Scliar e Emanoel Araújo no MAMB Fiz esta entrevista no Museu de Arte Moderna da Bahia no final de abril de 1977 e foi publicada no jornal A Tarde, de Salvador, no dia 3 de maio de 1977 . Reproduzo aqui por entender a importância do artista que precisa ser cada vez mais conhecido pelas novas gerações. O Carlos Scliar nasceu na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 21 de junho de 1920 e faleceu no Rio de Janeiro em 26 de abril de 2001. O título original foi : Carlos Scliar - O Artista é a galinha dos ovos de ouro dos marchands.Encontrei Carlos Scliar rodeado de amigos entre os quais Emanoel Araújo, Luís Jasmim, Jacyra Oswald e outros, no restaurante do Solar do Unhão. O papo estava animado e em determinado momento cheguei para entrevistá-lo sobre sua atual exposição que está aberta ao público no Museu de Arte Moderna da Bahia. Fiquei impressionado com a lucidez e a capacidade de se expressar de Scliar. Falamos de muitas coisas da sua primeira exposição aos 15 anos de idade em Porto Alegre, sobre sua presença na qualidade de soldado na Itália de 1944 a 1945, de sua pintura lírica ligada a Ouro Preto, do mercado de arte e sua ligação com a Bahia.O depoimento do Carlos Scliar deve ser lido e refletido porque interessa a todos aqueles que militam ou estão preocupados com nossas atividades culturais. O artista denuncia a procura do lucro fácil dos marchands, a preocupação em destruir as cidades históricas por construtores inescrupulosos através do abandono dos monumentos, que terminam por ruir, ali se construindo edifícios. Uma prática abusiva — como diz o artista — mas que está se disseminando por todo o País. E como não podia deixar do ser ele fala da gravura, pintura e de sua experiência como ilustrador.
A GRAVURA
Gravura de Carlos Scliar. Diz Scliar que "a gravura foi um meio que encontrei de comunicação maior com o público. Quero deixar claro que nunca abandonei a gravura e reconheço que num país como o nosso, em face de um público restrito que atingimos, indiscutivelmente temos que ter um papel no processo geral e cultural". E prosseguiu: “Num dado momento, quando você acha que tem uma função social, isto é que deve influir num número cada vez maior de pessoas, deve lançar mão de todos os meios de comunicação e expressão para conseguir o objetivo determinado. Aí é claro que a gravura entre os meios visuais possibilita muitos recursos para o artista. O problema dos custos, por exemplo, é fundamental. A gravura, sendo um múltiplo, possibilita atingir uma faixa maior de pessoas e é muito portátil, fica muito mais fácil você fazer uma exposição de gravuras, o que não acontece com uma exposição de pinturas".
A Casa Ateliê onde morou e trabalhou. - Lembro-me que em 1972 fiz um álbum de serigrafias - tem um exemplar exposto no Museu de Arte Moderna da Bahia - MAM-Ba, com uma tiragem determinada e doei alguns exemplares para universidades e museus do Brasil. Portanto foi uma exposição que circulou pelos Correios. Cada exemplar que chegava num lugar muita gente tomava conhecimento. Ora, num terreno como o nosso, temos tudo por fazer ainda - o que acho maravilhoso - por mais que a gente tenha feito alguma coisa por aí, não digo apenas em termos de Bahia, mas de Brasil, ainda é pouco."Acha Scliar que temos um potencial, uma possibilidade no país que nos obriga a aceitar qualquer desafio. "A gravura é um dos veículos que utilizo. Não abandonei nunca a gravura pela simples razão de que eu periodicamente faço gravuras. Acho que sou daqueles pintores que fazem gravuras. O mestre Goeldi certa vez disse que eu era um pintor que fazia gravuras. Isto ele me disse talvez como uma forma de crítica porque achava que eu não devia usar a cor na gravura. Respondi ao Goeldi, que era um homem restrito e muito explicito no seu conceito. Era um homem que achava que o gravador deveria ser exclusivamente gravador. O mestre Lívio Abramo pensa também desta forma. Eu penso diferente e tenho exemplos que não são deles dois. Basta lembrar Picasso e Matisse, que são dois dos maiores pintores do nosso tempo, foram grandes gravadores. Acho que citando o caso de Goya ou Rembrandt pegando outras épocas, mostro que são dois extraordinários pintores que foram também gravadores. Então quando eu faço a minha gravura ela se parece com a minha pintura. É claro que busco antes de mais nada respeitar sua linguagem específica. Porém, penso na gravura como uma continuação do meu trabalho como artista, como pintor. Um pintor que utiliza a cor. Quando pego o traço, o meu traço é exatamente parte do meu processo criativo, mas antes de nada todas as técnicas que utilizo são para me comunicar com as pessoas e isto é que é fundamental”. E continua: "Se utilizo hoje toda uma iconografia que já é conhecida como meus ferros de passar, minhas frutas estilizadas, é porque acho que a partir de um certo momento nós temos que usar um pouco aquela forma, como diria o La Fontaine de fazer fábulas, com os elementos para que as pessoas entendam aquilo que você está dizendo. As pessoas entendem muito bem".ILUSTRADOR
Livro Seara Vermelha de Jorge Amado, ilustrado Por Carlos Scliar.Edição para fora do país. |
CONVÍVIO
Carlos Scliar e escritor baiano Jorge Amado - Me senti capaz de ilustrar aquele texto porque eu tinha um tremendo convívio com a obra da Jorge Amado o também um certo convívio com sul da Bahia que era uma região que de certa maneira ele tinha descrito. Posteriormente ilustrei poemas de Vinícius de Moraes e livros de outros autores que tinham afinidade de temperamento. Agora, recentemente, eu fiz uma capa a pedido do Antônio Callado e fiquei muito espantado quando o convite veio, que era específico, pois ele desejava que a capa fosse feita por mim. Quando li o livro fiquei espantado porque era um livro da melhor qualidade e que tinha me emocionado, e via outra pessoa fazendo outra capa e não eu. Mas quando, de repente, me dei conta que ele conhecendo a minha obra querendo que fizesse aquela capa era possivelmente alguma coisa ligada à minha obra que ele queria. Foi o que fiz e acho que interpretei através da capa que fiz aquela síntese, aquela ideia, aquela espécie de metáfora que eu poderia fazer através de um quadro aparentemente abstrato daquela sugestão que trazia o livro "Reflexos do Baile", do Callado. Só faço Ilustrações de trabalhos que tenham afinidade com minha obra. Infelizmente autores que eu gosto muito e que aprecio no sentido da qualidade da obra confesso que indicaria outro artista para ilustrar, porque acho que a minha obra não seria mais adequada,"AS EXPOSIÇÕES
Capa do convite da exposição em 1981 na Sobre as exposições, salões e bienais, Carlos Scliar disse que há muitos anos tem a posição tomada: "é uma posição tomada não por ser conhecido, consagrado ou por ter uma clientela. Clientela é um fenômeno muito recente no Brasil, que tem quinze anos. Porque até então os pintores viviam de teimosos. Então, na verdade, antes disto eu não participava de salões por uma questão muito simples, porque achava que o salão no Brasil — o Salão de Arte Moderna — significava aquela possibilidade de você ganhar um prémio e ir para Europa. Ora, eu achava que já tinha vivido quatro anos na Europa, portanto já tinha vivido aquela parte e não devia de maneira alguma tirar o lugar de um jovem, que de outra maneira não poderia ir. Era uma posição consciente de quem já tinha coberto a sua parte. Claro que não foi através do salão que eu tive a oportunidade de ir à Europa. Já tinha tido condições segundo Rubem Braga – ter feito um rude prêmio de viagem nas Força Expedicionária do Brasil – FEB, mas que valeu muito esta minha estadia. Se eu voltei vivo, voltei com toda uma experiência também ligada a todo o mundo de arte em guerra, inclusive na Itália que foi muito importante para mim. Foi talvez até decisiva. Acho que até mudou minha linha de trabalho. Mudou de uma maneira radical. Eu que fazia um trabalho socialmente muito engajado ligado a uma realidade social que queria denunciar de repente me dei conta que pela minha própria origem cultural e econômica via uma realidade de janela porque nunca tinha sofrido aquilo, mas era sensibilizado pela miséria que rodeava. Então eu tinha uma consciência política das coisas, mas na verdade achava que o meu protesto estava se fazendo num nível ainda que autêntico e honesto era um pouco desligado da realidade. Possivelmente neste rude prêmio de viagem que foi de 44 a 45 na Itália, sendo soldado, vi de repente que a Guerra era uma coisa tão terrível, era uma coisa tão decisiva que despertou em mim todo aquele desejo de fazer as pessoas terem consciência de que a guerra era uma coisa que deveria ser evitada de qualquer maneira.
Mesmo sabendo que aquela guerra era mais do que justa, pois lutávamos contra o fascismo e nós não tínhamos procurado aquela guerra. Ao contrário, foi ela que veio ao nosso encontro. Tinha consciência que estava participando de uma coisa que era importante, decisiva da minha posição como homem consciente e ao mesmo tempo a guerra era uma coisa que não perdoava nada. Então saí da guerra muito temperado e, principalmente, consciente de que a vida era uma coisa fantástica. Assim, de repente minha pintura começou a ser voltada para o cotidiano que até ontem eu não percebia que era tão fundamental. Quero assim através das coisas que mostra em torno de mim, fazer as pessoas sensíveis à vida”.
MERCADO DE ARTE
Carlos Scliar gostava de pintar bules.
Falando sobre o mercado disse Scliar: Acho que o mercado de arte no Brasil tem todos os defeitos e as poucas qualidades de tudo que temos aqui. Isto é, estamos num país em formação onde4 nós mais imitamos os defeitos do que as qualidades que deveríamos aprender. O mercado está calcado fundamentalmente – quando eu penso no mercado é em termo de marchand, em lucros rápidos. São esses tais de lucros rápidos que estão destruindo a nossa paisagem, o nosso passado histórico, que é tão precário e tão pequeno. Então vemos que realmente criam nas pessoas aquela afobação que antes de mais nada é uma falta de tradição, uma falta de respeito com algo que é fundamental para nós que é nossa raiz cultural. Antes de mais nada é manifestação de falta de cultura. Acho que o verdadeiro marchand seria aquele que saberia que o artista é uma galinha dos ovos de ouro e ele tem que cultivar os ovos e não comer a galinha. Mas, infelizmente, o que vem acontecendo na prática é que eles querem comer a galinha. Nós vemos exatamente o marchand apressado querendo rapidamente fazer grandes lucros. Não querem nem que a galinha ponha os ovos, pois querem até negociar o quadro antes de estar terminado. Literalmente é uma falta de tradição. Não estou dizendo nada de original porque quem disse mais ou menos isto de uma maneira lúcida e perfeita foi Di Cavalcanti, há poucos anos atrás, numa entrevista que deu no Rio de Janeiro onde ele dizia que os diferentes setores que estão envolvidos num programa de arte no Brasil eram muitos precários a começar pelos artistas." Ele achava que tendo se formado numa maneira autodidata, num terreno precário eles não sabiam nem se defender profissionalmente. Nem sabiam bem que tinham uma profissão. Isto criava, inclusive em torno deles, um comportamento dos marchands, que também não tendo tradição nenhuma, só tinham a preocupação do lucro rápido e mais rápido possível. Este problema é tão sério que se amanhã a soja der mais dinheiro eles largam as galerias e vão plantar soja. Disse ainda que o público também tinha uma culpa muito grande porque existe uma parte não muito pequena do público que compra por uma questão de "status" em leilões completamente manipulados, quadros perfeitamente manipulados. O Di achava que isto era muito bem-feito, porque essas pessoas não sabiam respeitar o seu dinheiro, que era a única coisa que elas tinham."
- As palavras do Di, que eu
achei que colocou com muita justeza, com uma certa severidade e
bastante humor, mostram um panorama. Agora temos alguns marchands que
começam a desconfiar que têm de trabalhar diferente. Agora nós temos uma
faixa não pequena do público em diferentes pontos e quadrantes do
país, que começa a comprar quadros, porque gosta de quadros. Temos um
público fundamentalmente jovem que deixa de comprar uma geladeira
para comprar um quadrinho. Muitas vezes pagando a perder de vista, mas aquele quadrinho
é importante para eles e não estão comprando como aplicação. Nós
temos pintores hoje que se preocupam mais com esta faixa
de público jovem do que com colecionadores, que nós sabemos que
se preocupam com as assinaturas e não com os quadros. Então você vê que
esta coisa nova que existe no Brasil é o que dá ao país esta
carga e faz com que a gente tenha confiança que teremos muito
trabalho positivo pela frente. Claro que as dificuldades não serão pequenas,
pelo contrário, acho que serão maiores. Mas em compensação
nosso conhecimento aumenta um bocadinho”.
OURO PRETO
Foto que fiz numa visita a Ouro Preto. — Esta cidade é fascinante para o artista pela sua descoberta permanente. É uma cidade que me estimula no sentido de despertar nas pessoas toda aquela monstruosidade que é o não conhecimento daquele patrimônio que a gente vê se destruir pela ignorância, pela safadeza. Quando digo safadeza são aqueles seres que sabem que estão destruindo aquilo, mas que vão obter menos lucro se no terreno que tem uma casa antiga não for permitido que se ponha um arranha céu ou edifício naquele lugar. Então eles deixam a casa cair ainda que seja parte de um monumento. Esta mentalidade está em todo o Brasil, inclusive aqui na Bahia. Esta mentalidade tinha que ser denunciada como vinha sendo denunciada pelo Património Histórico e por inúmeros intelectuais e artistas brasileiros. Eu fiz minha bandeira disto a partir do momento que em 1973 fiz o meu primeiro painel sobre Ouro Preto. Queria mostrar a cidade de uma maneira mais polêmica que pudesse despertar nas pessoas este desejo de brigar pelo nosso patrimônio. De repente, no ano passado, depois de 20 anos ausente do Rio Grande do Sul, Ouro Preto de um trabalho coletivo no Clube de Gravura, a convite de Bagé voltamos para lá. O Grupo dos Quatro e trabalhamos juntos durante um mês depois de vinte anos. O contato com aquele ambiente, no ambiente onde novamente o trabalho emocional predominou sobre o trabalho intelectual. Quando voltei para Ouro Preto para terminar o painel eu não me vi capaz de fazer aquele trabalho de protesto que iniciara antes. Depois de quatro meses de uma luta com o trabalho elaborado, tive que refazê-lo várias vezes, finalmente, saiu um painel lírico e cheguei à conclusão de que o meu painel lírico era o meu protesto, porque na verdade é uma cidade idealizada, porque tudo aquilo que na cidade de Ouro Preto eu não gostava eu não mostrei no painel. Em vez de botar aquela mancha que queria denunciar, resolvi omitir tudo aquilo que tinha sido deformado e fiz a cidade idealizada. Acho que de certa maneira, o painel sensibilizou o público, pelo menos muita gente (eu sei) foi ver a cidade depois de meu painel. E acho que eles devem ter percebido a minha proposição.A ARTE BRASILEIRA
Ouro Preto acrílica sobre tela de Scliar. - Ouro Preto era para mim uma necessidade muito grande, de tomar uma posição, diria assim a favor de uma raiz como fosse uma alavanca, em defesa de uma raiz que é nossa. Onde é que começa e termina uma arte brasileira? Este assunto está em pauta. Cada um de nós dá a sua contribuição e eu estou tentando dar através do meu trabalho. Claro que hoje o meu trabalho em geral tem uma posição conceitual. Isto é, faço do meu trabalho, se possível uma arma para estimular a sensibilidade e a inteligência das pessoas. Gostaria que vendo um trabalho meu pessoa saísse de uma cuca um pouco fundida para uma boa. Uma boa significa que as pessoas sintam que a realidade que elas imaginam pode ser diferente para cada pessoa. Respeitem, inclusive, a sua própria individualidade porque eu posso despertar nela a sua maneira de ver diferente da minha. Quando alerto as pessoas como num quadro que está na exposição, que tem um texto escrito dentro dele é uma espécie de provocação para o público. Está escrito no quadro: Eu sou uma montanha pintada. E você? Este quadro é importante, na medida em que estou no momento armando toda uma exposição, que fiz em torno de proposições que obrigo a pessoa a entrar, numa outra faixa, que não a da tela pintada. Mas sim do conceito estabelecido ali dentro obrigando uma discussão da pessoa comum com o quadro e consigo própria. Então na medida em que a pessoa diante de um quadro se sente atuar com a sua cuca, eu acho que o quadro tem a sua utilidade, a sua função social também".FUNÇÃO SOCIAL
Barco pintado no litoral fluminense. Scliar achava que todo homem tem função social. O artista, atuando sobre uma faixa de público, tem uma obrigação ética de fazer daquilo instrumento, que é o seu Instrumento de trabalho, de expressão, alguma coisa que sensibilize, que permita que cada homem seja parte deste processo. Isto é patente desde a idade das cavernas quando o primeiro homem fez alguma coisa que foi útil para os outros. Através de um quadro, um conto ou um poema, as pessoas podem despertar para um problema que até aquele momento do contato com um destes instrumentos não pensavam daquele jeito. Na minha opinião, não há obra sem conotação política. Acho que toda obra é parte de um processo. O artista que pensa está desligado, está num papel de alienação. E é um papel político."SUA PINTURA ATUAL
Scliar e dois trabalhos que expôs no MAMB Falando sobre sua pintura atual, Scliar adiantou que dizer que minha pintura não me satisfaz era o mesmo que dizer que não gosto dela. Não é nada disto. Mas, ao mesmo tempo, se eu dissesse que estava satisfeito com o resultado que consegui, como se tivesse chegado a um resultado final, francamente eu não estou com o pé no túmulo. Ao contrário, quero viver ainda uns quarenta anos e pintando o máximo. Quanto a esta exposição, é uma oportunidade de vocês compararem vários quadros meus de 1940 até 1977. O painel de Ouro Preto é uma súmula pelo menos de quinze anos de Ouro Preto. Uma súmula lírica, e é um trabalho de protesto, dentro do seu lirismo. Explicava a um amigo que quando eu propus aquele painel, há dois anos atrás, tinha a ideia do painel, não da maneira que fiz. Mas de uma maneira diversa ligada a um painel de protesto para protestar contra a destruição que a cidade vinha sofrendo. Então achava que devia denunciar num painel aquelas coisas por serem fantásticas dentro daquela cidade torta nascida das mãos do homem rude. O construtor de Ouro Freto inventou uma cidade de acordo com uma topografia muito específica e praticamente inventou cada casinha em relação à outra. É como eu dizia ao Emanoel Araújo: é uma cidade cubista. Antes do cubismo já existia Ouro Preto. Portanto, o cubismo estava todo lá lançado. É uma cidade com a perspectiva clássica com um ponto de fuga, que você quebra a cara, pensando que vai estabelecer, analisar a cidade sobre este aspecto, é uma cidade que foi reinventada pelo homem de acordo com cada pedaço de terreno”.O RETORNO
Carlos Scliar sempre disposto a opinar. Sobre sua volta à Bahia, Scliar, já expôs na antiga Galeria Querino, na Rua Carlos Gomes, disse que "minha volta à Bahia não é uma volta, e sim um permanente retorno. Na verdade, estou tão ligado à Bahia, mesmo antes de vir através os livros de Jorge Amado. Na verdade, a partir do momento, quando nos meus 14 a 15 anos, li os primeiros romances de Jorge, já fiquei sendo parte daquela imensa quantidade de pessoas que no Brasil afora realmente se ligaram para o Brasil para o resto de sua vida. Em 1941 estive na fazenda do pai dele e ali colhi elementos para ilustração de Seara Vermelha, no sentido de terra, de ambiente, de vivência, e, em 1944 quando vim. Já vim sobre o patrocínio de Jorge Amado e quando depois fiz os painéis em 1973 para o Centro Administrativo também o meu padrinho foi o Jorge. Isto aconteceu depois de uma viagem que fizemos a Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. É que me empolguei tanto com estas duas cidades que ele, percebendo meu entusiasmo, acabou sendo meu advogado e, de repente, disso resultou o convite para fazer os painéis. Agora esta exposição nasceu da continuidade deste clima através de Fernando Peres a Jacyra Oswald, que tendo visto um painel no Rio de Janeiro queriam este painel exposto aqui. Tendo vindo em dezembro para a exposição da coleção de Gilberto Chateaubriand do qual eu sou um dos padrinhos, tive o convite confirmado, ou melhor, ampliado, pois além do painel faria uma pequena retrospectiva, a qual só foi possível porque eram peças do meu acervo. Portanto, estou aqui na Bahia, que é minha casa porque sempre estive ligado a ela”.