JORNAL A
TARDE SALVADOR SÁBADO, 4 DE SETEMBRO DE 1977
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Raymundo Aguiar com um de seus bisnetos |
Com
oitenta e dois anos de idade o velho mestre Raymundo Aguiar continua lúcido e
produzindo uma arte de alto nível. Sua produção é vasta com a sua idade.
Desde
pequeno que se dedica à pintura, iniciando seus estudos em Portugal sob a
orientação de alguns professores, mas principalmente o seu pai Antônio Chaves
de Alves, Primeiro Violino na época do Teatro São Carlos ,em Lisboa. Uma família de
artistas. Duas irmãs eram famosas pianistas e uma delas ao fazer uma viagem ao
Brasil para apresentações fez amizade com o próspero comerciante Guilherme
Carvalho Filho e desta amizade nasceu a decisão de trazer para cá o
Raymundinho. Tudo foi combinado e em novembro de 1913 ele desembarcava num
vapor, quando foi recebido por alguns patrícios e foi morar numa pensão na
Fonte das Pedras. Aí tudo foi difícil.
Trabalhou
com o português Augusto Carvalho onde chegou a ser Chefe do Setor de Embalagens
e Faturista. Porém, a arte permaneceria em sua mente com uma necessidade de
expressar os seus sentimentos cada vez mais fortes devido às saudades de sua
pátria longínqua. Assim surgiram dezenas de aquarelas, caricaturas e desenhos
de um modo geral que sua habilidade já era do conhecimento de grande número de
pessoas. Por isso um companheiro de empresa convidou o Raymundo para fazer um
retrato de um amigo que aniversariava.
O
retrato foi feito, saiu bem parecido com a pessoa e todos gostaram. Um dia
decidiu procurar o então professor Oséas Santos, na Escola Normal. Era por
volta de 1916 e seus trabalhos também foram elogiados pelo Oséas. Daí alguns
trabalhos foram publicados no Jornal A Tarde levados por Henrique Carneiro.
Logo depois foi fundado o Jornal A Hora ,por Artur Ferreira que combatia o Governador
Antônio Moniz e o Intendente Propício da Fontoura
Raymundo
Aguiar foi convidado para fazer as caricaturas e uma delas que mostrava Antônio
Moniz cobrindo as nádegas de uma estátua numa praça que tinha esta legenda: O
que é isto Governador cobrindo estátuas? É meu amigo, não quero confusões."
Por
isso a edição do jornal foi apreendida. Mas o jornalista Artur Ferreira não
perdia tempo e nem tampouco tinha medo de represálias.Encomendou
outra caricatura criticando o Governador.
Raymundo
Aguiar fez uma que apresentava a cabeça de Antônio Moniz em quatro fases e na
última ele se transformava num anjinho.Neste
dia o jornal A Hora foi empastelado pela polícia tendo à frente Álvaro Cova, então Chefe de Polícia do
Governador Antônio Moniz.
Logo
depois com o assassinato de Artur Ferreira, o artista Raymundo Aguiar vai
trabalhar no Jornal de Notícias, no tempo de Lulu Parola. Passou algum tempo no jornal Imparcial, na revista A Fita, que era uma revista de variedades, além das
revistas Luva e Única, esta dirigida por Amado Coutinho.
Em
1927 organizou uma mostra de algumas de suas charges em aquarela, no antigo
salão da empresa Circular e o Professor Vieira de Campos indo visitá-la
escreveu uma crônica no Diário de Notícias "que me virou a cabeça", diz Raimundo
Aguiar com muito orgulho.
Nesta
época tinha mulher e dois filhos para sustentar.Larguei
o meu emprego certo que tinha no comércio e resolvi dedicar-me inteiramente à arte. Na época me chamaram de louco até o Professor Oséas Santos.
Acontece
que ninguém conseguiu retirar a ideia de minha cabeça e hoje sou um homem
feliz.
Passou
o artista a fazer charges para os jornais,croquis para rotulagens, cartazes de
espetáculos e trabalhava em outros serviços para as litografias Luzitania e
Reis, que existiam em Salvador, e também para a Oficina de Gravuras Tostas.
Como
ele tinha o curso ginasial que fez em Lisboa teve que fazer uma espécie de
vestibular para entrar na Escola de Belas Artes. Assim foi feita uma banca de
examinadores. O Professor Conceição Menezes examinou-me em Português, Francês,
Geografia, História do Brasil e Ciências. O Professor José Nivaldo Alcione, em
Matemática, Álgebra e Geometria. Fui aprovado com 9.6.
De
lá tudo foi mais fácil e já em 1933 concorria e vencia o prêmio Viagem Legado
Caminhoá. O Professor Alcione que era professor de Geometria Descritiva da
Escola de Belas Artes convidou-me para seu assistente e quando ele se afastou
passei a reger a cadeira até 1963, quando me aposentei pela compulsória e logo
em seguida recebia o título de Professor Emérito da Universidade Federal da
Bahia.
Sobre
sua arte tudo já foi dito. Raymundo Aguiar é um homem inquieto e por isto sua
temática teve que mudar. Pintava paisagens e adorava ficar horas e horas
transferindo para a tela árvores, o mar, enfim, toda a grandiosidade da
natureza.
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Esta tela está exposta no Museu de Arte Sacra |
Acontece
que as pessoas viviam assediando-o, a cidade crescia e os curiosos terminavam
por causar-lhe problemas. Pegava a tela e os pincéis e vinha embora e sempre
voltava em busca de uma hora de mais tranquilidade. Por isso passou a
dedicar-se aos interiores, hoje tão conhecidos e tão disputados pelos
colecionadores.Pintava
ao lado de Presciliano Silva, Mendonça Filho e outros.
Afirma
Raymundo: só assim conseguia pintar em paz nos sobrados, nas igrejas com suas
sacristias místicas fui criando e realizando os meus trabalhos, mas a certa
altura seus quadros eram apontados com uma certa semelhança com os feitos por
Presciliano Silva.
Ele
não pestanejou, deu luminosidade às suas telas, as quais ganharam mais força
perdendo as cores sombrias.Foi
criticado por seus colegas devido ao uso da luz, mas a luz é uma necessidade
inata a este velho moço que pinta com vigor em seus 82 anos de idade. A luz é
uma constante na vida de Raymundo Aguiar que já realizou dezenas de exposições
e esperamos que tantas outras ainda virão.
Embora
seja um pintor acadêmico, o velho Raymundo pouco pintou rostos e bustos. Isto
porque ele não tem paciência de trabalhar com o modelo, que constantemente está
mudando de posição, prejudicando o trabalho. Esta impaciência do jovem Raymundo
ainda permanece no velho moço e é graças a ela que belos quadros continuam
sendo criados.
UM POTENCIAL OCULTO DE MARIA ADAIR
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Este é o painel Fecundação onde Maria Adair expressa a força da natureza |
"
Há
um potencial oculto, secretamente escondido, dentro de cada um de nós," afirma a
artista Maria Adair Magalhães Brocchini ou Maria Adair, que está expondo na Galeria Cañízares. É exatamente o desenvolvimento ou ativação deste potencial,
que permite a esta artista criar dentro da temática natureza quadros, que na
realidade não tem um fim definido. Cada desenho parece querer pular dos
suportes e continuar por todos os espaços. É um derramar de formas concebidas
em pedaços, que juntados não dão uma composição bem maior.
O
desenho e as formas dominam seus trabalhos contemplados pela presença da cor.
Olhando cada uma tela separadamente, a gente tem a impressão que cada uma delas
é um pedaço de um imenso painel. Lembramos dos azulejos sozinhos que
justapostos formam um painel. Assim vemos o trabalho de Adair, que de certa
forma assemelha-se com os trabalhos de Juarez Paraíso, na expressão das formas,
nos movimentos voluptuosos. Uma semelhança que não desmerece o trabalho de
Adair, mas, ao contrário, enobrece, tendo em vista a qualidade técnica que tem
Juarez.
O
Juarez artista e professor, vem exercendo uma grande influência em vários
artistas baianos, principalmente os jovens que estão sendo iniciados na arte . Evidente que não falo de Adair, ela
não é uma iniciante , a sua técnica e o seu desenho já a
qualificam como uma artista definida. Mas, não posso deixar de registrar a
influência da escola de Juarez em seus trabalhos.
Ao
lado da pintura Adair ensina Iniciação Artística em alguns colégios da capital.
Isto é importante porque assim ela terá oportunidade de descobrir e fazer a
arte ser vista por adolescentes. Como ela mesmo afirma, "fazendo arte, você
expressa ideias e sentimentos do mundo imaginário, que existe dentro de você,
do mundo real e físico que o rodeia."
Sua
exposição apresenta bicos de pena, óleos e
gravuras. Está expondo cerca de 40 trabalhos.São
trabalhos livres, que vão fluindo no correr do pincel, ou da pena. Maria Adair
vive com um bloco de notas preso às mãos. Qualquer tempinho disponível ela vai
riscando e depois aproveita esses desenhos feitos instintivamente.
Noto
que os seus quadros levam a gente a um aprofundamento no interior das formas e
a uma contemplação da beleza e fortaleza que nos rodeia.
No
painel Fecundação, Maria Adair apresenta partes em cada tela que juntas dão uma
ideia de todo um ciclo vital. A natureza, a vida é a temática e a figura humana é
ausência.
PAINEL
EMPRÉSTIMO-
Impressiona a troco de velhos alemães. A Jovem Com Flores, de Auguste Renoir
(Foto), pintando por volta de 1890 com 65x54cm, hoje pertencente ao
Metropolitan Museum de Nova Iorque, O Rapaz Com a Espada, de Edouard Manet e a Ile Aux Fleurs, de Claude Monet estão sendo muito visitados e poderão ser
admirados durante dois anos no Museu de Munique. Os três quadros dos
impressionistas franceses foram emprestados à Alemanha em troca de três obras
de velhos mestres alemães: um triptico, um quadro sobre madeira da lenda de São
Cristovão, bem como duas pinturas da Escola de Pintura da Colônia,
sec. 14-16; Lá trocam quadros para animar e levar mais gente aos museus. Aqui
engavetam e arquivam nas salas empoeiradas e depósitos úmidos.
HELENA
MATOS- A Galeria O Cavalete está apresentando uma mostra de Helena Matos a partir de 10
do corrente. Notamos em algumas gravuras de seus quadros inseridos no catálogo
um lirismo singular. As figuras parecem que vieram de infinitos lugares e olham
o mundo conturbado com pena. Uma pena expressa nos olhares que estão longo. São
verdadeiros poemas feito quadros. Seus quadros chegam a atingir o surrealismo
com o seu mistério e encantamento.Os
tons e meios tons, a presença de símbolos e animais que comumente estão ligados
ao mistério com o gato. Uma pintura bonita, lírica e que faz bem aos olhos.
LEILÃO-
Foi realizado um leilão em A
Galeria, São Paulo de 100 obras selecionadas entre as quais
figuraram Jenner Augusto, Carybé, Carlos Bastos, Fernando Coelho e Raymundo
Oliveira. A Bahia foi presença.
ABORDAGEM-
O psiquiatra e pintor César Romero estará abrindo sua mostra no próximo dia 24
do corrente na Galeria da Pousada do Carmo, abordando temas da solidão humana,
ambição, a angústia tão presente na sociedade contemporânea. Uma arte
perfeitamente integrada com a atividade profissional deste artista.
SÉRGIO
VELOSO- Outra exposição anunciada é a de Sérgio Veloso, na Panorama Galeria de
Arte, na Barra, partir do próximo dia
10. Serão mostrados diversos quadros com figuras humanas com um tratamento
especial que permita a individualização do seu trabalho.
LEONARDO
ALENCAR- O conhecido artista Leonardo Alencar está expondo no Hotel Merídien,
25 trabalhos a óleo e 12 xilos. São os peixes e cavalos criados dentro de uma
visão muito pessoal de Leonardo.
ARTE
EM GOIÂNIA- A
Universidade Federal de Goiás através do Instituto de Arte
vai promover de 9 a
30 do corrente o V Festival de Música e Artes Plásticas com o patrocínio do
MEC. Da programação consta recitais, concertos, conferências, montagens
folclóricas, apresentações de filmes de arte, além de cursos de extensão, com
inscrições abertas ao público. Não haverá exposição como inicialmente estava
programado e foi noticiado. Apenas serão realizados um Curso de Desenho
coordenado por Lydio Bandeira de Mello ,da UFRJ e, outro sobre Visão de Arte
Contemporânea ,por Regina Stela Machado a USP.
MAU
GOSTO- É de péssimo gosto e de difícil visualização o programa de atividades
mensais da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Espetáculos musicais,
lançamento de livros, exposições, tudo é apresentado numa mistura de datas. O
logotipo da Fundação sobrepõe-se ao texto prejudicando a visão do conjunto. É
hora de reformar este programa.
E
O MUSEU?- Anunciaram com estardalhaço a criação de um museu na cidade de
Cachoeira. Foram doados centenas de matrizes e xilos para a criação do mesmo.
Foi destinada uma verba. E o museu?