terça-feira, 21 de agosto de 2012

VISUAIS - QUATRO PINTORES NA PANORAMA - 5 DE DEZEMBRO DE - 2000

JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 5 DE DEZEMBRO DE 2000

              QUATRO PINTORES NA GALERIA  PANORAMA

Os pintores Adilson Santos, J.Murilo, Sérgio Souto e Sílvio Jessé estão expondo, até o próximo dia 14, na Panorama Galeria de Arte, que fica na rua Nelson Gallo, no Rio Vermelho. São conquistenses ou residem lá, com exceção de Adilson Santos, que nasceu em Vitória da Conquista, mas há muitos anos mora no Rio de Janeiro. Tive a honra de fazer a apresentação deles no catálogo, numa exposição que é significativa porque, além de reunir quatro bons artistas, mostra a arte feita no interior. Vejam o que escrevi sobre cada um deles:
Adilson Santos – “O artista conquistense Adilson Santos, radicado no Rio de Janeiro há vários anos, é uma referência no mercado de arte brasileiro. Com a pintura calcada nos ex-votos, ele faz uma arte surrealista de alto nível. Sempre introduzindo elementos, a exemplo de maçãs, cajus, peras, guarda-chuvas e até brinquedos de crianças, suas obras ganham mais interesse. Neste jogo, Adilson nos transmite uma paz interior, em locais fora deste ambiente tumultuado do nosso planeta Terra. Algumas figuras, criadas por Adilson Santos parecem que estão espreitando o espectador com um olhar inquisitivo, como a perguntar: o que está achando da minha expressão?“Este diálogo silencioso e instigante mexe com a nossa sensibilidade”.
Reprodução de tela de Adilson Santos, que é um dos mais requisitados artistas baianos.

Sílvio José -“A caatinga exala um perfume indescritível quando chegam às primeiras trovoadas de novembro.
O acinzentado da estiagem dá lugar ao verde do mandacaru ,do cajueiro em flor, e ela explode em cores e cheiros.
Só o sertanejo é capaz de sentir e expressar este ambiente cativante. Inóspito na seca e doce com a chuva. Sílvio Jessé é um amante da caatinga de onde ele retira a essência de sua arte.
E, sua mostra vem exatamente no período das trovoadas, quando o sertanejo refaz seus planos e deixa o desânimo de lado. Este quadro, que a princípio parece caótico, tem uma harmonia que, às vezes, destoa aqui ou ali. Mas tem harmonia, e ele sabe, captar esta harmonia e coloca nas telas as cabras, o mandacaru, as árvores retorcidas estilizando-os dentro da sua visão pictórica”.

J. Murillo -“Sem medo de exagerar, J. Murillo é um dos bons pintores näifs que tem este País no momento. Ele tem participado de várias exposições e salões e conseguido destaque. Pinta sua gente simples nos folguedos interioranos, nas manifestações sociais e políticas e lembra até de Brasília, aquela ilha de fantasia, concreto e modernidade, que de longe quer impor conceitos e métodos para um Brasil tão vasto e tão plural. O desenho e o traço são simples, mas ele consegue superar tudo isto criando situações únicas e belas. Outra coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de elementos, o detalhamento das coisas na simplicidade do pintor näif”.

Sérgio Souto-“O artista Sérgio Souto apresenta cenas do cotidiano, dando ênfase aos espaços urbanos, enfocando as cidadezinhas do interior.
Pinta o casario, namorados nas ruas, cachorros correndo atrás de gatos, pessoas jogando conversa fora nos bares e ruas. Enfim, como um cronista do pincel vai construindo este mundo calmo e longe da agitação das metrópoles. Ali a vida flui com mais vagar, as pessoas se conhecem e se respeitam. A cidadania brota espontaneamente. Já na metrópole, vale a lei do mais forte ou do mais indisciplinado. Não que nesses locais do interior não existam indisciplinados e aqueles que querem levar vantagem em tudo. Lá, também existem, mas são exceções. Enalteço esta preocupação em fixar estas cenas de Sérgio Souto porque elas tendem a desaparecer com a invasão da globalização, com a importância de conceitos e comportamentos discutíveis de novelas e outros programas de baixa qualidade da TV.




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