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sexta-feira, 28 de junho de 2013

EDSOLEDA E A CIDADE

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 07 DE JUNHO DE 1975

A Cidade, a artista Edsoleda
"É anômalo que numa sociedade tecnologicamente tão avançada e tão afluente quanto a nossa, existam tantos quilômetros quadrados de favelas e áreas ainda mais extensas de melancólica decrepitude e expansão caótica."Edward C. Banfield, A Crise Urbana: Natureza e Futuro. 
Estas palavras de Banfield traduzem uma preocupação de vários estudiosos e artistas com o futuro das grandes metrópoles. E esta artista Edsoleda sem dúvida é uma grande artífice na retratação desta situação caótica em que vivemos. Seus desenhos, suas cidades mostram este caos. As janelas, portas, e arcos confundem-se com pedaços de corpos humanos. Alcança o sentido corporeidade com implicações surreais. Assim, com a utilização de elementos da arquitetura, Edsoleda nos mostra em sugestões fantásticas uma arquitetura humanizada.
Os problemas da solidão, da massificação e outros, são jogados misturados aos elementos da arquitetura através a elaboração de uma composição de massas e volumes que são separados por vigorosos traços.
Ela não usa figuras humanas quando     elementos sugestionam qualquer observador a presença do humano. Tudo é feito dentro de uma espontaneidade de criação e tamanha [e a sua força criadora que muitos ficam surpresos quando a conhecem por sua aparente fragilidade. Mas, na realidade, Edsoleda esconde uma grande capacidade em criar o que nos é revelado através de seus excelentes trabalhos. Falta a esta artista uma maior oportunidade para que possa mostrar os seus quadros não somente em Salvador mais também em outras capitais onde o mercado de arte é mais desenvolvido.
Edsoleda acredita que nós, que vivemos nas grandes metrópoles, estamos sofrendo a todo instante impulsos que sofremos mais influências do meio que nos cerca."Não sei se sofro influência de algum artista, mas certamente as motivações dos veículos de comunicação, do viver numa metrópole me condiciona a reagir desta ou daquela forma. Juarez Paraíso acha por exemplo, que na minha fase atual, da arquitetura humanizada, a cidade, resulta um mundo de sugestões fantásticas, o absurdo aparente de um Gaudi. Sinceramente não sei explicar se isto ocorre.
A artista estudou Belas Artes na Universidade Federal da Bahia, concluindo o curso de Escultura em 1965. Abandonou a escultura e foi estudar Desenho, terminando por licenciar-se nesta matéria. Hoje divide seu tempo dando aulas de Artes Plásticas no Colégio  Severino Vieira,  onde ela formou um grupo especial de alunos que vem desenvolvendo um trabalho no campo das Artes Plásticas. Os alunos trabalham livremente ficando sua atuação restrita à orientação na utilização das técnicas e também no ensino da melhoria do desenho. Assim ela está levando sua experiência de uma artista madura para jovens com tendências a ingressar no campo das artes visuais.

BEL BORBA

O jovem artista Bel Borba está trabalhando para sua exposição que será realizada na Galeria Cañizares. São quadros onde utiliza o spray e objetos, com uso de sucata formando o assemblage. São os sub-produtos da sociedade de consumo que ele encontra facilmente no quintal de sua residência ou mesmo nas oficinas. Se residisse numa fazenda talvez Bel Borba utilizasse também coisas consideradas imprestáveis, fazendo sua transmutação com a força criadora de artista. É o entrosamento do homem com a chamada segunda natureza, que ele criou e cujos detritos são utilizados em formas plásticas. A maioria desses quadros é de insetos e também figuras de fetos e do homem. Tudo é indefinido. As figuras podem representar um homem de qualquer parte do globo. A outra série de trabalhos Bel Borba usa o spray, onde lança jatos tênues de tinta e cujo contorno é feito com pincel, dando traços firmes separando os volumes. Tudo é feito livremente e principalmente nas horas da folga, quando não está estudando para o vestibular de arquitetura que fará este ano.
O primeiro contato com arte foi nos Estados Unidos onde passou algum tempo e aprendeu as técnicas do batik e do mosaico. Voltou para Salvador e com incentivo de seus pais, ele vem desenvolvendo o seu trabalho que prima por um colorido que n]ao choca o observador.
Os problemas sociais, como a libertação da mulher, motivam de perto esta jovem que criou vários quadros mostrando exatamente que a mulher é realmente vítima desta sociedade que foi citada pelos homens. A mãe solteira, a mulher como simples animal reprodutor, estão em seus quadros como que
Esses trabalhos caracterizam-se por grandes espaços semi-vazios ocupados apenas por pequenas figuras e manchas tênues de tinta.

                                    SÁ PEIXOTO E AS MADONAS

..".As Virgens de Sá Peixoto mantém um fundo musical que não se escuta, mas se adivinha. Diante dessa seqüência real e religiosa, sem tempo e sem fronteira, as Madonas realizam em prata aquelas imagens que compositores de todas as épocas viram, vêem e verão, transportando-as para sua música." Estas palavras do grande Paschoal Carlos Magno sobre a obra de Sá Peixoto o credenciam para esta exposição que fará em Salvador a partir do próximo dia 12 do corrente na Galeria da Pousada do Carmo. Serão mostrados 30 trabalhos com a utilização fico de prata.


                                                 SÉRGIO VELLOSO

Desde ontem que o pintor Sérgio separa os seus pincéis para a feitura dos relevos .Velloso vai expor na Galeria Panorama utilizando uma temática que   classifica de mística, misteriosa e surrealista. O interessante é que utiliza normalmente a paleta para compor suas telas.
Pinta desde 1968 e esta exposição, da qual também participam Eduardo Araújo Filho e Heddy Cajueiro Perez, será o último passo para sua primeira individual.

                   O VAZIO BAIANO...


O critico Frederico de Morais, que recentemente esteve em Salvador ministrando um curso na Escola de Belas Artes, escreveu um artigo num jornal do sul do País, depois de sua tournée pelo Norte e Nordeste do Brasil. Diz Frederico de Morais que "a situação, porém, é mais grave na Bahia, onde rigorosamente nada de novo ocorre há quase uma década, se excluirmos o talento isolado de Mário Cravo Neto, cuja obra recente, lamentavelmente não pude ver.!"
Ele acredita que isto pode ser fruto do fechamento da II Bienal da Bahia, que teria funcionado como um golpe fatal à criação. Realmente seu pensamento vem comungar com as declarações do artista Edson da    Luz, divulgadas na semana passada. Muita gente continua expondo essa coisa que vem fazendo há 10 anos.

              JUNG E IMAGENS DO INCONSCIENTE

Uma das obras da mostra Imagens do Inconsciente
Duas exposições interligadas tematicamente foram abertas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A primeira, comemorativa do centenário de nascimento de Carl Gustav Jung, com 50 painéis, fornecendo por meio de  textos e ampliações fotográficas aspectos da vida e obra desse grande estudioso suíço. A segunda, imagens do Inconsciente, tem como principal objetivo ilustrar os conceitos de Jung através do acervo do museu criado pela Dra. Nise da Silveira, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro. Estão sendo mostradas 200 obras em oito grupos, conforme os arquétipos jungianos do inconsciente coletivo: Sombra, Azima, Grande Mãe, Ritual, Mitos, Animal Fantásticos, Imagens Cósmicas e Mandelas

                        SECRETÁRIO

O meu amigo Geraldo Edson de Andrade foi indicado para o cargo de Secretário da Associação Brasileira de Críticos de Arte. A diretoria está assim composta: Presidente, Antônio Bento; Primeiro Vice-Presidente, Marc Berkowitz; 2.º Vice., Lizetta Levy; Secretário, Geraldo Edson de Andrade e Tesoureiro, Esther Emílio Carlos.

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