domingo, 8 de julho de 2012

BEL BORBA REVISITA PIERRE VERGER

ARTES VISUAIS 
Novembro de 2003
Texto Reynivaldo Brito
Estamos vivendo um momento muito difícil em todo o mundo, fruto da globalização de um sistema financeiro que deixa milhões de pessoas na exclusão social. O nosso país particularmente, sempre um emergente que insiste em seguir os mandamentos colonialistas, é um dos que mais registram esta exclusão. Mas dentro deste mesmo país, que exclui milhões de seus filhos, temos alguns momentos de alegria com o nosso futebol vencedor, com a melhoria de um índice qualquer que mede o desenvolvimento e, principalmente, com sua arte pulsante, seja na música popular, nas artes visuais, no teatro, no cinema, seja em outras manifestações populares. Ao olhar as obras dos artistas brasileiros, especialmente dos baianos, reacende a minha esperança, não a esperança guiada por uma estrela cadente, mas na criatividade do artista brasileiro, que ainda não foi descoberto pelos grandes mercados desta globalização.
Tenho acompanhado de perto alguns deles. Vejo e sinto as inúmeras dificuldades, que se manifestam nas mínimas coisas, como na falta de dinheiro para comprar suporte para registrar a sua criatividade. Com o empobrecimento da classe média, os compradores sumiram. Mas os artistas resistem e produzem suas obras, mesmo não tendo para quem comercializar. Faço estas considerações com o simples intuito de lembrar às pessoas como é difícil fazer arte aqui, pois os incentivos quase inexistem. E chego até a Bel Borba, que vi começar fazendo seus primeiros desenhos em pedaços de papel, numa pequena garagem da casa de seus pais no bairro do Canela. Enxerguei juntamente com o saudoso Ivo Vellame, a sua potencialidade criativa  e acreditei no seu crescimento, na sua explosão. Não deu outra.
Aí está Bel Borba já apresentando os seus primeiros cabelos brancos, mostrando para todos nós que a quietude não é seu forte.
Ele saiu das galerias e museus e ganhou as ruas. Com cacos de ladrilhos coloriu paredes, barrancos, casas de burguesias e levou seus animais para hospitais e todos os lugares possíveis. Em Portugal, criou numa esquina uns quebra-molas com a figura de homem estendido com os braços abertos. Agora reencontro o artista trabalhando em 21 pinturas em acrílica sobre telas de 1,70 x 1,40 inspiradas nas fotos que o inesquecível etnólogo e fotógrafo francês Pierre Verger produziu desde seu desembarque em Salvador, nos idos de 1946. Notamos uma verdadeira transposição de momentos e flagrantes da vida da gente e da paisagem baianas numa releitura de fotografias para a pintura em acrílica numa linguagem contemporânea. Este é o Bel que nos encanta e que consegue manter viva a nossa esperança, com a sua arte vigorosa e popular.


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