JORNAL A TARDE SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2002
NOBREZA NO ENTALHE DE ZU CAMPOS
Instalado há vários anos na bucólica
Ladeira de Santa Tereza, o entalhador Zu Campos, melhor falando o mestre Zu,
vai construindo o seu mundo, com toda paciência que Deus lhe deu. Para minha
surpresa, o mestre é carnavalesco. Imagine, diretor de um bloco de índio,
exatamente Os Apaxes, do bairro do Tororó. Já escrevia o saudoso Ivo Vellame
que Zu vivia “num velho sobrado de Santa Tereza entre personagens criados por
este artista- mestre-entalhador, no seu gênero, o melhor da terra baiana”. As
figuras que saem dos seus entalhes são frutas, beatos, Cristos , bichos e gente
do povo, que ele os esculpe utilizando materiais diversos, inclusive, portas e
janelas retiradas de demolições. Ele consegue dar nobreza ao entalhe, tirando
de um status meramente artesanal,
dando-lhe o significado de arte.Este é, portanto, o mestre Zu Campos,
que está sendo homenageado com uma mostra na Escola de Belas Artes, que deve
ser vista por todos.
ENGAJAMENTO DE MARCEL ODENBACH
Antes de expor na Bienal de São
Paulo, Marcel Odenbach mostra, em Salvador, uma série de trabalhos com o título
Viver Longe Para Sentir-se em
Casa. Ele é um artista ainda influenciado por um estilo de
vida, ideologicamente ligados ao dos anos 60. Sua obra afirma-se porque, por
trás dos critérios formais, permanece sempre visível o engajamento político.
Também porque as questões políticas, sociais e de crítica cultural não encobrem
a forma artística. “Por mais que a obra de Odenbach, com esta abordagem, esteja
impregnada por determinados contextos histórico-culturais e de época, é também
deles que ela retira a sua intemporalidade. Enquanto seus vídeos e instalações
nunca deixam de associar memória histórica e experiência sensorial, ele está
sempre, com suas reflexões, um passo à frente do seu tempo”, informa-nos Udo
Kitelmann.
ODEIO FINAIS FELIZES
A exposição Odeio Finais Felizes,
de Rogéria Maciel, cuja abertura acontecerá nesta sexta-feira, na Galeria
Acbeu, compreende uma única obra que engloba todo o ambiente. A galeria será
estampada com papel de parede cujo motivo foi, retirado de um ensaio fotográfico
realizado pela artista, no ano de 1998, e confeccionado especialmente para esta
exposição.
Com interesse em imprimir
sentimentos a essas imagens, ela elege a cor vermelha como significado para a
vida, a construção da realidade e o confronto com a morte. Entre os elementos
que constituem a obra está uma grande estrutura central, móbile suspenso,
realizado em aço e vidro, que cria uma metáfora do corpo vivo ao se deslocar no
espaço, além de um áudio em CDR, composto por depoimentos de mulheres de faixas
etárias, profissões e classes sociais distintas. Os depoimentos foram colhidos
ao longo de dois anos. A artista solicitava às mulheres entrevistadas que
fizessem uma viagem de retorno à adolescência, procurando resgatar os sonhos de
então, comparando-os a vida atual de cada uma delas.
Reprodução de detalhe da obra que Rogéria Maciel expõe na Acbeu.
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