segunda-feira, 18 de maio de 2020

ONDE E COMO ESTÁ O ACERVO DO MUSEU DA CIDADE ?

Fachada do Museu da Cidade fechado há vários anos

"Qualquer coisa que vocês façam contra a sua   preservação e o bom funcionamento,
me faz sofrer 
como se fosse atingida pessoalmente".
Elyette Guimarães de Magalhães, idealizadora do Museu da Cidade do Salvador.
Ela faleceu no dia 20 de agosto de 2017.
Vivemos numa Cidade rica em História e Cultura porém seus gestores - tanto do Estado  quanto da Prefeitura - ao invés  de incentivar e promover os mais significativos movimentos culturais e seu patrimônio histórico e cultural os colocam em segundo plano.Focam no Carnaval, que é uma festa que dá a eles visibilidade, e engana o povo. É o que os cientistas políticos costumam chamar de "circo". Observe que ano após ano o número de dias dedicados ao Carnaval só aumenta, invadindo até a Semana Santa, antes guardada com muito respeito pelos católicos. Os investimentos são vultuosos e sempre dão a desculpa que é patrocínio da empresa privada. Por quê não arranjam patrocínio para os eventos culturais, a manutenção e compra de novas obras para os museus? Simplesmente, porque isto não dá muita visibilidade e votos. Preferem que o povo fique cada vez mais inculto e tome-lhe circo. Hora de balançar a bunda !
Catálogo de inauguração do Museu
da Cidade 
Fiz esta introdução para falar de um absurdo cometido pelo Prefeito ACM Neto que foi o fechamento do Museu da Cidade do Salvador, localizado no coração do Centro Histórico, que é o Largo do Pelourinho, naquele tradicional casarão amarelo, que fica colado com outro ocupado pela Casa de Jorge Amado, de cor azul.
Orixás de autoria do artista Alecy,
conhecido cenógrafo
 O Museu da Cidade do Salvador está fechado desde a primeira administração do atual prefeito sob a alegação que iria sofrer uma reforma.- e ninguém sabe por onde anda seu rico acervo e como está sendo conservado. Procurei alguma nota pública no site da Fundação Gregório de Mattos ou mesmo no em várias publicações  sobre este absurdo, e só encontrei reclamação de turistas que se dirigiram ao Museu e encontraram  as portas lacradas sem qualquer aviso, inclusive as existentes nas redes sociais. Coisas dos péssimos gestores que hoje comandam o nosso Estado.
 Olhe que o Museu continua nos guias dedicados ao turismo como  está em funcionamento. Nem este cuidado eles têm de informar ao público para evitar constrangimento e frustração.
 O que queremos saber é onde está o rico acervo deste museu que foi reunido com dedicação e esmero , por sinal por uma mulher dinâmica casada com Jaime Magalhães , um dos irmãos do avô do ACM Neto, a saudosa Elyette de Guimarães Magalhães, que veio a falecer em 20 de agosto de 2017, com o museu já lacrado.
Obra de Presciliano Silva ,
" A Sé sob o Luar"
  
O MUSEU 
Este Museu da Cidade do Salvador tinha um rico acervo e poderia ter sido acrescentados muitos objetos e obras de arte de valor histórico e cultural no decorrer dos anos após sua fundação. Mas, como diz um blog conhecido "A Bahia é a terra do já teve", os que a administram tratam de destruir o que que bom encontram pela frente. Isto vem acontecendo com este museu, que se propunha a contar a História da Cidade através de objetos que pertenceram a grandes baianos como Castro Alves , esculturas, pinturas, trajes de Orixás e  adereços de prata e ouro usados no período Colonial . No acervo constam obras de Presciliano Silva,Mendonça Filho,Alberto Valença , Henrique Oswald, João Alves, Geraldo Rocha, Caribé, Jenner Augusto, Carlos Bastos,esculturas de Agnaldo Silva, jóias do joalheiro e etnógrafo Waldeloir Rego, e da artista Liane Katsuki, hoje morando na Holanda;coleção de bonecas de pano, mostrando como brincavam as crianças na Salvador colonial, tradição esta  ainda hoje presente no interior do Estado. Portanto, encontrávamos por lá uma série de obras e objetos importantes reunindo manifestações sagradas e profanas. 
Escultura de Agnaldo 
 Silva- Máscara II
Lembro do dia da inauguração em 5 de julho de 1973 , e a satisfação de Elyette de Guimarães Magalhães andando de um lado para outro nos salões do Museu cumprimentando os convidados.
Ela escreveu no catálogo datado de  março de 1975 " Qualquer coisa que vocês façam contra a sua preservação e o bom funcionamento, me faz sofrer como se fosse atingida pessoalmente. Esta casa é como se fora a minha casa".
Joias de Baiana - Festa Sagrada
- em ouro

Em setembro de 1978 promoveu o I Encontro de Arte da FUMCISA - que era a Fundação Museu da Cidade do Salvador, que administrava o museu , reunindo obras de dezenas de artistas. Escrevi na época nesta coluna : O Encontro é organizado por Elyette Magalhães e aqui devo registrar o seu esforço em realizar exposições com certa coerência de qualidade e temporalidade".
Parte dos objetos da Coleção do poeta
Castro Alves.
 Atualmente, o que vemos são reações de indignação como da turista paulista Suellen Galhego que foi visitá-lo em março de 2019, baseada num Guia Turístico da Cidade do Salvador. Ela encontrou o Museu fechado. Daí  registrou , entre muitos outros, nas redes sociais :" Fui visitar o museu, porém para minha desagradável surpresa quando cheguei, descobri que ele foi fechado para reforma e nunca mais foi reaberto."
Portanto, é um problema de prioridade. Preferem destinar milhões e milhões de reais para blocos e artistas milionários durante o Carnaval do que investir na Cultura e particularmente em nossos museus.













sábado, 16 de maio de 2020

O QUE FOI A EXPOSIÇÃO GERAÇÃO 70

Visão de uma das salas onde foi montada a
exposição no Museu de Arte
A exposição Geração 70 que coordenei juntamente com o saudoso amigo, e meu ex-professor de Geografia, no colégio Salesiano, Ivo Vellame, surgiu de umas conversas entre nós e alguns jovens artistas oriundos da Escola de Belas Artes, da UFBa , onde ele era diretor.
Estávamos no ano de 1985,quando havia um certo marasmo em Salvador dos movimentos artísticos. A nossa ideia foi evoluindo e queríamos continuar com este movimento chamando outros artistas e realizando novas exposições. Eu trabalhava no então prestigioso jornal a A Tarde, que era o maior do Norte e Nordeste , e tinha repercussão quase tudo que ali era publicado.
O maestro Fred Dantas com seus músicos
 deram um show
Diante das dificuldades financeiras só conseguimos reunir 10 artistas, também devido ao espaço reduzido que nos foi cedido  no Museu de Arte da Bahia , localizado no Corredor da Vitória. 
Foi uma das  maiores de todas as mostras em presença  de público , naquela época. No dia da exposição o trânsito ficou prejudicado em frente ao prédio do Museu de Arte da Bahia. Tivemos apresentação de Dança, sob a direção de Livia Serafim, de Teatro,  e a Orquestra de Fred Dantas animou a exposição. Foi um dia de alegria em Salvador. 
Performance comandada pela dançarina
Lívia Serafim
Um agradecimento ao Heitor Reis, que teve sensibilidade e não mediu esforços para apoiar a exposição, quando era Coordenador  Artes Visuais da Fundação Cultural da Bahia. Lembro que até o governador Antônio Carlos Magalhães esteve visitando a exposição. Também, conseguimos um patrocínio do Banco Econômico , este banco baiano que tanto ajudou a cultura da nossa terra , e as obras sociais de irmã Dulce. Foi perseguido até o seu fechamento no governo de Fernando Henrique Cardoso , juntamente com o Bamerindus, do Paraná, o então presidente do Banco Central da época era o jovem  Gustavo Franco.

ARREMEDOS

Estes arremedos que alguns vivem insistindo  fazer com o nome da Geração 70 pode representar tudo, menos àquele momento histórico de 26 de julho de 1985. Era outro ambiente cultural, era outra atmosfera  que vivia o país e particularmente Salvador. Alguns dos artistas que participaram não estão mais aqui como o Fred Schaeppi e Chico Diabo. Todos envelhecemos e  tomamos outros caminhos que não coincidem com aqueles que eu e Ivo Vellame levamos adiante.
Nunca quis tutelar ninguém, nem mesmo levantar bandeiras . Mas, é preciso respeitar as ausências, e o que fizemos naqueles dias de dificuldades, inclusive evitando divergências, quase intransponíveis, pera  levar a cabo esta exposição que marcou época.
Capa do catálogo da exposição que marcou
época
Lembro que alguns artistas mais afoitos, e que ficaram de fora da exposição Geração 70 realizaram uma mostra alternativa - estava em moda coisas alternativas - no foyer do TCA , mas não tiveram sucesso. Foi um fracasso. Mas, valeu pela rebeldia. Então partiram para tentar desqualificar a exposição Geração 70, inclusive com a ajuda de alguns professores da Escola de Belas Artes. De nada adiantou. A mostra foi vitoriosa e retumbante. Coisas do provincianismo baiano.
O nosso interesse, meu e de Ivo Vellame , era continuar com este movimento realizando outras exposições com artistas desta geração que ficaram de fora. Porém,  diante das divergências resolvemos parar por ai. Inclusive porque percebemos  ingratidões , e a dificuldade de convivência entre  alguns do grupo.
Nós não registramos o nome Geração 70, mas, os arremedos nunca chegarão de perto a representar àquela mostra histórica. Se alguém um dia for escrever sobre a História da Arte recente da Bahia não pode esquecer esta exposição realizada no Museu de Arte da Bahia, em 26 de julho de 1985.
Contamos com as presenças do governador Antônio Carlos Magalhães; do Secretário do Trabalho e Bem Estar Social, Rafael Oliveira; dos artistas Carlos Bastos, Nilda Spencer, Clyde Morgan,  do político Fernando Schmidt,  ex-Diretora da Fundação Cultural, Olívia  Barradas, e de muitos e muitos outros que prestigiaram a exposição. Foi um sucesso !