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Celso desenhando nova obra. |
O meu entrevistado de hoje é o artista , escultor e muralista Celso da Cunha
Silva Neto ou Celso Cunha que tem mais de quarenta anos de experiência. Neste
período criou importantes esculturas, murais e painéis para empresas, entidades
públicas e particulares daqui e de outros estados. Fui encontrá-lo em sua casa no
bairro de Stella Maris, em Salvador, onde tem um ateliê e ali realiza seus
trabalhos que não exigem grandes espaços. Quando isto acontece a necessidade de mais espaço vai trabalhar no
ateliê localizado no litoral Norte apropriado para esculturas e murais de grandes
dimensões. Seu temperamento é aparentemente calmo e tem uma relação
profissional permanente com o computador para fazer os projetos e desenhar suas
obras com a racionalidade daquelas pessoas que gostam do Desenho e da Matemática.
Seu primeiro e grande destaque nas artes plásticas baianas foi quando em 1978 com
apenas vinte e cinco anos de idade foi o vencedor do concurso público para
criação de um mural de 15m x 3m que foi instalado no foyer do Teatro Iemanjá no
então moderno prédio do Centro de Convenções da Bahia, o qual infelizmente nos
últimos três governos vinha se deteriorando e recentemente desabou uma de suas
áreas, e hoje está abandonado. Soube que
o mural foi retirado e que teria sido embalado, e guardado na Secretaria de Turismo do Estado da Bahia.
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O belo painel ficava no foyer do Teatro Yemanjá, no Centro de Convenções,que hoje estaria embalado. Soube que foi retirado das ruínas do Centro de Convenções, mas não sabemos onde se encontra atualmente. |
Aliás a Bahia é pródiga na destruição de obras de arte. O
artista Carlos Bastos que pintou muitos murais em Salvador, já teve vários
deles destruídos e outros sofreram intervenções.Conta Celso Cunha que recebeu um telefonema de um homem, que não
lembra o nome, dizendo que tinha arrematado um mural de sua autoria numa
demolição, e queria lhe vender. Essa pessoa afirmou que era o painel da Petrobrás Distribuidora localizada na Av. Tancredo Neves. Na hora do telefonema foi pego de surpresa e não perguntou o nome do vendedor e qual era o mural. Também um arquiteto amigo lhe informou que foi a um
antiquário daqui e que lhe ofereceram uma escultura por um preço
exorbitante. Inclusive o antiquário disse ao arquiteto que o artista já tinha falecido,
e por isto valia mais.
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Bailarina, feita em mármore reconstituído pintada com tinta automotiva. Tem 2,0 m,datada de 1995. |
Celso Cunha É formado em Licenciatura em Desenho e Plástica pela
Universidade Federal da Bahia e em Arquitetura/urbanismo pela Unifacs. Foi durante dois anos professor concursado, ministrou aulas de Xilogravura, Gravura em Metal, Técnicas de
Processos Artísticos, Desenho II e Técnica de Utilização de Materiais Especiais
e Técnicas de Escultura Contemporânea. Através a Fapex realizou vários cursos
e oficinas na EBA/UFBA. Mas, sua atividade de professor conflitava com os trabalhos que
tinha que fazer. Lembra que certa vez recebeu uma encomenda para criar uma
gruta na cidade de Curaçá, no interior da Bahia, e tinha que viajar nos finais
de semana. Era complicado. Atualmente está voltado para sua arte sempre
estudando e realizando seus projetos para apresentar a possíveis interessados.
Perguntei como acontece as encomendas de suas esculturas e murais, ele disse
que na maioria das vezes é procurado por arquitetos, construtores e mesmo por
colecionadores. Também quando ele observa a possibilidade de ver instalada uma
obra num novo empreendimento entra em contato para saber se há interesse. Assim
o diálogo é estabelecido e que pode prosperar ou não a depender das conversas e
circunstâncias. Como muito de suas obras estão em locais públicos e já tem uma
longa estrada percorrida sempre surgem as encomendas.
CRIATIVIDADE
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Várias esculturas de animais criadas por Celso no projeto de humanização do centro pediátrico. |
Na conversa que tivemos Celso
Cunha lembrou que nasceu no Hospital
Manoel Vitorino, no Largo de Nazaré, em Salvador, e logo depois foram morar na
cidade de Itambé porque seu pai havia sido transferido pelo Banco do
Brasil do qual era funcionário. Posteriormente moraram na cidade de Três
Lagoas-Mato Grosso do Sul, retornando definitivamente a Salvador quando ele já
estava com cinco anos de idade. Ao chegarem foram morar, no Largo de
Roma, próximo a empresa de prestação de serviço em
eletrotécnica de propriedade do seu pai. Cursou o antigo primário no
Convento da Soledade. Sua casa ficava defronte do
complexo de hospital e outras entidades criadas por Irmã Dulce. Isto nos anos
1950 e tudo ainda estava começando, e quando a irmã Dulce não dava conta da
demanda apelava geralmente para pessoas ligadas a ela e que sabia serem
católicas e caridosas. Foi assim que certo dia uma família inteira bateu
na porta da casa e sua mãe a recebeu, mandou entrar, tomaram banho, ganharam
novas roupas e foram embora. “Hoje, isto seria impossível”, diz o Celso Cunha e
dá uma risada. Ele foi criado neste ambiente de escola e teve uma sólida
formação católica chegando quando jovem a ser da Congregação Mariana.
Depois foram morar na Lapinha, cursou o antigo primário no Convento da
Soledade onde a maioria de seus familiares morava e lá lembra da animação dos
Ternos de Reis todo 1o. de janeiro e da saída dos carros do Caboclo e da
Cabocla no 2 de julho.
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Escultura do orixá Iyami Oxorangá, mistura de mulher e pássaro. |
Mas, o que mais lhe marcou foi a presença na igreja de sua avó que tinha uma relação muito forte e sempre lhe levava. Estava com cerca de 14 para
15 anos de idade. Estudou na Escola Técnica Federal, no bairro do Barbalho, e foi muito importante para ele porque a cada 15 dias o aluno era obrigado a
frequentar por rodízio aulas de marcenaria, mecânica, serralharia, desenho,
mecânico, artístico e técnico, tornearia de madeira e metal, alfaiataria dentre outras
especialidades, até no segundo ano de ginásio descobrir qual seria a sua
preferência e tendências. Lá teve contato com vários tipos de ferramentas e
materiais o que foi muito importante para o seu trabalho escultórico e
artístico de maneira geral. Porém, quando foram morar em Roma e teve que deixar a
Escola Técnica no terceiro ano, e concluiu o ginásio no Colégio Luiz Tarquinio.
Sua fase de estudos no ginásio e colegial foi muito recortada por causa das
mudanças que seu pai era obrigado a fazer devido as transferências que ocorriam
no Banco do Brasil onde trabalhava.
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Escultura em fibra de vidro na Rodoviária de Salvador, com 6 m . |
Aí começa a busca por uma profissão definitiva e foi prestar vestibular
para Análise de Sistemas, chegou a fazer um pequeno estágio na IBM, na Escola
Superior para o Trabalho - ESUTRA, mas terminou deixando com receio da escola
não ser reconhecida e perder seu tempo. Trabalhou alguns anos como desenhista
em alguns escritórios de Arquitetura em Salvador, isto nos anos 1970. Foi
quando conheceu o saudoso Ivo Vellame que era da Escola de Belas Artes. Tinha feito
alguns cursos livres por lá e recebi o seu incentivo para estudar na EBA. “Por
insistência dele fiz o vestibular e passei. Já no terceiro ano estudando fui
aprovado no vestibular para Arquitetura e e resolvi cursar em 1983. Fiz uns trabalhos ou sejam murais e o painel dos 150 anos do Banco Econômico e
tive que viajar para São Paulo. O arquiteto era Durval Lelis, hoje um famoso
cantor, que é meu amigo. Fui assim fazer dois painéis em épocas diferentes.
Também criei e executei outros painéis e murais no interior do Estado. Foi aí
que tive dificuldade em continuar o curso de Arquitetura. Depois vi que
precisava ter uma profissão que me desse alguma segurança e então decidi fazer Licenciatura
em Desenho, o que me permitiu ensinar na Eba”, diz Celso Cunha. Até que um dia
resolveu que deveria concluir o curso de Arquitetura e assim se matriculou na UNIFACS
e se formou. Chegou a começar o Mestrado, mas largou e passou a trabalhar com
mais intensidade.
QUEM É
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Projeto de sinagoga em Toronto, no Canadá. |
O artista Celso Cunha nasceu em Salvador em 7 de junho de
1953 e foi batizado com o nome de Celso da Cunha Silva Neto, seus pais Celso da
Cunha Silva Filho e sua mãe Amélia Cabral Cunha. “Cresci numa família de
artistas. O meu avô escrevia e quando não estava trabalhando, naquela época era
no Tesouro, ele desenhava e quando chegava a época de Natal gostava de armar um
grande presépio e desenhava paisagens e as cidades por onde Jesus passou. Umas
tias estudaram pintura na Panorama Galeria de Arte, e até minha avó gostava de
pintar. Na realidade eu adoro a
Matemática, a marcenaria e passa a me mostrar vários móveis de sua casa feitos
em grossas tábuas de pinho. Os móveis além da praticidade se mostram bem-acabados
e robustos. “Quase não chamo ninguém para fazer serviços de marcenaria,
eletricidade, mecânica etc. Eu mesmo dou meu jeito", diz orgulhoso o artista
Celso Cunha acostumado que está a mexer com vários tipos de ferramentas para
criar seus murais, painéis e esculturas.
“Adoro trabalhar com as mãos hoje praticamente não tenho
mais ajudantes porque a dificuldade de encontrar uma pessoa interessada a se
dedicar é muito difícil. Então faço minhas esculturas geométricas e meus murais
e painéis trabalhando a madeira, os metais e outros materiais que integram as
obras. Tudo começa com o desenho que faço geralmente no computador por ser mais
prático e você pode rotacionar para ter uma ideia de como será vista por vários
ângulos. Passei uma boa temporada, quase dez anos no Hospital Aliança fazendo a
humanização do ambiente. Então eu fiz várias esculturas de animais entre os
quais camaleão, ema, e mesmo um mural c0m elementos infantis.", adiantada o Celso Cunha.
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Celso com sua escultura de Antônio do Garanguejo, Itinga, Lauro de Freitas. |
“Basicamente sou desenhista, faço as esculturas em escala, e
apresento ao cliente. Quando é feito o contrato parto para a execução e sempre
procuro cumprir os prazos”, disse Celso Cunha.” Faz poucas esculturas figurativas,
geralmente são geométricas com forte influência dos triângulos e retângulos.
Algumas delas são inspiradas no guardanapo que ele dobra e dão várias
formas de movimento apontado para o céu.
Noto que sua produção escultórica é sintonizada e integrada à
arquitetura, inclusive trabalhando em parceria com os arquitetos Fernando
Peixoto, Ivan Smarcewski, Neilton Dórea, Luiz Humberto Carvalho, André Sá, Francisco
Motta, Ricardo D’Albuquerque, Sérgio Doria, Alberto Fiuza e no início com
Durval Lelis, além de vários construtores. De 1996 a 2010 projetou e executou
as esculturais de vários animais que povoam os jardins do Centro Pediatria do
Hospital Aliança, assim como a gruta de meditação em seu interior, trabalhos
que fazem parte do projeto de humanização do hospital.
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Painel dos 150 Anos do Banco Econômico com 3m x 3m, Salvador. |
Projetou e executou em 2009 a reprodução da gruta religiosa
de Patamuté, na cidade de Curaçá, interior da Bahia, patrocinado pelo
Ministério do Turismo. Uma obra de arte urbana que provavelmente é uma das
maiores em estrutura em fibra de vibro do Brasil, com uma cúpula de 15m x6m de
altura. Também é autor da bela escultura geométrica de cor vermelha feita em
fibra de vidro na entrada do Terminal Rodoviário de Salvador, e do monumento em
homenagem a Antônio Caranguejo, na Praça do Caranguejo, em Itinga, no município
de Lauro de Freitas, em 2011. O Celso Cunha também já executou esculturas para
outros artistas.
Tem murais em agência do Bradesco, no Rio de Janeiro; Centro
Empresarial Itaigara, Salvador; Edifício Oscar Pontes, Salvador; Hotel
Arcobaleno, em Porto Seguro, Bahia; Hotel Monte Pascoal, Porto Seguro, Bahia;
Grande hotel de Caldas de Cipó, Bahia, e Bradesco, em Itabuna, Bahia. Esculturas:
no edifício Mansão Wildberger, Salvador; residência de Paulo Sérgio Tourinho, Salvador;
busto de Maria Felipa; e busto de Paulo Sérgio Tourinho, no Hospital Aliança;
de Smith Kline, na Irlanda; Hotel Fiesta, Salvador, edifício Palácio Itaigara,
Salvador, no Centro Empresarial Caminho da Redenção, Salvador, esculturas no Condomínio
Le Parc, Salvador.
Fez sua primeira exposição individual na Galeria Cañizares,
em 1979 e participou da exposição coletiva em 2023 sobre a Independência da
Bahia, também na Cañizares; Exposição Proposta e Cadastro e do Salão Universitário,
em 1980, no foyer do Teatro Castro Alves; exposições no Hotel Meridien, no Hotel
Sofitel Quatro Rodas, na Loja Alufil, Hotel Quatro Rodas novamente, Galeria Prova
do Artista e no Restaurante Porcão, exposição no SINAPEV-Ba.todas em Salvador.
Fez intervenções artísticas na Feira de São Joaquim , em 2010 e no Centro de
Abastecimento de Feira de Santana, também em 2010. Preside atualmente a Associação Baiana de Artistas Visuais - ABARVI.