domingo, 12 de agosto de 2012

VISUAIS - ACERVO DE RUBEM VALENTIM - 5 DE FEVEREIRO DE - 2002


JORNAL A TARDE , SALVADOR TERÇA-FEIRA, 5 DE FEVEREIRO DE 2002


                     ACERVO DE RUBEM VALENTIM


Enquanto acontece uma retrospectiva no Museu de Belas Artes sobre as obras de Rubem Valentim, a comunidade cultural carioca movimenta-se para que o acervo do artista baiano, que morou muitos anos em Brasília, permaneça no Rio. Estive algumas vezes com Valentim conversando sobre a sua obra, a política cultural brasileira e suas preocupações. Em Salvador, já temos uma sala no Museu de Arte da Bahia com algumas obras do artista. Acredito que a Bahia poderia tentar  trazer o acervo de seu filho ilustre e colocá-lo num local especial, para que as gerações futuras pudessem apreciar a grandiosidade de sua obra. Valentim e sua esposa são falecidos. O acervo vem sendo administrado pelo sobrinho dele Roberto Bicca.
O artista criou um universo de símbolos com mensagens afro ligados ao candomblé. A simplificação de objetos utilizados nas cerimônias e armas de Orixás serviam-lhe de inspiração. Trabalhou com cores vivas e uma pintura plana, mesclando vários outros elementos das manifestações populares do nosso país, especialmente as originárias da Bahia e até mesmo da Amazônia.
Era um visionário e sempre pensava em construir um imenso espaço onde os jovens e os artistas carentes pudessem freqüentar. Chegou a ter algum sucesso com este projeto na década de 60, quando a convite do então Ministro Darcy Ribeiro, foi ministrar aulas na Universidade de Brasília. O sonho dele era transformar a casa onde vivia numa fundação, mas morreu sem conseguir concretizar este desejo. Com uma marca forte da geometria Valentim evoca com seus símbolos a religiosidade dos afrodescendentes, com um detalhe muito importante : ele fugia do folclorismo.

                                                  GABRIEL EM NOVA FASE

Mantendo-se na sua característica de realizar uma pintura de cores vibrantes e bem humorada, marcada pela origem de quadrinista, Gabriel Lopes Pontes inicia uma nova fase como ao lançar o projeto 100 Telas, no qual pretende realizar uma centena de ASTs, que medem, no mínimo 1,20m por 100cm cada uma e todas retratando pessoas reais .“É excitante pintar alguém que realmente existe”, afirma Lopes Pontes, que se está valendo de recurso inédito no seu processo de trabalho, tais como , emprego de modelos vivos, slides e Tracer Projector.
Mas a grande novidade mesmo é o uso da tela, suporte que ele até então vinha relegando a um segundo plano, em função do papel. O projeto está auto-sustentando-se com as encomendas de retratos que as pessoas vêm fazendo. “A maioria quer ser retratada exercendo a profissão e quase ninguém abre mão do símbolo do seu signo zodiacal ou do distintivo do clube do coração, havendo também àqueles que querem um nu artístico diferente”, explica o artista. “ Na verdade estou verificando que muita gente só estava esperando uma oportunidade de ser retratado de uma maneira diferente para se decidir a posar”.Complementa.
Nesta série de 100 Retratos , ora em realização, Lopes Pontes está buscando “combinar com posições mais complexas com uma paleta mais equilibrada”. Considera que o projeto é um dos dois que vão representar uma ruptura radical na sua vida artística: ”Podem rasgar ou incinerar, sem a menor cerimônia, tudo que eu pintei , desenhei, ou quadrinizei até hoje. Renego também todos os espetáculos teatrais que escrevi, dirigi ou nos quais interpretei.Com um material humano que me é dado trabalhar, eu só poderia mesmo ter feito teatro de oligofrenia, pois as pessoas me procuravam motivadas por mero deslumbramento, e deslumbramento não tem nada a ver com arte, que , para mim, é algo nobre e sagrado. Tudo o que eu  fiz até agora foi puro exercício - e talvez até mesmo um bom exercício - , mas disto não passa. Aliás, brevemente, virei a público falar de um outro projeto intitulado Maxitemah que , juntamente com o 100 Telas ali- cerçará doravante todo meu trabalho”.

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