sexta-feira, 13 de julho de 2012

ARTES VISUAIS - SANTE SCALDAFERRI - NO UNHÃO COMEMORA 20 ANOS DE ARTE

ARTES VISUAIS
SALVADOR, 14/05/2003
Texto e foto de Reynivaldo Brito
Sante em sua casa com seu santuário de ex-votos.
O pintor Sante Scaldaferri está expondo no Solar do Unhão desde ontem em comemoração aos 20 anos dedicados à arte. Uma pintura vinculada às raízes da cultura popular onde o artista explora toda a dramaticidade e a religiosidade do povo nordestino. Uma pintura forte como expressa a própria temática carregada de um misticismo a toda prova. A própria figura de Sante lembra um beato de fala mansa e de fácil conversa. As caras que preenchem todos os espaços de suas telas são repetitivas, mas não cansam. São figuras representadas pelos nordestinos quando necessitam pagar uma promessa e fazem seus bonecos de cerâmica ou madeira colocando escondidos nos cruzeiros, quase sempre afastados dos centros das vilas e cidades do interior. Os cruzeiros estão localizados nos arredores, em pequenos montes como verdadeiros vigilantes das vidas e destinos dessas localidades.
Sante sabe assim captar todo este misticismo e transportá-lo para tela e por isso vem marcando seu lugar no panorama pictórico da Bahia. O desenho não é apurado e não precisava ser porque ele busca exatamente traduzir os conhecimentos desta gente sofrida e esquecida do nosso Nordeste. Um detalhe curioso é que todas as suas figuras têm olhos grandes e vigilantes como a demonstrar que embora esquecidos, estão vivos e a qualquer momento poderão se agrupar, como já aconteceu com milhares que seguiram Antônio Conselheiro e outros fanáticos, que de vez em quando aparecem.
A pintura de Sante Scaldaferri tem assim uma importância histórica muito grande, porque ele retrata esta gente que tende a desaparecer à medida que o progresso vai chegando com as rodovias asfaltadas, com a invasão de “turistas” que só lhe trazem malefícios.
As cabeças são grandes, como também os narizes e os lábios grossos e curtidos pelo sol.
Tenho diante de mim uma de suas telas datadas de 1976, “Casa do Romeiro”, onde aparece um romeiro vestido “a rigor”, uma mulher de longos cabelos e muitas cabeças de beatos e um boi à  frente. Uma verdadeira “família” reunida dentro da visão pictórica deste artista de linhas e contornos fortes, que vive captando o misticismo do nordestino.
Nesta mostra Sante apresentou vários desenhos de alta qualidade,numa clara demonstração de que por trás dos ex-votos de traços irregulares está um artista completo. O texto acima está do catálogo-livro da exposição.

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