadoras, vanguardistas, e principalmente
que surja uma verdadeira aliança entre sua teorização e a prática.
O SILÊNCIO TENSO
O carpete é um elemento
industrial, flexível e silencioso, sem cicatrizes na história da arte. Banal,
com aparência sofisticada. Na mão do artista ele é submetido a um tratamento
artesanal, deixa o chão para ocupar um lugar privilegiado na parede (suporte
dos objetos de arte). Deixa de ser uma superfície de intimidade dos pés para se
tornar uma superfície/objeto (arte), estranha ao ritual do olhar. O que é
aparentemente íntimo para os pés pode ser áspero e barulhento para os olhos um
excesso irônico.
A obra de arte é portadora de uma
profundidade ruidosa, o sentido, um buraco de atrito para os olhos. Se o
carpete absorve os ruídos dos sapatos, poderia absorver os ruídos do olhar,
reter o sentido.
Situação paradoxal.
Concordâncias/discordâncias,
acasos, uma razão oculta nestas situações fantasmagóricas. Outros elementos
participam na formalização do trabalho, materiais de propriedades físicas
diversificadas são relacionados. Um jogo de possibilidades onde transpira um ar
de emoção frio e tenso. Imagens/fantasmas perdidas no mundo da razão e do
cálculo. Uma lei desconhecida fundiu ou relacionou materiais e conceitos
heterogêneos. Um problema é formulado, resta como alternativa para fugir deste
‘labirinto reto’, imaginar hipóteses de solução.
A DESRAZÃO VISUAL
“O vício da fotografia é
reproduzir o outro (contorno visual), sem expor desconfianças. Estas são fotos
de pequenos e até momentâneos inventos no meio campo da arte, objetos
artificiais, maquetes, instalações, que deixam o espectador longe de sua
materialidade, da dimensão exata etc. Entre estas reproduções e os objetos
existem algumas diferenças: a foto mostra apenas uma sensação visual, eu
poderia sugerir outra dimensão, outros materiais, estabelecer novas relações.
Estas fotos registram ou
documentam eventos muitas vezes deslocalizados, minúsculos acontecimentos/arte
que chegam a outros circuitos por intermédio desse aparelho. São situações inesperadas
segundo a lógica da comunidade, invenções exorbitantes, impossível de um
funcionamento puramente racional. Podemos afirmar que em alguns casos o ‘real’
foi destruído, ou melhor, foi construído apenas para ser registrado, um
universo que só existe na fotografia e no meio de arte. Uma desrazão que
ironiza e desterritorializa o olho
NOVOS CARTEMAS DE ALOÍSIO MAGALHÃES
NOVOS CARTEMAS DE ALOÍSIO MAGALHÃES
Depois do Rio de Janeiro, Recife
e Salvador, mais sete capitais receberão até o dia 31 de agosto, a exposição
“Novos Cartemas e o Seu Processo de Criação”, de Aloísio Magalhães, dentro do
projeto Itinerância, do Núcleo de fotografia da Funarte. O roteiro começa por
Brasília, continuando depois por Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, São Paulo,
Florianópolis e Porto Alegre. Dependendo de locais para exposição estão Cuiabá,
Belém, São Luís, Fortaleza e Aracaju.
Para o núcleo a itinerância dessa
exposição por quase todo o país, permitirá que se amplie ainda mais a visão
comum que se tem da fotografia que, em Aloísio, não aparece apenas como produto
final, mas como suporte para um processo criativo que subverte sua função
inicial e alarga fronteiras. Mais do que uma relação contendo as fases nacional
e internacional e preto e branco, esta última totalmente inédita, a mostra
pretende recriar, com seus 32 trabalhos, todo o processo de concepção e criação
dos cartemas.
ROTEIRO
Na capital federal a exposição de
Aloísio Magalhães ficará até o dia 8 de abril, na Galeria Oswaldo Goeldi, setor
de divisão cultural, no Eixo Monumental. Em Belo Horizonte a mostra
ficará no Palácio das Artes, na Av. Afonso Pena s/n.º ,de 19 de abril a 5 de
maio. Em seguida virão :Vitória (Galeria Aloísio Magalhães, Av Gerônimo Monteiro
s/n), de 12 a
22/05; Curitiba (Escritório da Funarte, Rua Cruz Machado 98) , de 26/05 a 16/6);
São Paulo (Museu de Arte Moderna, no Parque Ibirapuera) , de 21/06 a 8/7;
Florianópolis (Museu de Arte de Santa Catarina, Rua Victor Konder 71), de 19/7
a5/8) e Porto Alegre (Centro Municipal de Cultura. AV. Èrico Veríssimo, 307), de
16 a
21/8).
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