domingo, 8 de maio de 2022

EXPOSIÇÃO COLETIVA NO MUSEU RODIN REÚNE DIFERENTES

Vemos aí quinze dos vinte e dois artistas  participantes  da exposição Raimundo Bida, Félix Sampaio, Salomão Zalcbergas,
Gil Mário, Guache, Washington Árleo, o diretor do Museu Rodin Murilo Ribeiro, Bernardo Tochilovsky, Gabriela Joau,
Fátima Tosca, Sara Victória, Ramiro Bernabó, Ana Castro, Chico Mazzoni, Miguel Cordeiro e Waldo Robatto. 
V
inte e dois artistas estão participando de uma bela exposição coletiva no Museu Rodin, no Palacete das  Artes, bairro da Graça, em Salvador, onde você pode apreciar estilos diferentes de pinturas, cerâmica e também esculturas em granito de autoria do artista Félix Sampaio, que para mim é um dos destaques entre os que estão expondo. Participam da exposição os artistas Ana Castro, Bernardo Ribeiro Tochilovsky, Chico Mazzoni, Fátima Tosca, Félix Sampaio, Gabriela Joau, Gil Mário, Guache Marques, Guel Silveira, Grace Gradin, Juraci Dórea, Leonel Mattos, Márcia Magno, Menelaw Sete, Miguel Cordeiro, Raimundo Bida, Ramiro Bernabó, Salomão Zalcbergas, Sara Victória, Vauluízio Bezerra, Waldo Robatto e Wasghinton Árleo, e tem o sugestivo nome de Um Recente Recorte da Produção Diversa e Contemporânea da Bahia, organizada pelo diretor do Museu, o também artista Murilo Ribeiro.

Escultura de Félix Sampaio
É uma boa oportunidade de apreciar um conjunto de obras de arte porque já se vão dois anos que museus e galerias de arte vinham sofrendo com as restrições impostas devido a pandemia que se abateu em todos os cantos deste Planeta Terra. Tive a satisfação de visitar a mostra em companhia de Murilo Ribeiro e ver que estes artistas reunidos representam uma parte importante da arte contemporânea que ora se produz na Bahia. São maneiras diversas de expressão que estão ali reunidas o que nos permitem momentos de deleite ao observar cada tela, peça de cerâmica e escultura. Evidente que umas obras me tocaram mais de perto, outras nem tanto, mas não deixam de ter a sua importância porque podem não me tocar ou não me emocionar, mas podem emocionar outras pessoas. É assim que acontece quando estamos diante de uma diversidade significativa de criações onde são utilizadas técnicas e materiais por artistas distintos.

Félix trabalhando na grande
escultura para o Memorial
de Irmã Dulce.
Para criar suas esculturas  Félix Sampaio  parte de blocos brutos de granito e consegue pacientemente criar belas esculturas com formas que vão se cruzando deixando espaços vazios o que resulta em obras de uma leveza singular. É realmente um trabalho de fôlego que nos leva a não apenas observar, mas também nos convida  a tocar e acompanhar com as mãos aquelas formas circulares se entrecruzando, e vamos sentindo o volume de cada peça. Confesso que não conhecia a produção escultórica deste artista que soube ter seu estúdio pras bandas do bairro de São Cristovão. Depois fiquei sabendo por ele que tem esculturas suas no Memorial de Irmã Dulce, que são muito apreciadas pelos visitantes. Já tinha estado com ele há muitos anos atrás quando fez uma exposição em Salvador e cheguei a publicar numa nota nesta coluna quando estava no jornal A Tarde.

Na conversa que tive com Félix Sampaio  ele disse antes vivia de pintura e que chegou em Salvador por volta de 1986 vindo da cidade de Itiruçu onde residem seus familiares. Embora seja natural do Mato Grosso do Sul, de onde saiu bebê, foi em Itiruçu onde fincou suas raízes. Hoje, residente aqui em Salvador e está mudando seu atelier para Abrantes, na Estrada do Coco, para um local maior para que possa receber carretas com carregamento de blocos de mármores e granitos para fazer suas esculturas. 

A escultura em mármore de Carrara que ele fez em apenas
 vinte e dois dias de intenso trabalho no atelier alugado.
Félix  falou ainda de sua experiência na Itália, mais precisamente na cidade medieval chamada Pietrasanta, cidade que  fica no litoral da região de Toscana,  quando em 2018 alugou um espaço no atelier de um artista local e pode trabalhar com um bloco de mármore de Carrara. Esta cidade tem apenas 27 mil habitantes, e no centro da cidade funcionam dezenas de galerias de arte e ateliers cujos espaços são alugados para artistas do mundo inteiro. A cidade de  Pietrasanta é um museu a céu aberto com muitas esculturas espalhadas por ruas e praças por isto é conhecida como a Cidade do mármore e das artes.

Disse ainda Félix Sampaio "foi uma experiência sensacional porque via artistas de vários países trabalhando, conheci de perto as ferramentas que utilizavam, e a maneira de esculpir. Foi um aprendizado muito grande para mim que em 22 dias consegui fazer uma escultura de um bloco de mármore de Carrara. Estava no lugar certo, na hora certa.  Aqui os artistas utilizam mais o aço, fibra de vidro e bronze. Mas, estes materiais têm alguns inconvenientes porque o salitre ataca muito, e até mesmo são roubados, principalmente as esculturas de bronze. Por isto, imaginei trabalhar com o granito e as ferramentas que utilizo são o martelo pneumático, vários tipos de cinzéis, disco de makita para cortar o grosso e lixadeiras elétricas. Trouxe recentemente dois blocos de granito de Maracás  e outro da cidade de Macajuba, que fica na Chapada Diamantina. Este material também está difícil adquirir porque os empresários preferem exportar."

 Leonel Mattos expõe esta obra que está encantando os visitantes, e mais uma escultura feita em resina.

O Leonel Mattos apresenta duas obras. Uma pintura em acrílico sobre tela de 4 m x 120cm e uma escultura de resina de 1m de altura. A produção de Leonel Mattos vem se expandindo a cada dia e sendo procurada por uma clientela apreciadora da sua arte. Nesta pintura que integra a exposição do Museu Rodin ele trata de cenas urbanas com elementos que transitam entre o figurativo e o simbolismo. A sua  pintura que não está num suporte, mas  chama a atenção por seu colorido e os elementos que a compõem. Enquanto a escultura o artista apresenta o ícone que se "parece com uma ave ,mas na verdade veio da simplificação da figura humana", diz Leonel Mattos. 

Árleo ao lado de sua obra, mostrando sua alegria
Conversei também com o artista Washington Árleo, um dos artistas mais representativos de sua geração que sempre está mostrando sua inquietude ao questionar o próprio mercado de arte, a ausência de pessoas que antes referendavam os bons artistas, e outras questões que envolvem a atividade artística na Bahia. Ele poderia estar tranquilo já que sua obra tem uma linguagem própria e como ele mesmo diz  muitos estrangeiros que passam pelo seu atelier ficam impressionados com a originalidade de cada tela.  Ao falar sobre o tríptico  que está expondo no Palacete das Artes disse que há vários anos não expõe fora do seu atelier. Reclama que os decoradores e galeristas não o incluem em seus projetos e que isto  de alguma forma os prejudicam. Portanto, está na hora de decoradores e galeristas olharem para a produção de Washington Árleo que tem qualidade e pode estar em qualquer ambiente. Não foi por acaso que  colocou o nome de sua obra exposta nesta coletiva do Museu Rodin de Divórcio da Arte da Bahia, que era um tríptico e ele separou as telas. 

Com seus quase cinquenta anos dedicados à arte Árleo é uma mistura de  um jovem adolescente cheio de energia com um homem maduro cheio de experiência e vivência. Já morou em Portugal andou expondo em Paris e outras cidades  europeias e aqui está produzindo sua arte com uma linguagem própria. Ao ver uma tela pintada por ele a gente que tem  mínima informação sobre arte baiana identifica que é de sua autoria. 

Pedi ao artista que falasse um pouco de sua técnica que lhe permitiu ter uma linguagem própria. Ele me disse que sofreu influência direta do artista americano Robert Rauschenberg (1925-2008) que segundo alguns inventou a arte do século XX. Na realidade foi "um artista que não se limitava a ideia tradicional do pintor que se restringe a um único estilo ou a única disciplina". Portanto, Árleo usa a técnica de transfer de imagens através a serigrafia, e ao executar as suas obras escreve recortes de textos como fazia o artista Jean-Michel Basquiat (1960-1988) que viveu apenas 28 anos, mas se tornou uma estrela internacional do neoimpressionismo. Nascido em Nova Iorque começou pintando os muros da cidade até ser descoberto e ganhou status de estrela ao desenhar suas figuras e escrever palavras e frases que se tornaram famosos. Também Árleo se apropria da técnica de salpicar tinta nas telas que é uma marca do Jackson Pollock artista americano ( 1912-1956) que é um dos expoentes do expressionismo abstrato que se caracteriza pela espontaneidade utilizando o cotejamento de tinta em suas obras.

Aqui vemos o belo tríptico do artista Washington Árleo, que é um resistente com seu atelier no Pelourinho, onde recebe muitos visitante e clientes, principalmente estrangeiros. 

Árleo diz fazer "uma operação de antropofagia  porque tudo que acho pela frente serve para ser utilizado em minha criação. Em seguida vou estabelecendo uma relação entre esses objetos que me aproprio . É como se pegasse um recorte de memória e fosse ali juntando espontaneamente num único espaço. Depois passo a pintar e a escrever frases e palavras que me vêm a cabeça naquele momento. Tudo que tiver ao meu alcance meto a mão e uso nas minhas telas. Fico feliz quando uma pessoa olha minhas obras de pronuncia a palavra original. Os franceses que visitam meu atelier sempre saem com esta expressão e isto me conforta muito." Realmente as obras de Washington Árleo tem uma identidade própria, sua própria linguagem que qualquer pessoa de olhar mais atento percebe.