sábado, 2 de junho de 2012

WASGHINTON SALLES E SUA BONECAS INOCENTES



REVISTA NEON JUNHO DE 1999.
Texto Reynivaldo Brito

A inocência transborda nas crianças e bonecas criadas pelo artista Washington Salles.









Elas exercum fascínio sobre este cidadão pacato e reflexivo. O lirismo de sua pintura pode ser entendida na medida que nos defrontamos com suas idéias sobre o mundo e a relação com o ser humano A escolha do tema para desenvolver a sua obra não foi coisa do acaso. Ao contrário, acredito que deve ter acontecido como fruto de sua sensibilidade invulgar em enxergar a vida, a beleza da criança e suas fantasias.
O verbo brincar no sentido inato nos transporta para os momentos mais felizes e marcantes de nossas vidas. Quer nos anos posteriores quando observamos filhos, netos ou mesmo crianças geradas por amigos e conhecidos, ou até mesmo de pais anônimos.
É neste mundo de ternura que Washington Salles cria ou seja ele gravita ao redor de um mundo sem violência, sem maldades. O seu labor gira no mundo de paz e felicidade, de cores alegres e de muita intensidade.
Lembro que em 1975 numa matéria que escrevi sobre seu trabalho ele dizia “a minha pintura é tranqüila, talvez ela reflita o meu estado de tranqüilidade.Sou um artista que não tem pressa. Vou realizando o meu trabalho devagar e com cuidado para não prejudicar a sua qualidade”.
O artista tem uma visão global do mercado, inclusive é um dos que defendem que as obras colocadas em espaços públicos deveriam ser escolhidas mediante um concurso público, pois seria mais democrático e jus- to por se tratar de uso do dinheiro público.
Washington tem razão, por diversas vezes tenho reclamado dos métodos utilizados em nosso estado para colocação de obras de arte em espaço público. Os convites, tem sido pessoais e muitas vezes as soluções não são adequadas. Aqui em Salvador temos alguns exemplos de obras que realmente não acrescentam nada ao espaço onde estão instaladas e nem mesmo são um bom atestado de qualidade e criatividade dos seus autores.
Também é um artista que faz questão em incentivar aqueles que estão começando.É capaz de perder horas mostrando as técnicas do desenho ou da pintura, apontando saídas e caminhos.
Com seu temperamento generoso Salles vai distribuindo o seu saber e vibra quando alguém que começa desponta no cenário da arte. Considera Siron Franco um artista genial. Se identifica, com sua vontade de criar coisas novas e de sua ação política.Acha  Carybé um dos maiores desenhistas que já passou por este país e gosta da pintura de seu amigo Hélio Vaz, hoje afastado do mercado.

                                                                DESDE CRIANÇA

O gosto pela pintura aflorou desde os primeiros anos de sua existência. Em 1960 prestou vestibular para a Escola de Belas Artes da UFBA. Porém, só começou a pintar profissionalmente na década de 70. Um fato curioso que narrou foi que certo dia estava com uma vontade incontrolável para pintar e não encontrava nada que servisse de suporte .De repente, lembrou de um velho guarda-roupa jogado ao canto. Não teve dúvidas. Retirou do móvel um pedaço de compensado e realizou a sua vontade.
Nesta sua caminhada Washington Salles já esteve na Alemanha onde realizou uma série de trabalhos que hoje estão numa igreja. Vive antenado com o que acontece em termos de artes plásticas.
Convidou alguns artistas para juntos pintarem uma única tela, entre eles Floriano Teixeira, Carybé e muitos outros. Com esta idéia de participação de outros artistas no seu trabalho Washington dá uma demonstração de busca de integração com seus colegas de trabalho. Muitos ficam presos nos atelieres sem qualquer contato com outro colega, na luta diária pela sobrevivência.
Também outros se enclausuram guardando suas idéias como segredos a serem revelados numa próxima exposição. Já Washington não, ele se abre, mostra que a arte é a disponibilidade para que haja uma participação ainda maior.

                                                                   ESCULTURAS

O artista agora está realizando alguns projetos de esculturas, chegou inclusive a enviar um para o prefeito Antônio Imbassahy onde apresenta um conjunto de colheres de pau em cores variadas. A colher de pau é um elemento rico e uma ferramenta presente em nossa culinária.
O seu formato é simples, mas certamente na sua simplicidade está inserida toda a importância que ela representa na confecção dos pratos ricos de nossa cozinha. Esta idéia de Washington Salles está a merecer atenção do prefeito e quando da melhoria ou inauguração de uma nova praça poderia colocar uma escultura do artista. Aliás, é preciso diversificar a presença de outros artistas em nossas praças, quebrando um círculo que já está incomodando.
Ele tem uma posição muito clara sobre a presença do Mam no Solar do Unhão. A proximidade do mar, o difícil acesso àquele monumento histórico são razões apontadas por ele e outros artistas para o acervo do Mam fosse montado num local de fácil acesso.
Parodiando o cantor e compositor Milton Nascimento ele diz “O Mam deve ir a onde o povo está”. Certamente, esta idéia do Washington atualmente está mais difícil de ser concretizada porque foram investidos muitos recursos no Solar do Unhão, e o acervo agora está climatizado, o que era uma reclamação, inclusive nossa, que se arrastava há alguns anos. O que precisa mudar, e já, é a forma autoritária de administração ali instalada.
Também Washington Salles tem alguns projetos utilizando o simbolismo das lâmpadas e outros elementos domésticos como esculturas. Ele, como se diz na gíria, está “viajando” com uma série de idéias que estão surgindo, estudando, amadurecendo para em seguida iniciar a fase da realização.





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